Você sabe quais são as suas âncoras de carreira, aquelas motivações que o fazem pular cedo da cama para encarar um dia de trabalho com total empenho e dedicação?
Talvez você não esteja familiarizado com o termo, mas, ao longo deste artigo, vai perceber o quanto ele é importante para garantir uma trajetória profissional bem-sucedida.
No Brasil, o índice geral de qualidade de vida no trabalho é de 6,5 pontos (avaliação que vai de 0 a 10), segundo levantamento do Sodexo Benefícios e Incentivos.
Esse número pode ser traduzido de duas formas: as pessoas não estão conseguindo atingir suas âncoras, sejam pelos motivos que forem, ou estão com dificuldades para definir quais são elas.
Aqui, também é importante destacar o papel que as organizações têm em alinhar as suas expectativas ao objetivo profissional de cada colaborador.
Afinal, estamos falando de uma relação de mão dupla, em que, se ambos conseguirem conciliar seus propósitos, todos sairão ganhando.
Ficou interessado sobre o tema?
Então, confira abaixo os principais tópicos que vão ser tratados neste conteúdo e boa leitura!
Âncoras de carreira são os princípios norteadores de uma trajetória profissional.
São as motivações que levam as pessoas a escolher determinada profissão, a mudar de emprego, a buscar uma promoção, uma recolocação no mercado, a migrar para o empreendedorismo e assim por diante.
Podemos dizer que é um conceito que tem tudo a ver com autoconhecimento profissional.
A palavra âncora, nesse sentido, remete a sustentação, fixação, tal qual o objeto que prende as embarcações ao solo em meio a águas agitadas.
As âncoras de carreira têm o mesmo propósito: servir como uma base sólida para apoiar as tomadas de decisão profissionais.
Edgar Schein é um dos pesquisadores mais relevantes dentro do universo corporativo.
Foi ele que cunhou a expressão cultura organizacional, como ela é conhecida e utilizada hoje, além de ser o criador do conceito “âncoras de carreira”.
Para o autor, a definição tem a ver com as motivações profissionais dos colaboradores, mas trata-se principalmente de uma relação bilateral, em que a organização precisa levar em conta os propósitos de seus funcionários para que os resultados sejam alcançados.
Segundo o pesquisador, ambos os lados devem conhecer as expectativas um do outro, de forma clara e objetiva, para que possam se ajudar mutuamente.
Imagine um colaborador que tem como âncora novos desafios.
Ele se motiva sempre que tem suas competências testadas e detesta se sentir estagnado.
A empresa precisa ter essa informação para oferecer situações em que esse profissional possa se desenvolver e ter uma alta performance.
O conhecido filósofo brasileiro Mário Sérgio Cortella tem uma ideia que resume bem a importância de saber identificar a âncora de carreira, que é mais ou menos assim:
Muitas pessoas acreditam que uma boa remuneração é o único propósito profissional e não há nada de errado nisso, caso você tenha a consciência de que segurança e estabilidade são âncoras da sua carreira.
No entanto, não é esse o cenário mais comum no mundo real.
Comumente, quem vê a atividade profissional como emprego, acaba tratando-a como uma obrigação, um fim para pagar suas contas.
Agora, quando você encontra a verdadeira motivação da sua carreira, o seu trabalho deixa de ser uma obrigação e passa a ser encarado como um serviço prazeroso.
Afinal, você começa a se identificar com os seus afazeres, se contagiar pela sua rotina e se envolver com os projetos.
Voltando à frase de Cortella, identificar a sua âncora de carreira vai fazer com que você enxergue a sua profissão muito mais como um trabalho do que como um emprego.
Isso não significa que a sua âncora seja imutável.
Dependendo do estágio da sua trajetória, ela pode se transformar, adaptando-se a novas realidades.
Saindo um pouco da abordagem individualista, focando somente na atitude do colaborador, é preciso retomar a relação bilateral, defendida por Schein: não é apenas o funcionário que sai ganhando, mas a organização também.
Uma empresa vai se beneficiar de um profissional mais motivado e produtivo, que sabe onde quer chegar.
Quando Edgar Schein criou a teoria das âncoras de carreira, ele também identificou que existem 8 pilares principais que norteiam as decisões profissionais das pessoas.
É comum oscilar entre eles, mas sempre vai existir um que vai se destacar mais e sustentar suas escolhas.
Conheça os 8 tipos de âncoras de carreira:
Estamos falando daqueles profissionais que vestem a camisa, que priorizam determinados valores e que os colocam acima de qualquer coisa.
