Sabia que as finanças sustentáveis têm se tornado cada vez mais relevantes no universo econômico-financeiro?
Investidores e gestores de recursos usam o conceito como critério de investimento e não aportam, por exemplo, em empresas que agridem o meio ambiente.
A bolsa B3 tem, inclusive, um índice que reúne empresas comprometidas com o desenvolvimento sustentável: o ISE B3.
Outro exemplo são os títulos verdes, usados principalmente para o financiamento da agricultura e energia renovável, que têm crescido consistentemente no Brasil desde sua criação.
Então, você pode se perguntar.
Por que o mercado de capitais está tão interessado em assuntos relacionados à sustentabilidade?
Esse despertar das finanças sustentáveis tem uma explicação e você vai descobrir qual é ao longo deste artigo.
Vamos abordar os seguintes tópicos:
Boa leitura!
Finanças sustentáveis são investimentos financeiros direcionados a atividades econômicas que respeitam as pessoas e preservam o meio ambiente.
É a união de dois conceitos: finanças e sustentabilidade.
Trata-se de uma tendência mundial que tem ganhado cada vez mais adesão dos agentes de mercado.
A razão é simples:se não houver um equilíbrio no uso das fontes naturais de recursos e no desenvolvimento social, o futuro do planeta estará seriamente comprometido.
O mercado financeiro sempre busca antever o futuro. Se alguém faz um investimento hoje, faz isso visando a resultados no futuro.
A partir da clara noção de que os recursos oferecidos pela natureza são finitos, é preciso remodelar o comportamento de consumo.
Do contrário, pode não existir futuro.
Sustentabilidade no contexto socioambiental é uma adequação dos sistemas econômicos e do comportamento de consumo aos limites do planeta.
Sustentar significa equilibrar, usufruir dos recursos de maneira racional e consciente, sem desperdícios ou exageros.
De acordo com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, sustentabilidade é “conciliar as necessidades econômicas, sociais e ambientais sem comprometer o futuro de quaisquer demandas”.
O termo finanças diz respeito ao gerenciamento do dinheiro.
É o campo do conhecimento que lida com os arranjos dos recursos financeiros (dinheiro ou outros instrumentos associados a ele).
Pessoas, empresas e governos lidam cotidianamente com dinheiro, estabelecem metas e fazem planos.
As finanças são divididas em diversas categorias, comofinanças corporativas, finanças pessoais, finanças públicas, finanças comportamentais, finanças sustentáveis, dentre outras.
O tema finanças sustentáveis não é recente no mercado financeiro.
Instituições internacionais, especialistas e organizações não governamentais discutem a importância do sistema financeiro para a sustentabilidade há décadas.
Nos últimos anos, contudo, o assunto ganhou notoriedade, principalmente com a evidência dos princípios ESG (falaremos mais sobre eles ao longo deste artigo).
Conforme um estudo divulgado pelo Projeto Finanças Brasileiras Sustentáveis (FiBraS), o mundo precisa de US$ 6,3 trilhões por ano em infraestrutura até 2030 para cumprir os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da ONU.
Conforme a OCDE, o número deveria subir para US$ 6,9 trilhões ao ano se observado o Acordo de Paris.
A estimativa é de que o Brasil exija, sozinho, aproximadamente US$ 1,3 trilhão em investimentos sustentáveis.
Outro levantamento do Climate Bonds Initiative sobre títulos verdes mostra que, desde a primeira emissão de títulos de dívida sustentável no Brasil em 2015, o mercado foi de US$ 564 milhões para US$ 9 bilhões.
Do total de financiamentos, 45% se destinam a energias renováveis.
Em seguida, aparece o uso da terra, com 27%, principalmente para atividades relacionadas ao papel e celulose.
Os dados mostram que o Brasil representa o maior mercado de títulos verdes entre os países latino-americanos.
Sob o guarda-chuva das finanças sustentáveis se acomodam diversas outras iniciativas que visam a promover o tripé da sustentabilidade (econômico, social e ambiental).
No aspecto financeiro, destacam-se os Princípios para o Investimento Sustentável (PRI) lançados pela ONU em 2005, em conjunto com um grupo internacional de investidores.
Os seis princípios são:
No âmbito interno das empresas, os professores da Fundação Dom Cabral Michel Fleuriet e Rodrigo Zeidan também estabelecem sete princípios das finanças sustentáveis.
Neste artigo, os autores analisam como as empresas podem promover o tripé da sustentabilidade para aumentar, ao mesmo tempo, a riqueza de seus acionistas.
O objetivo das finanças sustentáveis é contribuir com a transição de uma economia orientada pelo consumismo insustentável para uma economia consciente e de baixo carbono.
E isso não é questão de marketing corporativo.
A transição para um modelo econômico que garanta o futuro do planeta é uma necessidade.
No relatório Riscos Globais 2020, em inglês, o Fórum Econômico Mundial lista os diversos fatores de risco que ameaçam as economias globais.
Dentre os principais estão os riscos relacionados à saúde e ao meio ambiente devido a condições climáticas extremas ou “falhas na mitigação e adaptação às mudanças”.
