Em um contexto de forte competitividade do mercado, a inovação aberta (Open Innovation) pode quebrar paradigmas.
Como vamos ver em detalhes neste conteúdo, o conceito tem total relação com parceria entre empresas.
Você até pode achar improvável que empresas adotem um modelo colaborativo de desenvolvimento.
Mas não se engane: o que poderia ser visto como uma utopia já é considerado uma tendência mundial.
Só para se ter uma ideia, o número de contratos de Open Innovation cresceu 96% no último ano, saltando de 1.968 em 2020 para 3.334 em 2021, segundo levantamento da 100 Open Startups.
Apesar desses números positivos, ainda estamos falando de um conceito novo, que gera dúvidas e debates.
Por isso, ao longo deste artigo, vamos aprofundar algumas questões, abordando o funcionamento prático da inovação aberta e seus diferentes tipos.
Também vamos ver cases de sucesso de grandes companhias que foram bem-sucedidas com a implementação do modelo.
Se você se interessa pelo assunto, confira os tópicos que serão abordados a seguir e tenha uma boa leitura!
Inovação aberta é um modelo de gestão empresarial que promove um desenvolvimento disruptivo na empresa, por meio da descentralização da sua mentalidade inovadora.
Ou seja, busca a inovação a partir da criação de parcerias externas com outras pessoas e organizações.
Ela começa com a aceitação de que há uma limitação intelectual em um grupo reduzido de pessoas, por mais capazes que sejam.
Ou seja, uma empresa sozinha jamais será detentora de todo o conhecimento necessário para criar novas soluções, seguir tendências ou se reinventar.
Portanto, abrir espaço para uma participação de fora, com outros agentes podendo contribuir com expertise, revela-se uma iniciativa inteligente.
O princípio da inovação aberta, ainda que não com esse nome, é bastante antigo e remete a descobertas de muito tempo atrás.
Ainda no século 17, com o avanço das grandes navegações, era necessário definir um sistema de coordenadas mais preciso para que as embarcações conseguissem ter uma previsibilidade maior em suas rotas.
A partir dessa demanda, diferentes pessoas, dotadas de conhecimentos específicos, desenvolveram o cálculo correto de determinação de longitude, possibilitando atingir o objetivo inicial.
Com o passar dos anos, novas contribuições conjuntas foram criadas, e o que era algo mais rudimentar se tornou sistêmico.
Apesar das noções sobre Open Innovation apontarem para um passado distante, o conceito como o conhecemos surgiu em 2003, a partir do lançamento da obra “Inovação Aberta: Como criar e lucrar com a tecnologia”, de Henry Chesbrough.
Chesbrough foi quem cunhou o termo e é considerado o pai da inovação aberta.
Seu papel é tão importante que separamos um tópico inteiro para falar sobre ele mais à frente neste artigo.
A verdade é que não existe apenas uma maneira de implementar a inovação aberta, conforme detalharemos ao falar sobre os diferentes tipos.
As parcerias com outras empresas e startups são uma das formas mais comuns.
Porém, também existe o financiamento de pesquisas em instituições de ensino e think tanks, além da realização de hackathons e crowdsourcing e outros modelos de aliança para ir em busca de informação e tecnologia.
É importante destacar que, na Open Innovation, não é preciso necessariamente compartilhar tudo que se descobre.
O propósito é buscar conhecimentos que possam ser úteis para o seu negócio, mas mesmo aquilo que não se aplica à realidade da sua empresa pode ser passado adiante.
Antes de a sua empresa implementar o conceito e as diretrizes da inovação aberta, é importante estar ciente de que existem muitas vantagens, mas também alguns pontos de atenção do modelo de gestão.
Se você conseguir potencializar os pontos positivos e minimizar os negativos, as chances de ter sucesso são enormes.
Se a sua empresa não prestar atenção em alguns detalhes, a inovação aberta pode trazer algumas desvantagens, como:
Conforme mencionamos anteriormente, existem diferentes maneiras de uma empresa aplicar a inovação aberta.
