O narcisismo no trabalho é um problema que impacta o clima organizacional, podendo afetar o desempenho de equipes e lideranças.
Traços como o culto a si próprio e a falta de empatia são marcantes.
Eles impedem que os narcisistas pensem e façam o que é melhor para seu departamento, empresa e clientes, resultando em conflitos e mal-estar em seus times.
Apesar do comportamento nocivo, é comum que haja uma ou mais pessoas com esse perfil dentro das organizações, exigindo atenção constante.
Será possível lidar com esse quadro sem diminuir o ritmo no trabalho?
Respondemos essa e outras questões ao longo deste artigo, incluindo como identificar o narcisismo no trabalho, suas características, exemplos e de que forma agir para contornar a situação.
Se o assunto interessa, siga com a leitura.
Estes são os tópicos que vamos abordar a partir de agora:
Acompanhe até o final do texto!
Narcisismo é um traço de personalidade que faz com que o indivíduo queira estar sempre no centro das atenções, controlando pessoas e situações o tempo todo.
Isso acontece porque o narcisista tem uma imagem distorcida de si próprio e da realidade que o cerca, considerando tudo o que é e faz superior aos feitos da maioria das pessoas.
Ou seja, ele se julga superior à média, buscando validar essa crença a partir da admiração e manipulação de outros.
O termo narcisismo foi inspirado em uma história que integra a mitologia grega, na qual os pais de Narciso jamais poderiam permitir que ele visse sua própria imagem.
Extremamente vaidoso, o personagem não era capaz de sentir afeição por nenhuma das moças interessadas nele e, certo dia, sua falta de empatia contribui para uma tragédia.
Apaixonada, a ninfa Eco tenta se aproximar, mas a rejeição por parte de Narciso a faz se esconder em uma caverna, onde morre, deixando somente os ossos e a voz.
Como castigo, Nêmesis mostra a ele um lago em um dia em que Narciso está com muita sede.
Ao encarar sua imagem na água, o jovem mergulha para encontrá-la e acaba se afogando.
A seguir, listamos algumas características comuns aos narcisistas, comentadas pelo psicólogo José Elías Fernández nesta reportagem.
Confira.
Narcisistas se veem como superiores, pessoas dotadas de capacidades especiais que os demais não conseguem compreender.
Eles ultrapassam o limite da competitividade saudável, exagerando em seus feitos ou diminuindo o que os outros realizaram para se destacar.
Não se interessam pelo ponto de vista das outras pessoas, afinal, suas ideias são sempre vistas como as melhores.
Como não buscam conhecer os demais, é extremamente difícil se colocar no lugar deles para dar importância a suas necessidades e desejos.
Contam diversas mentiras para atrair a atenção, normalmente, inventando histórias difíceis de serem confirmadas.
Narcisistas jamais querem parecer vulneráveis ou mostrar qualquer defeito.
Estão sempre tentando dominar as situações e as pessoas, a fim de que façam aquilo que eles desejam.
Logo que conhecemos um narcisista, será difícil identificar esse traço de sua personalidade, ainda que ele sofra de graus elevados – caracterizando o transtorno de personalidade narcisista.
Essa pessoa pode até parecer sedutora e agradável, alguém inspirador pela determinação a alcançar o sucesso.
Porém, depois de algum tempo de convivência, os atributos desagradáveis ficam evidentes, através de comportamentos como:
Para compreender como alguém adquire os traços de narcisismo, vamos explorar a perspectiva da psicanálise.
Segundo os estudiosos da área, ninguém nasce narcisista, mas essa condição tem início ainda na primeira infância, conforme explica este artigo da Sociedade Brasileira de Psicanálise Integrativa (SBPI).
O assunto foi pautado por Sigmund Freud no texto “Sobre a Introdução do Conceito de Narcisismo”, publicado em 1914.
Ali, Freud afirma que, quando o bebê começa a perceber a visão daqueles com quem convive a respeito dele, inicia a construção de autoimagem com base nessas informações.
Se os pais o olham com admiração e zelo equilibrados, ele provavelmente irá desenvolver a autoestima de forma saudável.
Se, contudo, houver distorções, elas vão impactar na construção que a criança fará sobre si mesma.
Nas palavras da psicóloga Miriam Lopes de Barros, expressas neste artigo:
“Na verdade, as pessoas que têm esse distúrbio carregam na sua história pessoal a dor de não terem se sentido adequadamente amadas quando crianças e, a partir disso, desenvolvem uma frieza emocional nos relacionamentos interpessoais. Isso acontece como uma forma de se defender para nunca mais sentir a decepção que experimentaram quando crianças.”
Assim, podemos concluir que todos passamos por um narcisismo primário quando bebês, que deu base para uma autoimagem positiva e pode ter deixado alguns traços leves, que não representam uma patologia.
