Carências no mercado da saúde e inovações tecnológicas têm levado ao crescimento das healthtechs no Brasil.
Suas soluções cobrem uma série de gargalos, desde medidas de prevenção até a oferta de serviços de atenção básica, ajudando a reduzir a lotação em prontos-socorros da rede pública e particular.
Também têm potencial para simplificar a gestão de unidades de saúde, tornando as ações das lideranças e colaboradores mais eficientes e humanizadas.
Daí a importância de conhecer essas opções, seja para melhorar o atendimento ao paciente, aos funcionários da sua empresa ou para manter a saúde em dia.
Ao longo deste artigo, vamos falar sobre a importância das healthtechs, tecnologias empregadas por elas e seus principais desafios no cenário atual.
Siga com a leitura e fique por dentro do universo das startups que estão transformando a área da saúde.
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Boa leitura!
Healthtechs são startups focadas no setor da saúde.
O termo, que tem origem na língua inglesa, é formado pela união da palavra “health” (saúde) com a terminação “tech”, que faz alusão à tecnologia.
Isso porque as primeiras startups nasceram no contexto da expansão da internet e negócios pautados por inovações tecnológicas.
No entanto, como explica este conteúdo do Sebrae, uma companhia não precisa se restringir ao universo online para ser classificada como startup.
Em outras palavras:
“Uma startup é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza.”
O modelo de negócios se refere ao modo como a empresa funciona, gera valor ao cliente e obtém seus lucros.
Em uma startup, ele deve possibilitar a repetição, ou seja, entregar o produto ou serviço sem muitas adaptações a uma grande quantidade de clientes.
Também precisa ser escalável, com potencial de crescimento para que os lucros aumentem rapidamente, enquanto as despesas se elevem de forma lenta.
Já o cenário de incertezas descreve um ingrediente fundamental para uma startup: a inovação.
Diferente do que acontece com organizações tradicionais, elas são criadas em cima de uma ideia que tem amplo potencial de sucesso, mas engloba riscos.
Para facilitar a compreensão dos conceitos, compare uma central que agenda consultas médicas por telefone a uma plataforma ou app que faça essa tarefa.
Enquanto a central exige mais atendentes e equipamentos na mesma medida em que aumentar o número de pacientes, o aplicativo pode ser utilizado por uma série de pessoas, entregando uma experiência semelhante a todas elas.
Será necessário expandir muito a quantidade de pacientes para que os administradores do app precisem investir em mais recursos humanos e materiais.
Nesse exemplo, ficam claras as diferenças entre uma empresa tradicional do segmento de saúde e uma healthtech.
Segundo dados divulgados pelo Sebrae, o mercado de saúde brasileiro movimentou R$ 546 bilhões em 2016, o que correspondeu a 9,1% do PIB total naquele ano.
O montante, que reúne investimentos em bens de consumo e serviços, fez o país garantir a sétima posição no ranking de nações que mais gastam com saúde no mundo.
E as healthtechs aparecem em destaque nesse contexto, conforme relatório da consultoria KPMG, totalizando 288 startups voltadas à saúde naquele ano.
A quantidade é expressiva, principalmente considerando que elas começaram a ganhar espaço somente desde 2010.
Em sua maioria, as healthtechs brasileiras se concentram na Região Sudeste (64,4%) e Sul (21,80%), seguidas pelas Regiões Nordeste (9%) e Centro-Oeste (4,8%).
No final de 2019, a Associação Brasileira de Startups (ABStartups) já contava com 406 associadas nesse campo, o que indica grande potencial de expansão desse mercado.
No mundo, o setor de healthtechs movimenta em torno de US$ 9 trilhões por ano, registrando um crescimento de 90% dos valores investidos entre 2010 e 2017.
Composta por produtos e serviços essenciais para melhorar a qualidade de vida da população, a área da saúde enfrenta uma série de barreiras no Brasil.
Se, por um lado, o país conta com um sistema que inspira outras nações devido ao acesso e cobertura universal, por outro, recebe críticas frequentes devido a desigualdades.
Unidades e leitos disponíveis, atendimento e infraestrutura são alguns dos itens que diferem de acordo com a região, estado e cidade observados.
Quando a demanda supera os recursos oferecidos, ambientes como hospitais registram superlotação frequente, levando ao caos entre pacientes e acompanhantes, demora nos atendimentos e até à prestação de socorro em corredores.
Para se ter uma ideia da gravidade da situação, um levantamento Confederação Nacional dos Municípios (CNM) revelou que o Brasil perdeu 40 mil leitos entre 2009 e 2019, sendo 23.091 pertencentes à rede pública.
Esse quadro, junto a agravantes como o envelhecimento da população, alerta para a necessidade de mudanças no modo como a saúde vem sendo gerenciada.
É preciso trabalhar não apenas na otimização dos recursos fornecidos, mas também em novas soluções que elevem o empoderamento dos pacientes, a exemplo de ferramentas de autocuidado e prevenção.
Focadas em inovações, as healthtechs conduzem esse movimento rumo a transformações na saúde.
