O think tank é um conceito que vem ganhando muita popularidade.
Tem a ver com a disseminação de conhecimento e com a criação de políticas públicas.
Muitas vezes referidos em português como laboratórios de ideias ou fábricas de ideias, os think tanks são instituições ou grupos de especialistas com a missão de refletir sobre assuntos relevantes.
No Brasil, esse assunto não para de crescer.
Você já ouviu falar?
Caso ainda não tenha familiaridade com o tema, não se preocupe, pois neste artigo vamos apresentá-lo com toda a profundidade que merece.
Você vai conhecer o histórico dos think tanks e a sua chegada ao país, seus principais desafios, o seu poder de influência na mídia e no governo, seus impactos na sociedade e muito mais.
Comece conferindo o resumo abaixo e boa leitura!
Um think tank é uma organização preocupada em criar e disseminar conhecimento sobre os mais variados temas, como política, economia, saúde, segurança, ciência, entre outros.
Normalmente, é associado a uma ponte entre os centros de ensino e as comunidades responsáveis por colocar em prática os estudos desenvolvidos.
Outro ponto importante é que os think tanks estão relacionados a assuntos de interesse público.
Ou seja, procuram encontrar alternativas para problemas que afetam uma parcela significativa da sociedade ou alguma minoria em específico.
Além disso, um think tank pode ter diferentes tipos de categorias de afiliação, como, por exemplo:
Um think tank possui inúmeras funções, mas a que pode ser considerada a sua principal é a divulgação de estudos relevantes, que gerem debates e produzam resultados práticos.
Para que a pauta consiga o engajamento da opinião pública, os think tanks têm a missão de traduzir suas pesquisas a uma linguagem mais acessível e confiável.
Além disso, eles têm o papel de desburocratizar as práticas reproduzidas pelas instituições tradicionais de poder, trazendo soluções mais ágeis e criativas.
Os think tanks nasceram nos Estados Unidos e na Europa, no início do século passado, com a criação das primeiras organizações de pesquisa, como a Russell Sage Foundation e o Kiel Institute of World Economics.
No entanto, o termo só foi usado anos mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial.
Na ocasião, think tank foi o nome dado para descrever um local seguro onde planos militares poderiam ser desenvolvidos de maneira mais tranquila.
No entanto, depois da grande guerra, o nome se popularizou e começou a ser utilizado de forma massiva para descrever as instituições de estudos e pesquisas.
Durante muito tempo, os envolvidos pensavam que os think tanks seriam um fenômeno local, que não cruzaria as fronteiras dos Estados Unidos.
Isso porque, até então, as instituições se mantinham basicamente com financiamento privado, uma cultura que era muito forte no país.
Aos poucos, porém, essa tendência começou a se dissipar, e os think tanks passaram a se espalhar mundo afora.
Até o final do século XX, já tinham chegado a outros países entre os mais industrializados do mundo, como Reino Unido, Canadá e Austrália.
No século XXI, todos os continentes têm as suas representantes do conceito think tank, sempre respeitando as realidades locais.
Os think tanks são atores fundamentais para o desenvolvimento de políticas públicas que podem mudar a realidade de muitas pessoas.
Por tratarem de temas relevantes, como saúde, meio ambiente, política e economia, por exemplo, essas instituições podem contribuir com soluções importantes para todas essas áreas.
Isso porque elas trabalham no levantamento de dados estatísticos e na definição de indicadores que podem embasar projetos, aumentando o seu nível de eficácia.
Os think tanks atuam na transição entre o conhecimento e o poder, influenciando mudanças profundas nas pautas de interesse público.
Muitas pessoas acabam confundindo a atuação dos think tanks com a das Organizações Não Governamentais (ONGs), quando, na verdade, elas têm diferenças bem importantes.
Enquanto as ONGs trabalham com os governos na intervenção de certas pautas, os think tanks, na maioria das vezes, disseminam pautas de interesse público.
