A crise climática 2040 é a mais recente e alarmante previsão da ONU para o planeta, considerando os efeitos do aquecimento global.
Relatório recente publicado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alerta para os prováveis risco de uma crise climática sem precedentes.
De acordo com os cientistas, se as emissões de gases causadores do efeito estufa se mantiverem no nível atual, a atmosfera vai aquecer 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais até 2040.
As consequências podem ser devastadoras para a humanidade, incluindo aumento do nível do mar e inundações de áreas costeiras, intensificação de secas, perda de habitats naturais e de espécies.
Isso impactará na saúde, segurança alimentar e crescimento econômico.
O aumento sem precedentes na temperatura média do planeta demanda um gigantesco esforço conjunto para que seus impactos sejam superados por meio de ações de mitigação – redução de emissões de gases causadores do efeito estufa.
Relatório recente da Organização Meteorológica Mundial (OMM), braço da ONU para o clima, destaca que o período entre 2015 e 2019 corresponde aos cinco anos mais quentes da história.
Embora os recordes de temperatura, e as previsões alarmantes para o futuro, o assunto não é novo.
A semente da crise se relaciona com o processo de industrialização, o qual cientistas estipulam ter iniciado por volta de 1850, com o aumento das emissões antrópicas (causada pelo homem) de gases causadores do efeito estufa, especialmente o CO2.
Sendo assim, a situação hoje é das mais preocupantes.
Para se ter uma ideia melhor a respeito, ainda que os tratados ambientais começassem a ser cumpridos à risca, as consequências do aquecimento global ainda seriam sentidas por anos.
O IPCC estima que 30% do carbono emitido na atmosfera leva milhões de anos para dissipar na atmosfera, 40% centenas de anos, e 30% até 30 anos.
Ou seja, se a humanidade zerasse hoje as suas emissões, a temperatura média do planeta continuaria a subir.
Por isso, fica o convite para entender melhor o contexto por trás da crise climática.
Acompanhe até o final ou, se preferir, navegue pelos tópicos abaixo:
Boa leitura!
Convenciona-se chamar de crise climática os sinais da mudança do clima global devido ao acúmulo de CO2 e outros gases que levam ao efeito estufa na atmosfera.
Importante dizer que o efeito estufa é um fenômeno natural e necessário para manter a temperatura da terra em níveis habitáveis. O problema está na concentração de gases, emitidos por meio da intervenção humana, o que origina o que se convencionou chamar de aquecimento global.
Conforme o tempo passa, esse acúmulo tende a aumentar, formando um “cobertor” que eleva as temperaturas em escala global.
A partir disso, temos toda uma série de desdobramentos e efeitos dos mais catastróficos para a vida na Terra, como a aceleração do derretimento das calotas polares e o aumento do nível do mar.
Quanto à previsão do IPCC da anunciada crise climática antes de 2040, o aumento do nível do mar em diversas localidades vai provocar o desaparecimento de regiões costeiras, que serão inundadas irremediavelmente.
Certamente, há diversos problemas ambientais a serem tratados, como a gestão dos resíduos sólidos urbanos e a ausência de saneamento básico que leva à contaminação das águas dos mares, rios e lagoas.
No entanto, o aquecimento global é um tema prioritário que queremos tratar nesse artigo.
Não por acaso, o problema demandou da Organização das Nações Unidas (ONU) a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) em 1988.
Sim, você não leu errado. Foi em 1988, mesmo.
A função do IPCC não é realizar novas pesquisas, mas sintetizar os resultados dos estudos mais relevantes, avaliados por pares, já publicados em periódicos científicos internacionais.
Os cientistas do IPCC sintetizam as informações em relatórios voltados especialmente para os formuladores de políticas públicas dos 192 países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC na siga em inglês).
No IPCC há três grupos de atuação com foco diferente: clima, impactos das mudanças climáticas e possíveis soluções e dimensões econômica e social dos efeitos da mudança climática.
Há mais de 30 anos a questão do aquecimento é discutida por cientistas, governos e sociedades, sendo foco de estudos e pesquisas científicas.
Em outubro de 2018, o IPCC divulgou um relatório no qual 191 cientistas de 40 países se dedicaram a consolidar os resultados de mais de 6 mil artigos revisados por pares e publicados em revistas científicas internacionais sobre o tema aquecimento global.
A conclusão foi de que a crise climática chegará a um ponto em que a segurança alimentar e os incêndios florestais deverão se agravar já em 2040.
Além disso, deverá haver uma maciça mortandade de recifes de coral em todo o planeta.
