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Liderança feminina nas empresas: importância e desafios

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Organizações, equipes e a sociedade têm muito a ganhar ao investir na liderança feminina.

Dentre seus pontos fortes, estão a flexibilização, colaboração e maior fortalecimento da diversidade, criatividade e inovação – fatores essenciais para que as empresas se mantenham competitivas.

Entretanto, as executivas, gestoras e empreendedoras ainda enfrentam barreiras no caminho até uma posição estratégica.

Desde preconceito até o estilo de liderança – em geral, mais focado na influência que no comando – têm impedido mulheres talentosas de ocupar as cadeiras mais altas nos negócios.

Porém, ações inclusivas estão ajudando a virar esse jogo e construir um mercado de trabalho mais equilibrado, em que é possível aproveitar o potencial das trabalhadoras.

Neste artigo, apresentamos um panorama sobre a liderança feminina nas organizações, explicando o contexto histórico, dados, a importância de contar com elas em cargos de gestão e exemplos inspiradores.

Confira quais são os tópicos abordados:

  • Liderança feminina no mundo corporativo
    • Histórico de desigualdade de gênero nos cargos de liderança
    • Fatos que impulsionaram o crescimento das mulheres em cargos de liderança
  • Dados sobre a liderança feminina no Brasil
  • Qual a importância das mulheres em cargos de liderança
  • Principais características da liderança feminina
  • Principais desafios enfrentados pela liderança feminina nas empresas
  • Exemplos de liderança feminina para inspirar.

Boa leitura!

Liderança feminina no mundo corporativo

A liderança feminina vem se consolidando nas últimas décadas, como resultado da luta do movimento feminista, integrado por diversos grupos, em prol da igualdade de direitos para homens e mulheres. O tema chama a atenção para a urgência de condições de trabalho, salários e tratamento realizados com equidade dentro das empresas.

De maneira ampla, a liderança feminina pode ser vista como uma adaptação do conceito de liderança, dedicando-o às mulheres.

Nesse sentido, seria o termo criado para descrever uma condição de influência em relação a um grupo, departamento ou empresa, a fim de guiá-lo na busca pelos objetivos da organização.

Contudo, essa expressão carrega um sentido mais profundo, que inclui décadas de mobilização feminina a fim de garantir sua participação em esferas sociais a que, tradicionalmente, as mulheres não tinham acesso, como a política e o mercado de trabalho.

Naturalmente, falar em liderança feminina também remete à ocupação de posições estratégicas por elas, seja no mundo corporativo ou à frente de seus próprios empreendimentos.

Em ambos os cenários, a situação ainda é preocupante, conforme apontou a pesquisaPerspectivas Sociais e de Emprego no Mundo: Tendências para Mulheres 2018“, conduzida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Com relação às administradoras de empresas, a quantidade de mulheres é quatro vezes menor que a de homens.

Para se ter uma ideia das desigualdades, nos países em desenvolvimento 42% do trabalho feminino corresponde a atividades familiares não remuneradas, enquanto somente 20% dos homens estão nas mesmas condições.

O mesmo estudo mostrou que a participação das mulheres na força de trabalho ficou em 48,5%, 26,5 pontos abaixo da masculina.

Histórico de desigualdade de gênero nos cargos de liderança

Quando se fala em liderança feminina, é essencial contextualizar o assunto, recordando as bases que dominavam a sociedade mundial até poucas décadas atrás.

Em alguns locais, esses pensamentos permanecem, se refletindo em taxas elevadas de desigualdade de gênero.

Em termos gerais, até o século 19, não havia movimentos significativos pela equidade entre homens e mulheres.

O que existia era uma relação entre gênero e função social, com deveres e limitações ensinados desde o nascimento de cada criança.

Se fosse menino, deveria praticar atividades relacionadas à força e, se possível, receber educação formal, pois cabia a ele ser o provedor de sua família.

Já as meninas deveriam ser preparadas para assumir tarefas domésticas e a criação dos filhos – uma rotina estimulada desde muito cedo, através de brincadeiras com bonecas e utensílios de cozinha.

Repare que, além da falta de liberdade para escolher, elas ficavam com as tarefas consideradas inferiores, como os trabalhos domésticos, que normalmente não são remunerados.

Também permaneciam isoladas socialmente, sem direito à participação do mundo exterior, decisões importantes para sua comunidade, política e trabalho que rendesse ganhos financeiros.

