Fruto de medidas protecionistas, uma guerra comercial provoca impactos negativos na economia de diversas nações.
Dependendo dos países envolvidos, esse conflito leva ao comprometimento do Produto Interno Bruto (PIB) global, afetando a população mundial.
Essa é uma das consequências da disputa entre Estados Unidos e China, que se ganhou força com a eleição do presidente norte-americano Donald Trump, em 2016.
Mas há quem enxergue oportunidades nesse cenário, em especial para países que apresentem opções de exportação às duas potências – como o Brasil.
Neste artigo, vamos traçar um panorama sobre o conflito atual e outros, apontando vantagens, desvantagens e as últimas notícias a respeito.
Se desejar, navegue pelos seguintes tópicos:
Acompanhe até o final para saber tudo sobre o tema!
Em termos gerais, guerra comercial é uma disputa econômica entre dois ou mais países, caracterizada pela imposição de taxas ou cotas comerciais e alfandegárias.
Nesse tipo de disputa, uma ou mais nações têm como objetivo obter vantagens econômicas e/ou prejudicar as demais.
De acordo com a análise de economistas, é preciso cautela ao classificar alguns episódios como guerra comercial.
Isso porque, em um mundo globalizado e caracterizado pelo comércio multilateral (internacionalizado), é comum que os Estados “troquem farpas” às vezes, aumentando tarifas para os produtos de nações concorrentes.
Porém, quando há batalhas sucessivas e deterioração nas relações comerciais, é provável que haja, de fato, um conflito maior.
É o caso da disputa atual entre as duas maiores economias mundiais: Estados Unidos e China.
Parceiras na importação e exportação, ambas iniciaram disputas tarifárias em 2018 que, no início, não sinalizavam um grande conflito.
Porém, após mais de um ano de provocações e medidas protecionistas, ficou claro que se tratava de uma guerra comercial, com potencial para impactar uma série de nações que nem mesmo participaram da disputa.
Vamos explicar melhor esses efeitos nos próximos tópicos.
“Sabemos pela história que ninguém ganha em uma guerra comercial. Os aumentos de tarifas dos principais países representam uma reversão de esforços desde o final da Segunda Guerra Mundial para eliminar as barreiras comerciais e facilitar o comércio global”.
O comentário acima, retirado de artigo do secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Mukhisa Kituyi expressa a preocupação diante das guerras comerciais.
Se, no passado, os conflitos favoreciam a conquista de novos territórios e dominação entre os povos, atualmente, eles ameaçam a ordem estabelecida pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Como relata o texto de Kituyi, o valor médio das tarifas comerciais no mundo foi reduzido em 85% desde 1947, ano em que foi assinado o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (em inglês, GATT).
O documento oficializou um esforço internacional pela cooperação multilateral que, combinada aos progressos na tecnologia, elevou a participação do comércio no PIB mundial de 24% para quase 60%.
Na prática, os países passaram a trabalhar em conjunto, reduzindo medidas protecionistas e abrindo seus mercados para uma colaboração em nível mundial.
Essa decisão gerou desenvolvimento econômico generalizado, aumentando empregos e a renda média de famílias em nações ricas, pobres e em desenvolvimento, além de oferecer suporte para diminuir a pobreza de 1 bilhão de pessoas nos últimos 20 anos.
Claro que os avanços no comércio também colaboraram para fatores negativos, como a destruição de recursos naturais, concentração econômica e até a formação de monopólios em alguns mercados.
No entanto, afastar e reforçar a rivalidade entre países e regiões – através de conflitos como as guerras comerciais – não ajuda a combater esses problemas.
Veja, abaixo, outros impactos negativos para a população mundial quando a disputa econômica se torna uma guerra.
Cada guerra comercial tem suas particularidades, mas há efeitos nocivos comuns devido a esses conflitos.
O primeiro, claro, atinge a população dos países diretamente envolvidos nas batalhas.
Produtores agrícolas, pecuaristas, industriais e comerciantes podem ter dificuldades para exportar os itens produzidos, principalmente se a nação rival importar, tradicionalmente, grande parte deles.
Desse modo, diferentes setores produtivos perdem em lucratividade, fazendo com que as empresas precisem enxugar custos.
Elas, então, reduzem a produção, o consumo e acabam despedindo funcionários para compensar o prejuízo, afetando o setor de serviços.
Outro impacto vem da diminuição da oferta de produtos, já que os países deixam de comprar de seu rival.
A tendência é que a demanda por esses itens aumente e a oferta seja reduzida, provocando alta nos preços e redução do poder aquisitivo da população em geral.
Caso esse quadro dure por um período longo, pode provocar crises econômicas nas nações em guerra, que deixam de comprar de outros países, prejudicando quem não participa da guerra comercial.
A escassez e encarecimento de produtos levam a um contexto de instabilidade econômica, animosidade e isolamento entre as nações, o que pode dar origem a novos conflitos.
