O termo Civic Technology engloba ações que fomentam a mobilização social, impactando diferentes comunidades de maneira positiva.
Com foco na melhoria das condições de vida e na democratização do acesso a serviços, as organizações que atuam sob esse modelo estão provocando transformações consistentes em todo o mundo.
Tanto que a própria Organização das Nações Unidas (ONU) tem firmado parcerias com Civic Techs, apoiando e compartilhando boas práticas para aprimorar a resolução de demandas por parte do poder público.
Ao longo deste artigo, vamos falar desses projetos, as diferenças entre Civic Technology e GovTech e como essas instituições funcionam.
É hora de conhecer o poder de iniciativas centradas em questões sociais.
Siga a leitura ou navegue pelos seguintes tópicos deste artigo:
Para aprender tudo sobre as Civic Techs, acompanhe até o final!
Civic Technology é um termo utilizado para descrever iniciativas tecnológicas que agregam benefícios aos cidadãos, de forma coletiva.
Emprestada do inglês, a expressão significa, em tradução livre, “tecnologia cívica”, e pode se referir às ações e invenções de organizações sem fins lucrativos, empresas ou até mesmo do Governo.
Outra característica de uma Civic Tech é a promoção de uma maior proximidade entre a população e o Governo, seja em nível municipal, estadual ou federal.
Através das inovações criadas, a sociedade ganha mais força, participando ativamente da tomada de decisões dos órgãos públicos e da melhoria dos serviços prestados por essas autarquias.
Em geral, essas iniciativas são colocadas em prática através de softwares, aplicativos, sites, redes sociais e outras plataformas e canais disponíveis na internet de forma gratuita.
Afinal, seu propósito é trabalhar pela inclusão social e estruturação da cidadania, empoderando as pessoas para que atuem no monitoramento das atividades do governo.
Ou seja, as Civic Technology nascem do ideal de que, a partir de um controle social contínuo, é possível impactar a administração pública, tornando-a eficiente e atenta a questões relevantes.
O conceito de Civic Technology é recente, sendo empregado a partir da década de 2010.
Por isso, ainda não existe uma divisão única para os temas tratados pelas Civic Techs.
Mas, como referência, vamos listar os mais de 50 tipos citados pelo Civic Tech Field Guide – projeto criado pelo centro de colaboração sem fins lucrativos Civic Hall -, e traduzidos nesta dissertação de mestrado de Marisa de Castro Villi para a USP, a Universidade de São Paulo:
Como mencionamos acima, existe uma série de modalidades de Civic Tech, cada uma funcionando conforme a legislação e regras de seu país.
Mas, em geral, tanto as organizações sem fins lucrativos quanto as empresas atuantes nessa área adotam um modelo que prioriza a eficiência, ou seja, a realização das tarefas usando a menor quantidade possível de recursos e tempo.
Podemos dizer, então, que a maioria das Civic Technology segue os padrões de uma startup, apostando em um modelo enxuto de gestão para conectar cidadãos ao poder público.
Para explicar melhor, vamos à definição de startup, segundo o Sebrae:
“Uma startup é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza.”
Ser repetível significa criar um produto ou serviço que possa ser entregue em larga escala, sem que isso gere grande impacto nos custos de produção ou disponibilidade.
Um exemplo é um curso online, que pode ser vendido para diferentes pessoas, sem que seja necessário produzir versões personalizadas para cada cliente.
Ser escalável implica em construir uma solução com potencial amplo de crescimento, que permita um rápido aumento no faturamento.
E o cenário de incertezas se refere ao fato de que os lucros não são garantidos, já que a ideia que fundamenta a empresa pode não dar certo.
Com base nesses valores, diferentes Civic Techs fazem parcerias com o governo municipal, estadual ou federal, fornecendo ferramentas para que receba demandas da população e as responda.
O mais comum é que estruturem e disponibilizem plataformas para o registro dessas reivindicações de forma simples, a partir de uma interface intuitiva.
Aplicativos para smartphones estão entre os sistemas mais usados com essa finalidade, por serem versáteis e acompanharem os cidadãos em seu dia a dia.
Como explicamos acima, muitas Civic Techs são negócios de impacto social, ou seja, promovem mudanças significativas junto às comunidades em que estão inseridas.
Uma das formas de fazer isso é reduzindo a burocracia para conectar os governantes e outras autoridades.
Quem é que nunca sofreu ao tentar contatar a prefeitura local, autarquias responsáveis pelo fornecimento de água ou luz?