Suas plataformas digitais unem proteção e expansão do acesso a dados de pacientes, compartilhamento de medidas de proteção à saúde e facilitam o contato entre pacientes e profissionais do setor.
Além disso, suas tecnologias permitem a criação de dispositivos vestíveis (wearables) para monitorar as condições de saúde, a realização de consultas a distância e até o desenvolvimento de próteses personalizadas.
Tecnologias disruptivas podem ser definidas como aquelas que rompem com os padrões estabelecidos em um setor.
Embora causem uma série de mudanças efetivas, elas não exigem que a aplicação de insumos ou técnicas totalmente novas.
Podem incluir, por exemplo, um jeito diferente de fazer a gestão de um consultório ou clínica médica.
A seguir, comentamos os principais problemas solucionados pelas propostas inovadoras das healthtechs.
Segundo estimativa do Ministério da Saúde, a atenção primária, prestada em unidades básicas, poderia resolver 85% das demandas dos pacientes.
Porém, nem sempre é fácil encontrar um centro de saúde na região da residência ou empresa, fazendo com que muitas pessoas se dirijam ao pronto-socorro de hospitais de referência, mesmo que tenham queixas leves.
De olho nesse gargalo, startups como a Cuidas fornecem um acompanhamento da saúde para funcionários e empresas, sem que precisem firmar convênios caros.
O serviço fica liberado através de uma plataforma que conecta os colaboradores a uma equipe de médicos e enfermeiros, que avaliam os casos envolvendo sintomas leves, como dores nas costas, tosse e alergias.
Mais acima, citamos o envelhecimento da população brasileira, o que requer uma atenção maior para questões como o autocuidado.
Afinal, esse fenômeno provoca uma elevação no número de pacientes com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, que não têm cura, mas podem ser tratadas.
Porém, nem sempre é fácil que o idoso se lembre dos horários e doses de medicamentos que deve ingerir para dar continuidade ao tratamento.
Constatando essa brecha no mercado, empresas como a CUCO Health se dedicaram a projetar aplicativos que facilitem o autocuidado.
Empregando machine learning (aprendizado de máquina) e inteligência artificial, a startup entrega lembretes sobre as medicações, hábitos diários de saúde e orientações de profissionais.
Especialistas estimam que 70% dos documentos como prontuários, receituários e encaminhamentos ainda estejam disponíveis somente em formato impresso.
Esse dado contraria a lógica da era atual, em que o mundo e os mercados são cada vez mais digitalizados, e ainda dificulta a vida de pacientes e profissionais de saúde.
Sem uma versão online, os profissionais perdem tempo organizando e procurando os documentos em papel, enquanto os pacientes precisam carregar seu histórico médico até diferentes unidades de saúde.
A partir dessas observações, diversas healthtechs estão investindo na digitalização dos prontuários e demais papéis, evitando problemas como perda ou incompreensão da letra do médico em uma receita.
Uma delas é o Dr. Controle, que criou um software com o potencial de gerar e armazenar arquivos através de um processo totalmente digital.
Gestores de consultórios, clínicas e hospitais precisam ter capacitação em diversos temas, desde administração até assuntos técnicos referentes aos equipamentos médicos.
Atuando em um mercado competitivo, eles necessitam de apoio para agilizar e dar fundamento a suas tomadas de decisão – e a tecnologia pode ajudar nessa tarefa.
Existem startups que oferecem plataformas integradas para gerenciar diversos departamentos e atividades, a exemplo da agenda, marcação e confirmação de consultas e exames.
É o caso da Amplimed, software pensado para simplificar a rotina dos gestores, incluindo controle do prontuário do paciente e monitoramento de seu histórico, junto a opções de telemedicina, uma área em ascensão na pandemia do novo coronavírus.
Informações da pesquisa Conta-Satélite de Saúde Brasil 2010-2015, realizada pelo IBGE, revelam as tecnologias que estão em alta entre as startups do setor.
Existem healthtechs atuantes no contexto de prevenção de doenças, diagnóstico e tratamento, que utilizam o suporte das inovações abaixo.
O trabalho de profissionais da saúde pode ficar mais ágil e ganhar qualidade com o suporte das máquinas e algoritmos capazes de coletar, armazenar, buscar e cruzar dados rapidamente.
Técnicas como o machine learning permitem a identificação de padrões importantes para a prevenção e o diagnóstico de enfermidades, comparando imagens e fatores de risco que predispõem o paciente a desenvolver uma doença.
Por isso, as startups desse campo estão apostando na inteligência artificial (IA) para captar, reunir e disponibilizar dados, possibilitando a personalização do atendimento em saúde.
Se a IA capta e gerencia as informações de pacientes, o big data viabiliza a construção e organização de bancos de dados, partindo de quantidades maciças que não poderiam ser administradas com eficiência por humanos.
Uma vez formadas, essas bases podem ser consultadas com agilidade por meio de buscas, evidenciando gargalos e vislumbrando oportunidades de melhoria na prevenção, diagnóstico e tratamento de pacientes.
Sabe aquela ferramenta usada por redes sociais como o Facebook, que reconhece uma pessoa presente em uma foto?
