A agricultura de subsistência, como o nome sugere, significa plantar para o próprio sustento.
É uma abordagem que cada vez mais perde espaço, mas ainda sobrevive apesar dos avanços tecnológicos e automação para a produção agrícola em larga escala.
Se considerarmos apenas o fator produtividade, ela até representaria atraso e subdesenvolvimento.
Porém, quando se trata de cultivo da terra, nem tudo se resume a poderosas propriedades voltadas para o agronegócio.
Assim como existem pequenos negócios e atividades produtivas que atendem a demandas locais ou particulares, a agricultura de subsistência também tem a sua importância local.
Ela poderia, por exemplo, ser fomentada pelos governos como estratégia para suprir pequenas demandas e reduzir o impacto ambiental, como sugere esta reportagem no G1.
É sobre isso e muito mais que vamos falar ao longo deste conteúdo.
Se você deseja saber o que é agricultura de subsistência, como funciona, desafios e tipos de atividades de subsistência, continue lendo.
Veja os tópicos abordados a partir de agora:
- O que é a agricultura de subsistência?
- Como funciona a agricultura de subsistência?
- Agricultura de subsistência e familiar são iguais?
- Qual é a diferença entre agricultura de subsistência e agricultura comercial?
- Por que a agricultura de subsistência é um tema importante?
- Tipos de agricultura de subsistência
- O cenário da agricultura de subsistência no Brasil
- Desafios atuais da produção de subsistência.
Entenda tudo sobre o cultivo de subsistência, lendo este texto até o final.
O que é a agricultura de subsistência?
A agricultura de subsistência é um sistema em que os agricultores produzem alimentos principalmente para atender às necessidades básicas de sua própria família ou comunidade local.
Nesse método, o objetivo principal não é a produção em larga escala para o mercado, mas garantir a segurança alimentar e o sustento dos envolvidos.
Normalmente, os agricultores utilizam técnicas tradicionais e recursos limitados para a cultura de subsistência, como mão de obra familiar e ferramentas simples.
Vale dizer que a agricultura de subsistência ainda desempenha um papel importante em muitas regiões rurais, fornecendo alimentos e até preservando tradições.
No entanto, vem perdendo espaço.
Devido à baixa produtividade e vulnerabilidade a condições climáticas e pragas, os adeptos do cultivo de subsistência enfrentam vários desafios para garantir a sustentabilidade de suas práticas.
Trata-se de uma realidade que torna evidente a necessidade de haver apoio público para desenvolver estratégias a fim de melhorar o padrão de vida desses trabalhadores.
Depois de entender sobre o que é agricultura de subsistência, vamos ver na sequência como essa prática funciona.
Como funciona a agricultura de subsistência?
Considerando a baixa produtividade, é normal que a agricultura de subsistência seja voltada para o autoconsumo.
Os agricultores cultivam uma variedade de culturas e, em alguns casos, criam animais, com o principal objetivo de suprir as necessidades alimentares de suas famílias ou da sua localidade.
Geralmente, os métodos empregados são tradicionais, com o uso de ferramentas rústicas e técnicas transmitidas de geração em geração.
O planejamento das atividades agrícolas está intimamente relacionado às estações do ano e às condições climáticas, produzindo alimentos básicos, como cereais, legumes, frutas e, às vezes, carne e laticínios.
Ainda, a cultura de subsistência costuma ser realizada em pequenas propriedades rurais, onde a mão de obra familiar é a base de tudo.
É, portanto, um sistema de produção que se baseia na cultura de subsistência, minimizando a dependência de insumos externos.
Um filme que ilustra de forma extrema esse tipo de agricultura e suas dificuldades é a produção O Cavalo de Turim, do premiado cineasta húngaro Béla Tarr, disponível gratuitamente no YouTube.
Agricultura de subsistência e agricultura familiar são iguais?
A agricultura de subsistência e a agricultura familiar são dois sistemas agrícolas que têm semelhanças e diferenças.
Ambas têm em comum o objetivo primordial de produzir alimentos para atender às necessidades básicas das famílias envolvidas, com foco no autoconsumo.
Além disso, costumam utilizar mão de obra familiar como principal recurso humano.
No entanto, a agricultura familiar tende a ser mais diversificada e produtiva, muitas vezes incluindo culturas e animais destinados à venda no mercado, gerando renda adicional.
Pode também adotar algumas tecnologias e insumos modernos, em contraste com a agricultura de subsistência, que é mais limitada ainda.
