Provavelmente você leu ou aprendeu alguma coisa sobre a Rota da Seda nas aulas de História, mas sabia que ela foi reativada?
Isso mesmo: no século XXI se fala em uma versão repaginada dessa histórica via de comércio entre Ocidente e Oriente.
Se na antiguidade a Rota da Seda podia ser considerada como uma consequência natural do desenvolvimento da atividade comercial, hoje há outros propósitos envolvidos.
Naqueles tempos, a China não era a potência econômica gigantesca que é hoje, o que faz muita diferença no estabelecimento das relações de poder entre as regiões com que negocia.
Outra diferença a ser considerada é que, desde 200 a.C., época dos primeiros registros históricos da Rota da Seda, até as Grandes Navegações, a iniciativa de abrir caminhos partiu quase sempre dos ocidentais.
Hoje, os caminhos da seda seguem no fluxo contrário, ou seja, partem da China e se expandem pelo resto do mundo.
É sem dúvida um momento histórico, que trará desdobramentos que podem mudar a configuração geopolítica internacional.
Um tema da maior relevância, que você começa a explorar neste artigo a partir de agora.
Veja os tópicos abordados:
Continue lendo e entenda o que é a Rota da Seda em um novo contexto mundial.
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A Rota da Seda foi uma vasta rede de rotas comerciais que conectava o Oriente e o Ocidente, estendendo-se por milhares de quilômetros e atravessando diferentes territórios e regiões.
Ou seja, estamos falando sobre uma das mais importantes rotas comerciais entre Europa e Oriente.
Este complexo sistema de rotas foi fundamental para o desenvolvimento do comércio, moldando as relações entre o Oriente e o Ocidente desde o século II a.C. até o século XV.
O epicentro dessa rota era a China, berço da seda, um produto muito cobiçado na época, já que só os chineses dominavam a técnica para sua confecção.
Como o nome deixa claro, a seda chinesa, conhecida por sua qualidade excepcional, era um dos principais artigos transacionados.
Além da seda, especiarias, pedras preciosas, metais, porcelana e muitos outros bens eram transportados por caravanas que enfrentavam vastos desertos, montanhas imponentes e vastas planícies.
O comércio ao longo da Rota da Seda não se limitava apenas à troca de mercadorias, mas também facilitava a disseminação de conhecimento, cultura e religiões.
Filósofos, cientistas, artistas e missionários viajavam ao longo dessas rotas, colocando em contato diferentes tradições e modos de vida.
Acredita-se que o primeiro registro do termo veio do geógrafo alemão Ferdinand von Richthofen, que no século XIX usou pela primeira vez a palavra Seidenstraße, ou seja, Rota da Seda, em alemão.
Ao longo do tempo, ocorreu uma evolução nos caminhos da seda.
A ramificação atingiu rotas secundárias, como a Rota do Norte, a Rota do Sul e a Rota Marítima, abrindo novos caminhos e expandindo ainda mais as conexões entre as civilizações.
O intercâmbio ao longo da Rota da Seda deixou um legado para a história global e uma via de desenvolvimento que perdura até hoje, servindo como fonte de estudos e de inspiração.
O termo Rota da Seda, como se pode perceber, tem relação com as rotas comerciais entre Europa e Oriente.
Origina-se do comércio intenso da seda, uma fibra têxtil luxuosa produzida exclusivamente na China naquela época.
A seda era considerada valiosa devido à sua excepcional suavidade, brilho e textura, um símbolo de status e riqueza.
A exclusividade da produção de seda pelos chineses conferiu-lhes um monopólio involuntário, muito lucrativo e que impulsionou a demanda pelo produto.
A técnica intrincada de produção de seda era um segredo bem guardado pelos chineses.
A produção era baseada no cultivo de bichos-da-seda.
A coleta de casulos, a fiagem das fibras e a tecelagem dos tecidos exigiam habilidades especializadas que eram transmitidas de geração em geração.
Essa exclusividade conferia à seda um valor exorbitante, tornando-a uma mercadoria cobiçada por diversas culturas ao longo das rotas comerciais.
