A indústria farmacêutica é responsável pela produção de medicamentos e de substâncias que atuam como princípios ativos neles.
Essa produção está inserida em um setor amplo, complexo e altamente lucrativo.
Para se ter uma ideia, dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostram que, somente em 2017, o segmento movimentou R$ 69,5 bilhões, comercializando um total de 6.587 produtos.
Ao longo deste artigo, vamos falar sobre a atuação, características e o mercado para quem deseja se inserir nessa área de atuação.
Você vai conferir, ainda, detalhes sobre o funcionamento, histórico e dados desse setor.
Se desejar, navegue pelos tópicos abaixo:
Pronto para aprender tudo sobre a indústria farmacêutica? Então, vamos lá!
A indústria farmacêutica é o ramo de produção dedicado à pesquisa, desenvolvimento, fabricação e distribuição de remédios e itens voltados ao tratamento de doenças.
A cadeia farmacêutica inclui, ainda, produtos criados para suprir demandas de saúde de humanos e animais.
Conforme cita este artigo da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), ela envolve as seguintes atividades:
Uma das principais características desse setor é a especialização, uma vez que sua cadeia produtiva exige conhecimentos sobre matérias-primas e técnicas específicas.
Afinal, a fabricação de todo medicamento depende da produção de fármacos, que contêm seu princípio ativo – a substância responsável pelo efeito terapêutico no organismo.
Entretanto, a maior parte dos fármacos utilizados pela indústria farmacêutica nacional é importada, vinda de países como Alemanha, China e Estados Unidos.
Isso torna a produção bastante dependente da tecnologia internacional e influenciada pela cultura de grandes corporações farmacêuticas e de suas nações.
A área também obedece ao sistema de patentes, que são encaminhadas a partir da descoberta de um novo medicamento e valem por 20 anos.
Durante esse período, a indústria detentora da patente recebe royalties de outras companhias que utilizem a sua medicação, o que gera rendimentos importantes para compensar o investimento em pesquisas.
Contudo, depois das duas décadas, o medicamento e seu princípio ativo podem ser utilizados pela concorrência, sem que paguem royalties ou gastem com pesquisas.
É assim que surgem os medicamentos genéricos, que recebem o nome da sua principal substância com efeito terapêutico e são consideravelmente mais baratos que os originais.
Esse contexto gera a necessidade de busca constante por substâncias que possam tratar novas ou antigas doenças, melhorando seu tratamento ou levando à cura.
Ou seja, é um mercado extremamente competitivo.
Outra característica da indústria farmacêutica mundial é a sua dominação por poucos grupos presentes em vários países, criando um oligopólio.
Embora outros países tenham vivenciado grandes avanços no campo farmacêutico anteriormente, até o começo do século XX, a indústria brasileira contava com um parque incipiente.
Foi a chegada de imigrantes para trabalhar nas lavouras de café que fomentou um progresso inicial quanto ao parque nacional, que precisou crescer para atender à necessidade de combate a doenças infecciosas.
Esses males eram provenientes das péssimas condições sanitárias e da falta de higiene nos navios que transportavam os trabalhadores estrangeiros e de suas residências no Brasil (normalmente, cortiços malconservados).
Diante desse quadro, o segmento epidemiológico foi um dos primeiros a se desenvolver, com destaque para o uso de substâncias biológicas para prevenir e conter as epidemias.
Tanto que, na década de 1920, são inauguradas duas entidades pioneiras na produção de vacinas e soros: o Instituto Vacinogênico e o Instituto Butantan.
O primeiro desempenhou papel fundamental no combate à varíola, através de vacinas.
Já o segundo criou vacinas para a peste e, décadas mais tarde, tornou-se referência no desenvolvimento de soros contra picadas de animais peçonhentos – escorpiões, cobras e aranhas.
Mas foi somente nos anos 1950, durante o governo de Juscelino Kubitschek, que o setor experimentou um crescimento maior, fruto da entrada de grandes corporações estrangeiras no país.
Com a abertura da economia, pequenas indústrias nacionais perderam em competitividade para os grupos multinacionais, sendo integradas ou vendidas a eles.
Além disso, insumos farmacêuticos podiam entrar no Brasil pagando taxas de câmbio baixas, o que incentivou a dependência de matérias-primas e fármacos produzidos no exterior.
O lado positivo foi que o mercado nacional passou a dispor de mais compostos sofisticados, atendendo a uma maior quantidade de males com eficiência.
Outro marco para a história da indústria farmacêutica foi a promulgação do Código de Propriedade Industrial (Lei 5.772/1971), permitindo a concessão de patentes para produtos químicos e tecnologias, e exigindo o pagamento de royalties aos seus detentores.