O problema é quando esses traços são mais profundos e marcam a personalidade de modo contundente.
Veja, a seguir, perfis desses indivíduos no trabalho.
Por valorizarem demais a própria opinião, costumam ser autoritários e ter reações negativas quando questionados pelos liderados.
Cultivam a dificuldade para dialogar, dar e receber feedbacks, impactando no desenvolvimento de talentos dentro da equipe.
Mas, quando o narcisismo é mais contido, pode ser que o líder não seja destrutivo para seu time e tenha até vantagens, reforçando qualidades como proatividade, iniciativa, assertividade e determinação.
Os colegas que têm esse perfil costumam ser péssimos companheiros de equipe, seja no trabalho ou em atividades de lazer.
Por não conseguirem valorizar a maioria de seus pares, a tendência é que ajam com indiferença se alguém precisar de apoio, por exemplo, para lidar com uma crise.
No entanto, depois de resolvida a questão, o narcisista poderá, rapidamente, mudar a postura para receber os créditos pela ação bem-sucedida, ainda que precise aumentar a importância de suas tarefas ou mentir.
Lidar com um narcisista pode ser uma tarefa difícil, pois as características desse perfil geram ambientes de trabalho tóxicos, problemas de relacionamento e até comportamento antiético.
Dependendo do tipo e grau de narcisismo, o time pode enfrentar consequências graves, como assédio moral e o adoecimento emocional de um ou mais funcionários.
Isso acontece quando as pessoas entram nos jogos de culpa e manipulação de um colega narcisista.
Portanto, a primeira dica para não se prejudicar é identificar quem possui traços narcisistas e não se envolver nos jogos dessa pessoa.
Se possível, evite o contato e a proximidade, incluindo qualquer comentário sobre sua vida pessoal.
Mantenha as interações em um nível profissional, utilizando recursos como a cordialidade e a clareza ao se comunicar.
Caso precise trabalhar junto a um narcisista, não dê muita atenção para suas provocações e guarde materiais que comprovem a realização de suas atividades.
Assim, você evita que ele diga que fez todo o trabalho sozinho ou que foi o responsável por todas as decisões certas.
Lembre-se de traçar um limite, deixando claro que não concorda com picuinhas e exposições, sejam suas, de outros colegas ou lideranças.
Se sentir que críticas constantes estão minando sua motivação ou autoestima, procure auxílio junto a um superior de sua confiança, à ouvidoria da empresa ou a um profissional externo (psicólogo).
Como mencionamos mais acima, o narcisismo pode se manifestar através de diferentes traços e, na maioria das vezes, não implica em um transtorno de personalidade.
Abaixo, comentamos quatro tipos de narcisistas que você pode encontrar no local de trabalho.
São os mais perigosos e difíceis de conviver, pois apresentam muitos traços narcisistas, chegando a manipular e explorar as pessoas ao seu redor para alcançar seus objetivos.
Narcisistas perversos são aqueles que, de fato, possuem o transtorno de personalidade narcisista, segundo relata esta reportagem.
Para se enquadrar nessa condição, o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) define que o indivíduo adulto mostre cinco ou mais características dentro de um conjunto que engloba:
Perfis autoritários costumam se manifestar em gestores que, por alcançar o poder, se acham no direito de desprezar seus subordinados.
É preciso ter cuidado com esse perfil, uma vez que ele pode tentar te prejudicar de maneira direta, através de ameaças ou agressões concretas.
Ao se deparar com alguém agressivo no trabalho, não se intimide e imponha os limites, pedindo por uma atitude mais profissional.
Esteja ciente de seus direitos no trabalho, chame testemunhas e, se for preciso, denuncie as ameaças ou agressões para um líder de confiança.
Esse tipo é mais comum, incluindo indivíduos com poucos traços de narcisismo que não consideram o impacto de suas ações para a equipe e a empresa.
Nesses casos, vale dar um feedback para que tomem consciência e trabalhem pelo bem coletivo.
“Trabalhar com chefes ND [narcisistas] provoca muito estresse, pois estão sempre depreciando, explorando, sendo arrogantes, críticos, fazendo micro gerenciamento e falhando em cumprir com suas responsabilidades para com os outros.”
A frase acima, retirada do artigo “O impacto dos gestores narcisistas nas organizações” (assinado pelo psiquiatra Roy Lubit), resume o dia a dia de muitos liderados de organizações brasileiras e estrangeiras.
Isso porque o perfil autoconfiante do narcisista tem o potencial de despertar a ideia de que ele é, realmente, uma pessoa acima da média no que faz – ainda que não seja competente.
O hábito de se exibir também acaba contribuindo para corroborar a imagem de uma pessoa que merece ser admirada, facilitando promoções e ascensão a cargos de liderança.
