O medo de falhar é o que leva muitas pessoas a deixar de fazer coisas importantes na vida pessoal e profissional. Alcançar grandes objetivos sempre traz percalços e é importante ser capaz de assumir alguns riscos para isso. Por outro lado, quem tenta executar seus planos e insiste em cometer erros desnecessários age de maneira pouco racional.
Ouvir e compartilhar experiências de sucesso analisadas de maneira sistemática é uma ótima maneira de evitar esses erros e concentrar energia nos percalços inevitáveis.
Por isso, a apresentação de estudos de caso – também conhecidos como “cases” de sucesso – é uma maneira comum de oferecer a espectadores uma referência para inspiração ou para servir de ponto de partida a projetos similares ao apresentado.
Embora bastante disseminado no contexto acadêmico e profissional, o estudo de caso não é uma ferramenta que deve ser usada indiscriminadamente. Conheça a seguir os contextos e as maneiras em que esse recurso pode ser usado de maneira eficaz.
O que é um estudo de caso e qual é a sua importância
O conceito
O estudo de caso é a narração da trajetória de um projeto. Como veremos mais adiante, esse projeto pode ser de diversas naturezas e pode ter aspectos realçados ou diminuídos.
O relato descreve uma experiência complexa e única. Portanto, deve detalhar todas as informações contextuais relevantes sobre o projeto em questão, onde ele começou, que dificuldades e oportunidades seus autores passaram e qual foi seu desfecho.
Por descrever uma situação bastante específica, o caso deve mostrar não apenas os acertos, mas também os erros cometidos na busca por soluções – e de que forma eles foram contornados.
Para quem presencia o relato, ele servirá como referência inicial, a partir da qual deverá ser adaptada e usada na prática para obter bons resultados.
A importância
O diferencial do estudo de caso frente a outros tipos de levantamento é oferecer uma visão menos generalista da trajetória de um projeto. Dessa maneira, é possível obter insights mais aprofundados e pontos de vista mais provocativos.
Robert Yin, autor do livro Estudo de caso: planejamento e métodos, argumenta que esse tipo de estudo é interessante para investigar acontecimentos contemporâneos, identificando comportamentos relevantes para que ocorressem. Portanto, é uma ótima maneira de responder “como” e “por que” projetos chegaram onde chegaram.
No contexto empresarial, podemos encontrar exemplos de sua aplicação na busca pela inovação, quando organizações podem se basear nos casos expostos para estruturar negócios a partir de novas perspectivas. Além disso, podem ser feitos estudos em diversas áreas: produto, vendas, marketing, RH, liderança, entre outros.
No contexto acadêmico, o estudo de caso pode servir como pré-requisito para apresentação de alunos a programas de pós-graduação e graduação, bem como para exposição de trabalhos de conclusão de curso, por exemplo.
Estudos de caso também podem ser valiosos na sala de aula, quando solicitados por um professor. Estudar projetos de empresas, por exemplo, leva o aluno a entender as oportunidades e riscos do processo e compará-los aos conhecimentos teóricos. Isso permite aos alunos entender como as teorias se aplicam na vida real, formular as próprias conclusões e obter maior autonomia didática.
Vantagens do estudo de caso
Sinteticamente, podemos destacar em cinco pontos as principais vantagens do uso de estudos de caso em diferentes contextos:
Mesmo método, áreas diversas: A estrutura de exposição de um caso pode ser reaproveitada, com adequações, a outros casos de outros campos de conhecimento
Exploração intensa de um caso: A concentração num projeto permite apresentar aspectos relevantes dele a espectadores interessados com uma riqueza de detalhes rara em outros contextos
Caráter construtivo: Ter uma referência detalhada do que fazer e do que não fazer num projeto pode ser um ponto de partida bastante valioso
Informações factuais: O empirismo guia a narração dos estudos de caso, tornando-o mais completo do que abordagens meramente teóricas ou generalistas
Construção de autoridade: Além de compartilhar informações úteis, quem apresenta estudos de caso obtém visibilidade e prestígio. Assim, constrói sua autoridade como referência em determinado assunto
Aplicações específicas do estudo de caso
Estudos de caso são, por natureza, bastante específicos. Portanto, podem se utilizar de diferentes métodos e serem usados com finalidades diferentes, para demonstrar aspectos diversos de um projeto.
Apresentaremos a seguir dois métodos de estudos de caso didáticos, para referência de uso em sala de aula. Em seguida, mostraremos como o mesmo caso pode ser utilizado de maneira a cumprir três papéis diferentes – exploratório, descritivo e analítico. Vamos nos aprofundar um pouco neles?
Ensino: método Harvard
Essa metodologia foi criada na prestigiada Universidade Harvard, nos EUA, e estimula a criatividade, a competitividade e a proatividade de alunos em sala de aula num exercício de reflexão coletiva.
Primeiro, os alunos estudam referências teóricas relevantes apresentadas pelo professor antes do encontro presencial. Então, o professor assume um papel de mediador em sala de aula, questionando os alunos sobre o que entenderam a respeito do problema apresentado em um estudo de caso.
Os alunos são estimulados a mostrar seus pontos de vista e debater ideias e soluções. Os encontros não têm como objetivo chegar a uma resposta específica, mas sim estimular a criatividade e o entendimento da classe sobre as soluções adotadas por uma organização diante de uma situação real.
Ensino: aprendizagem baseada em problemas
Nesse contexto de uso, os professores apresentam o estudo de caso a partir da solução de um problema específico. Novamente, a criatividade é bastante trabalhada pelos alunos, que, no entanto, devem propor soluções diversas.
Eventualmente, professores e alunos podem debater sobre a eficácia das soluções encontradas, possíveis alternativas e suas consequências. Embora se assemelhe ao método Harvard, essa abordagem é mais objetiva.
Abordagem exploratória
O estudo de caso exploratório é aquele desempenhado para evidenciar ou adicionar informações sobre situações em que há pouca clareza. Seu resultado são registros que ampliam a visão sobre um assunto ou problema.
Esse tipo de exposição geralmente é interessante para iniciar pesquisas sobre um campo recém-descoberto, práticas ou grupos que ainda não são bem-conhecidos. Costumam levar mais tempo para ser completos.
Abordagem descritiva
Esta é a abordagem mais comum de estudos de caso, dedicada a descrever detalhadamente situações bem-definidas. São analisadas as soluções aplicadas num determinado contexto, permitindo entender quais foram os eventos e as variáveis que influenciaram sobre tais decisões.
Abordagem analítica
Neste tipo de estudo de caso, os elementos de um ou mais projetos são utilizados para propor reflexões aos espectadores, para assimilar ou refutar uma tese.
Frequentemente, são utilizados de dois a mais casos, para comparar variáveis e resultados e embasar análises e discussões pertinentes.
Conclusão
O estudo de caso pode assumir diferentes formas em diferentes contextos, mas essencialmente ajuda a compreender uma situação essencial: uma unidade individual tentando superar obstáculos para concluir projetos.
O professor Robert E. Stake, da Universidade de Illinois (EUA), assevera que “o objetivo do estudo de caso não é representar o mundo, mas representar o caso”. Portanto, um relato de sucesso não vale como uma realidade incontestável em si. Antes, o estudo de caso é um insumo muito bem-vindo para ampliar os conhecimentos, contanto que usado em conjunto com outras vivências e embasamentos teóricos.
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