O empreendedorismo social cria negócios sustentáveis e de valor para a sociedade.
Baseadas em um modelo independente de doações e auxílio por parte do Estado, diferentes organizações provocam impactos expressivos, seja em nível local ou global.
Mas essa união entre propósito e levantamento inteligente de recursos precisa de uma estrutura e princípios sólidos para funcionar, conforme mostramos neste artigo.
Lendo até o final, você vai entender como funciona a função, práticas e exemplos de empreendedorismo social para se inspirar.
Estes são os tópicos que vamos abordar no conteúdo:
Vamos em frente? Boa leitura!
Empreendedorismo social é um conceito que possibilita a construção de negócios cujo maior impacto são melhorias na sociedade.
Ou seja, essas empresas existem, principalmente, para promover soluções que geram mudanças na realidade de pessoas e/ou comunidades vulneráveis.
Elas podem fazer isso oferecendo capacitação, emprego, oportunidades de tratamento de saúde, atuando na preservação ao meio ambiente, entre outras frentes.
Diante dessa explicação, você deve estar se perguntando qual a diferença entre essas iniciativas e o trabalho de organizações do terceiro setor.
Embora lutem por causas em comum, o empreendedorismo social não depende somente de doações para sobreviver.
Parte ou o total de suas receitas vêm de produtos e serviços, assim como em qualquer outra empresa.
No entanto, esse modelo não tem o lucro como objetivo central, e, sim, o valor agregado a uma sociedade.
Enquanto o empreendedor “comum” cria um negócio para obter lucro, atendendo uma demanda do mercado, o empreendedor social toma uma iniciativa para resolver um problema, atender uma necessidade social, normalmente percebida em sua localidade, na comunidade onde ele vive e ou trabalha.
Com o passar do tempo, tal iniciativa pode vir a se tornar um negócio, que não exclui a obtenção de lucro, mas isto é mais uma decorrência do que uma primeira intenção.
Também é importante diferenciar o empreendedorismo social das ações de responsabilidade social, que são encabeçadas por empresas.
Essas campanhas costumam beneficiar comunidades de maneira pontual, por exemplo, entregando cestas básicas na época do Natal.
Contudo, elas não necessariamente sustentam transformações mais profundas, que consigam mudar a condição desses indivíduos, dando suporte para que tenham a própria renda.
Já o empreendedorismo social existe justamente para promover essas mudanças, sendo realizado de modo contínuo e bem estruturado.
Por fim é importante salientar o caráter local do empreendedorismo social. É comum que a história da iniciativa de um empreendedor social esteja ligada a um problema que uma pessoa/grupo enxergaram em suas comunidades. E, a partir disso, buscar uma solução que beneficie a todos.
O problema pode até estar presente em outros locais e, assim, a solução ser “escalável”. Mas o início é quase sempre local.
Ser um empreendedor social é estar à frente de uma iniciativa de empreendedorismo que agregue valor social.
Na prática, significa utilizar as características e ferramentas do empreendedorismo para viabilizar um negócio de impacto socioambiental.
Veja o que diz Klaus Schwab, idealizador da Fundação Schwab – organização que auxilia modelos inovadores nesse campo:
“Empreendedores sociais são pioneiros em abordagens mais sustentáveis e inclusivas para modelos de negócios. Essas pessoas têm provado como empregados, clientes, fornecedores, a comunidade e o meio ambiente podem ser beneficiados quando todas as partes interessadas estão envolvidas na criação de valores socioeconômicos.”
Nesse sentido, a fundação cita estratégias empregadas por esse líder:
O empreendedorismo social surgiu para suprir necessidades que não são cobertas pelo Estado, atendendo, em especial, demandas de populações vulneráveis.
No Brasil, esse campo ganhou força a partir dos anos 1990, quando houve considerável redução de investimentos públicos na área social e o aumento da presença e influência da sociedade civil organizada.
Desde então, empresas passaram a dar mais atenção ao seu papel na sociedade, implementando atividades de responsabilidade social.
Nesse cenário, emergia, também, o empreendedorismo, que corresponde a uma nova forma de pensar a gestão das empresas, elevando sua flexibilidade e competitividade no mercado.
Não demorou muito para que esses conceitos se misturassem, utilizando a capacidade empreendedora para solucionar um dos principais problemas de ONGs e outras entidades focadas apenas no campo social: o levantamento de recursos financeiros.
