20 jan 21
Práticas e conceitos essenciais de consumo sustentável
Num mercado competitivo, o consumidor pode exercer claramente seu poder de escolha. Além de todos os fatores que levam uma pessoa a comprar um produto – preço, confiança na marca, qualidade -, cada vez mais os consumidores valorizam empresas que pensam no impacto de seus produtos no planeta. Esse é o princípio fundamental do consumo sustentável.
Mas essa maneira consciente de consumir não se resume apenas a analisar um produto produzido com uso eficiente de recursos e práticas ambientalmente correta. A maneira de utilizar e de descartar os produtos também entram na alçada das escolhas disponíveis ao consumidor.
Conceitos centrais do consumo sustentável
O consumo sustentável é, antes de tudo, uma maneira informada de consumir. Primeiro, a pessoa deve estabelecer critérios para sua escolha para depois escolher. É uma decisão que parte de um pensamento crítico.
Há muitos aspectos éticos da indústria para se pensar, mas o mais comum costuma ser o aspecto ambiental. Na concepção da Organização das Nações Unidas, o desenvolvimento sustentável e contínuo só é possível se as áreas social, ambiental e econômica da produção forem conciliadas.
Nesse contexto, para modificar as dinâmicas de produção e consumo, os conceitos de consumidor verde e de economia circular cumprem papel relevante.
Consumidor verde
Pessoas que levam em conta os efeitos de um produto no meio ambiente antes de comprá-lo são consideradas consumidoras verdes.
O objetivo, em larga escala, dos consumidores verdes é fazer com que as empresas passem a aderir a técnicas menos prejudiciais ao planeta para fabricar produtos.
Consumidores verdes não deixam de lado o preço ou a utilidade das compras, mas também dão preferência a produtos que usem madeira de reflorestamento, biocombustíveis, materiais recicláveis em geral.
O manual de “Educação para o Consumo Sustentável” do Ministério da Educação (MEC) é uma fonte mais aprofundada de informações sobre o assunto.
Economia circular
Do ponto de vista industrial, o desperdício de recursos é um grande problema ambiental. Além de pouco eficiente economicamente, desperdiçar matérias-primas leva ao consumo desnecessário e, potencialmente, ao esgotamento de recursos naturais.
O sistema linear de produção e consumo, que é o tradicional, restringe a vida útil de insumos de produção a 5 etapas: extração, processamento, transformação, consumo e descarte.
A lógica circular propõe 3 maneiras de reutilizá-los para romper com os costumeiros desperdícios:
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- Reuso para a mesma finalidade – Como quando se lava e guarda um pote de conservas usado para armazenar molhos e outros alimentos
- Reuso para finalidade diferente – Uma antiga embalagem de margarina que é usada como vaso de plantas, por exemplo
- Reciclagem – A retransformação de materiais em outros produtos, como a reciclagem de latas de alumínio.
Além de reduzir a quantidade de resíduos, a implementação dessas rotinas circulares reduz a necessidade de produção, aumenta a eficiência do uso e preserva recursos naturais.
A importância do consumo sustentável
A ONG Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) publicou um estudo que alerta sobre o incremento no desmatamento na Amazônia Legal em 74% em janeiro de 2020, em relação ao ano anterior.
A Amazônia Legal é uma região socio-geográfica que engloba outras áreas além da floresta tropical. Os biomas compreendidos nessa divisão e outros ambientes brasileiros, como o Cerrado ou a Mata Atlântica têm sido vítimas de uma atividade predatória movida por interesse econômico e arranjos de produção não sustentáveis.
Esse movimento só existe porque existe quem o fomente – em última instância os consumidores. O Instituto Akatu constatou num levantamento recente que o preço de mercadorias verdes é um obstáculo para consumir de modo consciente no território nacional.
Por outro lado, uma pesquisa da consultoria Euromonitor de 2019 chegou à conclusão de que apenas 20% dos brasileiros se consideram consumidores conscientes.
A conscientização das vantagens de itens de consumo verde, como a maior durabilidade e a possibilidade de reuso, é bastante relevante para modificar esses hábitos de consumo.
Práticas de consumo sustentável
Uso racional da água
Várias crises de distribuição de água vêm educando “na marra” a população brasileira quanto ao uso doméstico da água. Mas a popularização de práticas de reutilização de água em condomínios comerciais e residenciais pode tornar esses esforços ainda mais eficazes.
Novas tecnologias no meio agrícola também vêm possibilitando a agricultura de precisão para uma irrigação cada vez mais econômica.
Reciclagem de materiais e descarte correto
Campanhas educativas e instalação de pontos e sistemas de coleta seletiva são fundamentais para conscientizar a população. Muitas cidades vêm implementando medidas dessa natureza há anos, ao passo que outras estão abrindo os olhos para sua importância apenas recentemente.
O descarte correto de resíduos também evita o contágio e os prejuízos à fauna e flora, geralmente trazidos por materiais que demoram décadas ou centenas de anos para se decompor.
Compostagem
A opção pela compostagem é um tipo de descarte de resíduos. Restrita ao lixo orgânico, esse processo transforma os resíduos em adubo e pode assumir diversas formas.
Geralmente, precisa-se de uma composteira, que pode ser uma porção de terra num terreno ou assumir forma compacta, como um caixote.
A mera ação do tempo e o descarte correto dos resíduos na composteira resultará na geração de adubo (que pode ser útil no jardim), na eliminação do lixo doméstico e na economia de sacos de lixo, transporte e processamento do lixo por cooperativas.
Em suma, é uma prática relativamente simples que pode trazer bons resultados tanto para a casa quanto para o orçamento público e para a natureza.
Economizar energia
Assim como a água, a energia elétrica é um serviço de consumo necessário. Ainda assim, a diminuição consciente desse tipo de consumo pode ser uma maneira interessante de reduzir impacto ambiental.
Felizmente, no Brasil a maior matriz energética doméstica é renovável e as emissões de carbono por habitante no país estão muito abaixo dos padrões norte-americano, europeu ou chinês, de acordo com o mais recente Balanço Energético Nacional. O grande gastador de combustíveis fósseis, que são poluentes e não são renováveis, é o setor de transportes.
Assim, a compra de veículos modernos e adaptados ao álcool ou ao biodiesel é uma escolha mais sustentável do que os movidos a gasolina. Produtores que consigam romper com a logística movida a combustíveis fósseis também podem ser “recompensados” com a escolha do consumidor consciente.
Conclusão
O efeito do consumo sustentável somente é sentido quando assume larga escala. Quando isso ocorre, as organizações se sentem impelidas a mudar suas práticas para se adaptar às demandas do consumidor, que é quem gera seu lucro.
Já existe a movimentação de empresas conscientes, que tomam a iniciativa em apoiar causas que levem a impactos ambientais positivos. Mas esse é o tipo de mudança que depende de anos de educação e prática de ações simples, mas significativas.
Para conhecer mais sobre consumo sustentável, leia o texto dedicado ao tema no blog da FIA. Assim como o blog da Graduação, é um repositório de conteúdo sobre temas contemporâneos e relevantes na área de administração, inovação em produção e consumo.