Você pode até não se dar conta, mas a sua vida é influenciada pela geopolítica o tempo todo.
Quer um exemplo disso?
Na Guerra do Golfo, entre 1990 e 1991, uma das táticas adotadas pelos iraquianos para retardar o avanço dos norte-americanos foi incendiar centenas de poços de petróleo.
Além de um tremendo desastre ambiental, essa estratégia infeliz fez com que o preço do barril dobrasse, passando de US$ 40 para US$ 80.
Embora tenha sido travado no Oriente Médio, o conflito gerou reflexos na economia dos Estados Unidos, que registrou inflação recorde de 13,5%.
Já por aqui, sempre que o valor do petróleo dispara, o preço da gasolina que utilizamos em nossos automóveis tende a acompanhar esse movimento.
Ou seja, você sente no bolso o impacto de um evento geopolítico registrado muito longe da sua cidade.
Mais recentemente, a invasão da Ucrânia pelas tropas russas também vem afetando a economia dos países em toda a Europa e com reflexos no resto do mundo.
No Brasil, por exemplo, a guerra ainda em curso vem provocando alterações no câmbio, com reflexos também na inflação.
Como podemos ver, a geopolítica envolve uma série de aspectos territoriais, ambientais e, principalmente, econômicos e sociais.
É na origem da geopolítica que encontramos explicações para as relações entre países, ajudando a entender o que os leva a formar parcerias ou entrar em conflito.
Trata-se de um grande jogo de poder e de interesses, no qual nem sempre quem tem o maior poderio bélico sai em vantagem.
Afinal, existem outras formas de uma nação se impor, como a China, que vem travando uma silenciosa guerra comercial contra os Estados Unidos.
Conhecer geopolítica é, portanto, uma maneira de se posicionar como cidadão e membro ativo da sociedade.
Vamos explorar esse tema ao longo deste artigo, mostrando o que é geopolítica, seus efeitos e muito mais.
Confira os tópicos abordados:
- O que é geopolítica?
- A origem e a história da geopolítica
- O que a geopolítica estuda?
- A geopolítica no Brasil
- A geopolítica mundial
- Qual é a importância da geopolítica?
- Qual a diferença entre geopolítica e geografia política?
Avance na leitura, entenda o conceito de geopolítica e suas implicações.
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O que é geopolítica?
Geopolítica é a junção dos termos “geo”, que remete a território, e “política”, que é a forma de um país pautar o seu sistema de governo e suas relações internas e externas.
Assim, podemos definir o que é geopolítica como a política entre territórios, e tudo que se faz para garantir ou afirmar sua soberania.
O conceito de geopolítica é bastante antigo, com exemplos de sua aplicação em sociedades como a Roma e a Grécia antiga.
Quem nunca ouviu falar do Império Romano, que dominou toda a Europa e parte da África entre 27 a.C. e 476 d.C.?
Perceba como a origem da geopolítica é bastante antiga, com exemplos em períodos bastante remotos da história.
No caso dos romanos, tamanha expansão se deve a uma estratégia baseada na dominação militar, por meio da ocupação de territórios pelas tropas romanas.
A Alemanha nazista buscou afirmar-se geopoliticamente de forma parecida, pela anexação de territórios à força.
Diferentemente da Roma antiga, que não tinha adversários à altura para suas tropas, os alemães encontraram forte resistência, provocando um conflito generalizado na Europa e parte da Ásia e África.
Hoje, vemos a Rússia seguindo pelo mesmo caminho para se afirmar geopoliticamente como uma potência ao invadir a Ucrânia.
Do nosso lado do oceano, felizmente, não há um histórico tão extenso de conflitos justificados por objetivos de dominação territorial.
O mais perto disso foi a Guerra do Paraguai, causada pela política expansionista do então presidente paraguaio Solano López.
Depois de cinco anos de combates, entre 1865 e 1870, a tríplice aliança formada por Brasil, Uruguai e Argentina derrotou as forças paraguaias, garantindo a soberania desses países sobre seus territórios.