Ela também pode ser empregada para, por exemplo, reconhecer a aparência de uma alergia na pele, ajudando no diagnóstico de diversos males.
A identificação facial e por voz é outra alternativa promissora para dar acesso a informações protegidas pelo sigilo médico-paciente, garantindo que apenas pessoas autorizadas as visualizem.
Citamos, nos tópicos anteriores, os wearables, dispositivos que são vestidos pelo paciente.
Relógios e pulseiras inteligentes estão entre os itens mais comuns, sendo dotados de sensores que captam dados sobre os batimentos cardíacos, temperatura e quantidade de oxigênio no sangue.
Graças aos sensores, médicos e outros profissionais podem monitorar sintomas e alterações suspeitas a distância, enviando alertas quando necessário.
Os pacientes também se tornam empoderados, atuando de forma ativa para melhorar sua qualidade de vida.
Bastante popular em videogames modernos, a realidade virtual é outra aposta das healthtechs no diagnóstico e tratamento de enfermidades, especialmente no segmento da saúde mental.
Com o suporte de um programador, é possível criar cenários que favoreçam a superação de traumas e fobias, sem submeter o paciente a perigos reais.
O uso de nanopartículas tem feito a diferença no desenvolvimento de ferramentas imunológicas como as vacinas, essenciais para combater e erradicar diversas epidemias e até pandemias, como a Covid-19.
Essa tecnologia também traz a esperança para a cura de doenças que modificam as células, a exemplo do câncer.
Precisas e incansáveis, partes de robôs já auxiliam em cirurgias complexas, e podem ajudar em outros procedimentos invasivos e cuidados de enfermagem.
Chats, plataformas que permitem o esclarecimento de dúvidas e até um atendimento prévio a distância são mais uma tecnologia que conta com investimento das healthtechs.
Por vezes, médicos, enfermeiros e auxiliares se comunicam com o paciente através de aplicativos famosos, como o WhatsApp, mas há opções integradas, por exemplo, em programas que facilitam o gerenciamento de clínicas médicas.
Baseada em sistemas próprios, a telemedicina permite a troca de informações médicas, transmissão de imagens para diagnóstico e acompanhamento de pacientes a distância.
A vantagem desses serviços é a eliminação de barreiras geográficas, diminuindo seus custos e agregando comodidade ao paciente, que não precisa se deslocar para ter acesso a eles.
Apesar das oportunidades de crescimento, inovar em uma área tão tradicional quanto a saúde pode ser um desafio e tanto, mesmo para companhias bem estabelecidas.
Imagine, então, para startups que, como explicamos no começo deste artigo, trabalham em um cenário de incertezas, apresentando técnicas, modelos e produtos disruptivos?
Muitas delas, inclusive, ainda atuam em fases iniciais, buscando por parcerias para viabilizar seus projetos – o que é difícil de conseguir, pois eles envolvem alto risco para os investidores.
Conforme assinala este texto assinado por Estela Teodoro, analista de inteligência comercial na DB1 Global Software, o próprio mindset do público brasileiro implica em uma resistência a novos formatos na saúde.
“Além disso, se considerarmos as healthtechs voltadas ao diagnóstico, há também resistência por parte de hospitais e laboratórios para utilizarem suas soluções com confiança. Esse é um ponto bastante crítico e que exige que elas tenham credibilidade no mercado.”
Outro ponto que merece atenção é a regulamentação, que carece ser atualizada para considerar as inovações tecnológicas e, em alguns casos, limita a ampliação dos serviços.
Com a crescente valorização da criatividade e inovações que simplificam a rotina de profissionais de saúde e pacientes, o futuro das startups dessa área é promissor.
Isso porque as healthtechs estão alinhadas à transformação digital e novas necessidades do consumidor atual, que tem amplo acesso a informações, mas necessita de proximidade para estabelecer confiança com seu médico, por exemplo.
A chave para que essas startups continuem em ascensão é colocar o cliente – neste caso, o paciente – no centro das estratégias de negócio, pois as ideias de sucesso virão da identificação de necessidades e desejos.
O segmento de planos de saúde, por exemplo, sinaliza mudanças ao fornecer modalidades segmentadas, que atendem a quesitos específicos como a atenção básica e ambulatorial.
Tanto as pessoas físicas como as jurídicas estão se distanciando das opções tradicionais – por vezes, devido ao seu alto custo mensal.
A prevenção é mais uma tendência que deverá pautar as healthtechs, com o uso de big data, inteligência artificial e outros recursos para mapear as probabilidades de o paciente desenvolver doenças e recomendar medidas para que ele as evite.
Assim, em vez de focar no diagnóstico e em terapias de combate às enfermidades, empresas e especialistas do setor vão se voltar a dados e orientações para uma vida mais saudável.
Vimos, neste artigo, que há um grande potencial de expansão e popularização das healthtechs, potencializando a qualidade do atendimento em saúde por todo o planeta.
No Brasil, fatores como regulamentação e aspectos culturais podem atrasar a evolução dessas startups, porém, o movimento já está acontecendo e proporcionando transformações disruptivas.
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