Ainda que, no país, existam opções variadas para captar os valores necessários para que essas instituições funcionem, eles ficam limitados por burocracia e dificuldades, por exemplo, para levar as ações ao conhecimento de possíveis colaboradores.
Considerando o contexto do empreendedorismo, que nasce para propor soluções diferentes a questões antigas, fez todo o sentido empregar esse raciocínio para resolver a demanda financeira.
Em vez de concentrar os esforços na sensibilização de comunidades e na captação de recursos junto a governos e fundos de incentivo, os empreendedores sociais forjaram sua própria fonte de renda.
Dessa forma, aliaram itens comerciais e auxílio à população, com o objetivo de formar negócios autossustentáveis.
Claro que pode ser interessante captar recursos de outros fundos em algumas ocasiões, como na expansão da iniciativa ou durante grandes campanhas, mas é possível sobreviver de forma menos dependente das doações.
É perfeitamente possível escalar no empreendedorismo social e é até desejável, uma vez que soluções e iniciativas bem sucedidas em uma comunidade podem ser adotadas em outras localidades, potencializando muito os seus benefícios.
Um dos caminhos para esta escala é o trabalho em rede, algo ainda pouco praticado na sociedade civil organizada, uma vez que as OSCs, muitas vezes, operam isoladas, quando poderiam se beneficiar muito – e beneficiar seu público – por um trabalho conjunto com suas organizações irmãs.
Outro caminho para dar escala a iniciativas bem sucedidas é por meio das estratégias de responsabilidade social das empresas.
Quando uma empresa toma uma iniciativa ou um projeto que ela apoia em uma comunidade e a leva para ser replicada em outra, ela está ampliando o leque de suas ações sociais. Com isso beneficia outras localidades, com a vantagem de oferecer algo já testado e de êxito comprovado.
Estes dois caminhos, trabalho em rede e estratégias de responsabilidade social empresarial, têm um potencial enorme de ampliar os efeitos de iniciativas sociais locais.
Além de beneficiar pessoas em situação de vulnerabilidade, os empreendimentos que focam na missão social contribuem para a satisfação e realização pessoal de gestores e funcionários.
Isso porque seu trabalho alinha carreira e propósito de vida, agregando um sentido nobre às atividades profissionais.
Empreendedores sociais têm feito a diferença na vida de várias comunidades espalhadas pelo mundo.
Seus projetos levam alimentos, melhores condições de vida, profissionalização, informação e cultura, contribuindo para o bem-estar social e preservação de ecossistemas naturais.
Na atual Era da Informação, essas ações se destacam por unir inovação, transformação digital e geração de valores à sociedade, ultrapassando objetivos puramente voltados ao lucro.
Hoje podemos enxergar dois movimentos. O primeiro é já termos empreendedores que começam um negócio com um propósito social, sem passar necessariamente pelo estágio de uma iniciativa sem fins lucrativos. Este tipo de negócio social tende a crescer expressivamente.
Em paralelo, vemos organizações da sociedade civil, as OSCs, buscando ampliar seus meios de sustentabilidade, criando ou ampliando a oferta de produtos e serviços.
Também esta tendência tende a se fortalecer, uma vez que é muito difícil sustentar uma organização apenas por conta de doações. Afinal, o IPEA aponta a existência de mais de 780 mil OSCs, no Brasil.
Ainda que as doações venham a aumentar de forma significativa, fica muito difícil atender as necessidades de manutenção de todo este contingente.
Como você deve imaginar, é difícil medir os efeitos de cada empreendimento, principalmente daqueles de atuação local, mas existem estimativas.
Uma das mais recentes foi divulgada em reportagem do portal UOL, mostrando que as ações impactaram 622 milhões de indivíduos nas últimas duas décadas.
Esse dado consta em relatório da Fundação Schwab, lançado durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça, realizado entre 21 e 24 de janeiro de 2020.
Como explicamos acima, a fundação dá suporte ao trabalho de empreendedores sociais, que estão localizados em 190 nações.
Os projetos levaram à distribuição de US$ 6,7 bilhões entre comunidades vulneráveis.