São exemplos que ajudam a entender o que é geopolítica, mas que não explicam onde essa forma de as nações se relacionarem começou.
É isso que vamos ver a partir de agora.
A origem e a história da geopolítica
A história da geopolítica começa com as primeiras cidades-estados.
Ela conta, por exemplo, a trajetória de Atenas, Esparta e Tróia, que rivalizaram por muitos anos na luta por mais territórios e riquezas.
O cinema eternizou um dos conflitos entre gregos e troianos, na superprodução “Tróia” (2004), estrelada por Brad Pitt.
Atenas e Esparta também eram rivais ferrenhas, lutando por seus interesses territoriais na Guerra do Peloponeso, entre os anos de 431 a.C. a 404 a.C.
A propósito, as cidades-estado gregas não tinham apenas rivais domésticos.
Ficou para a história, por exemplo, o incrível embate entre espartanos e persas, a chamada Batalha das Termópilas, provocada pelos invasores liderados pelo rei persa Xerxes.
Embora o exército espartano tenha sido derrotado, até hoje ele é lembrado pela feroz resistência de apenas 300 soldados contra todo o exército persa, estimado em mais de 300 mil membros.
Esse é outro conflito eternizado pelo cinema, contado no filme “300”, com Gerard Butler no papel do líder espartano Leônidas e Rodrigo Santoro no papel de Xerxes.
Depois da queda do Império Romano em 476 d.C., a organização social na Europa passaria por grandes transformações.
Sem a liderança de Roma, a Europa mergulhou em um período no qual sua divisão territorial passou a se basear em feudos, pequenas propriedades sujeitas aos senhores feudais.
Já na alta Idade Média, o feudalismo foi aos poucos sendo suplantado, graças à retomada das rotas comerciais entre a Ásia e a Europa.
Isso fez com que surgissem os burgos, grandes centros comerciais que se tornaram o epicentro de uma nova organização territorial: os reinos comandados por monarcas absolutistas.
Os reinos evoluíram para se tornar os estados-nações tal como conhecemos hoje e, com o seu crescimento, começaram a surgir novos conflitos e alianças geopolíticas.
Mas não pense que estamos falando apenas de passado. Ainda neste texto, vamos trazer exemplos de geopolítica bastante atuais.
O que a geopolítica estuda?
Pelo conceito de geopolítica, temos uma dimensão do que estuda essa área das Ciências Humanas.
Basicamente, o que se busca compreender nessa disciplina são as relações de poder entre os territórios, personificados pelos seus chefes de estado e órgãos governamentais.
Os exemplos de geopolítica que vimos anteriormente servem para ilustrar como isso acontece.
O uso da força militar é um meio de fazer valer o poder de um estado sobre o outro.
Contudo, há outras formas menos perigosas e caras de fazer valer os interesses das nações.
As alianças são o mecanismo mais frequentemente adotado, sejam de caráter estratégico-militar, comercial, alfandegário ou cultural.
No século XVIII, por exemplo, ficou conhecida a Tripla Aliança entre França, Inglaterra e Holanda, àquela altura já potências econômicas mundiais.
Apesar da sua ligação com a História, a geopolítica não estuda apenas os contextos passados.
Ela mira principalmente a atualidade, dedicando-se a interpretar os fatos do nosso tempo, dando uma noção de como os países se relacionam hoje.
Somente pela perspectiva da geopolítica atual podemos compreender o que levou a Rússia a invadir a Ucrânia, por exemplo.
A geopolítica também estuda os fatos históricos que levam os países a sustentar posições antagônicas por anos, décadas ou séculos a fio.
O separatismo catalão, nesse aspecto, é um caso a ser estudado, assim como o do País Basco.
Ambos os territórios se situam na Espanha, com a Catalunha fazendo parte da Espanha desde o século XVIII e o País Basco desde o século XV.
Na Ásia, a rivalidade entre China e Japão, hoje arrefecida, já levou a intensos confrontos geopolíticos, como as duas guerras Sino-Japonesas entre os séculos XIX e XX.
Todos esses eventos são a base de estudo da geopolítica, cuja finalidade é explicar como os países se articulam para defender seus interesses.