Os corais são um ecossistema marinho com importância vital para o equilíbrio da vida, já que eles são uma espécie de “floresta tropical” dos oceanos, dando abrigo e alimento para muitos peixes, funcionando como um filtro de água, e protegendo as costas.
Riscos e consequências com aquecimento acima de 1,5 grau Celsius de acordo com o relatório do IPCC:
Segundo o físico Bill Hare, da Climate Analytics e autor de diversos estudos para o IPCC, o novo relatório é um grande choque.
De acordo com o cientista, ele traz dados desconhecidos pela comunidade científica há poucos anos.
Ou seja, é um estudo que pegou até mesmo os pesquisadores de surpresa.
A conclusão mais alarmante a que se chegou é que, no atual ritmo de emissão de carbono, a temperatura na Terra aumentará 1,5º até 2040.
A novidade é que, antes, acreditava-se que a catástrofe mundial só aconteceria se o aumento na temperatura alcançasse os 2 graus.
Contudo, ainda há tempo para evitar o pior.
Para os cientistas, é possível promover as modificações imprescindíveis para reverter a escalada do aquecimento, pelo menos na parte técnica e prática.
Ainda é possível minimizar a catástrofe climática, mas mudanças rápidas e sem precedentes são necessárias para limitar o aquecimento do planeta em 1,5 grau Celsius em relação ao período pré-industrial.
Para evitar esse cenário, as emissões humanas de dióxido de carbono terão que cair 45% até 2030, em relação aos níveis de 2010, e zerar até 2050.
41 bi de toneladas de CO2 são emitidas no mundo anualmente
O relatório do IPCC estima um custo dos danos prováveis de US$ 54 trilhões se a temperatura média global aumentar acima de 1,5 até 2050
O grande obstáculo, entretanto, está na política.
Como exemplo, vale lembrar que os Estados Unidos, o segundo maior emissor de gases causadores do efeito estufa, vem rejeitando vários pontos de acordo internacionais do clima, o que inclui a sua saída do Acordo de Paris.
Segundo o relatório do IPCC Special Report on Global Warming of 1.5 °C, é preciso implementar urgentemente no mundo:
Outro cientista que participou do relatório especial do IPCC, Jim Skea, diz que é possível, conforme as leis da física e da química, limitar o aquecimento a 1,5º até 2040.
Contudo, isso exigiria, segundo Skea, mudanças sem precedentes, ou seja, possíveis na teoria, mas dificílimas na prática.
Dentre essas medidas, as fontes renováveis, como a eólica, teriam que produzir, até 2035, 85% da energia elétrica consumida no planeta.
Tal medida geraria um custo de cerca de 2,4 trilhões de dólares.
Além da ONU, outros órgãos estão envolvidos no monitoramento e controle das mudanças climáticas, como a Agência Espacial Norte Americana, a NASA.
De acordo com ela, desde 1880, o nível do mar aumentou em 20 centímetros.
Também segundo a NASA, a acidez da água do mar subiu 30% desde a segunda metade do século XIX.
Isso significa que, se nada for feito, em 2.100, o nível do mar aumentará mais 10 centímetros.
O Relatório Especial sobre Mudanças Climáticas, Oceanos e Criosfera, divulgado em setembro de 2019, é mais alarmante.
Considerando que as emissões de carbono não irão diminuir e sim continuar aumentando, o nível pode subir mais de um metro.
Na 21ª Conferência das Partes (COP21) da UNFCCC, em Paris, realizada em 2015, foi adotado um acordo bastante significativo para tentar lidar com as consequências das mudanças climáticas.
O chamado Acordo de Paris foi aprovado pelos 195 países que fazem parte da UNFCCC para reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE) no contexto do desenvolvimento sustentável.
Nesse acordo cada país se comprometeu com metas voluntárias para reduzir as emissões de gases de efeito de estufa, entre outras medidas de adaptação e mitigação.
Em 2016, essas metas foram aprovadas pelos países signatários e tornaram-se compromissos oficiais, ratificando-se assim o Acordo de Paris.
O Brasil se comprometeu com as seguintes metas no Acordo de Paris:
A crise climática em curso, como vimos, apresenta um elevado potencial para impactar a humanidade tal como conhecemos em um prazo até curto.
O que está em jogo no nível extremo é a permanência da humanidade na Terra. O planeta vai se adaptar com qualquer crise.
Sendo assim, destacamos os que demandam mais urgência e atenção para serem minimizados.
O efeito colateral mais imediato de elevação nas temperaturas é o aumento do nível do mar.
Marés mais altas do que o normal representam uma séria ameaça à vida das pessoas que vivem em regiões litorâneas.
