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Spread Bancário: o que é e como lidar com os juros altos

10 de janeiro 2020, 13:34

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O spread bancário é um conceito que ajuda a entender alguns problemas comuns na relação entre os brasileiros e o sistema bancário.

Quem nunca ouviu falar em alguém que pediu um empréstimo e se complicou com a bola de neve de juros que teve que pagar em cima do dinheiro que lhe foi emprestado?

De repente, isso aconteceu com você mesmo. Nesse caso, sofreu na pele as consequências do spread bancário que é praticado no país.

De acordo com especialistas, o spread utilizado nos bancos brasileiros é o segundo maior do mundo, ficando atrás apenas de Madagascar.

Mas você sabe o que isso quer dizer? Entender o conceito e sua relação com outros fatores do setor econômico é fundamental para não sofrer prejuízos.

Neste artigo, falaremos sobre os seguintes tópicos:

  • O que é Spread Bancário?
  • O que Spread Bancário tem a ver com os juros?
  • Relação dos juros com a inadimplência
  • Quem é responsável pelos juros altos?
    • Concorrência
    • Falta de informações e custos administrativos
    • Educação financeira
  • O que é verticalização e como ela pode influenciar os juros?
  • O que é desverticalização e qual sua relação com os juros?
  • O que fazer para escapar dos juros altos?
  • Influência do governo Bolsonaro nos juros altos.

Pronto para aprender? Boa leitura!

spread bancário o que é
O spread bancário ajuda a explicar a atividade de um banco e sua relação com o dinheiro investido

O que é Spread Bancário?

Spread bancário é o cálculo da diferença entre a taxa com que um banco remunera quem aplicou seu dinheiro nele e a taxa que ele cobra para emprestar dinheiro aos clientes.

Para que você entenda melhor, vamos explicar como funciona a relação entre uma instituição bancária e seus clientes.

Quando você deposita dinheiro na sua conta corrente, na poupança, no CDB ou em outro investimento bancário, é como se estivesse emprestando dinheiro ao banco.

Dependendo da aplicação, o saldo aumenta com o tempo, ou seja, o dinheiro se valoriza.

Como isso acontece se os recursos estão paradinhos no banco?

É porque, na verdade, eles não estão parados. O banco pega esse dinheiro e investe em ativos que rendem lucros. Por isso, podem remunerar os clientes.

Os juros pagos aos clientes são chamados de taxa de captação, pois seu pagamento é a maneira que os bancos encontram para captar o dinheiro que aplicam em outros investimentos.

Ao mesmo tempo que o banco toma dinheiro emprestado dos clientes, também empresta para quem precisa.

Se você quer abrir um negócio, por exemplo, provavelmente vai precisar de dinheiro para montar a estrutura, ter capital de giro e sobreviver até chegar no ponto de equilíbrio.

Não tendo esses valores na mão no momento, a alternativa comum é pedir um empréstimo bancário e pagar em parcelas ao longo do tempo, com a incidência de uma taxa de juros.

O que acontece é que esses juros são sempre mais altos do que aqueles que o banco paga aos clientes – se fosse o contrário, seria possível lucrar pedindo empréstimo e aplicando o mesmo dinheiro no banco.

Pois o spread bancário é justamente a diferença entre a taxa de captação e a taxa de juros cobrada pelo empréstimo.

Quanto maior o spread, mais altos são os juros do crédito em relação aos pagos pela caderneta de poupança e outras aplicações bancárias.

O que Spread Bancário tem a ver com os juros?

Não se sabe ao certo qual a origem etimológica da palavra juros.

A hipótese de Houaiss é que venha de juris, que em latim quer dizer direito, justiça.

Juros são o dinheiro que a parte que toma um empréstimo paga à parte que o concede, além da quitação dos valores emprestados.

Um empréstimo é concedido sob a promessa de que será pago no futuro, o que é uma incerteza.