Também conseguiram importantes conquistas em prol do meio ambiente, como a redução da emissão do CO2 – e, por consequência, diminuição do efeito estufa e do aquecimento global -, evitando que 192 milhões de toneladas desse gás chegassem à atmosfera.
Para compreender e criar ações práticas nesse campo, vale lembrar que devem atender às demandas de forma contínua e sustentável.
Por isso, implicam em investir tempo, planejar e estruturar a oferta de serviços e produtos, a fim de que a atividade não atenda, somente, uma necessidade pontual.
E para entregar valor, é importante criar indicadores que ajudem a entender a evolução e efetividade de sua iniciativa.
Diante de uma comunidade sem acesso à água potável, por exemplo, o empreendedor social deverá encontrar respostas que vão além da compra desse item para abastecimento durante um mês.
É preciso oferecer oportunidades de reverter essa situação, reaproveitando a água ou garantindo o abastecimento dessa região sem grandes custos para os cidadãos.
Cabe, então, aquela máxima de que ensinar a pescar é melhor do que, simplesmente, dar o peixe, pois, quando empoderadas, as comunidades trabalham para deixar a situação de vulnerabilidade.
Saneamento básico e artesanato são alguns dos segmentos tradicionalmente beneficiados por negócios de cunho social, mas não os únicos.
Segundo o relatório apresentado pela Fundação Schwab, os setores que mais contam com apoio de empreendedores sociais no planeta são:
Outro dado relevante do documento é que o Brasil está entre os 10 países mais impactados por essas atividades, junto à Índia, Estados Unidos, México, Etiópia, Quênia, Nigéria, África do Sul, Tanzânia e Uganda.
A morosidade das políticas públicas focadas no social e as inúmeras desigualdades, combinadas à criatividade da população brasileira, fazem do país um celeiro de ideias inovadoras que melhoram as condições de vida das pessoas.
Questões ambientais também se destacam, em especial porque nossa nação possui abundância de recursos naturais, a exemplo da floresta Amazônica.
Além da flora e fauna específicas, a Amazônia é reconhecida como “pulmão do mundo”, devido ao seu papel essencial para preservar uma atmosfera saudável aos seres vivos.
Um empreendedor social deve combinar diferentes conhecimentos, habilidades, competências e posturas, unindo um espírito empreendedor à solidariedade.
A seguir, confira as características de pessoas com esse perfil, de acordo com o estudo “Empreendedorismo social no Brasil: atual configuração, perspectivas e desafios – notas introdutórias”, publicado na Revista FAE.
Podemos definir os conhecimentos como o saber que pode ser adquirido através de fontes externas, sejam aulas, livros e podcasts.
No mundo do trabalho, costuma se referir à educação técnica ou formal, mas também às informações relacionadas à gestão de pessoas.
Para estar à frente de um empreendimento social, é útil aprender a:
São qualidades que tornam uma pessoa capaz de realizar atividades práticas com sucesso.
Desenvolver habilidades é importante, pois de nada adianta obter os conhecimentos sem saber como usá-los no dia a dia do negócio.
As habilidades essenciais para um perfil empreendedor voltado a causas sociais são:
É importante salientar que o empreendedor social, assim como outros empreendedores, precisa ter visão. Ver uma solução onde há um problema e outras pessoas não conseguiram agir é uma habilidade fundamental.
São posturas que expressam o propósito, crenças e atributos pessoais.
Para empreender, é necessário ter um comportamento proativo, dinâmico e inovador, unido à paixão pelo campo social.
É a atitude que vai impulsionar o negócio, fornecendo motivação e carisma ao empreendedor.
Ele deve investir, em especial, nas posturas abaixo:
Resultam de uma mistura entre conhecimentos, habilidades e atitudes, que podem descrever tanto qualidades técnicas (hard skills) quanto comportamentais (soft skills).
As competências fundamentais para que o empreendedor social tenha um bom desempenho são:
A persistência é fundamental para um empreendedor social, já que o seu propósito pode encontrar muitas barreiras. Ser resiliente e conseguir se erguer depois de alguns contratempos é necessário e, no fim, gratificante.
Assim como mencionamos nos tópicos anteriores, o empreendedorismo social serve, principalmente, para gerar capital social, incluir e emancipar populações em situação vulnerável ou que vivenciem desigualdades.