Normalmente, são pessoas com responsabilidade social, que se preocupam com os outros, sejam eles colegas, clientes ou população em geral.
Por conta dessa dedicação a uma causa, esses indivíduos se dedicam com o máximo afinco às atividades e também se importam em transmitir todo o seu conhecimento aos demais.
Profissionais assim podem atuar nas mais diferentes áreas, mas tendem a se sentir mais realizados em setores como recursos humanos, atendimento ao público e treinamento.
Além disso, eles tendem a abrir mão de propostas financeiramente mais vantajosas caso achem que determinada oportunidade não faz sentido ou não compactuem com a cultura organizacional da nova empresa.
Profissionais que têm autonomia e independência como âncoras preferem ambientes em que não há uma gestão vertical, locais de trabalho que oferecem mais liberdade para o desempenhar das atividades.
Eles acreditam que regras em demasia atrapalham a produção e a manutenção de um clima organizacional mais saudável.
Isso não significa que essas pessoas não respeitem determinadas diretrizes, mas preferem deixar os padrões de lado e dar um toque autoral a tudo que fazem.
Por conta desses fatores, esses indivíduos tendem a se sentir mais realizados em organizações com uma estrutura horizontal de poder, como startups, por exemplo, do que em empresas mais tradicionais.
Para esses profissionais, a liberdade não tem preço.
Um salário maior dificilmente vai seduzir alguém com essa âncora de carreira se a remuneração não vier acompanhada de um grau de autonomia importante.
São aqueles profissionais que não suportam a chamada zona de conforto.
Suas carreiras são guiadas por novos projetos e novas missões.
Eles são viciados em resolver problemas, encontrando soluções pouco usuais em meio a contextos de dificuldades.
Exemplos de pessoas que têm esse tipo de âncora são aquelas com um perfil de liderança natural.
Para vencer os obstáculos, uma característica marcante desses indivíduos é a busca pela melhoria contínua.
Esses profissionais estão sempre atrás de treinamentos e cursos de especialização para se tornarem capazes de superar qualquer desafio.
Se uma empresa deseja manter um colaborador assim no seu time, deve investir em um plano de carreira ousado para deixar o profissional sempre motivado ‒ e se beneficiar disso.
Inovação é o que move esses profissionais.
De certa forma, eles têm um pouco do “desafio puro” e da “autonomia e independência” como princípios também, mas só no que diz respeito à liberdade para criar.
Os intraempreendedores, aqueles que desenvolvem soluções dentro de uma empresa, que não é a sua, são exemplos de pessoas guiadas por essa âncora.
Cabe aos gestores oferecer oportunidades a esses profissionais de darem asas à imaginação para que possam ter insights para criarem saídas inteligentes.
Caso esses indivíduos não encontrem espaço dentro de um ambiente organizacional, eles tendem a abrir os seus próprios negócios para darem vazão a toda essa capacidade criativa.
Quem valoriza essa âncora tem no trabalho uma ferramenta para atuar em prol da sua qualidade de vida.
Ou seja, ele entende a importância de ter um emprego, mas nunca vai colocá-lo como uma prioridade absoluta.
Isso significa dizer que esse tipo de profissional vai preferir ter rotinas mais flexíveis, prezar por uma clima organizacional impecável e encontrar sua verdadeira vocação para ter jornadas mais leves.
Basicamente, esses indivíduos tomam suas decisões profissionais com base no estilo de vida que pretendem ter.
Home office e um bom plano de valorização e recompensas costumam atrair funcionários com essa âncora de carreira.
Responsabilidade é a palavra-chave para profissionais que têm a competência administrativa geral como âncora de carreira.
Normalmente, são aquelas pessoas que têm o sonho de construir uma trajetória de sucesso dentro de uma empresa, conquistando sucessivas promoções e alcançando os cargos mais elevados hierarquicamente.
Para isso, elas precisam ter ou desenvolver habilidades como boa relação interpessoal, organização, inteligência emocional, gestão do tempo, entre outras.
Outra característica importante para as pessoas movidas por esse propósito é que elas costumam estar totalmente alinhadas à cultura organizacional da empresa em que estão.
Essa relação é tão íntima que o sucesso da empresa significa o seu próprio sucesso.
Podemos dizer que são profissionais com características opostas aos que prezam pelo “desafio puro”.
Eles preferem uma vida sem grandes riscos e um alto nível de previsibilidade.
Aqui, a zona de conforto não é vista com maus olhos, mas como um sinônimo de segurança e estabilidade.