Na maioria dos casos, a produção de subsistência usa técnicas tradicionais, com recursos limitados, e está mais associada a áreas rurais remotas.
Qual é a diferença entre agricultura de subsistência e agricultura comercial?
Em termos de mercado, a agricultura de subsistência e a agricultura comercial se diferenciam bastante em seus objetivos e escala das atividades.
Como vimos, na agricultura de subsistência os agricultores produzem alimentos principalmente para atender às necessidades básicas de sua própria família ou comunidade local.
O foco está no autoconsumo, e a produção destina-se a satisfazer as demandas imediatas de alimentação.
Se houver um excedente, pode ser que seja vendido ou estocado. Não há um planejamento no sentido comercial ou para distribuir a produção.
Por outro lado, a agricultura comercial é orientada para o mercado.
Nesse sistema, os agricultores cultivam produtos principalmente para a venda a terceiros.
O objetivo é gerar lucro, e a produção muitas vezes é direcionada para atender à demanda do mercado global ou local.
As diferenças também se refletem nas práticas agrícolas, na escala de produção e no uso de tecnologia.
A agricultura comercial tende a ser mais intensiva, enquanto a agricultura de subsistência é tradicionalmente voltada para as necessidades imediatas da família ou da comunidade.
Por que a agricultura de subsistência é um tema importante?
As atividades de subsistência marcam o início do predomínio humano sobre o planeta.
A agricultura de subsistência é uma atividade que sobrevive desde então, desempenhando um papel relevante para a segurança alimentar das comunidades, principalmente em áreas rurais e em regiões em desenvolvimento.
Ela representa uma fonte confiável de alimentos básicos para as famílias.
Além disso, mantém tradições culturais e conhecimentos agrícolas às vezes milenares, contribuindo para a preservação da identidade das comunidades.
Estimular a agricultura de subsistência é uma questão política porque promove a autossuficiência alimentar, reduzindo a dependência de alimentos importados.
Além disso, pode ser uma base para o desenvolvimento de práticas agrícolas sustentáveis, promovendo a conservação dos recursos naturais e a resiliência das comunidades diante das mudanças climáticas.
Tipos de agricultura de subsistência
A produção de subsistência funciona de maneira parecida, independentemente do local, país e cultura.
Porém, se jogarmos uma lente sobre cada propriedade nesse perfil, veremos que há uma certa variedade de técnicas, objetivos e métodos de cultivo.
Ou seja, a agricultura de subsistência, embora seja uma só, apresenta variantes que precisam ser consideradas para uma análise mais profunda.
Vamos conhecer algumas delas a seguir.
Criação nômade
A criação nômade é uma prática milenar na qual grupos humanos se deslocam com seus rebanhos em busca de pastagens e água, sem se estabelecerem permanentemente em um local específico.
Essa prática é mais comum em regiões áridas e semiáridas, onde a disponibilidade de recursos naturais é irregular e sazonal, e o consumo sustentável é mais difícil.
Regiões como o Sahel na África, as estepes da Ásia Central e o Oriente Médio são exemplos de áreas onde a criação nômade é predominante.
A criação nômade tem como objetivo fundamental a sobrevivência e a subsistência dos grupos, que dependem dos rebanhos para alimento, vestuário ou para fins comerciais.
Essa prática também desempenha um papel importante na preservação de tradições culturais e conhecimentos ancestrais relacionados à gestão sustentável dos recursos naturais em ambientes desafiadores.
Agricultura mutável
O termo agricultura mutável refere-se a um sistema agrícola que se adapta e evolui com o tempo, respondendo às mudanças nas condições ambientais, sociais e econômicas.
Essa forma de agricultura é comum em várias partes do mundo, sendo mais presente em regiões com climas variáveis e mercados agrícolas em constante transformação.
Ela depende da diversificação de culturas e das práticas de conservação de solo e água, com tecnologias que possam se ajustar às condições em constante evolução.
Ao contrário da criação nômade, que envolve o deslocamento de rebanhos em busca de pastagens, a agricultura mutável concentra-se no cultivo de plantas e, às vezes, na criação de animais em áreas mais estáticas.
É mais comum em pequenas propriedades voltadas à produção de alimentos, forragem, fibras e produtos comerciais.
Pequena escala
Sistema agrícola que se caracteriza pelo cultivo em propriedades de menor porte, a agricultura de pequena escala foca na produção de alimentos para a subsistência e para abastecer pequenos mercados.
