Em um mundo que oferece cada vez mais possibilidades de conexão e interatividade, por que não tornar o ensino mais dinâmico, leve e divertido? A metodologia de aprendizado baseado em jogos, também chamado “game-based learning” (ou GBL), explora esse potencial de ensino.
Essa é uma abordagem que vem ganhando destaque em salas de aula e em outros contextos instrutivos, entre pessoas de diversas faixas etárias.
O aspecto interativo dos jogos é útil para essa finalidade porque eles têm um caráter lúdico e desafiador, capaz de despertar a curiosidade dos participantes. Além dessa criação de interesse, que é fundamental para começar qualquer aprendizado, jogos também podem estimular a concentração e fomentar uma competição saudável.
Jogos podem ser utilizados como o meio principal de ensino ou como uma ferramenta para fixar ou suplementar conteúdos. No entanto, como veremos adiante, o aprendizado baseado em jogos difere da “gamificação” de processos.
Alguns exemplos de jogos utilizados para ensino são jogos digitais de perguntas e respostas, modalidades de cartas e de tabuleiro. Veremos a seguir as principais características dos jogos voltados ao ensino e se, e por que, eles funcionam.
As seis características de jogos educacionais
Embora o GBL possa assumir diversas formas, todos jogos dessa natureza seguem alguns princípios básicos. As seis características seguintes são essenciais para qualquer jogo educacional.
Liberdade
Estudantes são livres para optar se participam ou não dos jogos educacionais. Dessa forma, eles se diferenciam da tradicional abordagem de ensino-aprendizagem.
Caráter fictício
O cenário em que se passa o jogo educacional pode ser mais ou menos próximo da realidade. Porém, sempre conterá elementos que o distanciem do mundo real.
Delimitação
Delimitar um espaço de ação é uma característica básica de jogos. No caso de jogos educacionais, há também a separação de um tempo para a atividade.
Incerteza
É importante que os participantes não saibam o que acontecerá durante a atividade ao começá-la.
Improdutividade
Os jogadores de um jogo começam e terminam a atividade no mesmo contexto. Ele é um fim em si, e não um processo de terminar uma tarefa “real” de maneira criativa.
Regulamentação
Outra característica básica de qualquer jogo: impor aos participantes um conjunto de regras para que eles calculem e executem seus passos.
Gamificação versus GBL
A gamificação consiste em inserir elementos provenientes de jogos em cenários reais e cotidianos. Isso pode se aplicar tanto a cursos e programas de premiação quanto a treinamentos corporativos ou a processo de trabalho.
Os processos de gamificação começaram a ser utilizados amplamente em corporações nos anos 2000. O uso deles tem em comum com o aprendizado baseado em jogos o fato de visar a extrair o melhor de certos aspectos de jogos em outros contextos: entretenimento, fomento de colaboração e competição, e aumento de motivação. O objetivo geral é obter comportamentos específicos por meio de um sistema lúdico de recompensa.
No entanto, o aprendizado baseado em jogos é aplicado exclusivamente dentro do jogo, e não em interações reais (lembra-se do caráter fictício deles?). Além disso, o objetivo desse tipo de aprendizado é usar atributos dos jogos para aprofundar, promover ou facilitar o aprendizado.
Vale ressaltar que, assim como a gamificação, o GBL também pode ser aplicado em contextos corporativos. No entanto, como vimos, a finalidade é diferente.
Vantagens e motivos para uso
Na introdução do artigo, mencionamos a interatividade, a leveza e o dinamismo como ganhos importantes dos jogos usados como ferramenta de ensino. Felizmente, eles não são os únicos.
O ensino baseado em jogos é uma maneira se criar conexão com o universo de alunos habituados a jogar. É uma metodologia usada para transpor barreiras de aprendizado com uma geração que nasceu utilizando ferramentas digitais, e que muitas vezes rejeita metodologias e dinâmicas tradicionais de ensino.
Assim como nos esportes, muitas pessoas podem revelar talentos e habilidades durante a prática que não sabiam ter antes de iniciá-la. Esse é um aspecto motivador relevante para aprender.
Aprender por meio de jogos também é uma maneira de aproveitar a proatividade dos alunos. Esse aspecto é interessante para os mais jovens, que estão habituados desde cedo a interagir e obter o que querem de interfaces digitais. Por outro lado, também é uma maneira de provocar e engajar também jogadores-alunos mais velhos.
Outra utilidade didática dos jogos educacionais é tornar mais palpável a importância de certos conhecimentos. Afinal de contas, “por que eu vou aprender isso se eu nunca vou usar?” Essa pergunta clássica, embora muitas vezes não corresponda à realidade, impede muitas pessoas de se concentrar para aprender matérias importantes.
Essencialmente, podemos afirmar que os jogos podem ser bons aliados para que instrutores consigam três coisas fundamentais no ensino: simplificar um aprendizado, reter a atenção dos alunos e fazer com que participem ativamente do processo didático.
Erros e acertos do aprendizado com jogos
O aprendizado por meio de jogos pode funcionar, estimulando todos os aspectos didáticos citados na seção anterior desse texto. No entanto, nem sempre os jogos são aplicados com metodologia eficaz.
Um estudo da UFRGS de 2015 sobre pesquisas brasileiras citando a aplicação de jogos educacionais em escolas revela um uso pouco racional desses recursos didáticos.
Constatou-se que 40,74% dos casos de aplicação de GBL foram feitos sem a preocupação com o emprego de teorias de aprendizagem. Os pesquisadores afirmam que essa ausência pode tornar os jogos inconsistentes para fins de ensino.
Além do embasamento em práticas educacionais conhecidas, os jogos podem ganhar maior eficácia no aprendizado ao cumprir os seguintes itens:
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- Planejamento: Os jogos devem ser escolhidos ou desenvolvidos com objetivos e etapas bem-definidos. Se a meta é ensinar sobre as três leis de Newton, por exemplo, elas devem constar no jogo. O formato do jogo também pode ajudar ou atrapalhar o ensino, e deve ser escolhido criteriosamente.
- Encarar como ensino: É fundamental não confundir um jogo educativo com recreio. A diversão faz parte do processo, mas as dispersões devem ser controladas, e todos participantes devem cumprir as regras e o tempo de duração do jogo.
- Adeque o jogo à estrutura: Para fins organizacionais, “querer” nem sempre é “poder”. A condução do jogo-ensino deve ser viável usando a estrutura à disposição da instituição e dos alunos – seja pessoalmente ou a distância.
- Medir resultados: Criar metas e objetivos antes de aplicar o jogo é fundamental. Não precisa ser um sistema rígido de avaliação, mas é necessário entender se o jogo, de fato, é útil para ensinar. Fazer chamadas de conteúdo e solicitar que os alunos avaliem as atividades podem ajudar nesse propósito.
Conclusão
Jogos podem ser ferramentas bastante envolventes e eficazes para ensinar conteúdos, com narrativas envolventes, imagens estimulantes, mecânicas interativas divertidas e competitivas que seriam difíceis (ou impossíveis) de ter numa aula expositiva comum ou mesmo usando livros e vídeos como suporte auxiliar.
Com a diversificação de tecnologias e de interessados no assunto, o GBL também é um filão cada vez mais interessantes para desenvolvedores e profissionais que querem fazer a diferença, seja tecnicamente ou por perceber um impacto social relevante.
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