Conheça agora os três tipos de implementação desse modelo de gestão do conhecimento:
É o modelo em que uma empresa busca conhecimento ou tecnologia em uma fonte externa especializada naquele tipo de solução para a melhoria de seus processos internos.
Grande parte dos acordos são assim.
Um exemplo bem característico é quando uma organização recorre a uma universidade, uma startup, uma incubadora ou think tank para desenvolver determinado serviço a ser incorporado ao negócio.
Assim, de posse dessa nova tecnologia, a empresa se torna mais competitiva e consegue satisfazer as dores de seus clientes, além de promover benefícios para a sociedade em geral.
É o oposto do modelo anterior.
Aqui, uma empresa desenvolve uma solução inovadora e a transfere para outra organização, em um sistema de parceria.
Nesse caso, a empresa gera receita com a venda da sua propriedade particular, como é o caso da concessão de patentes e licenças, por exemplo.
Nada mais é do que a combinação dos dois modelos anteriores.
Ou seja, se de um lado a empresa procura novas ideias em parceiros, ela também ajuda, de alguma forma, a entregar uma contrapartida inovadora.
É uma espécie de casamento, em que cada um dos agentes entrega o que possui de melhor, em busca de soluções que tragam resultados positivos para ambos.
O modelo de inovação fechada, como o nome sugere, é quando uma empresa busca soluções criativas por conta própria, com seus recursos, muitas vezes sem dispor do conhecimento e da tecnologia ideais para isso.
Da mesma forma, o tipo de conteúdo gerado não é compartilhado com o mundo externo.
É como se a empresa vivesse dentro de uma bolha, alheia a tudo que acontece ao seu redor.
Empresas que adotam a inovação fechada correm o risco de ficar obsoletas, pois encaram todo tipo de tecnologia e conhecimento gerado externamente como trabalho da concorrência, algo do qual não podem ou devem se apropriar.
Outras características desse modelo são:
Como se pode ver, é uma antítese ao modelo de Open Innovation.
Henry Chesbrough foi o responsável por fazer o diagnóstico da ineficiência da inovação fechada e da necessidade de criação de um modelo novo.
Em uma entrevista à revista Época Negócios em 2009, o guru da Open Innovation falou sobre as mudanças que o compartilhamento de tecnologia e conhecimento podem gerar no mindset das empresas.
Segundo ele, promover esse tipo de iniciativa só tem a acrescentar a todos os agentes envolvidos no processo de inovação.
Afinal, as empresas vão diminuir custos, ganhar tempo e reduzir os riscos no desenvolvimento de soluções.
No entanto, ele ressalta que, para o sistema funcionar, é preciso que seja uma via de mão dupla.
Da mesma forma que as empresas utilizam as expertises de parceiros para seu benefício próprio, também devem compartilhar seu conhecimento com os demais.
Qualquer empresa pode implementar a inovação aberta, desde que esteja disposta a viver uma transformação digital.
Startups, por causa da sua razão de ser, podem ter mais facilidade em adotar esse modelo.
Quem não trabalha diretamente com tecnologia, porém, também pode conseguir.
Abaixo, algumas maneiras de implementação da Open Innovation:
Qualquer mudança exige um período de adaptação, sobretudo quando estamos falando de uma realidade tão diferente da convencional, como a implementação da inovação aberta.
Afora os desafios naturais que todo processo de transformação disruptiva exige, sua empresa deve ter um cuidado especial com dois detalhes importantes.
O primeiro diz respeito aos aspectos legais relacionados à propriedade intelectual.
Garanta que os contratos sejam elaborados de uma forma segura, que proteja a empresa em relação aos seus direitos, e coloque cláusulas de confidencialidade, caso não queira abrir determinadas informações.
O segundo é de natureza mais operacional, que é tirar as ideias do papel e colocá-las em prática.
Para isso, é vital ter profissionais que foquem na viabilidade do projeto, seja ela econômica ou produtiva.