Portanto, representa um risco para quem entrega seu dinheiro.

Talvez por isso a origem da palavra juros tenha a ver com justiça.

Pois é justo que a parte que aceita o risco e empresta seu dinheiro seja remunerada por isso.

Até mesmo pelo custo de oportunidade, que é um valor que representa a renúncia da oportunidade de dar uma finalidade útil para aquele dinheiro.

No caso do banco, quando concede um empréstimo, ele deixa de aplicar aquela quantia em investimentos lucrativos e, portanto, precisa cobrar uma taxa de juros maior do que os lucros de que está abrindo mão.

Como você pode notar com toda essa explicação, a relação do spread bancário com os juros é total, pois eles servem para equilibrar os interesses de todas as partes envolvidas.

Justamente por isso que, em outros idiomas, juros são sinônimo de interesses (em inglês, interest, em espanhol, interés).

A inadimplência cria um cenário com maior risco, o que faz os bancos agirem de forma defensiva

Relação dos juros com a inadimplência

Conforme acabamos de explicar, um banco, ao emprestar dinheiro para um cliente, está assumindo um risco.

Claro que há implicações nada agradáveis para quem deixar de quitar a dívida, mas, para o banco, é mais interessante receber corretamente e em dia.

Por isso, um dos indicadores mais importantes nas atividades das instituições financeiras que concedem crédito é a taxa de inadimplência.

Isto é, uma média que representa o atraso ou não pagamento dos empréstimos entre todos os clientes do banco.

A relação é a seguinte: quanto maior é a taxa de inadimplência, maiores são os juros cobrados pelo banco.

Não é que, ao analisar se concede ou não um empréstimo para você, o banco vai considerar que há X% de risco de que você não pague porque X% dos clientes não pagam.

A análise de risco é individual, e tem a ver com a estabilidade e o volume da sua renda, seu histórico financeiro e as garantias apresentadas.

O que acontece é que, para compensar o prejuízo com os devedores que deixaram de pagar, os bancos precisam cobrar de todo mundo juros maiores.

Agora, você pode estar se perguntando por que, quando nós emprestamos dinheiro ao banco, aplicando em um CDB, por exemplo, os juros são bem menores (ou seja, o spread bancário é alto). O risco não é considerado?

A remuneração paga aos clientes é baixa na comparação com a taxa cobrada no empréstimo justamente porque a dimensão do risco envolvido é muito distinta.

Os bancos mais conhecidos são instituições sólidas, que são fiscalizadas por órgãos públicos.

O que significa que há garantias de que o dinheiro aplicado não vai “sumir”.

Faz sentido para você?

spread bancário que é responsável pelos juros altos
Os juros e spread bancário do Brasil podem ser explicados de diversas formas

Quem é responsável pelos juros altos?

No Brasil, a Selic, conhecida como a taxa básica de juros, tem caído bastante nos últimos meses, encerrando 2019 no índice recorde de 4,5% ao ano.

Na teoria, esse seria um fator que contribui para a redução dos juros cobrados pelos bancos e uma oportunidade para diminuir o alto spread bancário do país.

Na prática, ele se mantém bastante alto, porque há outros fatores muito mais relevantes para a sua composição do que a flutuação da taxa Selic.

No seminário Precisamos falar sobre juros, o presidente executivo da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, falou mais sobre os aspectos que, além da Selic, resultam em um spread bancário alto.

Veja um trecho:

Os juros cobrem outros custos, como a inadimplência, os impostos e as despesas operacionais.

É o que ele chama de Custo Brasil, um nome genérico que se dá ao conjunto de despesas que as empresas têm para oferecer seus produtos ou serviços no país.

A seguir, veja mais detalhes sobre alguns dos principais fatores que impactam no resultado do spread bancário.

Concorrência

Há uma ideia bastante disseminada de que a concorrência exerce um papel determinante na definição do spread bancário do país.