Outro ponto chave para que muitos narcisistas conquistem altas posições no mundo corporativo é que liderar diz respeito à influência que alguém é capaz de exercer sobre um time, e ele consegue influenciar.
Mesmo que se valha de ferramentas prejudiciais, como intimidação, manipulação e chantagem emocional, o narcisista, de fato, exerce influência sobre muitos indivíduos.
Se você está tendo problemas com um gestor que tem esse perfil, experimente apostar nas dicas a seguir.
A primeira recomendação, como citado neste artigo de Roy Lubit, é não levar as coisas para o lado pessoal.
Afinal, o comportamento do gestor tem mais a ver com ele do que com os subordinados.
Ainda que o chefe esteja criticando diretamente uma atitude sua e te expondo, tenha em mente que esse é um padrão que ele adota e que tal conduta não foi despertada por você.
Por mais tentador que seja, confrontar o líder narcisista pode ser uma péssima ideia, pois a tendência é que ele não ouça você – já que considera seus subordinados inferiores.
Até uma conversa ou feedback podem ser entendidos como um desrespeito e questionamento ao comando, e o que é pior, retaliados de forma direta.
Portanto, o melhor é não discutir e tentar levar o caso para esferas superiores, a fim de que as lideranças ou pares do seu chefe o confrontem, e não você.
Além de evitar situações que causem problemas ou críticas excessivas, é útil registrar as interações por e-mail para ter provas da sua conduta diante do problema.
Com documentos em mãos, ficará mais fácil demonstrar a postura hostil da liderança, caso seja preciso.
Apesar de responder ao líder, você não é um brinquedo ou alguém que ele pode manipular.
E um dos segredos para se manter forte e poupar sua saúde emocional é investir em autoconhecimento, recordando quem você é e os méritos que o fizeram conquistar sua posição atual.
Desse modo, palavras duras do narcisista não terão o poder de afetar sua autoestima.
Se o clima ficar muito pesado e o chefe não aceitar nem uma conversa, pode ser a hora de repensar a importância do seu cargo ou até do emprego.
Há companhias que não reparam que sua própria cultura permite a ascensão de indivíduos narcisistas, e ficar nesses locais pode trazer mais perdas do que ganhos.
Em um primeiro momento, vale tentar mudar de departamento ou unidade para evitar retaliações, mas nem sempre essa é uma opção.
Caso perceba que o problema não será resolvido, priorize sua saúde e carreira, buscando por recolocação profissional.
Desarmar um narcisista requer paciência e coragem.
O primeiro passo é mostrar que você não tem medo dele, nem faz parte dos indivíduos que ele pode manipular.
O melhor é não se deixar levar por provocações e prevenir confrontos diretos, mas, se eles se iniciarem, procure responder de forma branda e firme.
Um dos principais pontos fracos é seu desejo constante por controle.
Geralmente, ele não sabe lidar com pessoas que, claramente, não compartilham de suas opiniões ou não aceitam suas ordens.
Grandes doses de narcisismo já eram prejudiciais antes da pandemia e consequente crise provocadas pela Covid-19.
Em meio a esse cenário caótico, lideranças com personalidade narcisista podem destruir grupos, empresas e países, impondo ideias que não condizem com a realidade.
Políticos são os exemplos mais notórios, pois possuem muita influência junto a organizações e à opinião pública.
Quando decidem promulgar notícias falsas (fake news), negar a gravidade da pandemia ou divulgar soluções milagrosas sem embasamento científico, podem desencadear uma série de problemas.
Sua postura arbitrária não deixa espaço para encontrar soluções em conjunto, o que poderia unir esforços e diminuir os danos para a saúde, economia, educação e tantos outros setores impactados pela pandemia.
Esse contexto é analisado no artigo “Líderes Narcisistas em Tempos de Pandemia (sem glamour)“, escrito pelo professor Marcelo A. Treff.
O especialista cita o fato de essas lideranças estarem longe do glamour e bajulação por causa do isolamento social, o que diminui os estímulos para que trabalhem com afinco.
Ou seja, os tempos de home office evidenciaram traços narcisistas entre os gestores, a exemplo de alta competitividade, obsessão por resultados e falta de disposição para o diálogo.
Além disso, ficou clara a ridicularização e desprezo pelos subordinados que não acompanham o ritmo workaholic do chefe, afetando a produtividade e qualidade de vida dos liderados e o desempenho das organizações.
É necessário, então, abordar os líderes narcisistas, sugerindo mudanças de comportamento e, se for preciso, tratamento junto a um profissional.
Vimos, neste texto, os diferentes tipos de manifestação do narcisismo no trabalho.
Também mostramos como identificar, evitar problemas e lidar com colegas e líderes que apresentem esse perfil.
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