Mesmo quando elas entraram para o mercado de trabalho formal, no início do século 20, sua atuação se manteve restrita a cargos auxiliares, por décadas.

Atualmente, as mulheres que têm acesso à educação formal estudam por mais tempo que os homens, têm maior facilidade para desenvolver soft skills e liderar pelo exemplo.

No entanto, elas continuam sendo minoria em cargos de administração e recebendo salários mais baixos que os homens (em média, 14%), segundo levantamento realizado pela OIT com 115 países e divulgado em 2020.

Fatos que impulsionaram o crescimento das mulheres em cargos de liderança

O primeiro indicativo de avanços rumo à participação feminina no mercado formal ocorreu ainda nos séculos 18 e 19, com a Revolução Industrial.

Contudo, as condições de trabalho eram precárias e afetavam crianças, idosos e mulheres de modo contundente, expondo-os a um contexto degradante.

Mais tarde, após a Primeira Guerra Mundial, a inserção das mulheres nas organizações ganhou força com a popularização do movimento sufragista, que tinha como principal bandeira a extensão do direito ao voto (sufrágio) para o público feminino.

Receber educação formal e exercer a carreira para a qual havia estudado eram outras causas defendidas pelas sufragistas, que alcançaram uma vitória expressiva na Nova Zelândia, em 1893, com o direito ao voto feminino.

De acordo com registro no artigo “Liderança feminina: percepções, reflexões e desafios na administração pública”:

“A participação da mulher na sociedade brasileira como ser atuante é consagrada apenas pela Constituição de 1934, quando legalmente, elas passam a exercer o direito de voto. Forma-se assim, embora tardiamente, a tríade mulher, mercado de trabalho e política, fator importante na conjectura política do país.”

Em todo o planeta, as guerras mundiais também acabaram impulsionando muitas mulheres a deixar seus lares e trabalhar fora.

Isso porque várias ficaram viúvas diante da morte de seus maridos no front de batalha, ou precisaram assumir as contas para prover o sustento dos homens que voltaram mutilados ou com sequelas que impossibilitavam o trabalho.

Em meados do século 20, suas conquistas haviam se expandido para o campo educacional, com diversas mulheres completando o Ensino Superior, inclusive no Brasil.

Essa capacitação técnica, somada a atributos como mediação de conflitos, adaptabilidade e sensibilidade, têm popularizado a liderança feminina atualmente.

Dados sobre a liderança feminina no Brasil

Dados sobre a liderança feminina no Brasil

O país ainda tem muitos passos pela frente para superar a disparidade de gênero.

Um dos dados mais alarmantes nesse contexto foi apresentado na pesquisa “Sem atalhos: transformando o discurso em ações efetivas para promover a liderança feminina”, fruto de parceria entre consultoria Bain & Company e o LinkedIn.

Divulgado em 2019, o levantamento evidenciou que só 3% das cadeiras mais altas nas empresas do Brasil são ocupadas por mulheres.

Analisando todos os cargos gerenciais, pesquisa do IBGE revelou que elas estavam presentes em apenas 38% deles em 2018.

Apesar de 82% das mulheres e 66% dos homens considerarem que a igualdade de gênero deve ser uma das prioridades das organizações, somente 41% delas e 38% deles relatam que as companhias onde trabalham tratam o assunto com essa ênfase.

Já um levantamento da Catho, publicado em outubro de 2020, constatou que mulheres em posições de liderança ganham 23% menos que os homens, em média.

Elas também têm salário menor em outros cargos, por exemplo:

  • Coordenador (-15%)
  • Especialista graduado (-35%)
  • Analista (-34%)
  • Especialista técnico (-19%)
  • Especialista operacional (-13%).

Qual a importância das mulheres em cargos de liderança?

As mulheres sustentam financeiramente 45% das famílias brasileiras.

Com equidade em relação ao salário dos homens, o ganho social será considerável.

Mundialmente falando, esse tipo de benefício foi medido por entidades como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que estima um aumento do PIB da ordem de US$ 6 trilhões se elas obtiverem equidade nos salários.

Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB global cresceria 35% com a igualdade de gênero nas relações de trabalho.

As vantagens de apostar na diversidade de gênero vão além da esfera social, atingindo a rentabilidade das empresas.