Nas palavras de Mukhisa Kituyi:
“O dano causado por uma guerra comercial completa seria sentido bem além do comércio internacional. O clima comercial atual reflete uma tendência global preocupante em direção ao unilateralismo nacionalista. A maneira mais fácil de vencer uma guerra comercial é evitá-la completamente”.
As vantagens de uma guerra comercial costumam valer para nações que mantenham uma relação próxima e forneçam alternativas aos produtos do país rival.
No começo da disputa entre China e Estados Unidos (em 2018), por exemplo, as exportações do Brasil para a China cresceram 35% quando comparadas a 2017.
Diante da alta de preços dos itens norte-americanos, os chineses compraram mais produtos agrícolas e manufaturados de origem brasileira.
Como resultado, produtores de soja venderam US$ 7 bilhões mais para Pequim em 2018, enquanto produtores de algodão comercializaram mais US$ 358 milhões.
Exportadores de carne bovina registraram aumento de US$ 557 milhões, e os de carne suína, US$ 202 milhões.
Bens manufaturados, a exemplo de máquinas e autopeças, foram mais comprados pelos Estados Unidos, levando a um incremento de US$ 1,2 bilhão em 2018.
Tomando como referência as consequências de guerras comerciais anteriores, vale citar os seguintes aspectos:
Mencionamos, antes, que a principal guerra comercial da atualidade ocorre entre Estados Unidos e China.
As disputas começaram com uma mudança na postura dos EUA, que intensificaram a adoção de medidas protecionistas desde 2018 – ano em que Donald Trump foi eleito presidente.
Isso porque Trump sempre criticou a balança comercial do país durante os governos anteriores, que permaneceu desfavorável para os norte-americanos em relação a outras nações.
Resumidamente, uma balança comercial desfavorável significa que um país importa mais produtos do que exporta, e era isso o que acontecia nas transações com a China.
Com o objetivo de virar esse jogo, o presidente americano iniciou uma série de batalhas comerciais contra nações com quem mantêm relações comerciais.
Além dos chineses, México, União Europeia e Canadá sofreram com a imposição de tarifas pelos EUA, que visam privilegiar o mercado nacional.
Em março de 2018, Trump deu início ao conflito com a China, estabelecendo tarifas de importação para dois dos principais itens comprados de Pequim: 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio.
Como retaliação, os chineses anunciaram maiores tarifas para a importação de 128 produtos norte-americanos, com destaque para a soja.
Desde então, houve uma série de ameaças, taxações e retaliações, culminando em tarifas sobre US$ 250 bilhões em produtos chineses pelos Estados Unidos, em 2018, e US$ 110 bilhões em mercadorias americanas, taxadas pela China.
Apesar do cunho econômico desse conflito, especialistas acreditam que existem razões geopolíticas por trás das batalhas.
Afinal, embora os EUA ainda mantenham o posto de maior potência econômica mundial, faz alguns anos que a China representa uma ameaça ao seu poderio, registrando altas taxas de crescimento e conquistando o protagonismo em diversos mercados.
Essa concorrência acirrada provoca reações em uma parcela considerável da população norte-americana: os 40% que apoiam a política internacional de Donald Trump.
Eles concordam com um endurecimento nas relações com a China, tendo como meta o enfraquecimento do mercado daquele país.
Segundo esta análise publicada pela BBC, cabe citar seis mudanças principais, provenientes de dois anos em que os países permaneceram em conflito econômico.
Comentamos cada uma delas a seguir.
Você se lembra da crise econômica mundial de 2008?
A venda de títulos, incluindo dívidas de alto risco, a investidores de todo o planeta e o estouro da bolha imobiliária nos EUA levaram à quebra de bancos, como o Lehman Brothers, além de perdas bilionárias de outras instituições financeiras.
O resultado foi uma profunda recessão, com perda de lucros e altas taxas de desemprego em vários países, inclusive no Brasil.
O PIB mundial atingiu 1,8% naquele ano, registrando resultado negativo (-1,7%) em 2009, mas vem se recuperando, tendo alcançado 3,9% em 2018.
Mas esse cenário está prestes a mudar.
As consequências econômicas da guerra comercial entre EUA e China fizeram com que Fundo Monetário Internacional (FMI) rebaixasse as expectativas de crescimento global referentes a 2019 para apenas 3%.
Este é o PIB mais baixo, desde a recessão de 2008.
Os atores principais da guerra comercial também estão crescendo em ritmo mais lento.
A meta dos EUA para 2020 ficou em 3%, mas provavelmente não será atingida.
E a China deverá crescer menos de 6%, menor índice dos últimos 30 anos, de acordo com o Banco Mundial.
Explicamos, mais acima, que o principal argumento de Donald Trump para começar a guerra comercial foi diminuir a diferença entre importações e exportações com a China.