Naturalmente, os antigos líderes chineses usaram a seda como moeda de troca e uma verdadeira commodity, embora não fosse exatamente uma.
Durante a dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.), por exemplo, o imperador Wu Ti incentivou ativamente o comércio de seda, promovendo relações comerciais com o oeste, o que ajudou a financiar e equipar seus exércitos.
Com o tempo, a seda tornou-se uma moeda de troca nas interações entre o Império Chinês e os povos da Ásia Central e do Mediterrâneo.
Há registros históricos também das caravanas organizadas pela dinastia Tang (618-907), as quais deram um novo impulso às rotas então conhecidas.
São iniciativas governamentais que, como hoje, consolidaram a posição da seda como uma mercadoria de grande importância e que colocaram a China no epicentro do comércio internacional.
As rotas terrestres da seda mais conhecidas eram compostas por estradas que se estendiam por toda a Ásia, conectando a China ao Mar Mediterrâneo.
Entre essas rotas, tornaram-se mais conhecidas a Rota do Norte, a Rota do Sul e a Rota da Seda Marítima.
A Rota do Norte seguia pelos vastos territórios da Ásia Central, passando por cidades como Samarcanda e Bukhara.
Essa rota podia atravessar desertos como o de Taklamakan e as estepes da Ásia Central, sendo durante muitos séculos a única via de acesso para essas regiões.
A Rota do Sul, por outro lado, percorria regiões montanhosas e planícies, passando por áreas como o Irã, o Afeganistão e o norte da Índia, sendo uma alternativa às muitas barreiras geográficas da Rota do Norte.
Por sua vez, a Rota da Seda Marítima conectava as civilizações da Ásia Oriental com as do Sudeste Asiático, Índia e Oriente Médio, seguindo até o leste da África.
Portos importantes, como Guangzhou na China, Malaca na Malásia e Calicute na Índia, eram pontos-chave ao longo dessa rota.
Nela, participavam ativamente comerciantes árabes, indianos e chineses, facilitando a troca de mercadorias e conhecimentos.
As rotas marítimas também incluíam a Rota do Oceano Índico, que ligava o subcontinente indiano às costas orientais da África.
Tratava-se de um movimentado corredor marítimo, que permitiu o comércio entre a Índia, o Oriente Médio e as civilizações africanas, marcando uma importante extensão da Rota da Seda.
Muito mais do que uma via de comércio, a Rota da Seda exerceu forte influência em diversos aspectos históricos e culturais, funcionando como um verdadeiro vetor de transformações.
Conheça algumas delas a seguir.
Durante a dinastia Tang (618-907), a Rota da Seda testemunhou um florescimento cultural, em grande parte pelo esforço de religiosos que viajavam entre os países conectados.
O monge budista Xuanzang, por exemplo, viajou pela rota até a Índia para estudar textos religiosos de origem hindu.
Seu retorno à China enriqueceu a cultura chinesa com conhecimentos budistas, influenciando inclusive a produção literária e artística.
Diversas regiões floresceram e prosperaram ao longo dos séculos em que se conectaram ao mundo pela Rota da Seda.
Uma delas foi a cidade de Samarcanda, na Ásia Central, que prosperou como um centro comercial ao longo da Rota da Seda sob o governo de Tamerlão no século XIV.
Samarcanda se tornou uma das cidades mais ricas e culturalmente diversas do mundo, graças ao comércio intenso proporcionado pela rota.
A introdução da pólvora na Europa é um exemplo de como a troca de conhecimentos pela Rota da Seda fomentou o desenvolvimento tecnológico no ocidente e no oriente.
Há evidências de que a pólvora teria chegado ao Ocidente por meio dos caminhos da seda por volta do século XIII.
Essa transferência tecnológica, como era de se esperar, teve um impacto transformador na história militar e na produção de armas de fogo.
Descobertas arqueológicas em sítios ao longo da Rota da Seda são algumas das evidências tangíveis do intercâmbio que ela promoveu.
Escavações em cidades como Merv, no Turcomenistão, são reveladoras em razão dos artefatos descobertos que refletem a diversidade cultural trazida pelo comércio ao longo das rotas.