Em sua edição 2020, o estudo “Diversity Matters”, da consultoria McKinsey, comprovou que organizações que possuem equipes executivas com equidade de gênero têm 14% mais chances de superar a performance dos concorrentes.

Aquelas em que os funcionários percebem maior equalização entre as oportunidades para mulheres e homens possuem 93% maior probabilidade de obter um desempenho financeiro superior ao da concorrência.

A razão, como cita este texto da executiva Nelcina Tropardi, está relacionada a uma diversidade nas ideias, o que favorece a criatividade e o desenvolvimento de soluções inovadoras:

“A complementaridade é essencial na condução de uma companhia. Ter visões distintas, independente do gênero, sobre um mesmo tema e situação, ajuda a encontrar caminhos que sejam mais sustentáveis no longo prazo.”

Principais características da liderança feminina

Antes de trazer qualidades mais comuns entre as líderes, vale lembrar que cada uma tem seu perfil e particularidades.

Por isso, não faz sentido reforçar estereótipos de que a liderança feminina é exercida com foco nas emoções, por exemplo, desconsiderando a parte racional.

O que comentamos, a seguir, são 5 características que, geralmente, são potencializadas quando uma mulher assume a equipe, departamento ou empresa.

Tendência à cooperação

Acostumadas a lidar com uma série de demandas ao mesmo tempo, as gestoras tendem a dividi-las, pedindo auxílio à equipe.

Essa abertura favorece que uma postura semelhante entre os liderados, que passam a compartilhar problemas e soluções, construindo soluções diferenciadas a partir da colaboração.

Maior flexibilização

Buscando equilibrar vida pessoal e profissional desde cedo, as líderes compreendem a necessidade de flexibilização para resolver as questões do dia a dia.

Por isso, têm vantagem na hora de enxergar respostas alternativas, modificar, contornar ou romper padrões e processos rígidos.

Afinal, o mais importante é impulsionar o resultado através da excelência.

Empatia

Quando o assunto é se colocar no lugar do outro, elas se dão bem.

Uma das razões pode ser sua maior sensibilidade, que confere a capacidade de perceber as dores e necessidades alheias, pensando oportunidades de atendê-las.

Maior desenvoltura no relacionamento interpessoal

Partindo da escuta ativa, comunicação não violenta e flexibilidade, as gestoras conquistam a confiança do time e constroem relacionamentos de qualidade.

Também é comum que tenham mais desenvoltura ao negociar com fornecedores, parceiros, investidores e clientes, o que confere uma vantagem competitiva relevante.

Clima organizacional leve

As aberturas para feedback e ajuda mútua entre os funcionários proporcionam ambientes acolhedores, com clima agradável e que auxiliam na retenção de talentos.

Isso ocorre porque, em geral, as mulheres adotam tipos de liderança menos autoritários, deixando de lado a agressividade para priorizar a harmonia e a produtividade no ambiente de trabalho.

Principais desafios enfrentados pela liderança feminina nas empresas

Principais desafios enfrentados pela liderança feminina nas empresas

Apesar das vantagens para os negócios, pessoas e a sociedade, a liderança feminina ainda é alvo de críticas que não encontram justificativa, além de discriminação e outras barreiras que se impõem para as mulheres que decidem assumir uma equipe.

Confira, a seguir, 5 desafios que elas precisam superar para alcançar e se manter em posições altas.

Preconceito

Mais acima, falamos sobre as origens da cultura de preconceito contra o trabalho realizado por mulheres, considerado inferior.

Ainda que a situação tenha avançado nas últimas décadas, o esforço ainda não conseguiu mudar totalmente o cenário de discriminação, por vezes, inconsciente, praticada contra a liderança feminina.

Em outras palavras, a mulher é até bem aceita em alguns nichos – como na enfermagem e pedagogia -, porém, encontra resistência ao almejar cargos estratégicos ou em áreas tradicionalmente masculinas, como tecnologia e finanças.

Estilo de liderança

Como citamos antes, é comum que as gestoras optem por estilos flexíveis de liderança, o que dá suporte a um ambiente acolhedor e à cooperação no trabalho.

Entretanto, sempre há aqueles que preferem seguir regras rígidas e gerentes mais controladores e centralizadores.

Esses indivíduos têm dificuldade para ver as gestoras como líderes, questionando seu estilo de liderança, desautorizando-as ou até apresentando comportamentos desrespeitosos para desqualificar sua posição como gestoras.