Na década seguinte, o governo passou a priorizar o controle da inflação e contas públicas, diminuindo os lucros da indústria farmacêutica, ao estabelecer limitações para os preços dos medicamentos.
A partir de 1988, com a abertura financeira e comercial do Brasil, os grandes grupos internacionais reafirmaram sua dominância no mercado nacional e o controle do estado sobre os preços foi reduzido.
Em 1999, surgiram os genéricos – nova classe de medicamentos – e foi fundada a Anvisa, agência responsável pela regulação desses itens no país.
Nos anos 1990, os avanços nesse setor continuaram, mas não alcançaram a produção de matérias-primas como os fármacos, sendo que as pesquisas para seu desenvolvimento são patrocinadas somente por órgãos governamentais.
A cadeia produtiva farmacêutica segue quatro etapas básicas: importação, fabricação, distribuição e comercialização.
Há atores que viabilizam cada etapa, fornecendo insumos, tecnologias, realizando pesquisas, aplicando seu conhecimento técnico e levando os medicamentos ao consumidor final.
As indústrias química e farmoquímica oferecem matérias-primas primárias para a formulação de medicamentos, as quais são, muitas vezes, importadas.
Já a indústria gráfica disponibiliza as embalagens necessárias para conservar os compostos em segurança, mantendo suas características originais.
Com esses materiais em mãos, os laboratórios e institutos especializados realizam pesquisas e testes para desenvolver novos medicamentos.
Depois de aprovados pela Anvisa, os compostos seguem para fabricação em escala nas indústrias.
Em seguida, os medicamentos seguem para distribuição, que reúne uma série de entidades públicas e privadas, além dos médicos, que podem prescrever esses produtos direto ao paciente.
Listamos as principais a seguir:
A produção de um medicamento começa com o levantamento de substâncias que serão avaliadas de forma isolada ou combinadas para que seus efeitos sejam verificados.
Essas substâncias podem ser adquiridas junto à indústria de fármacos nacional ou internacional, através de importação.
Em seguida, é a vez de farmacêuticos, médicos, biólogos, biomédicos e biotecnólogos conduzirem as pesquisas necessárias para a formulação de uma nova droga.
Eles chegam a analisar 10 mil itens e, ao final de cerca de um ano, selecionam 250, que seguem para a etapa de testes pré-clínicos.
Por aproximadamente cinco anos, esses compostos serão testados em animais e, caso o resultado seja benéfico, serão encaminhados ao Conselho de Ética.
Os que passarem pelo seu aval são direcionados à etapa de testes clínicos, quando são avaliados de forma minuciosa junto a grupos de voluntários humanos, por um período de seis a sete anos.
Na Fase I, 20 a 100 pessoas participam dos testes. Na Fase II, o número sobre para 100 a 500, enquanto a Fase III requer a participação de 1.000 a 5.000 voluntários.
Por fim, o medicamento é enviado para a Anvisa para aprovação e registro, o que costuma levar seis meses.
Só então, está liberado para ser produzido em escala e distribuído para comercialização em diferentes pontos de venda.
Toda essa dinâmica pode levar 10 anos ou mais e consumir cerca de US$ 1 bilhão em investimentos.
Focando na etapa de produção, realizada na indústria, podemos citar profissões alinhadas à pesquisa, desenvolvimento e testes dos medicamentos.
As principais são: farmacêutico, biólogo, biomédico, médico, engenheiro químico e biotecnólogo.
Vamos conhecer mais sobre elas?
Com graduação em Farmácia, esse profissional tem na pesquisa e desenvolvimento de medicamentos sua área de atuação mais comum dentro da indústria.
Ele aplica seus conhecimentos na combinação e testes com diversas substâncias, observando suas reações e efeitos, sejam terapêuticos ou colaterais.
Também é responsável pelo controle das técnicas de produção, verificando fatores como dosagem, temperatura e condições de conservação dos compostos.
A partir de uma compreensão aprofundada sobre os tecidos, órgãos e sua organização em sistemas, o biólogo pode auxiliar durante as fases de pesquisa e testes clínicos de medicamentos.
Durante os anos de graduação, ele estuda temas referentes à biofísica, bioquímica, biologia celular e molecular, genética, imunologia, microbiologia e outros campos de conhecimento.
A graduação em Biomedicina também permite atuação nas etapas de pesquisa e desenvolvimento de novos compostos para a indústria farmacêutica.
Porém, enquanto o profissional formado em Farmácia tem atuação mais voltada aos atributos e efeitos químicos, o biomédico se atenta a processos metabólicos e imunológicos e ao funcionamento dos sistemas e órgãos.