Essa forma de agricultura desempenha um importante papel em muitas comunidades rurais e áreas urbanas, contribuindo para a segurança alimentar local e a geração de renda.
Os agricultores geralmente utilizam métodos tradicionais e mão de obra familiar, com a produção sendo frequentemente destinada ao consumo próprio ou para a venda em mercados locais.
Além disso, ela é vista como um motor de desenvolvimento rural sustentável, fortalecendo a economia local e promovendo a resiliência das comunidades diante de desafios como mudanças climáticas e a volatilidade dos mercados.
Familiar
Já a agricultura familiar se caracteriza pelo cultivo de terras por famílias que, frequentemente, vivem e trabalham na mesma propriedade.
É um modo de produção agrícola tipicamente voltado para o autoconsumo e a geração de excedentes agrícolas para mercados locais.
Também é um sistema que promove a sustentabilidade, preservando práticas tradicionais baseadas no conhecimento local, ao mesmo tempo em que se adapta a inovações tecnológicas.
Por esses e outros motivos, desempenha um papel vital na manutenção das zonas rurais, no fortalecimento da economia local e no combate à pobreza.
Segundo a Embrapa, a agricultura familiar ocupa uma área de 80,9 milhões de hectares, representando 23% da área total dos estabelecimentos agropecuários no Brasil.
Autoconsumo
Como o nome sugere, na agricultura para autoconsumo, produtores priorizam alimentos principalmente para atender às suas próprias necessidades familiares.
Frequentemente, o termo é utilizado como sinônimo de agricultura de subsistência, referindo-se à mesma prática.
A principal distinção entre a agricultura de subsistência e outros tipos do gênero está na ênfase na produção para consumo interno, com o objetivo de garantir a segurança alimentar das famílias.
Já os outros tipos de agricultura de subsistência, como a agricultura itinerante ou de pequena escala, podem envolver abordagens específicas, como deslocamentos ou objetivo da propriedade.
Portanto, a agricultura para autoconsumo é uma variação da agricultura de subsistência, partilhando do mesmo objetivo primordial.
Tradicional
Em termos cronológicos, a agricultura de subsistência tradicional pode ser considerada um sistema agrícola ancestral.
É caracterizada por práticas e técnicas transmitidas ao longo de gerações, muitas vezes adaptadas às condições locais e ao clima.
Este sistema frequentemente envolve a rotação de culturas, o uso de sementes tradicionais e a dependência de métodos agrícolas tradicionais.
A agricultura de subsistência tradicional pode variar amplamente de uma região para outra, adaptando-se às características específicas do local, como tipos de solo, clima e disponibilidade de recursos hídricos.
É comum em regiões rurais, especialmente em áreas menos desenvolvidas economicamente.
Como era de se esperar, esse tipo de atividade enfrenta desafios e demanda investimentos em modernização para melhorar a produtividade, ainda que haja resistência de certos agricultores.
Base familiar
Pode não parecer, mas agricultura de base familiar e agricultura familiar não são a mesma coisa.
Em vez de se concentrar no tamanho da propriedade ou na mão de obra envolvida, a agricultura de base familiar foca na organização e na gestão da produção.
Há uma espécie de “pool” de famílias que trabalham em conjunto, muitas vezes compartilhando recursos e responsabilidades, como o cultivo, a colheita e a distribuição.
O compartilhamento de recursos pode gerar maior eficiência na produção, facilitando a gestão dos recursos disponíveis.
A agricultura de base familiar frequentemente envolve estratégias de diversificação de culturas e práticas sustentáveis, com o objetivo de melhorar a produtividade e a resiliência.
Portanto, a ênfase na colaboração entre famílias é a principal diferença em relação à agricultura familiar, que pode ser composta por uma única família em uma propriedade.
Camponesa
A agricultura camponesa é um sistema agrícola tradicional associado a comunidades rurais e pequenas propriedades, onde os camponeses, geralmente famílias ou grupos locais, praticam a agricultura de subsistência de pequena escala.
A característica distintiva é a forte relação com a terra e a produção de alimentos para o autoconsumo.
Os camponeses utilizam frequentemente práticas agrícolas tradicionais, sementes crioulas e recursos naturais, prevalecendo o manejo sustentável.
Uma diferença importante entre a agricultura camponesa e a agricultura urbana é a localização e o foco na produção.