A geopolítica no Brasil
A geopolítica atual nunca está desconectada da geopolítica do passado.
No Brasil, os assuntos geopolíticos são discutidos e influem nos destinos do país desde os tempos de colônia.
O Tratado de Tordesilhas, em 1494, é talvez o nosso primeiro fato histórico de cunho geopolítico, pois marca a divisão do território sul-americano entre Portugal e Espanha.
Foram esses dois países que lideraram a chamada Expansão Ultramarina, movimento que iniciou-se no século XV, com a descoberta das Américas pelo navegador Cristóvão Colombo.
Até o século XIX, quando se tornou um império independente, o Brasil não tinha qualquer autonomia política.
Isso mudou em 1822, quando o então monarca português, D. Pedro I, declarou a independência, fundando o primeiro governo imperial.
A geopolítica no Brasil entra a partir daí no regime monárquico, em um período marcado por constantes turbulências e convulsões sociais.
Isso porque a monarquia jamais foi um governo aceito pela população, que se rebelou de todas as formas possíveis contra um regime que ela não escolheu.
Em meio aos problemas internos, o Brasil teve que lidar com os países vizinhos, algumas vezes pegando em armas, como na Guerra do Paraguai.
Houve também as questões geopolíticas internas, que caracterizaram o difícil processo de unificação territorial do Brasil, mesmo após a proclamação da República, em 1889.
Um dos conflitos mais conhecidos nesse aspecto foi a Guerra de Canudos, em que o povoado homônimo se insurgiu contra a recém criada República.
Entre 1896 e 1897, as tropas do governo travaram intensos combates, em que se opunham os sertanejos liderados por Antônio Conselheiro e o Exército.
Depois da consolidação da República, o Brasil se afirmou em suas relações externas por meio da diplomacia.
Essa posição perdura até hoje, o que nos deixa relativamente à vontade para negociar com países de todos os espectros políticos.
A geopolítica mundial
A geopolítica atual é reflexo do processo de globalização que se intensificou em meados da década de 1990.
Ela ditou uma nova economia, pautada no avanço das comunicações e na digitalização.
Nesse contexto, a expansão da internet é o grande divisor de águas, impulsionando as relações entre países como nunca antes visto.
As trocas de informação passaram a ser instantâneas, dando muito mais agilidade e segurança para negociar, não importa quão distantes as partes estejam.
Com isso, reduziram-se as incertezas sobre o panorama político, o que levou a uma redução da influência do poder bélico.
Se compararmos os primeiros 20 anos do século passado com o mesmo período do século atual, fica clara a redução das intervenções militares e conflitos de grandes proporções.
Porém, o avanço nas comunicações não eliminou as divergências entre os líderes mundiais.
A diferença é que, hoje, em vez de recorrer às armas, os governos adotam estratégias mais inteligentes para impor seus interesses.
As sanções econômicas são o melhor exemplo disso, ganhando inclusive um capítulo à parte em 2018, quando China e Estados Unidos travaram intensos “combates” comerciais.
Outra evidência dessa mudança de paradigma são as sanções econômicas impostas à Rússia, em retaliação à invasão da Ucrânia pelos países membros da OTAN.
É uma diferença e tanto para a postura adotada na Segunda Guerra Mundial, quando os países ocidentais mobilizaram tropas contra a Alemanha quando os nazistas invadiram a então Tchecoslováquia.
Por outro lado, isso não quer dizer que diminuiu a importância da geopolítica.
Pelo contrário, ela continua sendo fundamental, ainda que os países recorram cada vez menos à força.
E isso vale, é claro, também quando analisamos a geopolítica no Brasil.
Qual é a importância da geopolítica?
A verdade é que cada vez mais os países precisam uns dos outros para prosperarem.
Seria inimaginável um mundo sem geopolítica, considerando os fluxos comerciais, culturais e demográficos entre as nações.
O primeiro aspecto a ser analisado é a migração, que normalmente acontece a partir dos países menos desenvolvidos em direção às nações economicamente favorecidas.
