Você já ouviu falar e sabe como funciona o cross docking?
É uma modalidade logística alternativa para resolver um dos problemas que mais afetam o varejo: os erros na gestão de estoque.
Para ter uma ideia, só em 2020, o varejo brasileiro perdeu R$ 23,26 bilhões por causa de quebras operacionais, furtos externos, erros administrativos e de inventário, entre outras questões relacionadas à cadeia de suprimentos.
O levantamento foi feito pela Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe) e também aponta que um gerenciamento de estoques eficiente é um dos principais caminhos para diminuir o desperdício.
Uma pesquisa feita pela Neogrid mostra que 40% das vendas perdidas são por causa de fatores internos, como atrasos com o fornecedor, produto em falta no centro de distribuição, entre outros.
Ou seja, muitas vezes o principal inimigo de um negócio pode ser ele mesmo.
Não adianta pensar no consumidor final e em estratégias para atrair novos clientes se há gargalos no seu sistema operacional e logístico.
Nesse sentido, o cross docking pode ser muito útil.
Por isso, preparamos este artigo completo sobre o assunto, explicando como o sistema funciona, quais são os seus benefícios e seus pontos de atenção, além de um passo a passo para a adoção da metodologia.
Confira abaixo o resumo do que será tratado aqui:
Se o tema é do seu interesse, acompanhe até o final.
Cross docking é uma metodologia de distribuição de mercadorias em que a empresa terceiriza o envio e o breve armazenamento de produtos para uma central de distribuição, que, de forma ágil e organizada, encaminha os itens aos clientes.
Desta forma, a empresa não precisa se preocupar em dispor de um espaço físico para usar como estoque.
Por outro lado, precisa ter um cuidado maior para que a compra chegue ilesa e dentro do prazo combinado na casa do consumidor.
Assim, os chamados CDs, centros de distribuição, assumem um papel fundamental dentro da operação logística de uma empresa.
“Cross docking”, em uma tradução literal, significa algo como “cruzamento de docas”.
O termo surgiu nos Estados Unidos, na década de 1930, para explicar um processo de distribuição onde as mercadorias descarregadas pelos navios eram deixadas em armazéns e, na sequência, já eram colocadas em esteiras.
Estas esteiras transportavam os produtos diretamente para os caminhões, de acordo com as rotas previstas.
A ideia era otimizar o tempo de entrega, classificando os itens a destinos diferentes ou combinando cargas das mais variadas origens, mas que iam para endereços próximos.
Apesar de ser uma operação logística que pode ter alguma variação em seu processo, em geral, o cross docking funciona assim:
Para quem tem dúvidas sobre os benefícios do cross docking, seguem algumas vantagens que esse modelo de distribuição pode trazer para o seu negócio:
Você não precisa reservar um espaço físico para um estoque, no máximo um local pequeno para receber os fornecedores e já encaminhar os produtos para seus destinatários finais ‒ os clientes.
Não são apenas os gastos com estoque que diminuem, toda a cadeia logística também tem despesas menores.
Afinal, estamos falando de uma dinâmica mais enxuta, em especial, se forem incluídas soluções tecnológicas.
Nesse caso, os custos operacionais tendem a ser mais baixos ainda.
Os centros de distribuição costumam operar com uma eficiência muito maior do que os estoques tradicionais, uma vez que sua tarefa é apenas conferir a mercadoria e encaminhar para entrega.
Além disso, o controle de qualidade também é mais assertivo e as falhas, como encaminhamento de produtos errados ou com defeito, e remessas enviadas para outros destinos, tendem a diminuir.
Ou seja, o cliente também sai ganhando com essa alta performance.
Como estamos falando de uma entrega sob demanda, você não precisa se preocupar se há ou não o produto solicitado no estoque.
Além disso, não há necessidade de fazer previsões de demanda, tudo fica a cargo dos fornecedores.
Os furtos são uma das principais razões para as perdas no varejo, e boa parte desse prejuízo se dá por causa do tempo excessivo que os produtos ficam nos estoques.
Com o cross docking, a janela em que uma mercadoria fica nos CDs é muito menor, diminuindo as chances de incidentes assim.
O cross docking também possibilita otimizar o funcionamento dos veículos de entrega, pois garante um melhor aproveitamento do espaço útil para as cargas e consegue direcionar as mercadorias de acordo com as rotas comuns.
