Ética profissional é muito mais do que uma postura no sentido filosófico/comportamental.
Cada vez mais, esse é um pré-requisito indispensável para que uma empresa possa atuar de forma competitiva, seja qual for o mercado.
Assim sugere um estudo (em inglês) da McKinsey, publicado no portal Bloomberg, segundo o qual a tríade Meio Ambiente, Social e Governança (ESG) deverá gerar US$ 140,5 trilhões até 2025.
Ou seja, ser ético deixou de ser uma questão apenas de honestidade ou de consciência, passando a ser um elemento central para o sucesso das empresas.
As implicações dessa maneira de conduzir os negócios, no entanto, ainda não são conhecidas a fundo, a julgar pela falta de políticas de compliance e de ESG.
Neste texto, vamos tentar aprofundar a perspectiva sobre o que significa ética profissional no trabalho e de que forma ela pode ajudar a alcançar melhores resultados.
Estes serão os tópicos abordados:
- O que é a ética profissional?
- Qual a importância da ética profissional?
- Como ser um profissional ético?
- O que é e para que serve o código de ética?
- Exemplo prático de código de ética
- Como as empresas devem contribuir com a ética profissional no trabalho?
- Qual a diferença de ética e moral?
- O que acontece quando há falta de ética profissional?
- E o que as empresas ganham ao promover a ética no trabalho?
Leia até o final e descubra mais sobre a importância da ética profissional no trabalho.
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O que é a ética profissional?
Ética profissional é a aplicação de valores humanos sobre o comportamento, resultando em uma postura transparente nas atividades produtivas.
É também o respeito às regras, convenções e limites, sejam eles impostos por leis ou sugeridos pelas convenções sociais no trabalho.
Uma pessoa que zela pela ética em todas as suas atividades tende a ser mais aceita pelos seus pares, superiores e por aqueles que estejam de alguma forma subordinados.
A ética deve estar presente em tudo que se faz, sendo particularmente cobrada em áreas como política, advocacia e medicina.
Uma empresa ou profissional que não observa a ética em suas ações está fadado ao ostracismo, a despeito das vantagens efêmeras que algumas distorções éticas possam gerar.
Qual a importância da ética profissional?
É interessante notar que a ética ganha força nos contextos de crise, e tende a se enfraquecer quando sobram recursos.
O estudo “Ethics at Work” do Institute of Business Ethics, traz revelações nesse sentido, apontando para o crescimento da importância da ética no trabalho durante e depois da pandemia.
Segundo o levantamento, para 86% das pessoas entrevistadas, a ética passou a ser praticada com mais frequência em suas empresas.
Para 37%, os padrões éticos melhoraram desde que o coronavírus forçou as empresas a se reinventarem.
Esses dados reforçam a importância da ética profissional em momentos de turbulência, mostrando que, quando as coisas vão mal, essa é a única saída possível.
Imagine então os excelentes resultados que são possíveis quando a ética passa a ser aplicada em todos os momentos?
Como ser um profissional ético?
O estudo “Ética e sustentabilidade nos negócios”, do banco Barclays, traz bons motivos para considerar ainda mais seriamente a aplicação da ética profissional no trabalho.
Segundo o levantamento, 63% dos clientes gostariam de ver mais ações que demonstram a ética na prática dentro das empresas.
Dessas pessoas, 50% disseram que querem ver o governo fazer mais por um ambiente de negócios mais ético.
Além disso, 52% dos consumidores disseram que a postura ética de um negócio é um fator essencial na hora de escolher de quem comprar.
Porém, essas medidas devem ser precedidas de uma mudança de comportamento e de atitudes no nível individual, além de serem fomentadas pelas empresas por meio da governança corporativa.
Nesse sentido, não há como ser um profissional ético de verdade se não desenvolvendo certas virtudes essenciais, como veremos a seguir.
Honestidade
Jorge Ben Jor cantava que “se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem”.
Essa frase sintetiza o sentido da ética a partir da honestidade, um atributo fundamental para a vida e para os negócios.
Ser honesto é praticamente sinônimo de ser ético e fica até difícil distinguir um do outro, considerando a ligação estreita destes dois conceitos.
Afinal, um pode ser considerado pressuposto do outro, ainda que, em certos casos, seja possível a manifestação de apenas um deles, desacompanhado.
Humildade
Outro valor que caminha ao lado da ética é a humildade.
Profissionais éticos evitam a todo custo atrair os holofotes para si, pois sabem que os bons resultados são sempre fruto do trabalho em equipe.
A exceção é quando as pessoas subordinadas acabam falhando, situação em que a liderança assume a responsabilidade pelos maus resultados, ainda que ela possa ser dividida internamente.
Ao tomar para si a responsabilidade, o líder ético colabora para manter elevado o espírito de equipe, evitando a desagregação do ambiente de trabalho.
Mantendo a equipe coesa, ele pode corrigir falhas, melhorar processos e cobrar quem for preciso de forma privada, sem causar constrangimento.
Sigilo
Uma das mais claras demonstrações de ética profissional é guardar sigilo sobre informações pessoais ou dados sensíveis.