Para que a inovação aberta seja encarada de forma natural, os gestores devem desenvolver um ambiente propício para que essa cultura se estabeleça.
As dicas a seguir podem ajudar nessa missão:
Baseado no que abordamos até agora, já é possível ter uma boa ideia de como criar e estimular a inovação aberta.
Para perceber como esse processo acontece na prática, nada melhor que observar grandes companhias que já deram esse passo há algum tempo e colhem os frutos da implementação desse modelo de gestão.
Confira a seguir quatro exemplos de iniciativas de Open Innovation desenvolvidas por organizações gigantes em seus segmentos.
Precursora em diversos aspectos importantes, como sustentabilidade e responsabilidade social, a Natura também é uma das primeiras empresas brasileiras a investir na inovação aberta no país, com o Programa Natura Startups.
A iniciativa, criada em 2014, tem como objetivo facilitar a conexão com empreendedores, em busca de acelerar a inovação e impulsionar a cultura da organização.
Entre as soluções buscadas pela empresa, estão:
Ao todo, o projeto já avaliou mais de 5 mil startups e mais de 1.100 interagiram diretamente com a empresa.
Quando pensamos em inovação, a Netflix é uma das primeiras empresas que vêm à mente, mas nem sempre foi assim.
Quando ainda era apenas uma locadora remota de DVDs, ela lançou o Netflix Prize, um desafio para o público externo que consistia em desenvolver um algoritmo de filtragem para sugestões de filmes que fosse superior ao já existente.
Quem vencesse a disputa, levaria para casa US$ 1 milhão e todo crédito pelo trabalho feito.
Ao todo, mais de 40 mil projetos foram inscritos e ótimas iniciativas apresentadas.
No entanto, quem ficou na primeira posição da competição acabou não vencendo.
Isso porque, apesar de ser uma solução excelente, o custo para a implementação era muito elevado para a época.
Então, a grande campeã acabou sendo a equipe que apresentou um algoritmo quase tão bom quanto, mas com um valor mais em conta.
A multinacional P&G foi outra empresa a desenvolver um projeto de inovação aberta muito interessante.
Criada em 2000, com o nome de Connect & Develop, a iniciativa tinha como objetivo mudar a mentalidade de inovação da empresa, fazendo com que metade das soluções fossem desenvolvidas por meio de parcerias externas.
Em sete anos de projeto, a meta foi completamente atingida e o grupo foi capaz de cortar custos e ter um incremento de 85% na sua produtividade.
Como se não bastassem esses números, a P&G lucrou cerca de US$ 3 bilhões em vendas anuais com as empresas parceiras, graças à inovação compartilhada.
Anualmente, a Open Startups divulga um ranking com as 100 empresas que mais realizam a inovação aberta com o suporte de startups.
Na edição de 2021, a Ambev ficou na primeira colocação, com 1.493 pontos, 540 a mais do que o segundo lugar, a ArcelorMittal.
Atualmente, a corporação está buscando projetos para promover o consumo moderado de bebidas alcoólicas e incentivar a cultura do retornável.
Vinte projetos passarão para a fase de mentoria profissional e avaliação técnica.
Após uma análise criteriosa, um vencedor em cada categoria vai receber R$ 150 mil para colocar a ideia em prática e ajudar a transformar o mundo.
A inovação aberta é um processo evolutivo sem volta para as empresas.
Qualquer organização que deseja se manter atualizada e competitiva dentro do seu segmento de mercado precisa entender que o conhecimento e a tecnologia precisam ser compartilhados para chegar mais longe.
Fechar os olhos para essa realidade é ficar alheio ao que acontece ao redor.
A mudança pode parecer desafiadora, mas as vantagens que o modelo traz fazem valer a pena.
Os cases de sucesso de grandes empresas são um exemplo disso e, conforme mencionado anteriormente, qualquer negócio pode ter sucesso ao implementar esse modelo de gestão.
Basta você estimular o ambiente interno para que ele assimile com naturalidade a cultura da Open Innovation.
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