Quando o funcionário bate o cartão todos os dias, mas aparece na empresa totalmente ausente, desconectado do seu trabalho, o caso tem as características de presenteísmo.
O termo se refere ao comportamento de pessoas que, mesmo presentes fisicamente, têm seus pensamentos longe das tarefas do trabalho que precisa desenvolver.
Relativamente comum no meio corporativo, essa prática pode ser bastante prejudicial para todos os envolvidos, de gestores a colaboradores.
Para ampliar seu conhecimento e entendimento sobre o presenteísmo, construímos este artigo com informações importantes sobre o conceito.
Você vai descobrir, a partir de agora, como identificar e evitar este padrão de comportamento, além de saber mais sobre os seus impactos no dia a dia das empresas e das pessoas.
Veja os tópicos que preparamos para a sua leitura:
Se o tema interessa, acompanhe até o final.
O presenteísmo configura uma forma de ausência em que o trabalhador se apresenta a seu posto de trabalho, mas é incapaz de se dedicar completamente às suas tarefas.
Este tipo de comportamento tem relação com o estresse e condições de trabalho exaustivas, que fazem com que as pessoas se desconectem do ambiente externo para darem conta de sua jornada de trabalho.
O profissional que sofre com o presenteísmo vai ao trabalho todos os dias, mas já não consegue mais se vincular emocionalmente a seus afazeres.
De fato, o presenteísmo é um desvio do padrão de comportamento que se espera para o ambiente de trabalho.
A expectativa de toda empresa é que seu funcionário seja capaz de ter dedicação total ao trabalho, o que vale para o horário estipulado no contrato.
E o funcionário, por sua vez estressado e desanimado, acaba incapaz de desempenhar suas funções de maneira satisfatória.
Toda essa dinâmica acaba por gerar conflitos para o colaborador com a empresa e em seu relacionamento interpessoal com os colegas de trabalho.
O conceito de presenteísmo ainda é recente e, por isso, os estudos sobre o tema são poucos e inconclusivos.
Ainda assim, sua definição como um comportamento é clara. E seus efeitos se mostram evidentes para todos que já transitaram pelo mercado de trabalho.
Quando falamos em presenteísmo, é importante dizer que ele não representa uma má índole ou caráter falho do funcionário que se recusa a trabalhar.
Na maioria das vezes, aparece como um sintoma em um colaborador que, por ser exposto a uma grande carga de estresse no trabalho, acaba se despersonalizando como meio de proteção.
Esse comportamento é muito associado à Síndrome de Burnout, a qual caracteriza um esgotamento crônico, emocional e físico, causado por condições de trabalho adversas.
Nesse sentido, o presenteísmo não é uma doença em si, mas um comportamento de quem já está doente há muito tempo.
Em artigo publicado em 2002, o professor Graham Lowe fala sobre o entendimento do presenteísmo como as situações em que o profissional vai trabalhar doente ou extremamente cansado.
Ele também descreve ocasiões em que o colaborador faz hora extra como uma manifestação de compromisso, porque não se sente seguro na empresa e precisa de provar seu valor.
A prática do presenteísmo vem acompanhada de consequências que afetam tanto o funcionário quanto a empresa.
Para o trabalhador, a prática vem acompanhada muitas vezes de sintomas físicos e emocionais de cansaço e exaustão
É o que apontam uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) com 1.000 trabalhadores, com idades de 25 a 60 anos.
Dos entrevistados, 89% relataram que o comportamento presenteísta acompanha dores de cabeça e dores musculares constantes, com as quais vinham convivendo diariamente.
Ainda, 86% dos trabalhadores relataram ter problemas com ansiedade e 81% se disseram angustiados com frequência.
Também segundo a ISMA-BR, cerca de 23% da população adulta é presenteísta. E esse percentual chega a 35% quando falamos do setor industrial.
Diante desses números, você pode estar se perguntando: afinal, se as pessoas estão tão descontentes com seu trabalho, por que não pedem demissão?
Curiosamente, o motivo de sua permanência é o mesmo que motiva sua presença ausente: o estresse.
Muitas vezes, se mostram aterrorizadas com a possibilidade de perder o emprego, ao mesmo tempo em que ficam desanimadas com a perspectiva de permanecer ali por tempo indeterminado.
Não é fácil jogar tudo para o alto em busca de satisfação pessoal.
E isso fica ainda mais complicado em momentos de recessão e crise econômica.
Segundo a presidente da ISMA-BR, em entrevista à GaúchaZH, a pessoa presenteísta se vê sem saída e pode começar a abusar de álcool e de drogas prescritas para se anestesiar.
Para a empresa, os prejuízos de ter um trabalhador doente em sua equipe são grandes, já que existe uma perda em produtividade que é difícil até mesmo de mensurar.
Você já deve ter percebido que o presenteísmo têm muito a ver com a cultura organizacional da empresa – e isso nos dá pistas sobre o que pode estar errado.
Um dos primeiros sinais para identificar o presenteísmo no ambiente corporativo é a presença de erros básicos na produção do dia a dia.