Já o empreendedorismo empresarial tem o mesmo objetivo de qualquer empresa privada, que é gerar lucro para os donos, sócios e investidores.
Outra diferença fundamental é que o empreendedorismo tradicional foca na produção de bens que atendam às necessidades e desejos do cliente, enquanto o social trabalha por transformações nas comunidades.
Essas mudanças e impactos na vida das pessoas são a principal medida para avaliar o sucesso de um empreendimento de cunho social.
É o tipo mais comum de empreendedorismo, que move um ou mais indivíduos rumo à abertura do próprio negócio.
Geralmente, o empreendedor desfruta de uma visão estratégica, identificando uma solução criativa para problemas comuns.
Desse modo, ele monta a estrutura de sua empresa orientada a um nicho específico, que será atendido a partir de um modelo focado na inovação.
Ao contrário das organizações tradicionais, que prezam por hierarquias rígidas e controle centralizado, as empreendedoras focam naquilo que é melhor para o cliente, construindo um relacionamento que manterá o interesse em seus produtos e serviços ao longo do tempo.
São caracterizadas, ainda, pela descentralização, trabalho orientado, empoderamento dos funcionários e auto suficiência de recursos.
Essa expressão se refere à própria ação de empreender, também relacionada à abertura de um novo negócio.
O conceito de empreendedorismo inclui inovação, autonomia e risco.
A inovação nasce da criatividade e repertório do empreendedor, que necessita de autonomia para colocar sua ideia em prática.
Nesse contexto, ele também assume riscos, pois o negócio pode não dar certo, por exemplo, por não ser bem aceito pelo público, enfrentar uma concorrência desleal ou por falta de investidores.
Mesmo que o preço a pagar seja alto, o empreendedor não irá abrir mão dessa liberdade para colocar sua ideia em prática.
Quer se inspirar com empreendimentos de cunho social?
É só acompanhar os cases de sucesso que comentamos a seguir.
Idealizado pelo bengalês Muhammad Yunus, o banco é um dos empreendimentos sociais mais populares do mundo.
Tudo começou na década de 1970, quando Yunus decidiu se mobilizar contra uma injustiça em seu país – Bangladesh.
A população pobre não conseguia crédito junto aos bancos, ainda que fosse para abrir um novo negócio.
Sempre que precisavam pegar dinheiro emprestado, essas pessoas tinham de recorrer a agiotas, que cobravam juros abusivos.
Então, o empreendedor pensou em um jeito de provar que os empréstimos para essa faixa da população tinham risco baixo, atraindo investidores para estruturar seu próprio banco de microcrédito.
Ele mesmo emprestou US$ 27 a 42 mulheres de uma comunidade, que investiram em ferramentas de trabalho e conseguiram pagar todas as parcelas.
A partir dessa experiência bem-sucedida, nasceu o Grameen Bank, que concede pequenos empréstimos para dar suporte à produção e redução da pobreza em diversos países.
A organização rendeu o Prêmio Nobel da Paz a Yunus em 2006 e, em 2011, já havia auxiliado famílias pobres com quase US$ 10 bilhões.
Naquele ano, em entrevista à Revista Exame, o empreendedor afirmou não temer a inadimplência, esclarecendo que:
“Nosso modelo de negócios tem se provado eficiente desde o início, nos anos 70. Nunca tivemos problemas desse tipo em nenhum lugar. Nossa taxa histórica de adimplência é 97%. Só em 2009 emprestamos mais de 1,2 bilhão de dólares e recuperamos todo o dinheiro.”
O Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC) é um dos negócios sociais mais populares no Brasil.
A entidade foi criada em 1991, por meio de uma parceria entre o pediatra Antonio Sérgio Petrilli, o engenheiro Jacinto Guidolin e a voluntária Lea Della Casa Mingione.
A equipe desejava melhorar as chances de cura para crianças com câncer e, em 1998, conquistou colaboração técnico-científica junto à Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Dessa forma, o GRAACC se tornou referência no tratamento ao câncer infantil, sendo mantido através da venda de produtos em bazares, loja virtual e doações.
Ao concluir a leitura, você está bem informado sobre ações práticas de empreendedorismo social, sua importância e contribuição para diminuir as desigualdades.
O modelo emprega o lucro serve para sustento do próprio negócio, podendo, ainda, ser repartido com a população beneficiada.
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