O argumento é que, quanto maior a concorrência no setor bancário, melhores as condições para os clientes, ou seja, menor o spread.

Aplicando essa lógica na realidade brasileira, a concentração de clientes nos maiores bancos é vista como um dos fatores que resultam em uma grande diferença entre taxa de captação e de empréstimo.

É nesse ponto que os especialistas divergem.

Embora seja um consenso que mais concorrência e diversificação seja positivo, nem todos atribuem a esse fator o peso de protagonista no diagnóstico em questão.

Em junho de 2019, o jornal Folha de S.Paulo estimulou o debate e convidou dois especialistas com opiniões diferentes a exporem seus argumentos sobre o motivo dos juros altos praticados no país.

O presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro, admite a importância de outros fatores, mas opina que, combatendo a concentração bancária, o problema reduz sensivelmente.

O professor e economista Mário Ramos Ribeiro, por outro lado, defende que o Banco Central não deve interferir para reverter a tendência à concentração verificada atualmente no Brasil.

Para se ter ideia do tamanho da concentração bancária de que falamos aqui, os dados do Banco Central indicam que os cinco maiores bancos em atividade no país controlam 81,2% dos ativos totais.

Falta de informações e custos administrativos

Quando as variáveis usadas para calcular o risco de emprestar dinheiro a certo cliente são limitadas, a tendência é que o custo do crédito seja maior.

E se a estrutura de atendimento e de administração da instituição bancária for grande, os valores sobem ainda mais.

Nesse sentido, há duas tendências mundiais que podem levar a uma mudança de panorama.

Uma delas é o Open Banking, ou Sistema Financeiro Aberto, um conjunto de regras que estimula o compartilhamento de dados entre as instituições financeiras.

Esse sistema resulta em um ambiente mais competitivo e transparente e em mais eficiência na análise de crédito.

A outra tendência é o crescimento das fintechs, startups do mercado financeiro que conseguem oferecer aos clientes um atendimento de excelência com estrutura enxuta, graças ao uso de tecnologias de automação e inteligência artificial.

Educação financeira

Outro fator que resulta em altas taxas de juros cobradas pelos bancos – e consequentemente em um spread bancário excessivo – é a falta de educação financeira dos brasileiros.

A falta de educação financeira leva a um maior nível de inadimplência, mas esse não é o único motivo que a torna um fator determinante.

Muitas vezes, os juros abusivos são cobrados porque as pessoas aceitam, e elas aceitam por não compreenderem o tamanho do prejuízo que estão tendo.

Com frequência os clientes pedem empréstimo e a única informação que consideram é o valor da parcela que pagará mensalmente até quitar a dívida bancária.

Se essa quantia cabe no seu bolso, isto é, se ele é capaz de cumprir com a obrigação, o empréstimo é um bom negócio.

Só que é preciso avaliar também o percentual de juros que será cobrado em cima do valor emprestado para que ele não acabe entregando ao banco uma quantia abusivamente maior do que tomou emprestada.

Verticalização e desverticalização são alguns dos termos que surgem ao se falar de bancos e suas atividades

O que é verticalização e como ela pode influenciar os juros?

Se você continuar pesquisando sobre as particularidades do mercado de crédito bancário no Brasil, talvez de depare com alguns termos que nunca ouviu falar.

Um deles é verticalização.

Então, fique atento.

Se essa palavra surgir nas suas leituras, saiba que ela faz referência ao cenário em que as grandes empresas de um setor dominam todas as principais atividades prestadas naquela área.

No caso dos bancos, eles oferecem conta corrente, investimentos, cartão de crédito, empréstimos e assim vai.

Ter um alto nível de verticalização indica a concentração de serviços e clientes na mão de poucos – que, como vimos antes, é um dos fatores que fazem o spread bancário crescer.

O que é desverticalização e qual sua relação com os juros?

A desverticalização é uma série de regulamentações no sistema financeiro que impedem um grupo de empresas de dominarem os múltiplos elos da cadeia de negócios.