Se o funcionário começa a errar tarefas simples e que ele sempre concluiu com maestria, isso pode apontar para um baixo engajamento com o trabalho.
Essa falta de engajamento, aliás, pode ser percebida também em mudanças nas relações interpessoais, nas conversas com colegas e em reuniões de trabalho.
Se um colaborador extrovertido passa a se calar com maior frequência, não dando opiniões e aceitando tudo com indiferença, isso deve ser um sinal vermelho para o gestor.
Uma queda brusca na produtividade, reduzindo a quantidade de trabalho entregue diariamente, também pode ser um indicativo de que aquela pessoa passa os dias “diluindo” o trabalho para que precise fazer o menor esforço possível durante sua a jornada.
As questões de produtividade, porém, podem estar também mascaradas por um aumento quantitativo, mas que não se traduz em qualidade.
Se a equipe passa a entregar uma quantidade muito maior de trabalho, mas, para tanto, acaba por sacrificar o padrão de qualidade estabelecido pela organização, também se acende o alerta.
Isso pode significar que o time está trabalhando sem prestar atenção no que é feito, operando no que costumamos chamar de “piloto automático”.
O primeiro passo para prevenir a prática do presenteísmo dentre os colaboradores de uma empresa é abrir um canal de comunicação direito e honesto entre a gestão, ou setor de recursos humanos, com os demais trabalhadores da empresa.
Uma pesquisa de opinião, por exemplo, pode ajudar a entender como os funcionários estão pensando e o que acham do ambiente organizacional e dos benefícios oferecidos.
Vale promover encontros regulares dentro do trabalho, oportunidades que sejam dedicadas a falar sobre os métodos de trabalhar – e não do trabalho em si.
O mais importante aqui é garantir ou resgatar a motivação da equipe e espantar o desânimo que vem junto da rotina vista como massacrante pelo presenteísta.
A formulação de um plano de carreira pode ser um grande trunfo neste sentido, já que muitos se sentem desmotivados por não terem uma definição clara sobre seus cargos e objetivos.
É necessário determinar com o máximo de exatidão as funções de cada um.
Isso permite a todos saberem o que é esperado deles e quais posições podem almejar, encontrando, assim, uma motivação para se dedicarem ao trabalho.
Falando em organização, outro ponto importante para evitar o presenteísmo é manter o organograma estruturado, com o trabalho bem distribuído, de modo que ninguém acabe sobrecarregado pelo acúmulo de tarefas.
Outra boa prática compreende estabelecer metas claras, em um espaço de fácil acesso e que deixe claro quais são as compensações e consequências de uma produção acima ou abaixo do esperado.
Já no que compete ao departamento de recursos humanos, uma ação valiosa é pensar sobre a qualidade de vida que a empresa está proporcionando para aquele colaborador.
Não se pode ter uma visão limitada de que, pela separação entre pessoal e profissional, a empresa só seja responsável pelo funcionário da porta para dentro.
Essa mentalidade não ajuda em nada e sequer faz sentido, já que o colaborador que vai chegar para trabalhar todas as manhãs é o mesmo que sai exausto todo fim de tarde – e esse cansaço não desaparece.
Neste sentido, é importante investir em capacitações e treinamentos que possam tornar o trabalho mais fácil, assim como eventos de descompressão capazes de tirar a carga de estresse do dia a dia.
Por fim, vale mostrar para a equipe os esforços que estão sendo feitos para garantir um clima saudável e agradável no ambiente de trabalho.
Uma boa ferramenta para isso é o marketing interno (ou endomarketing), com ações de comunicação interna para alavancar a moral.
Essas iniciativas podem vir em forma de murais divertidos, convênios para desconto em serviços de lazer, espaços de descanso na empresa e atividades para integrar todos os setores da organização.
O presenteísmo gera impactos não somente na qualidade de vida do funcionário, como já destacado.
Ele também atrapalha o bom funcionamento da empresa.
O primeiro ponto que pode aparecer quando são muitos os colaboradores desengajados é uma queda nos índices de lucratividade.
O funcionário que é acometido pelo presenteísmo acaba entregando um trabalho insuficiente ou incompleto, o que pode acarretar em refações, recall de produtos e até mesmo perda de clientes que antes se mostravam fiéis.
Segundo levantamento da ISMA-BR, o presenteísmo causa perdas de até US$ 42 bilhões – e isso apenas para as empresas brasileiras.
Além do prejuízo direto causado pela queda em produtividade, as organizações sofrem também com investimentos mal distribuídos, já que os gastos em folha de pagamento não são refletidos em ganhos de produtividade.
Esse resultado acaba fazendo o gestor questionar todas as suas escolhas de contratação, já que fica com a impressão geral de que está sendo trapaceado pelo seu time.
Como consequência, é claro, a ideia de um clima organizacional saudável fica prejudicada.
Outro impacto do presenteísmo em empresas é uma alta rotatividade da equipe, com demissões constantes fazendo com que o time esteja deficitário, de uma forma ou de outro.