O mercado financeiro tem capacidade de destinar recursos a iniciativas que atuem na linha de frente dessa mudança econômica.
A responsabilidade pelo equilíbrio e manutenção do futuro das novas gerações é de todos, não apenas do poder público, que nem tem recursos suficientes para preencher todas as lacunas.
As finanças sustentáveis têm papel fundamental no surgimento de novos modelos de negócio que respeitam as pessoas e o meio ambiente.
Bancos, gestores e investidores de maneira geral estão usando cada vez mais critérios sociais, sustentáveis e de governança na tomada de decisão sobre os investimentos.
Considerando apenas os agentes de mercado que aderiram aos Princípios para o Investimento Sustentável da ONU (aproximadamente 2.800 signatários), o total de ativos sob gestão chega a US$ 90 trilhões.
Além da abordagem tradicional que leva em conta a análise do risco-retorno, os investidores examinam também os impactos sociais e ambientais.
Imagine duas empresas que precisam de capital para alavancar suas atividades, uma atua em um setor extrativista, que polui o ar, os rios e degrada o solo, enquanto a outra tem um projeto que pode revolucionar a produção de energia limpa.
Dentro do contexto das finanças sustentáveis, a segunda empresa pode contar com crédito especial, incentivos fiscais e condições mais favoráveis de pagamento.
Pode atrair também a atenção de investidores interessados em fazer aportes no negócio em troca de participação societária.
As finanças sustentáveis vêm ganhando destaque nos últimos anos por uma questão de necessidade, mas também de oportunidade.
A necessidade está ligada à constatação de que os recursos do planeta são finitos e de que o desenvolvimento socioeconômico precisa ser menos desigual.
No curto e médio prazo, mudanças climáticas podem, por exemplo, comprometer a rentabilidade de todo um setor, como o agropecuário, e resultar em perdas para os investidores.
Podem, ainda, prejudicar a saúde (prejuízos para as seguradoras) e resultar em pandemias, como a de Covid-19, afetando todos os mercados.
A outra explicação está nas oportunidades: o mercado financeiro olha sempre para frente, em busca de ativos que ofereçam o melhor retorno ajustado pelo risco.
Ao destinar recursos a empresas que desenvolvem novos modelos de negócio em setores como energia limpa, produtos orgânicos e saneamento, as finanças sustentáveis buscam oportunidades de ganhos futuros.
Essa temática dá ênfase aos aspectos ambientais da sustentabilidade, mas o conceito é mais amplo do que isso.
Nesse contexto, têm relação estreita com o ESG, três letrinhas que têm aparecido com frequência nas manchetes de economia e negócios.
ESG é a sigla para Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança, em português).
Abrange, portanto, as três vertentes do tripé da sustentabilidade.
A exigência quanto à adoção de práticas de ESG dentro das finanças sustentáveis começou no mercado de ações, por meio do ativismo dos acionistas.
Empresas que degradam o meio ambiente, não valorizam a comunidade local ou negligenciam seus stakeholders não são vistas com bons olhos pelo mercado.
Por outro lado, os acionistas passaram a preferir organizações comprometidas com o meio ambiente, com projetos sociais de impacto, além de fatores relacionados à governança.
Os princípios ESG chegaram também à renda fixa, principalmente com a emissão dos chamados títulos verdes.
Esse crivo das finanças sustentáveis, capitaneada pelos fundos de investimento e instituições financeiras, promove um redirecionamento do fluxo de capital.
Essa mudança de direção, por sua vez, influencia a postura das empresas “tradicionais”, ao mesmo tempo em que estimula o surgimento de novos negócios.
Segundo informações da PwC, divulgados pelo Great Place to Work, o volume de finanças sustentáveis destinadas a negócios ESG deve ser de US$ 4,3 trilhões até 2030.
Depende de que lado você está.
Se você é um investidor ou gestor de ativos, pode decidir adotar os princípios ESG como critério de investimento.
Se é empresário, precisa entender que as finanças sustentáveis podem irrigar o seu negócio, dependendo das iniciativas da sua empresa.
Bons exemplos de finanças sustentáveis vêm do ecossistema das startups, empresas inovadoras que buscam transformar a maneira de fazer negócios.
Um estudo da Ace Cortex revela que o Brasil conta atualmente com 343 startups brasileiras focadas em desenvolver soluções ESG.
Dentre as empresas pesquisadas, a maioria (52,4%) atua na gestão de energia limpa e mobilidade elétrica.
Uma das startups mapeadas pela pesquisa é a Biometano Energia, startup que atua em projetos de biodigestores e transformam resíduos em energia.
Do lado das instituições financeiras, um exemplo de finanças sustentáveis vem do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que lançou o BNDES Crédito ASG.
O programa tem R$ 1 bilhão disponível para financiar empresas que assumirem metas de avanço ambiental, social e de governança.
Cada empresa ou grupo econômico pode pleitear até R$ 150 milhões diretamente no BNDES até 31 de dezembro de 2023.