Quem valoriza essa âncora costuma construir relações mais íntimas com os locais onde trabalha, pois tende a passar muito tempo desempenhando as mesmas funções.
Outro perfil comum a esse tipo de âncora são pessoas que constituem família desde muito cedo e precisam se sentir seguras no trabalho para conseguirem planejar o futuro com mais tranquilidade.
São os especialistas de plantão, aqueles profissionais que se capacitam para desenvolver atividades específicas dentro de uma organização.
Por exemplo, um técnico da área de TI pode se tornar um expert em inteligência artificial ou desenvolvimento de softwares, assim como alguém formado em marketing pode virar uma referência em copywriting ou atendimento.
A palavra-chave aqui talvez seja conhecimento: a busca por se tornar um profissional cada vez mais qualificado.
Protagonismo e atualização constante são outros conceitos que fazem parte do vocabulário de quem possui essa âncora de carreira.
Afinal, é preciso se manter atualizado às principais tendências para se tornar uma referência dentro do seu segmento.
Agora que você sabe quais são os oito tipos de âncora de carreira, já parou para pensar qual pode ser o seu?
Esse é um exercício de autoconhecimento, que vai exigir de você uma reflexão mais profunda sobre quais são as suas prioridades e expectativas para o futuro.
Abaixo, reunimos algumas questões que podem ajudar você a encontrar essa resposta, além de um teste objetivo.
Durante a apresentação dos oito tipos de âncora de carreira, já demos algumas pistas de como você pode encontrar as suas motivações profissionais.
Uma boa alternativa para eliminar possibilidades e chegar à resposta certa é fazer perguntas como:
Edgar Schein não apenas criou o conceito de âncoras de carreira, como também desenvolveu um teste (em inglês) para que os profissionais possam descobrir quais são elas.
Ainda que a avaliação seja de mais de 50 anos atrás e tenha sido realizada nos Estados Unidos, ela ainda é atual e pode ser aplicada universalmente.
Na década de 1970, Schein entrevistou 44 estudantes sobre seus interesses profissionais e escolares e acompanhou o desenvolvimento da carreira desses jovens por cerca de 10 anos.
Com base nesse histórico, o pesquisador avaliou os diferentes valores que guiavam essas pessoas para chegar até as 8 âncoras descritas neste artigo.
O teste consiste em 40 perguntas diversas sobre trajetórias profissionais e uma escala com seis classificações possíveis que o respondente deve assinalar, que são:
Ao final da avaliação, computadas todas as suas respostas, você vai ter acesso ao resultado e conferir qual tipo de âncora de carreira é a que mais se encaixa no seu perfil.
Vale ressaltar, mais uma vez, que as âncoras não são imutáveis.
É possível que você faça o teste hoje, obtendo um determinado resultado, e anos depois, após uma revisão de valores, a resposta seja outra.
Âncoras de carreira são um assunto fascinante.
Se você quiser se aprofundar mais sobre o tema, existem livros muito interessantes a respeito e também sobre áreas relacionadas, como os seguintes:
Conhecer a sua âncora de carreira significa saber qual tipo de profissional você deseja se tornar e quais escolhas devem ser feitas para chegar lá.
Mais do que isso, é um exercício de autoconhecimento que deve ser praticado com frequência para saber se você está satisfeito ou não com os rumos da sua profissão.
Não se preocupe em ter uma âncora para o resto da sua carreira ou se encaixar em algum dos 8 tipos.
Se você tiver novas prioridades, mudar o seu norte ou encontrar uma nona categoria, não mapeada por Schein, está tudo certo.
O importante é ter um propósito para seguir e se manter motivado, produtivo e realizado, colaborando para o cumprimento das metas organizacionais.
Por falar nas organizações, como empreendedor, é seu dever conhecer as âncoras de carreira de cada profissional e oferecer as condições necessárias para que elas possam ser respeitadas.
Para ter acesso a mais conteúdo desse tipo, continue acompanhando o blog da FIA!
Descubra o que é flexibilidade no trabalho e como essa tendência está transformando empresas, atraindo…
O futuro do trabalho em 2025 apresenta mudanças importantes para empresas e profissionais. Descubra as…
A ética na IA envolve princípios e práticas que orientam o uso responsável dessa tecnologia…
A auditoria externa é uma análise detalhada das finanças empresariais, garantindo precisão e conformidade com…
A matriz de materialidade é um método de grande utilidade para as empresas que têm…
Responsabilidade social corporativa: empresas indo além dos negócios tradicionais para um mundo melhor. Saiba mais!