Como será a recuperação econômica pós-Covid-19?
Essa pergunta tem tirado o sono de muitos economistas, autoridades e gestores de empresas desde o início da crise atual, desencadeada pela doença.
Em uma estratégia para conter a disseminação do novo coronavírus, entidades de saúde e lideranças mundiais recomendaram medidas de isolamento social.
O objetivo era manter a distância entre as pessoas, quebrando o ciclo de transmissão do vírus e prevenindo o colapso dos sistemas de saúde.
Cidades, estados e países por todo o planeta aderiram a essas medidas, em maior ou menor grau, a fim de reduzir os impactos sobre a saúde da população.
O lado negativo é que a paralisação de companhias nos ramos da indústria, comércio e serviços provocou grandes perdas para a economia.
E elas se refletiram no desemprego, na redução no consumo e poder aquisitivo, no fechamento de empresas e na queda generalizada no Produto Interno Bruto (PIB) de vários países.
Será que essa tendência vai se manter? Quais são os cenários prováveis para o desempenho da economia para a reta final de 2020 e início de 2021?
Ao longo deste artigo, vamos trazer possíveis respostas para essas e outras questões, incluindo dicas para quem está à frente de um negócio se manter firme diante dos próximos desafios.
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Boa leitura!
A recuperação econômica pós-pandemia é o processo de retomada da economia depois de inúmeros impactos registrados como consequência do enfrentamento da Covid-19 em todo o mundo.
Em outras palavras, representa uma esperança de autoridades e da população mundial, pois significa um retorno, mais rápido ou mais lento, até que os índices econômicos atinjam e mantenham o patamar registrado antes da epidemia de coronavírus.
Em meio à recessão em que se encontram diversas nações no momento em que este texto é escrito, a recuperação pode parecer apenas um sonho distante.
Em especial para os setores mais castigados nos últimos meses, como viagens e turismo.
Porém, sob o ponto de vista de algumas linhas de pensamento, as crises fazem parte da trajetória econômica de qualquer território, sendo vivenciadas de forma cíclica.
Isso significa que é normal viver períodos de bonança por alguns anos ou décadas, intercalados a crises, com consequências mais ou menos profundas.
A última crise com efeitos mundiais foi registrada em 2009, quando o mercado imobiliário dos Estados Unidos entrou em colapso, gerando um efeito cascata para outros países.
O PIB dos EUA teve retração de 2,5% na época, porém, no Brasil, a queda foi bem mais sutil, com 0,1%.
Já o impacto da crise pelo coronavírus deve ser bem mais grave, levando a uma redução de 6,2% do PIB global, de acordo com estimativas do Banco Mundial.
A pandemia de Covid-19 foi um estado crítico decretado pela Organização Mundial da Saúde em 11 de março de 2020.
Na época, a doença, provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, havia alcançado o patamar de mais de 118 mil infecções, com 4.291 vítimas fatais, e chegado a 114 países.
Ao decretar a pandemia, a ONU reconheceu que o vírus estava se espalhando de forma rápida e sem controle, causando mortes e prejudicando sistemas de saúde das nações mais afetadas – inicialmente, China, Itália, Coreia do Sul e Japão.
Como vírus respiratório, o SARS-CoV-2 é transmitido principalmente pelo contato com gotículas contaminadas, liberadas através de espirros ou tosse de pessoas infectadas.
Por isso, autoridades como a OMS passaram a recomendar o distanciamento social para impedir que o coronavírus continuasse se espalhando.
Governos, então, optaram por essa ou outras medidas de combate à Covid-19, cada um a seu modo.
Tanto o isolamento social quanto as quarentenas estiveram entre as ações mais comumente adotadas, em especial para evitar o colapso dos sistemas de saúde em decorrência da alta ocupação de leitos por pacientes em estado grave, necessitando de respiradores.
Assim, governantes implementaram restrições à circulação e aglomeração de pessoas.
Alguns chegaram a estabelecer o fechamento total (lockdown), enquanto outros permitiram que apenas os serviços básicos funcionassem por meses.
As medidas tiveram efeito positivo para a saúde, prevenindo mortes e contágios, porém, a economia mergulhou em uma crise profunda.
Com as portas fechadas, negócios em queda, adiamento e cancelamento de contratos, a maioria das empresas de todos os portes amargou prejuízo no primeiro semestre de 2020.
Para se ter uma ideia, em maio, o Ibovespa – índice que acompanha o valor das maiores empresas no Brasil -, mostrava queda acumulada de quase 35%.
A situação estava melhor em 10 de setembro, quando a perda ao ano ficou em 14,54%.
O mesmo não pode ser dito sobre o desemprego, outro importante indicador econômico.
No final de agosto, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid-19, realizada pelo IBGE, apontou uma taxa de desocupação de 14,3%. No começo de maio, a taxa era de 10,5%.