O custo do financiamento é menor considerando outras linhas de crédito e ainda pode ser reduzido, caso as metas pactuadas sejam cumpridas.
O conceito de finanças sustentáveis pode ser aplicado de diferentes formas.
Vamos considerar dois exemplos hipotéticos: acionistas de uma grande empresa que produz embalagens começam a exigir o aperfeiçoamento do processo de produção e asubstituição gradual do plástico por material menos nocivo ao meio ambiente.
Significa que os acionistas são ativistas? Não necessariamente.
Eles podem estar de olho na tendência de comportamento dos consumidores, que estão exigindo mudança de postura das organizações.
Como os acionistas são donos do capital social da empresa, a gestão precisa se mexer para se adequar às exigências que, neste caso, não são regulatórias.
Outra hipótese de aplicação das finanças sustentáveis na prática: um empreendedor, ciente do tamanho do capital destinado às finanças sustentáveis, percebe um nicho de mercado que pode ser um negócio lucrativo e, ao mesmo tempo, de impacto social.
Resolve construir e reformar moradias para famílias de baixa renda por meio de parcerias com grandes corporações ou linhas de financiamento de baixo custo.
Por ser uma iniciativa socialmente sustentável, o negócio pode atrair a atenção de importantes agentes do mercado, como fundos de investimento e bancos de fomento.
Os títulos verdes (green bonds) são instrumentos de dívida que visam a financiar atividades econômicas que preservam o meio ambiente.
Além dos títulos verdes, como os CRAs Rotulados, existem outras variações desse tipo de renda fixa, como títulos sociais ou títulos sustentáveis.
A Climate Bonds Initiative publicou um relatório em 2020 que estima um potencial de investimento da ordem de US$ 163 bilhões em títulos verdes no Brasil até 2030.
A diferença dos títulos verdes para os títulos de dívida convencionais está na aplicação dos recursos.
Os green bonds são específicos para financiar projetos que beneficiam o meio ambiente, como reciclagem, agricultura sustentável e bioenergia.
Os títulos convencionais são instrumentos que empresas de diversos setores e segmentos usam para financiar suas atividades.
Há também os títulos públicos, como os do Tesouro Direto, usados pelo governo para financiar a máquina administrativa federal.
As finanças sustentáveis têm um papel importante na estabilidade financeira ao contribuir com o equilíbrio da economia real.
Ao canalizar recursos para projetos de desenvolvimento social, ambiental e de governança, elas amenizam também os riscos de desarranjos econômicos.
Catástrofes ambientais, por exemplo, resultam em grandes perdas para seguradoras e administradoras de planos de saúde.
Governança ineficiente de instituições financeiras podem resultar em bolhas, crédito em abundância sem critério e crises financeiras mundiais.
Mudanças climáticas extremas podem afetar a produção do campo e acarretar em prejuízos para o setor agrícola.
São fatores de risco para a economia e que podem ser amenizados ou evitados através de investimentos canalizados pelas finanças sustentáveis.
O mercado de finanças sustentáveis deve continuar crescendo, tanto em volume quanto em diversificação de ativos nos próximos anos.
Alguns pontos a observar são:
Sim, existem cursos de finanças sustentáveis oferecidos por diversas instituições de ensino.
Por ser um tema transversal, os cursos geralmente são indicados a empresários, consultores, gestores de capital, profissionais de RI, dentre outros interessados.
São cursos de curta duração, muitos à distância, que tratam desde um panorama histórico das finanças sustentáveis às principais tendências.
Na FIA (Fundação Instituto de Administração), é recomendado o MBA em Finanças, que tem o tema Sustentabilidade e Responsabilidade Social Corporativa na sua grade curricular.
Em finanças sustentáveis, não há espaço para empresas que degradam o meio ambiente, negócios que não valorizam as pessoas ou iniciativas que visam ao lucro a qualquer custo.
Bancos, gestores de ativos e investidores estão cada vez mais exigentes quanto às iniciativas ESG no contexto econômico-financeiro.
As finanças sustentáveis seguem uma tendência mundial, não por capricho, mas por necessidade.
É preciso investimentos que ajudem na transição da velha economia para uma economia sustentável.
Do contrário, os riscos de uma desestabilização financeira global se tornam cada vez mais preocupantes.
Aproveite para conhecer outros conteúdos gratuitos e exclusivos no blog da FIA, além dos diversos cursos de graduação, pós-graduação, MBA e especialização que temos para oferecer.
Descubra como a sustentabilidade empresarial pode transformar negócios, aumentar vendas e promover impacto positivo. Leia…
Descubra como a contabilidade financeira fortalece a saúde financeira e apoia decisões estratégicas empresariais.
Está considerando a possibilidade de começar no empreendedorismo digital, mas não sabe como? Confira dicas…
Conhecer os conceitos de custo fixo e variável é algo que todo gestor ou dono…
O fluxo de caixa é uma ferramenta que funciona como base de toda organização voltada…
Sem pensar muito, você saberia dizer qual a diferença entre custo e despesa? Não tem…