Desvantagens talvez não seja a melhor palavra, mas certamente existem desafios que precisam ser superados para que a metodologia possa ser implementada com sucesso.
Quase todos eles se baseiam na necessidade de um planejamento correto e organizado para fazer a transição para o novo modelo de distribuição.
Separamos alguns complicadores que podem ser entraves para a implementação do cross docking:
Não há apenas um tipo de cross docking, existem pelo menos três bem conhecidos, que se diferenciam em alguns aspectos e variam conforme o tipo de movimentação e de cliente.
Abaixo, falamos um pouco sobre cada um desses modelos:
É o modelo mais tradicional, em que o fornecedor entrega os produtos no CD e a transportadora ou a equipe de operação logística recebe, confere e encaminha as mercadorias ao consumidor final.
Conforme o nome sugere, é uma variação entre a movimentação contínua e a estocagem.
Neste modelo, uma parte da carga é enviada ao centro de distribuição, e a outra é direcionada ao estoque para que os itens possam ser combinados e completem o pedido do consumidor.
Essa prática é comum quando o consumidor realiza uma compra de diferentes fornecedores em um marketplace, por exemplo.
Como as mercadorias possuem tempos diferentes para chegar ao CD, espera-se até que todas cheguem e o pedido possa ser despachado em uma única remessa.
Aqui, o grande diferencial é o cliente final.
Esse modelo de cross docking é mais usado em relações B2B, onde, normalmente, uma única empresa realiza pedidos de altos volumes, suficientes para preencher a capacidade máxima de um veículo ‒ as chamadas Full Truck Load (FLT).
Ainda que o cross docking seja um modelo com inúmeras vantagens, nem toda empresa, necessariamente, vai se beneficiar com a sua implementação.
Até porque tomar essa decisão é um passo muito importante, que exige um determinado nível de demanda e, em especial, investimento.
Por isso, antes de fazer esse tipo de transição, você precisa primeiro se certificar de que possui fornecedores confiáveis e, depois, ficar de olho nestes quatro cenários:
Caso o seu negócio possua um número de clientes fiéis e regulares, que sempre pedem mais ou menos os mesmos produtos, dentro de uma pequena margem de erro, o cross docking pode funcionar bem.
Num modelo B2B, por exemplo, em que há bastante previsibilidade nas demandas, é mais viável contar essa alternativa do que armazenar uma grande quantidade de mercadorias em um estoque de segurança.
Outro cenário em que o cross docking pode ser uma boa opção são aqueles negócios que trabalham com produtos que se deterioram com o passar do tempo ou perdem a validade rapidamente, como as empresas alimentícias, por exemplo.
Afinal, é possível cortar gastos com estoques refrigerados, para citar só uma vantagem.
Eventos especiais, como datas comemorativas ou período de promoções, costumam contar com um volume maior de pedidos.
Nesse sentido, o cross docking acaba sendo a solução ideal, pois consegue otimizar as entregas mesmo quando há picos de demanda.
Não à toa, o varejo e os outlets são os clientes que mais usam esse tipo de serviço.
Manter estoques recheados de mercadorias de valor alto, como eletrônicos e eletrodomésticos, não é uma opção boa, tanto em termos de fluxo de caixa quanto pelo risco de furtos ou custo elevado com segurança.
Outro ponto importante é que, cada vez mais, os clientes buscam empresas que dispõem de fretes rápidos.
Portanto, contar com o sistema cross docking acaba sendo vantajoso por esses dois aspectos: atender sob demanda e entregar com agilidade.
Por acaso a sua empresa se encaixa em algum cenário acima e se considera pronta para fazer essa transição, mas não sabe como?
Então, este passo a passo de como implementar o cross docking no seu negócio vai ser muito útil para você.
Confira as dicas e mãos à obra!
Mexer na sua cadeia de suprimento é algo bastante invasivo, que não deve ser feito sem um mínimo de planejamento.
Por isso, antes de investir pesado nessa transformação logística, faça um teste.
Comece operando com um volume menor de entregas para trabalhar as melhores práticas.
Qualquer tipo de mudança exige adaptação e treinamento.
Sua equipe precisa estar preparada para conduzir cada etapa do cross docking.