A fim de amenizar o quadro, União, estados e municípios criaram pacotes emergenciais que deram suporte econômico a uma parcela da população e das empresas.
Detalhamos alguns deles abaixo.
Por meio da Lei 13.982, de 2 de abril de 2020, o governo federal instituiu um auxílio emergencial mensal, pago durante três meses para dar assistência a desempregados, autônomos e famílias com renda mensal inferior a três salários mínimos.
Contribuintes individuais do INSS e microempreendedores individuais (MEI) também foram contemplados pela iniciativa.
Apelidado de coronavoucher, o auxílio foi concedido em parcelas de R$ 600,00, sendo dobrado no caso de lares sustentados apenas por uma chefe de família.
Mais ambicioso que qualquer outro programa de transferência de renda implantado no país, a estimativa é que o auxílio tenha destinado R$ 50 bilhões a aproximadamente 14 milhões de famílias até agosto de 2020.
Diante da permanência da emergência de saúde pública decorrente do coronavírus, a Medida Provisória nº 1.000, de 2 de setembro, criou o auxílio emergencial residual, no valor de R$ 300,00 mensais, pago por até três meses, sendo a última cota em dezembro de 2020.
Com a prorrogação, o programa deverá custar um total de R$ 321,8 bilhões em 2020.
O complemento na renda fez a quantidade de brasileiros que vivem na pobreza (os que recebem menos de R$ 515,00 mensais) diminuir 23,7% durante a crise, registrando uma mínima histórica de 50 milhões de pessoas, conforme estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Divulgado em outubro, o levantamento alertou que o fim do coronavoucher faria 15 milhões de brasileiros retornarem à pobreza.
No entanto, estender o benefício aumentaria o descontrole do déficit orçamentário no país, rompendo com o teto de gastos previsto para 2021, afastando ainda mais investidores que poderiam contribuir para a retomada econômica.
Até o início de outubro, a prorrogação do subsídio estava em discussão no Congresso, sem sinal de consenso para equilibrar o benefício e as contas públicas.
Na mesma época, o presidente Jair Bolsonaro disse, em evento, que “o auxílio emergencial não é para sempre (…) até porque é caro demais para a União“.
A flexibilização dos contratos de trabalho no âmbito da CLT esteve entre as primeiras ações de enfrentamento à crise decorrente da Covid-19.
Em 22 de março, o governo publicou a Medida Provisória nº 927, dispondo sobre as medidas trabalhistas para enfrentamento do estado de calamidade pública devido ao coronavírus.
Teletrabalho ou home office, concessão de férias coletivas e suspensão do recolhimento do FGTS foram algumas ações autorizadas para que as empresas pudessem se adaptar e sobreviver.
Mais tarde, foi sancionada a Lei nº 14.020, de 6 de julho de 2020, estabelecendo o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, com base em 3 premissas:
Em suma, o programa possibilitou que empresas reduzissem, proporcionalmente, horas de trabalho e salários de seus empregados, inicialmente, por 2 meses.
A diminuição poderia ser de 25%, 50% ou 70% durante esse período, e a União pagaria um subsídio para complementar a renda perdida pelos funcionários.
O cálculo desse subsídio era feito de acordo com o valor a que o trabalhador teria direito se solicitasse seu seguro-desemprego.
Ou seja, se ele tivesse direito a R$ 1.000,00 mensais e o salário fosse reduzido em 25%, receberia R$ 250,00 do governo, mensalmente.
A legislação também permitiu a suspensão temporária de contratos de trabalho para evitar demissões, dando suporte à renda do colaborador através do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda.
Nesse caso, o empregado receberia, do governo, os R$ 1.000,00 que correspondem ao seguro-desemprego, considerando nosso exemplo acima.
Ainda em julho, o programa foi prorrogado por dois meses através do Decreto nº 10.422/2020.
Em 24 de agosto, o Decreto nº 10.470/2020 estendeu a validade das medidas por mais um bimestre, totalizando 6 meses.
Ao anunciar a última prorrogação, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o benefício havia favorecido 16 milhões de trabalhadores, que conservaram seus empregos durante a pandemia por meio de um orçamento relativamente baixo: pouco mais de R$ 20 bilhões.
Outro impacto significativo da pandemia na economia brasileira se manifestou nas projeções de queda brusca do Produto Interno Bruto em 2020.
Diante da crise de saúde pública, o Banco Mundial chegou a prever, em junho, que o PIB despencaria 8%.
Dois meses depois, o quadro foi amenizado pela recuperação no comércio e estabilidade no preço das commodities, levando a entidade a atualizar sua estimativa para uma retração de 5,4%, segundo o relatório “O Custo de se Manter Saudável”.
Mas há previsões mais otimistas, como a do FMI (queda de -5,1% em 2020), do Boletim Focus (- 5,02%) e do Ministério da Economia (- 4,7%).