Demandas da vida familiar

Obviamente, os homens também possuem demandas de ordem pessoal, como as familiares.

Contudo, tradicionalmente, o cuidado com crianças, idosos e pessoas doentes acaba recaindo sobre as mulheres, que precisam ter jogo de cintura para equilibrar essas questões a um cargo de gestão.

Daí a importância de que disponham de flexibilidade e autonomia, a fim de atender às demandas em momento oportuno.

Inclusive, quando elas têm flexibilidade, se dedicam mais ao trabalho que os homens, dispondo do tempo necessário para solucionar as questões do dia, semana ou mês dentro do prazo.

Autossabotagem

Embora não costumem cobrar seu time em demasia, há mulheres que estabelecem metas altas para si próprias, tecendo críticas destrutivas em seu interior quando não conseguem atingi-las.

Assim, muitas delas acabam nem assumindo uma posição de liderança por medo de falhar, de acumular funções e não dar conta das responsabilidades.

Esse também é um reflexo da pressão social para que cuidem da casa e filhos, o que significa que o trabalho não termina quando saem da empresa, pois ainda há uma jornada em casa.

Para superar a autossabotagem, são necessários esforços para que elas se enxerguem como lideranças de qualidade e adaptem as metas ao que realmente é possível.

Exemplos de liderança feminina para inspirar

Exemplos de liderança feminina para inspirar

Agora que você já conhece os benefícios e principais entraves para a liderança feminina, conheça mulheres que são referências em todo o mundo e inspire-se!

Angela Merkel

Primeira mulher a se tornar chanceler na Alemanha, Angela Merkel foi reeleita três vezes.

Seu estilo de liderança é reconhecido pelo pulso firme, austeridade e ações dinâmicas na condução da maior economia europeia, tendo exercido um papel de liderança diante de eventos como a crise de 2008, tanto em nível nacional quanto internacional.

Hoje, é uma das figuras mais importantes da União Europeia e se destacou pelas medidas intensas no combate à crise provocada pelo coronavírus, estabelecendo o lockdown (fechamento total de locais públicos e restrições à circulação de pessoas).

Michelle Obama

Ex primeira-dama dos Estados Unidos, a advogada negra e de origem humilde se tornou inspiração para muitas gestoras e empreendedoras em todo o mundo, seja por seu trabalho social, carisma ou por uma combinação entre eles.

O exemplo deixado por Michelle Obama mostra como é possível equilibrar os diferentes papeis sociais que a mulher escolher exercer, tendo em mente que todas são seres em construção e devem seguir aprendendo por toda a vida.

Em 2019, Michelle compartilhou sua trajetória de um jeito pessoal, publicando o livro “Minha História”, no qual detalha sua ambição e motivação para conquistar objetivos ousados.

Ela foi a primeira afrodescendente a atuar como primeira-dama nos EUA, ao lado do popular Barack Obama.

Camila Farani

Também formada em Direito, é um dos maiores nomes da liderança feminina no Brasil, do empreendedorismo e do investimento anjo.

Camila começou a inovar no negócio da família, vislumbrando o crescimento através de melhorias na gestão.

Desde então, adquiriu afinidade pelo mundo dos negócios e se tornou investidora serial, com grande representatividade na luta para superar os desafios e colocar mais mulheres em posições estratégicas.

Foi isso que a motivou a co-fundar o Mulheres Investidoras Anjo (MIA), grupo pioneiro no país, e a se especializar em lideranças femininas pela Fundação Dom Cabral e Smith´s College Executive Education for Women.

Conclusão

A liderança feminina é essencial para melhorar a distribuição de renda, combater o preconceito e atingir a justiça social.

Para tanto, desigualdades de gênero, posturas discriminatórias e ofensivas precisam ser banidas, não apenas do mundo corporativo, mas também do contexto geral da sociedade.

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Alcione Goncalves

Mestre em Gestão de Negócios e MBA em Gestão Empresarial pela FFIA - Fundação Instituto de Administração, possui pós-graduação em Gestão Estratégica de Pessoas pelo Mackenzie e Graduação em Comunicação Social pela UNISA. Atualmente é Business Partner de Recursos Humanos na Kantar. Atua há 12 anos em RH tendo passado por todos os subsistemas e possui mais de 20 anos de experiência em Gestão de Pessoas.

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