Estudiosos como Valerie Hansen, em seu livro “The Silk Road: A New History”, destacam a influência específica da Rota da Seda nas trocas comerciais, tecnológicas e culturais.
Hansen examina documentos históricos e arqueológicos para ilustrar a amplitude das interações ao longo dessas rotas, mostrando como elas moldaram as sociedades modernas.
Embora se fale da Rota da Seda no passado, na verdade ela continua viva, servindo como referência ao mencionar as transações comerciais entre a China e o resto do mundo.
Tanto que se utiliza hoje o termo Nova Rota da Seda, ou Iniciativa Cinturão e Rota – Belt and Road Initiative (BRI).
Trata-se de um ambicioso projeto de infraestrutura e desenvolvimento lançado pelo governo chinês sob a liderança do presidente Xi Jinping em 2013.
A BRI tem como objetivo revitalizar as antigas rotas comerciais da Rota da Seda, intensificando as já existentes conexões entre a China e os demais continentes.
A iniciativa consiste em duas partes principais: o Cinturão Econômico da Rota da Seda e a Rota da Seda Marítima do Século XXI.
O primeiro abrange rotas terrestres que conectam a China à Europa através da Ásia Central e do Oriente Médio, enquanto a Rota da Seda Marítima engloba portos e rotas marítimas que ligam a China ao Sudeste Asiático, África e Europa.
Um dos objetivos é promover o comércio, a cooperação econômica, a conectividade logística e o desenvolvimento de infraestrutura em países ao longo das rotas.
Por isso, a construção de portos, ferrovias, estradas e outros projetos de infraestrutura é uma parte fundamental da BRI.
Agora que já sabemos o que é a Rota da Seda hoje, não é difícil perceber que ela é parte de uma estratégia para impulsionar o desenvolvimento econômico global e aumentar a influência geopolítica da China.
Não estamos mais falando apenas de rotas comerciais entre Europa e Oriente.
Entretanto, alguns líderes e chefes de estado argumentam que a BRI pode levar ao endividamento excessivo e à dependência econômica, enquanto outros expressam suas preocupações sobre a transparência e a sustentabilidade ambiental dos projetos.
Fato é que a BRI tem sido uma fonte de debates e análises internacionais, destacando a complexidade de suas implicações econômicas, políticas e sociais.
O sucesso no longo prazo e o impacto da Nova Rota da Seda ainda estão em evolução, enquanto as transações que nela acontecem vão moldando as dinâmicas globais contemporâneas e influenciando as relações internacionais.
Como exposto em uma reportagem da BBC, essas preocupações são legítimas.
O diretor do think tank Green Finance and Development Center (GFDC), Christoph Nedopil, afirma que a China tem muitos problemas internos para resolver antes de pensar em expandir-se internacionalmente.
A matéria destaca também as acusações feitas pelo governo norte-americano, que, em tom de denúncia, diz que a China vem praticando a chamada “armadilha do endividamento”.
Seria uma estratégia de dominação, em que se induz os países mais pobres a contratar projetos caros, com os chineses obtendo, por força da dívida, o controle sobre commodities e outros ativos estratégicos.
Aliás, vale destacar que o Brasil está nos planos dos chineses, em razão do fornecimento de soja, entre outros produtos e commodities.
Embora as circunstâncias da Nova Rota da Seda possam evoluir, já se pode vislumbrar algumas tendências para o futuro próximo.
Neste texto, vimos o que foi e o que é a Rota da Seda hoje.
Ela existe há milhares de anos, mas até hoje suscita debates, além de continuar exercendo influência sobre o comércio internacional.
Empresas que pretendam se destacar no cenário do comércio exterior precisam ficar atentas a esse movimento, que, como vimos, deve ganhar força daqui para frente.
Leia os artigos do blog da FIA e esteja sempre a par do que acontece de importante no Brasil e no mundo!
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rota_da_Seda
https://www.amazon.com/Silk-Road-New-History/dp/0190218428
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cmj544lg205o
https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-466/rota-da-seda/
https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/11116/4/bepi_31_nova_rota.pdf
https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/por-que-a-nova-rota-da-seda-o-projeto-do-seculo-da-china-esta-ameacada/
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