Por isso, ele costuma estar ao lado do farmacêutico durante a combinação e estudo de novas substâncias, verificando seu impacto sobre organismos vivos.
Pode dar consultoria para a pesquisa e à seleção de substâncias de origem orgânica ou mineral, indicando sua possível interação com tecidos e órgãos.
Atua desde a etapa de extração de matérias-primas, pois tem formação prévia sobre os possíveis resultados de sua manipulação nos processos industriais.
No setor farmacêutico, o engenheiro químico aplica técnicas que conduzem a transformações físico-químicas, gerando novos compostos, a exemplo de drogas com efeito terapêutico.
Dessa forma, pode estar envolvido com a fabricação do medicamento ou de sua embalagem.
Tendo estudado uma combinação entre engenharia, química e biologia, o biotecnólogo é capaz de avaliar e aplicar as principais tendências tecnológicas ao processo de produção de medicamentos.
Também pode auxiliar na seleção de substâncias com potencial para formular novos medicamentos.
Conforme explicamos nos tópicos anteriores, as funções do farmacêutico vão além do atendimento e orientação de pacientes para o uso correto dos medicamentos.
O profissional também é o responsável pelas pesquisas sobre novas substâncias e fabricação de medicamentos magistrais (conhecidos como fórmulas ou remédios manipulados), compra, armazenamento e controle do estoque de drogas em farmácias.
Essas atividades podem ser exercidas em diversos tipos de empresas, institutos e associações, desde a indústria química e farmacêutica até a indústria de cosméticos e produtos de higiene pessoal.
De acordo com a Resolução nº 572/2013, existem 10 linhas de atuação para os farmacêuticos, que listamos abaixo:
O mercado de trabalho está aquecido para quem decide se formar em Farmácia.
Segundo levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) da Secretaria do Trabalho, a profissão foi a segunda de nível superior a gerar mais empregos nos primeiros três meses de 2019.
Em 2018, já havia ficado na terceira colocação do ranking.
E a expectativa é que as oportunidades nessa área continuem aumentando nos próximos anos, já que o Brasil é o sexto maior mercado farmacêutico do planeta, de acordo com a pesquisa “Panorama do Mercado Farmacêutico Brasileiro, Tendências & Oportunidades”, da empresa IQVIA.
Atualmente, o Conselho Federal de Farmácia contabiliza 221,2 mil profissionais atuantes no setor, que movimentou R$ 119 bilhões entre setembro de 2018 e setembro de 2019, considerando apenas o varejo.
De acordo com a linha de atuação que escolher, o farmacêutico pode atuar em instituições como:
Considerando o contexto mundial, o ranking da Revista Forbes classificou a Johnson & Johnson como a maior empresa do setor em 2015.
A companhia norte-americana é seguida por Pfizer, Novartis e Merck.
Segundo o Anuário Estatístico do Mercado de Medicamentos, publicado pela Anvisa, os 10 grupos do segmento farmacêutico que mais faturaram no mercado brasileiro em 2017 são:
Projeções do Instituto IQVIA apontam que cada pessoa irá gastar US$ 107 com medicamentos em 2022.
No Brasil, o gasto per capita deve ultrapassar os US$ 200 naquele ano.
Estudo da Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) mostra que nosso país vem subindo no ranking dos maiores mercados farmacêuticos mundiais.
Em 2012, estava na sétima posição; em 2017, na sexta; em 2022, deve alcançar a quinta posição.
Os quatro maiores mercados farmacêuticos do planeta – Estados Unidos, China, Japão e Alemanha – mantêm suas colocações desde 2012.
Os cinco laboratórios do setor que tiveram maior faturamento no Brasil, em 2017, são: Aché; EMS Pharma; Sanofi; Eurofarma; e Neo Quimica.
O analgésico e relaxante muscular Dorflex é o campeão de vendas no Brasil desde 2013.
Xarelto, Addera D3, Neosaldina, Torsilax e Selozok são outros medicamentos que chegaram ao topo do ranking de vendas nos últimos anos.
Atualmente, a maior parte dos esforços da indústria farmacêutica mundial está voltada ao combate ao câncer, com 1919 medicamentos em desenvolvimento.
Neurologia (com 1308 drogas em desenvolvimento), doenças infecciosas (1261), imunologia (1123), e doenças cardiovasculares (563) são outras áreas em destaque.
Apresentamos, neste artigo, um panorama completo sobre a indústria farmacêutica no Brasil e no mundo.
Fica evidente o crescimento do setor, com oportunidades promissoras para quem deseja atuar em cada etapa da cadeia farmacêutica, desde a pesquisa até distribuição e vendas.
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