O principal exemplo que temos no país é o caso dos cartões de crédito, no qual bancos se associam a bandeiras.

Quem tem um pensamento mais liberal pode torcer o nariz para a ideia de desverticalização, mas vale olhar para os Estados Unidos, país que costuma ser visto como grande referência na área.

Lá, esse tipo de associação não é permitida, para que os bancos e bandeiras não possam fazer parcerias, dominar o mercado e cobrar taxas abusivas.

Ao desverticalizar, o sistema bancário e de concessão de crédito fica mais segmentado, o que estimula a concorrência e, portanto, a queda do spread bancário.

spread bancário o que fazer para escapar dos juros altos
Há formas de escapar dos juros altos, mas é preciso disciplina e paciência para pesquisar

O que fazer para escapar dos juros altos?

Se reduzir o spread bancário não depende de nós, consumidores, como fazer para lidar com as altas taxas de juros praticadas pelo mercado?

Em primeiro lugar, busque uma organização financeira que lhe permita cumprir com suas obrigações sem ter que recorrer a empréstimos ou outro tipo de operação de crédito.

Procure guardar parte de seu salário todo mês para, quando precisar fazer uma compra maior, ter a quantia necessária para comprar à vista.

Se precisar parcelar no cartão de crédito, planeje bem para conseguir pagar o valor total das faturas em dia.

Caso pague um valor inferior, estará utilizando o crédito rotativo, que é onde estão as taxas de juros mais altas do mercado.

Afinal, trata-se de um crédito pré-aprovado, o banco já concordou com a sua concessão na hora em que conferiu o cartão de crédito.

Isso quer dizer que os riscos para o banco são maiores ao emprestar esse dinheiro, assim como a facilidade do cliente para tomá-lo. O que resulta em taxas enormes.

O mesmo acontece com o cheque especial (quando o saldo da conta corrente está zerado ou negativo e você ainda pode sacar dinheiro).

Se as coisas estiverem apertadas, em vez do crédito pré-aprovado, procure opções com taxas mais em conta, como o crédito consignado.

Nessa modalidade, o pagamento das parcelas é vinculado ao contracheque do devedor.

Portanto, representa um risco muito menor ao credor, que aceita cobrar juros bem inferiores.

Outra alternativa são as cooperativas de crédito, na qual todos os associados são considerados proprietários do negócio.

Por terem um propósito mais solidário, as cooperativas oferecem crédito a taxas muito inferiores às dos bancos tradicionais.

spread bancário influência do governo bolsonaro nos juros altos
A queda na Taxa Selic promovida pelo Banco Central não significa queda no spread bancário

Influência do governo Bolsonaro nos juros altos

Um dos esforços da política econômica do presidente Jair Bolsonaro é a redução da taxa Selic, que sofreu vários cortes e chegou a 4,5% em 2019, o menor nível da história.

Como já explicamos nesse texto, no entanto, a queda da Selic, por si só, não diminui o spread bancário no país.

Prova disso é que a taxa média de juros praticada no mercado não caiu no mesmo ritmo que a Selic.

No dia 29 de novembro, o presidente anunciou uma medida que combate mais diretamente os altos juros, mas é específica ao caso do cheque especial.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu limitar a 8% ao mês os juros que os bancos podem cobrar nessa modalidade – mas instituiu uma regra segundo a qual eles podem cobrar uma tarifa mensal para oferecer esse produto.

Conclusão

Agora que você já sabe o que significa spread bancário e entende melhor como os bancos funcionam, fica mais fácil administrar suas finanças.

Na medida do possível, procure gastar menos do que ganha para não precisar pedir dinheiro emprestado.

Se as contas estão apertadas, navegue pelo nosso blog e adquira conhecimento que vai ajudar você a se tornar um profissional melhor ou quem sabe empreender e aumentar seus rendimentos.

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