É bem verdade que ambas as instituições podem, de maneira complementar, colaborar com o papel uma da outra.
Uma organização não governamental certamente pode produzir conhecimento ao mesmo tempo em que realiza suas ações mais práticas.
De igual forma, um think tank pode ter atitudes mais intervencionistas, configurando o que alguns chamam de “think-and-do tanks”.
O poder público pode ser influenciado a tomar decisões com base nos estudos apresentados pelas instituições.
Mas não são apenas os agentes públicos que se beneficiam das ações dos think tanks.
Todo o conhecimento produzido pode ser disseminado para mais atores, como a população em geral e as empresas.
As informações podem ser consumidas de várias formas, uma vez que as estratégias são distribuídas através de diferentes canais, como:
Como foi mostrado no início, os think tanks podem ter diferentes categorias de afiliação.
Essas características também vão determinar o modelo de financiamento adotado.
A fonte dos recursos de um think tank governamental, por exemplo, pode ser exclusivamente de subsídios federais.
Já outros tipos de instituições podem ser financiadas através de doações, com a parceria com universidades e com verba de empresas.
De acordo com a edição de 2020 do Global Go To Think Tank Index Report, relatório anual publicado (em inglês) pela Universidade da Pensilvânia sobre o setor, existem 11.175 think tanks no mundo.
O continente asiático é o que mais colabora com esse ranking, com 3.389 instituições.
Depois, vêm a Europa, com 2.932, e a América do Norte, com 2.397.
Além disso, foram mapeadas 15 áreas de pesquisas que estão sendo priorizadas para a busca de soluções.
O surgimento dos think tanks no Brasil coincide com a criação das primeiras universidades, principais incentivadoras da difusão do conhecimento.
A primeira universidade brasileira foi criada em 1909, a antiga Universidade de Manaus.
Aos poucos, surgiram outras, totalizando 33 ao final da década de 1950, entre faculdades federais, públicas, estaduais e privadas.
Foi nesse período que nasceu a primeira think tank do país, em 1944: a Fundação Getúlio Vargas, ainda que, na época, ela não se denominasse assim.
Na década seguinte, vieram mais três importantes think tanks, marcando o início desta trajetória.
Foram o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (Ibri), fundado em 1954, o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 1955, e o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), no mesmo ano.
Os think tanks enfrentam diversos desafios, desde sua criação até a consolidação de uma relevância na sociedade.
O principal deles, talvez, seja um dos aspectos levantados pelo estudo da Universidade da Pensilvânia mencionado acima.
É a missão de aproveitar todo o conhecimento em potencial na construção de políticas públicas que apoiem ideais como sustentabilidade, inclusão social e progresso econômico.
Outros cuidados se fazem necessários, especialmente na era do acesso quase universal à internet, redes sociais e demais meios de comunicação.
Em primeiro lugar, uma preocupação com a precisão dos dados levantados, em época de fake news.
Por fim, também é digno de nota o risco de alguns posicionamentos ideológicos influenciarem nas informações, sobrepondo-se ao rigor científico.
O ideal é que o trabalho de um think tank tenha um impacto real para a sociedade.
Fomentar discussões é importante, mas as pautas vão se tornar ainda mais relevantes se servirem de inspiração para o desenvolvimento de uma política pública, por exemplo.
As think tanks exercem um papel chamado de “policy analysis” nas políticas públicas, que é muito importante, pois recomenda determinadas saídas para problemas concretos.
No entanto, ainda carecem de uma atuação mais prática na chamada “policy research”, o estudo mais aprofundado que, no Brasil, ainda tem ficado mais a cargo das universidades.
Talvez, uma cooperação ainda maior entre esses dois agentes fosse uma iniciativa positiva para a implementação de políticas públicas mais assertivas no país.
Muitas think tanks têm o papel de advocacy, que pode ser traduzido como a missão de tentar influenciar quem é influente.
É o caso dos governantes, da mídia e dos demais formadores de opinião.