Sobre essa questão, os estudos apontam para uma elevação de quase um metro até 2100, caso as medidas para redução do efeito estufa não sejam efetivas o bastante.
Esse aumento, por sua vez, tem como causa o derretimento das calotas polares e também do gelo na Groenlândia.
Em 2018, uma foto publicada pelo pesquisador dinamarquês Steffen Olsen alarmou ainda mais a comunidade científica e as pessoas preocupadas com o aquecimento global.
Parece até um truque de ilusionismo, mas na verdade é mais uma prova de que o derretimento do gelo no ártico e na Groenlândia segue em ritmo acelerado.
Na imagem, o trenó puxado por cães “caminha” sobre o espelho d’água formado pela superfície de gelo em franco derretimento.
O processo de liquefação do gelo é monitorado pela NASA desde 1979, que vem registrando índices cada vez mais preocupantes nesse indicador.
Afinal, quanto mais gelo derrete, mais acelerada é a subida no nível do mar.
Embora o aumento de 1,5º represente uma ameaça, na atual conjuntura, já é um enorme desafio frear o aquecimento a essa temperatura até 2040.
O relatório especial do IPCC apresentou um sumário para formuladores de políticas públicas com medidas que poderiam ser adotadas desde já para conter a elevação nas temperaturas.
Veja na sequência algumas dessas medidas, conforme os impactos gerados por segmentos chave no contexto do aquecimento global.
O setor energético, com suas usinas movidas a carvão, é um grande emissor de gás carbônico.
Além das usinas, a queima de combustíveis fósseis obtidos a partir do refino do petróleo também é fonte de emissão .
Nesse sentido, a medida de contenção número um é abolir a queima do carvão. Nos últimos anos já foi observada uma grande queda nessa fonte de energia em diversos países.
Hoje, coalizões se formam como a Powering Past Coal Alliance, que reúne governos, empresas e organizações nacionais e subnacionais que trabalham para avançar na transição da geração de energia de carvão para a energia limpa.
A Alemanha, por exemplo, colocou como meta que até 2038 deixará de produzir energia a partir do carvão mineral.
Nesse segmento, o destaque negativo vai para a indústria siderúrgica, que, por sua vez, pode reduzir significativamente suas emissões de CO2 pela substituição de altos-fornos.
Assim, sairiam de cena os altos-fornos comuns para dar lugar a fornos de arco elétrico.
Nos Estados Unidos, por exemplo, entre 1991 e 2010, a utilização desse tipo de equipamento aumentou em 23 pontos percentuais.
Já em relação aos combustíveis, a indústria pode substituir o carvão por materiais cuja queima gere menos dióxido de carbono como a biomassa ou o hidrogênio.
Os veículos terrestres, marítimos e aéreos são responsáveis por 14% das emissões de gases de efeito estufa, segundo relatório apresentado na 24ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 24).
Dessa forma, as medidas de contenção nesse setor começam pela construção de veículos mais leves, feitos de materiais que reduzam a demanda energética.
Algumas dessas melhorias já estão inclusive em uso, como a injeção eletrônica de combustível e o uso de fibra de carbono na construção de carrocerias.
Contudo, nada seria mais efetivo do que mudar a fonte de combustível, passando dos fósseis para a eletricidade.
O relatório especial do IPCC trouxe vários números que ajudariam a atingir as metas desejadas e limitar o aumento da temperatura a 1,5 grau Celsius.
Por exemplo, se 70% dos veículos fossem movidos a eletricidade até 2050, 8% das emissões atuais seria eliminada.
O setor de construção civil e o próprio uso de prédios é um grande emissor de gás carbônico atualmente.
Nos edifícios, essas emissões são geradas em grande parte pelos seus sistemas de calefação e de refrigeração.
Para melhorar nesse quesito, os edifícios teriam que investir em processos de retrofit, que consiste, basicamente, em mudar seus sistemas que consomem energia.
Um exemplo disso são as casas e prédios que investem em iluminação em LED, aquecedores solares e tetos com isolamento térmico.
Uma vantagem desse modelo é que, além da redução nas emissões, eles propiciam contas de água e energia elétrica mais baratas.
Como vimos neste artigo sobre a crise climática 2040, o desafio que temos pela frente exige um enorme esforço conjunto.
O que não faltam são evidências de que, se nada for feito desde já, corremos sério risco de viver uma catástrofe em 20 anos.
A principal lição que fica desta leitura é que a mudança compete a todos.
Vale para o Brasil, para os outros países, para as empresas e para você.
Se deseja saber mais sobre como ajudar, leia nosso artigo sobre educação ambiental.
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