Algumas vezes, o cidadão chega a desistir de fazer uma reivindicação, apontar defeitos ou falhas nesses serviços, por causa da demora e da burocracia dos canais oficiais.
Um exemplo típico é o contato por telefone, que acaba em uma central e exige que o cidadão dê – e repita – uma série de informações sobre o lugar onde está, tipo de ocorrência e até sobre ele mesmo.
Devido à vida agitada nas metrópoles, pouca gente dispõe de tempo e paciência para finalizar o registro dos problemas, que acabam sendo deixados de lado e atrapalhando a rotina da população.
Uma consequência latente dessas situações é a noção de ineficiência do poder público, que poderia contar com a ajuda da população para fiscalizar e sanar diversas demandas.
Ao ofertar novos e mais eficazes canais de comunicação junto ao Governo, as Civic Technologies simplificam todo o processo e ainda fornecem meios de monitoramento ao cidadão.
Em geral, o contato inicial é feito via aplicativo no smartphone, e exige apenas informações da ocorrência e, às vezes, uma foto, que pode ser tirada rapidamente.
Através de ferramentas como o GPS, é possível confirmar a localização exata do problema e, depois, encaminhar a demanda diretamente ao órgão responsável, que terá os dados em mãos para resolver a questão.
Dessa forma, além de agilizar o atendimento e solução de problemas, as Civic Techs favorecem um empoderamento do cidadão, que é estimulado por perceber que sua participação faz a diferença.
Em um planeta extremamente polarizado e que ressalta as diferenças entre os povos, existem Civic Techs focadas na resolução de conflitos, a exemplo da pol.is.
Desenvolvida por empreendedores norte-americanos, a plataforma utiliza machine learning (aprendizado de máquina) e inteligência artificial para mapear e separar opiniões de diferentes grupos em categorias.
Em seguida, são feitas análises automáticas, buscando encontrar ideias que são apoiadas por grupos que, aparentemente, não têm interesses em comum.
Assim, possíveis conflitos e até guerras podem ser evitados, pois a pol.is identifica soluções que desfrutam de amplo apoio por diferentes comunidades.
Com base nos exemplos citados neste artigo, outros impactos de Civic Technology são:
Os campos social, jurídico e político estão entre os que recebem maior atenção das Civic Technology, tanto no Brasil quanto em outras nações.
A seguir, trazemos algumas iniciativas que vêm se destacando nesses setores. Confira!
Esse negócio de impacto social foi fundado em 2016, apresentando uma alternativa para o monitoramento do clima e emissão de alertas à população.
Um de seus principais objetivos é reduzir o impacto de enchentes em grandes cidades.
Conforme detalha o site oficial, a empresa oferece um sistema de monitoramento climático que entrega previsibilidade e segurança à comunidade, unindo:
A ideia da Pluvi.On nasceu da observação das enchentes e deslizamentos durante a época de chuvas na capital paulista.
Atualmente, a empresa está presente em municípios de sete estados brasileiros, onde foram instaladas 160 estações pluviométricas.
Com o auxílio dessas estações, em 2019, a cidade de Campinas alcançou a primeira colocação no Ranking Connected Smart Cities, da ONU.
Já as soluções da Pluvi.On foram inseridas da plataforma United Smart Cities, que reúne ferramentas inovadoras desenvolvidas no século XXI.
Pensada para democratizar o acesso à Justiça, a Civic Tech simplifica a vida de quem teve o voo atrasado, cancelado ou sofreu qualquer outro dano junto a companhias aéreas.
Basta entrar no site e preencher um rápido formulário para ter sua petição inicial gerada e contatar um advogado.
Também é possível tirar dúvidas de modo ágil, consultando o chatbot da empresa.
Por meio de inteligência artificial e uma plataforma intuitiva – a Better Reykjavik -, essa ferramenta auxilia na coleta de grandes quantidades de dados (big data).
O Your Priorities está sendo utilizado pelo Governo da Islândia com o objetivo de ouvir uma parcela maior da população sobre questões como a formação de uma nova estratégia de educação de longo prazo.
Além disso, os cidadãos enviam diversas sugestões para as prefeituras, que discutem os temas mais populares mensalmente.
A partir das ideias da população, a administração pública já implementou centenas de melhorias desde 2011, quando a solução começou a ser utilizada.
É uma organização sem fins lucrativos, responsável pela gestão de diversas ações com Civic Technology – incluindo o Your Priorities.
Além dessa ferramenta, a Citizens Foundation gere ações em mais de 20 países, a exemplo de Malta, onde o Partido Nacionalista emprega ferramentas da fundação para realizar consultas públicas sobre sua plataforma eleitoral.