De certa forma, a estratégia teve sucesso.
Entre novembro de 2018 e novembro de 2019, o déficit na balança comercial caiu US$ 60 bilhões.
No entanto, a importação de bens pelos norte-americanos ainda é US$ 360 bilhões maior que a exportação.
Se, por um lado, os EUA importaram menos itens chineses, de outro, a China impôs tarifas que reduziram a importação de produtos agrícolas norte-americanos.
Em valores, é possível ter uma ideia da queda, que foi bastante expressiva: de US$ 25 bilhões para menos de US$ 7 bilhões.
Como era de se esperar, as empresas chinesas diminuíram investimentos nos Estados Unidos.
Os valores baixaram de US$ 54 bilhões, em 2016, para US$ 9,7 bilhões em 2018, e US$ 2,5 bilhões no primeiro trimestre de 2019, segundo levantamento do Enterprise Institute, de Washington.
A guerra comercial não parece ter desestimulado as empresas norte-americanas com operações na China, mas teve efeitos adversos para os negócios.
Em 2019, 81% dessas companhias relataram serem prejudicadas devido ao conflito, conforme dados do Conselho Empresarial EUA-China.
Em 2017, esse índice era 36% menor – ou seja, somente 45% dos empresários afirmaram se preocupar com impactos negativos decorrentes de disputas entre os países.
Em um dos capítulos da guerra comercial, Trump inseriu companhias chinesas focadas em tecnologia, a exemplo da Huawei, em um tratado restritivo.
Na prática, empresas dos EUA não podem negociar com elas.
Em contrapartida, a China tomou uma atitude semelhante, elaborando uma lista de restrições para empresas norte-americanas.
Os últimos episódios da guerra comercial aliviaram as tensões e sinalizam um desfecho breve.
Em 15 de janeiro de 2020, Donald Trump e o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, firmaram um acordo que promete estabilizar suas relações comerciais.
Assinando o documento, Pequim se comprometeu a adquirir US$ 200 bilhões em produtos norte-americanos, diminuindo o déficit comercial dos EUA nos próximos dois anos.
Um mês antes, as nações haviam dado um passo inicial em favor de um consenso, cancelando a próxima rodada de sanções tarifárias.
Washington planejava taxar US$ 160 bilhões em itens chineses como roupas e videogames, o que levaria Pequim a retaliar, aplicando tarifas de 25% aos carros dos vindos dos EUA, e 5% às autopeças.
Apesar dos sinais de reconciliação, a segunda fase do acordo comercial foi afetada pela recente pandemia provocada pelo coronavírus.
O clima de rivalidade entre as duas superpotências foi evidenciado por trocas de acusações sobre as origens do vírus, que tem a cidade chinesa de Wuhan como epicentro.
Em meados de março, um membro do Ministério da Relações Exteriores chinês causou polêmica ao insinuar que combatentes do Exército americano levaram a Covid-19 (doença provocada pelo novo coronavírus) para a China.
Conforme registros do Ministério das Relações Exteriores, o Brasil esteve envolvido em uma série de conflitos nas últimas décadas, em especial como demandante.
Ou seja, o país contestou, junto à OMC, medidas protecionistas adotadas por nações como Estados Unidos, Canadá e integrantes da União Europeia.
Conheça algumas das batalhas.
Em 2011, a Organização Mundial do Comércio decidiu em favor do Brasil em um conflito envolvendo suco de laranja.
Desde 2007, os Estados Unidos pretendiam aumentar as taxas para o produto de origem brasileira, afirmando que era comercializado a valores mais baixos que o norte-americano.
A medida levou o Brasil a demandar uma intervenção da OMC, preservando as exportações de suco de laranja a preços razoáveis para os EUA.
Em 1996, a empresa canadense Bombardier contestou subsídios dados pelo Brasil à Embraer.
Em seguida, o país questionou subsídios dados à Bombardier pela província de Quebec.
Afetadas, ambas as nações negociaram um acordo, o que culminou na revisão das regras de crédito de exportação de aeronaves dentro da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O Brasil se posicionou junto à OMC contra subsídios concedidos ao açúcar dos países-membros da então Comunidade Europeia, precursora da União Europeia, em 2002.
Embora os custos de produção do item fossem de 4 a 6 vezes maiores na Europa que no Brasil, nações da CE recebiam grande auxílio financeiro e vendiam o açúcar a preços muito baixos.
Brasília saiu vitoriosa, o que se traduziu em um aumento das exportações do produto brasileiro nos anos seguintes.
Apesar de comuns, guerras comerciais prejudicam não apenas os países envolvidos, mas também aqueles com quem eles mantêm relações comerciais.
Em um contexto de globalização, as consequências acabam afetando nações de todo o planeta.
Por isso, é necessário reforçar os esforços pela cooperação entre todos, agregando benefícios em âmbito global.
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