Segundo a comissária europeia do interior, a sueca Ylva Johansson, a migração deve ser tratada como uma solução, não como um problema.
Faz todo sentido, ao constatarmos que boa parte dos países europeus estão há alguns anos registrando taxas de natalidade negativas.
O fenômeno ocorre também em escala mundial, como aponta um estudo da Universidade de Washington, segundo o qual, 23 países podem perder metade da população até 2100.
Se não fossem as estratégias geopolíticas para disciplinar as questões migratórias, o potencial de conflitos seria muito maior, como costumava acontecer na Idade Média.
A importância da geopolítica fica ainda mais clara quando analisamos também os fluxos comerciais entre os países.
Um exemplo disso está na queda do comércio global entre fevereiro e março de 2022, quando começou a ocupação russa na Ucrânia.
Em apenas um mês de confrontos, foi registrada uma redução de 2,8% nas trocas internacionais.
Portanto, analisar os exemplos de geopolítica é fundamental para entender a origem dos fenômenos sócio-econômicos nas escalas regional e global.
Como vimos, os acontecimentos que afetam países distantes de nós geram impactos perceptíveis em nossa economia e até no nosso relacionamento com outros países.
Qual a diferença entre geopolítica e geografia política?
A origem da geopolítica também se encontra no estudo de uma disciplina que lhe é complementar, a geografia política.
Esta se ocupa de entender como as diferentes sociedades agem sobre um território, modificando-o ou preservando-o.
Outro foco desta ciência social é compreender como os estados se organizam politicamente e de que forma suas políticas impactam nos indicadores sócio-econômicos.
A geografia política se dedica a estudar fatores como a evolução da urbanização, as diferentes configurações das atividades produtivas e seus setores mais importantes.
Já a geopolítica estuda como essa organização influencia na maneira como os países se posicionam perante a comunidade internacional, justificando suas políticas externas.
A geografia política pode abordar a geopolítica em seus estudos, tratando-a como um apêndice dos fatos políticos e sociais.
Em contrapartida, o estudo da geopolítica ajuda a entender parte dos acontecimentos político-geográficos de ordem interna.
É uma relação de interdependência, em que uma disciplina explica parte dos fatos estudados pela outra.
Lembrando que geografia política é também o termo usado para diferenciar-se da chamada geografia física, que estuda os relevos e a configuração da fauna e flora em uma região.
Trata-se de uma geografia humana, dedicada à análise dos fenômenos sociais e os impactos da ação do homem sobre o seu meio.
A geopolítica segue uma linha um pouco diferente, com o foco na relação de poder entre os estados, que são os seus protagonistas.
De certa forma, a geopolítica é uma geografia em macroescala, pois considera apenas os efeitos das políticas de estado.
Conclusão
É fascinante quando compreendemos que as ações em nível político de um país podem repercutir na nossas vidas.
Isso só é possível quando lançamos um olhar sobre a geopolítica e sobre como as nações regulam suas relações de poder.
O que seria do Brasil, por exemplo, se não fossem parceiros comerciais como China, Estados Unidos, União Europeia e o próprio Mercosul?
Para sustentar o bom relacionamento com esses países e regiões, é fundamental contar com uma linha geopolítica consistente.
Além das vias diplomáticas, os fluxos de bens também dependem de políticas alfandegárias e tributárias que favoreçam o livre comércio.
Essas e outras questões são diretamente impactadas pelo posicionamento do Brasil na economia mundial, o que por sua vez é um assunto ligado à geopolítica.
Um país se enfraquece geopoliticamente quando não assume uma posição clara ou seus líderes negligenciam a diplomacia e a manutenção dos tratados internacionais.
Em contrapartida, as nações que estão na linha de frente da geopolítica mundial são aquelas que assumem suas responsabilidades.
O Brasil pode ser considerado um país líder, principalmente pela perspectiva ambiental, em que somos quase sempre a ponta de lança dos acordos climáticos.
Isso nos faz acreditar em um futuro melhor, a despeito dos problemas sociais que continuam a acontecer.
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