Devido aos seus objetivos comuns, como conferir eficiência aos serviços públicos, Civic Techs e GovTechs podem ser facilmente confundidas.
Mas elas se referem a categorias diferentes, pois têm clientes distintos.
Enquanto as Civic Techs servem à população, iniciativas GovTech têm o governo como cliente, atuando na modernização da gestão pública.
Um exemplo de GovTech é a Fábrica de Negócio, que cria soluções em análise de dados para entidades governamentais.
Dentre seus mecanismos mais recentes está o FN Payroll Audit, que presta serviços de mineração de dados e auditoria das folhas de pagamento de autarquias, colaborando para uma boa gestão dos recursos públicos.
Além das iniciativas puramente Civic Tech ou GovTech, existem empresas que unem os dois modelos de atuação, propondo soluções para governo e a população.
Essa combinação tem gerado uma série de impactos positivos em todo o mundo, estreitando laços entre a gestão pública e os cidadãos engajados na melhoria dos serviços, de forma geral.
Um exemplo de Civic Tech e GovTech é a Colab, uma startup fundada em 2013 que oferece website e aplicativo para que a população colabore com questões do setor público.
Pessoas comuns podem deixar, no site ou app, mensagens que contribuem com a zeladoria urbana, participando da tomada de decisões e consultas de avaliação de serviços públicos.
A Colab ganhou destaque no noticiário em 2019, quando firmou parceria com o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Urbanos (ONU Habitat) para a realização da Consulta Cidades Sustentáveis.
No total, 9.606 cidadãos responderam perguntas sobre assuntos relacionados à resiliência – ou não – das cidades onde vivem, como habitação, transporte e participação social.
Ao final da pesquisa, os dados foram comparados a informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outras entidades internacionais, a fim de acompanhar a performance dos municípios brasileiros diante do ODS 11.
O ODS 11 (Objetivo do Desenvolvimento Sustentável) foi proposto pela Organização das Nações Unidas aos seus países-membros, com o propósito de tornar a vida nas cidades e assentamentos urbanos digna, sustentável e segura.
Outro exemplo do casamento entre Civic Tech e GovTech é o app “Fala, Cidadão”, solução colaborativa que faz a ponte entre ocorrências observadas pela população e o poder público.
Nesse caso, quem patrocina a ferramenta são as prefeituras municipais, que, então, passam a ter um sistema otimizado para receber as demandas dos moradores.
Um dos pontos mais interessantes é que o aplicativo mantém o cidadão informado sobre o status do problema, enviando mensagens de resposta sobre cada ocorrência registrada.
Cidades dos estados do Rio Grande do Sul (inclusive a capital, Porto Alegre), São Paulo e Rio de Janeiro utilizam o “Fala, Cidadão” para melhorar o atendimento a demandas da sociedade.
Quanto maior o engajamento, mais eficientes as iniciativas das Civic Technologies se tornam.
Ou seja, as ações tomam proporções maiores à medida que mais cidadãos participam e se comprometem a contribuir para facilitar a vida de sua comunidade.
No Pará, por exemplo, a ferramenta Monitorando a Cidade realiza campanhas para colher informações que, juntas, dão suporte para cobrança mais efetiva dos compromissos do poder público.
Para participar, os cidadãos acessam o site, criam uma conta gratuita e, a partir daí, podem iniciar campanhas sobre temas de interesse.
Uma das campanhas, chamada “Égua da Merenda, João”, partiu da constatação de problemas quanto à distribuição da merenda escolar na cidade de Belém, inicialmente.
Conforme mais atores sociais e do Governo se juntaram à iniciativa, ela se expandiu para outros municípios, como Santarém e Rio das Pedras, resultando na maior presença da merenda nesses locais.
Esse impacto se traduz nos investimentos e dinheiro movimentado pelo setor.
Os dados sobre Civic Technology, em si, são escassos, mas, para se ter uma ideia, as GovTechs (incluindo aquelas que também são Civic Techs) devem movimentar US$ 400 bilhões até 2025.
Este artigo falou sobre exemplos, tipos e impactos do modelo Civic Technology, que coloca inovações tecnológicas a serviço dos cidadãos.
Como vimos, as atuais ferramentas disponíveis são capazes de aproximar as pessoas de soluções para suas vidas, enfatizando os conceitos de cidadania e responsabilidade social.
Esses são temas frequentes que você acompanha por aqui, no blog da FIA, onde encontra informações relevantes sobre iniciativas que estão fazendo a diferença na sociedade.
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