Tudo começa com um bom diálogo com os fornecedores, passa por uma análise detalhada das mercadorias, um cuidado na hora de colocar os produtos no transporte e termina na garantia de entrega dentro do prazo previsto.
Qualquer situação fora desse panorama, vai atrapalhar o sucesso do modelo.
Os CDs são as principais peças-chave para que o sistema cross docking dê certo.
Afinal, são os locais onde os seus produtos são entregues pelos fornecedores e partem para o endereço dos clientes.
Por isso, é fundamental fazer parcerias com empresas que tenham um espaço físico que possa ser usado como centro de distribuição.
A terceirização acaba sendo a alternativa mais viável para aqueles negócios que não têm condições ou interesse em investir em um espaço próprio para funcionar como CD.
Ter o suporte da tecnologia também é muito importante.
Com um bom sistema integrado de gestão empresarial (ERP), é possível ter informações detalhadas a respeito das diferentes operações que envolvem a cadeia de suprimentos.
Por exemplo, você consegue saber quais mercadorias vão ser recebidas, em que quantidade, em qual data e para onde precisam ser entregues.
Esses dados são fundamentais para que o cross docking possa ser muito mais eficiente e sincronizado.
Uma relação entre empresas e fornecedores precisa ser pautada pela confiança, em especial, num sistema de distribuição como o cross docking, em que uma falha pode manchar a reputação de um negócio.
Na hora de fechar os contratos, deixe bem claros os termos e as regras do acordo.
Certifique-se de que o fornecedor sempre tenha um volume mínimo de determinados itens à disposição e estipule um prazo para as reposições.
Mesmo que se cerque de todos os cuidados, ninguém está livre do risco de cometer algum equívoco.
Quando se tem um serviço de atendimento ao cliente próximo e atuante, o consumidor se sente muito mais seguro, pois sabe que existe um canal aberto para interação.
Não é porque você tem recebido poucas reclamações no SAC que o seu sistema de cross docking não pode apresentar melhorias.
Sempre é possível buscar a evolução, seja para o consumidor final ou em questões operacionais.
Quem sabe não é possível fazer entregas ainda mais rápidas ou com frete grátis?
Ou ainda, será que determinados custos não podem ser cortados?
Assim como o cross docking, o dropshipping também é um tipo de operação pautado na eficiência logística, mas as semelhanças param por aí.
No dropshipping, a empresa responsável pela venda não tem qualquer tipo de controle sobre a jornada de entrega dos produtos.
Ou seja, ela simplesmente repassa o pedido para o fornecedor, que se encarrega de enviar a mercadoria para o consumidor final.
A figura dos CDs não existe, pois os produtos negociados saem direto do estoque dos fornecedores.
O dropshipping é muito utilizado no e-commerce e por aquelas empresas que trabalham com catálogos de produtos, sobretudo, em segmentos que têm uma logística mais complicada, como o setor moveleiro, por exemplo.
Como os custos de frete e armazenagem acabam sendo elevados nestes casos, não compensa manter centros de distribuição.
O cross docking acaba sendo uma solução de distribuição e logística muito utilizada por empresas de diferentes portes por causa do seu excelente custo-benefício.
Uma das primeiras grandes corporações a investir no sistema foi o Walmart, ainda na década de 1970.
Na ocasião, a alternativa surgiu para suprir a falta de interesse dos fornecedores em ir até lojas em regiões mais afastadas para levar os produtos.
Além disso, com o passar do tempo, o Walmart conseguiu oferecer muito mais mercadorias do que as lojas físicas poderiam contemplar.
Outro exemplo de empresa que utiliza o cross docking, esta em território nacional, é a Perdigão.
A gigante alimentícia percebeu que era financeira e logisticamente mais inteligente espalhar CDs em locais estratégicos do que criar fábricas nos mais diferentes cantos do país.
A Privalia, um outlet de venda online de artigos de moda, casa e esporte, por sua vez, se vale da estratégia logística para vender mercadorias por um preço muito mais acessível.
Graças ao cross docking, a empresa, que possui um centro de distribuição em Barcelona, na Espanha, consegue preparar os pedidos com muito mais rapidez e fazer entregas para o mundo todo.
Outras empresas que fazem uso do modelo cross docking:
O cross docking é uma alternativa logística que pode fazer sentido para o seu negócio em muitas situações, por isso é importante avaliar a sua viabilidade.
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