Essas instituições utilizam o chamado marketing de ideias, que busca colocar na agenda pública as suas ideologias.
Além disso, devido à credibilidade, os think tanks costumam ser ouvidos quando sua área de atuação já está em debate na arena pública.
Os think tanks brasileiros têm ganho cada vez mais importância e notoriedade no cenário mundial.
Um exemplo disso é a presença destacada delas no Global Go To Think Tank Index Report da Universidade da Pensilvânia, principal estudo do segmento.
Na edição de 2020, think tanks brasileiras tiveram destaque, casos de:
Os Estados Unidos são o país com o maior número de think tanks no mundo, segundo o relatório da Universidade da Pensilvânia.
A influência é tamanha que as instituições acabam interferindo na política externa do país.
O livro “Os think tanks e sua influência na política externa dos EUA – a arte de pensar o impensável”, da jornalista Tatiana Teixeira, estabelece uma relação interessante entre esses dois pontos.
Segundo a autora, as instituições neoconservadoras dos EUA têm um papel importante no contexto político do país no pós-atentado de 11 de setembro.
Ela defende que o medo de novos ataques terroristas contribuiu para o crescimento de think tanks que batiam na tecla do combate ao extremismo oriental e pregavam a derrubada de governos árabes.
São os casos do Project for The New American Century e do Heritage, entre outros.
Durante o governo Bush, por exemplo, muitos preceitos defendidos pelas instituições conservadoras foram colocados em prática quando o assunto era política externa.
A pesquisadora identifica ainda outros momentos históricos em que think tanks e a política externa norte-americana estiveram em sintonia, identificando um padrão.
O interessante de observar é que esses movimentos não são uma exclusividade de uma determinada corrente ideológica ou de outra.
Existem representações de esquerda e de direita, sempre defendendo um grupo de interesses.
Profissionais de diversas categorias podem trabalhar em um think tank: especialistas nas áreas de Ciências Sociais, Comunicação Social, Relações Internacionais, Direito, Administração, Economia, entre outras.
Independentemente da formação, o interessado em atuar nesse setor tem que reunir algumas características em comum.
Precisa ter uma carga de leitura pesada, com estudos em diferentes idiomas, e ser alguém hiperconectado com o que está acontecendo de mais relevante no mundo.
Além disso, outras habilidades essenciais são facilidade para trabalhar em equipe, saber gerenciar o tempo e cumprir prazos.
O currículo também costuma fazer diferença.
As experiências acadêmicas contam bastante, especialmente se você tiver um histórico de pesquisador na área de atuação do think tank em questão.
Dominar o inglês é algo básico.
O ideal é que se tenha fluência também em outros idiomas, como o espanhol, caso você queira trabalhar com políticas públicas na América Latina, por exemplo.
Apesar do caráter globalizado da atividade, se não for de seu interesse, você não precisa deixar o país para atuar em uma think tank.
Isso porque o Brasil ocupa uma posição de destaque no levantamento anual do setor realizado pela Universidade da Pensilvânia: é o nono colocado em número de think tanks, com 190 instituições.
Na América Latina, fica somente atrás da Argentina, que é a oitava, com 262.
Confira os 10 primeiros países na classificação:
O estudo também elege quais são as instituições referências em cada segmento.
O melhor think tank voltado para a área de defesa e segurança nacional, por exemplo, foi a RAND Corporation, dos Estados Unidos.
A instituição que se destacou como um centro de excelência em políticas educacionais, por sua vez, foi o Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Educacionais do Japão.
Já a principal referência em políticas ambientais foi o Instituto Ecológico da Alemanha.
Também foram premiadas as think tanks com as melhores políticas de:
Não há dúvidas de que os think tanks exercem um papel fundamental na difusão do conhecimento e na criação de ligações entre ideias e práticas.
Por meio da reflexão aprofundada em diferentes assuntos, essas instituições criam subsídios para o desenvolvimento de políticas de interesse público.
No Brasil, os think tanks não param de crescer.
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