Enquanto a agricultura camponesa ocorre em áreas rurais, a agricultura urbana é praticada em ambientes urbanos, muitas vezes em pequenos espaços, como quintais e telhados.
Ambas as formas de agricultura contribuem para a segurança alimentar, mas atendem a diferentes contextos, sendo a agricultura camponesa uma parte integral da vida em comunidades rurais.
Pequenos produtores
Existe ainda a agricultura praticada por pequenos produtores, em que indivíduos ou grupos gerenciam propriedades agrícolas de dimensões reduzidas.
Essa abordagem difere da agricultura familiar e da agricultura de pequena escala em termos de escopo e objetivos.
Os pequenos produtores podem não necessariamente trabalhar com mão de obra familiar e podem se concentrar em cultivos específicos para comercialização, visando atender às demandas do mercado local ou regional.
É uma abordagem diferente da agricultura familiar, que envolve tipicamente a produção para o autoconsumo e a venda da produção excedente no mercado local.
Por sua natureza, a agricultura de pequenos produtores muitas vezes busca alcançar uma produção mais intensiva e lucrativa, em comparação com a agricultura de pequena escala, mais voltada para a subsistência.
Ou seja, embora seja também um tipo de agricultura de subsistência, o cooperativismo entre pequenos produtores faz desta uma prática também comercial.
Urbana
Há ainda a agricultura urbana, que se desenvolve em ambientes urbanos e periurbanos, onde pessoas cultivam plantas e, por vezes, criam animais.
Esse cultivo e criação acontece em espaços urbanos limitados, como quintais, telhados, jardins comunitários ou mesmo em áreas vazias nas cidades.
Seu objetivo varia, desde a produção de alimentos para consumo próprio até a geração de excedentes para venda no mercado local.
O cenário da agricultura de subsistência no Brasil
O cultivo de subsistência, a despeito das muitas dificuldades que enfrenta, ainda é uma parte importante da cadeia produtiva no Brasil.
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), nada menos que 70% dos empregos nas áreas rurais são gerados por essa modalidade agrícola.
Isso equivale a mais de 4 milhões de famílias trabalhando exclusivamente em pequenas propriedades com foco na subsistência.
Os principais gêneros cultivados são a mandioca, arroz, milho, feijão e batata.
Já na criação para corte, abate e produção leiteira, destacam-se os bovinos, suínos e aves.
Desafios atuais da produção de subsistência
Um dos principais desafios à produção voltada à subsistência é o acesso a métodos, técnicas e tecnologias que promovam o aumento da produtividade.
Outro desafio, como destacado pela Embrapa, é a baixa renda gerada pela maior parte dos produtores nesse perfil.
As atividades de subsistência, segundo a entidade, geram por propriedade familiar apenas 0,46 salário mínimo em valores brutos.
Em regiões mais empobrecidas, a Embrapa constatou que 72% dos produtores não geram lucro suficiente para sobreviver acima da linha da pobreza.
Portanto, é preciso que haja mais estímulos governamentais e políticas públicas que possibilitem elevar os rendimentos dessas famílias, que são responsáveis por uma parcela expressiva da produção agrícola nacional.
Conclusão
A agricultura de subsistência sobrevive, mesmo com os problemas enfrentados desde sempre.
Mas podemos olhar para essa modalidade com mais cuidado, especialmente no que diz respeito a políticas públicas, já que milhões de brasileiros dependem dela para sobreviver.
Aqui no blog da FIA, abordamos sempre as questões mais importantes para que você se posicione como ser pensante e cidadão.
Continue navegando para conferir mais conteúdos como este!
Referências:
https://portalantigo.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/TDs/td_2607.pdf
https://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1399183-5603,00-BURUNDIANO+POLUI+EM+MEDIA+QUASE+VEZES+MENOS+QUE+AMERICANO.html
https://www.embrapa.br/tema-agricultura-familiar/sobre-o-tema
https://summitagro.estadao.com.br/sustentabilidade/agricultura-de-subsistencia-como-acontece-no-brasil/
https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/31505030/artigo—agricultura-familiar-desafios-e-oportunidades-rumo-a-inovacao
https://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL1521003-9356,00-AGRICULTURA+DE+SUBSISTENCIA+ESTA+EM+RISCO+ALERTA+ONU.html
https://www.embrapa.br/agropensa/busca-de-noticias/-/noticia/27405640/a-real-contribuicao-da-agricultura-familiar-no-brasil