Já as medições pontuais preocupam autoridades e analistas, projetando cenários ainda mais sombrios para o PIB.
Um exemplo foi a retração histórica de 9,7% no segundo trimestre, registrada pelo IBGE.
Recuperação em V é um termo utilizado para descrever um cenário otimista, em que, após uma queda brusca, a economia retoma rapidamente o nível observado antes de uma crise.
A letra V ilustra essa trajetória, mostrando um ponto inicial alto (pré pandemia) seguido por um central, baixo (auge da crise) e um ponto final, tão alto quanto o primeiro (pós-pandemia).
O termo “recuperação em V” vem ganhando popularidade em tempos de pandemia, em especial após o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmar, em 5 de agosto, que:
“As indicações são de que o Brasil está se recuperando no V da Nike. É um V que não se volta com a mesma velocidade que caiu, mas está subindo mês a mês.”
O ministro tomava por argumento o aumento no consumo, motivado pela demanda represada durante a quarentena nos meses anteriores.
Entretanto, avaliações mais amplas, como a do banco francês BNP Paribas, projetam que a retomada inicial deverá diminuir o ritmo ainda no final de 2020, levando a novas perdas para a economia.
A recuperação em U corresponde a uma previsão diferente, na qual os reflexos da crise fazem a retomada econômica demorar para atingir os níveis pré-pandemia.
De acordo com matéria do site Nexo, o U pode descrever dois cenários.
No primeiro, a recuperação começa lenta para, mais tarde, ganhar força.
No segundo, se inicia intensa, mas perde velocidade em seguida.
A resposta para essa questão depende de uma série de fatores.
O primeiro é por quanto tempo a humanidade ainda terá de conviver com a pandemia de Covid-19, dando continuidade às medidas de controle, colaboração de empresas e da sociedade para manter o distanciamento e diminuir o contágio.
Essa situação só deverá ser amenizada com a chegada de uma vacina eficiente e a imunização em massa.
O segundo é o impacto das medidas de combate à epidemia. Elas foram diferentes em cada território, o que, provavelmente, trará consequências distintas.
E o terceiro é a capacidade de gestão e o emprego de recursos nos próximos meses, que poderão tanto agravar quanto amenizar o impacto econômico.
Outros pontos de atenção são a renda média da população, manutenção e crescimento das oportunidades de trabalho e retomada de setores como viagens e turismo.
A combinação desses e outros fatores é que vai determinar o ritmo da recuperação econômica que, além de V e U, pode assumir formatos como W e L.
A recuperação em W ilustra uma instabilidade decorrente de sucessivas reaberturas e fechamentos de atividades, conforme os casos de Covid aumentam ou diminuem.
Já o L é o cenário mais pessimista, no qual a queda se torna irreversível e a economia segue em baixa.
Segundo especialistas, uma recessão é caracterizada por quedas consecutivas no PIB, taxa de lucros e produção em diferentes setores econômicos.
Simultaneamente, há o fechamento de empresas, aumento do desemprego e diminuição do poder aquisitivo da maior parte da população.
Em geral, essas condições só são confirmadas meses depois do começo da recessão, quando há dados conclusivos que as sustentem.
Porém, no caso da crise pelo coronavírus, instituições internacionais e nacionais anunciaram a chegada da recessão ainda em agosto e setembro, quando não havia dados sobre o segundo semestre de 2020.
Isso porque a paralisação das atividades teve repercussões críticas, permitindo uma análise ágil por parte de grupos como o Codace (Comitê Independente da FGV) e NBER, que avalia a economia dos Estados Unidos.
Quase todas as nações do mundo sofreram redução no PIB no primeiro semestre de 2020, com exceção da China e da Índia.
O país asiático registrou alta de 11,5% no segundo trimestre, contudo, vale lembrar que os chineses estão na dianteira quanto aos efeitos da pandemia, pois o coronavírus se manifestou primeiro por lá.
Já a Índia registrou um crescimento tímido, de 0,7% no período.
Conforme projeções do Banco Mundial, mais de 92% das nações deverão terminar o ano no vermelho, rompendo com o recorde anterior de 83,8% – registrado durante a Grande Depressão, em 1931.
De forma geral, a humanidade está vivenciando altas no desemprego, aumento da pobreza e miséria, falência de empresas, déficits orçamentários e elevação da dívida pública dos países.
Aos poucos, as empresas estão reabrindo e voltando a ter lucro.
No entanto, o início da recuperação ainda pede cautela nas decisões.
Isso porque, como explicamos acima, leva tempo para verificar a trajetória da recuperação econômica, sem falar das desigualdades entre setores, regiões e acesso a facilidades para crescer, como crédito.
Mas é útil incorporar tendências evidenciadas durante a crise, a exemplo de:
Tratamos, neste texto, sobre os possíveis cenários para a recuperação econômica pós-Covid, com desafios para governos, lideranças de todos os setores e a sociedade em geral.
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