Isso porque, em última instância, o funcionário que já não vê mais razão em continuar na empresa acaba se desligando e buscando uma oportunidade que se encaixe melhor a suas necessidades.
Todas essas situações desagradáveis geram ainda um desgaste físico e emocional em todo o time, mesmo naqueles que não estavam afetados pelo presenteísmo originalmente.
Isso acontece porque, quando um colaborador não consegue cumprir com suas obrigações, ele sobrecarrega a todos os outros.
Além de gerar um desequilíbrio na carga de trabalho, que por si só já é um fator de estresse, esse movimento acaba dando origem a atritos entre as pessoas.
Enquanto os funcionários acabam ressentindo uns aos outros, justamente pelas funções que precisam se acumuladas, a relação com a empresa também fica estremecida.
Ao terem que cumprir tarefas além daquelas para as quais foram contratados, os profissionais vão, inevitavelmente, se sentir explorados.
E começa aí um novo descontentamento, como uma bola de neve.
É importante dizer que nem todo tipo de presenteísmo se inicia pelos mesmos motivos ou se manifesta da mesma forma.
Um dos mais perversos tipos, aquele motivado por doença, geralmente vem acompanhado de um medo enorme do trabalhador em perder aquele emprego, seja pelo prejuízo social ou econômico que isso acarretaria.
Essas pessoas acabam se abstraindo do ambiente de trabalho e desempenhando as suas atividades de maneira insatisfatória porque sofrem com alguma doença ou condição física.
Na maioria das vezes, esse trabalhador reconhece que sua produtividade não é ideal, mas também tem receio de procurar cuidados médicos, porque acredita que isso seria um sinal de fraqueza.
Ou, ainda, simplesmente, tem medo de se ausentar para o tratamento, pois acredita que, se fizer isso, corre risco de ser substituído na empresa.
Não raramente, a doença da qual sofre o empregado vem justamente de um clima organizacional ruim, com sobrecargas de trabalho, intrigas e outros fatores já relatados.
Este tipo de situação de estresse elevado e contínuo pode acabar acarretando em uma patologia, a chamada Síndrome de Burnout.
Exausto pelas condições do ambiente de trabalho, ele está agora também doente, e tem uma nova barreira que o impede de se doar a suas funções.
Existem ainda casos em que fatores psicossociais fora da empresa levam ao presenteísmo.
Problemas com família, amigos, na vida amorosa ou financeira podem interferir na produtividade do trabalhador, ainda que de maneira pontual.
A forma como o colaborador vai expressar seu presenteísmo pode variar, mas não tem necessariamente relação direta com sua motivação.
Existem aqueles que vão passar a não entregar todas as tarefas para as quais foi solicitado dentro do prazo, o que vai acarretar em cada vez mais trabalho acumulado.
Alguns vão ainda demonstrar estarem trabalhando mais, com horas extras que não se traduzem em um aumento efetivo de produtividade.
A pressa para ir embora é mais uma característica comum aos presenteístas, que passam o dia trabalhando no piloto automático e não veem a hora de chegar em casa.
Em pesquisas sobre o presenteísmo, é provável que você chegue a outro termo relacionado ao ambiente corporativo e aos colaboradores: o absenteísmo.
Esse termo engloba todas as situações em que o funcionário falta ao trabalho de forma não justificada, exceto em casos de gravidez e férias agendadas.
Os absenteístas são pessoas que, por estarem doentes, desmotivadas, estressadas ou com algum atrito no trabalho, acabam se ausentando de sua função.
São casos que tendem a ser menos problemáticos para empresas, porque elas têm a oportunidade de colocar outra pessoa no posto do trabalhador faltante, seja um substituto provisório ou definitivo.
Já no presenteísmo, o comparecimento do funcionário não dá à empresa a oportunidade de buscar uma solução fácil, já que sua presença física é indicativo de que ele vai produzir – e esse nem sempre é o caso.
No cotidiano, o funcionário que sofre com presenteísmo nunca conseguirá ter dedicação total a suas tarefas, o que acarreta em erros cada vez mais frequentes por falta de atenção.
Além de não conseguir realizar suas atividades com louvor, esse trabalhador não consegue contribuir para o crescimento da empresa, pensando em soluções criativas e inovadoras para questões de produtividade.
Sua atuação estará resumida a um trabalho mecânico, sem envolvimento algum e faltando qualquer senso crítico que seja capaz de ajudar na evolução dos produtos e serviços que estão sendo criados ali.
O presenteísmo é um grande mal dos ambientes de trabalho no mundo contemporâneo.
Silencioso, mas muito nocivo, ele afeta a saúde dos empregados e a produtividade das empresas, gerando um prejuízo anual de vários bilhões só no Brasil.
Ainda que seja difícil de detectar, existem indícios que nos apontam para o fato de que a equipe talvez esteja desmotivada, produzindo aquém de sua capacidade.
É preciso estar atento aos sinais e manter-se vigilante para que no fim do dia a empresa continue prosperando e o time permaneça satisfeito.
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