As consequências para quem não observa a manutenção do sigilo podem ser desastrosas, como aconteceu no caso da ex-secretária Joya Williams, que trabalhou na Coca-Cola.
Ela foi condenada a 10 anos de detenção, em 2007, por ter se apropriado de informações sigilosas da empresa com o intuito de vendê-las à Pepsi por US$ 1,5 milhão.
O interessante nesse caso foi que a denúncia partiu da própria concorrente, que divulgou em carta aberta a tentativa de vender informações sigilosas por parte de pessoas da Coca-Cola.
Competência
Profissionais não se improvisam.
Para fazer jus a um posto de trabalho, é indispensável comprovar que tem as competências comportamentais exigidas para o seu pleno exercício.
Aliás, esse é um problema para os recrutadores, já que uma pesquisa publicada na revista Exame revela que 65% dos jovens já inseriram informações falsas no currículo.
Em casos assim, a falta de ética se mistura com a falta de humildade para aprender ou para reconhecer que não domina as competências necessárias para uma função.
Portanto, ser um profissional ético é jamais mentir sobre suas próprias habilidades, até porque o maior prejudicado nesse caso é quem falta com a verdade.
Confiabilidade
Da mesma forma que profissionais não se formam da noite para o dia, a confiança é um atributo que só se consolida com o tempo.
A ética profissional é a base para esta construção, já que se trata de uma maneira de as duas partes mostrarem uma à outra que merecem crédito.
As oportunidades para se mostrar confiável surgem o tempo todo.
Respeitar horários e prazos, por exemplo, é uma das maneiras mais simples para isso.
Outra forma de se mostrar digno de confiança é jamais ceder à tentação da fofoca.
Depreciar um colega de trabalho a fim de parecer melhor é, além de um atestado de incompetência, um meio desleal de competição, sempre mal visto dentro das empresas.
Trabalho em equipe
Também entre as características de um profissional ético, está saber trabalhar em equipe.
Os que estão à frente devem estar prontos para assumir as responsabilidades pelos erros cometidos pelos seus subordinados, assim como dividir os bônus pelos bons resultados.
Líderes comprometidos com suas equipes também estão permanentemente engajados em transmitir o que sabem sem reservas.
Eles não temem ser superados porque sabem que as equipes bem preparadas são fundamentais para o seu próprio sucesso.
Além disso, como estão em constante aperfeiçoamento, eles não se importam de revelar o que sabem.
Na gestão de pessoas, essa é uma abordagem ética e humana, além de preocupada com os resultados coletivos.
Respeito
Ser ético no trabalho é respeitar os limites em todos os sentidos.
Aliás, o respeito se aplica não só em relação às regras, mas principalmente nos relacionamentos.
Profissionais éticos jamais se valem de uma posição hierarquicamente superior para ter vantagens indevidas, tampouco para humilhar.
Essa mesma postura se observa em relação aos direitos das minorias e a todas as questões envolvendo etnia, orientação sexual e crença religiosa das pessoas.
Quem opta pela ética trata a todos sem discriminação, até porque caráter não se define pela cor, sexualidade ou quaisquer outras condições impostas social ou biologicamente.
Disciplina
Uma postura comumente observada em pessoas éticas é a disciplina.
Se ser um profissional ético é respeitar as regras, então nada mais adequado que uma atitude disciplinada.
Novamente, a letra de uma canção pode nos inspirar nesse quesito, ao lembrar os versos de Renato Russo em “Há Tempos”, quando ele diz que “disciplina é liberdade”.
Ao sermos disciplinados, conseguimos ter tempo para realizar todas as tarefas, por exemplo, já que o comportamento é pautado pelo respeito aos horários.
Assim, trabalhamos quando temos que trabalhar, descansamos quando é hora de descanso e por aí vai.
Em questões profissionais, uma atitude disciplinada ajuda a aplicar o conhecimento adquirido, orientando a fazer aquilo que fomos preparados para fazer.
O que é e para que serve o código de ética?
Por tudo que vimos até aqui, fica claro que a ética profissional é um conjunto de normas não escritas, portanto, é um tipo de comportamento esperado.
Certas empresas levam o assunto muito a sério, como um mecanismo protetivo de seus interesses.
Por exemplo, o caso da funcionária da Coca-Cola que mencionamos serviu para evidenciar o código de ética da Pepsi, que não se aproveitou de um desvio de conduta para obter vantagens indevidas.
Essa é uma das funções do chamado Código de Conduta Ética Organizacional, documento que referencia a postura de uma empresa e seus colaboradores.
Ele padroniza os procedimentos operacionais, as relações, regras, valores e a conduta esperada em questões internas e externas para todos os membros de uma empresa.
Exemplo prático de código de ética
A ética profissional é um elemento fundamental, tanto que a maioria das profissões conta com um código de ética próprio.
O Código de Ética Profissional do Contador, por exemplo, diz o seguinte:
São deveres do contador:
(a) exercer a profissão com zelo, diligência, honestidade e capacidade técnica, observando as Normas Brasileiras de Contabilidade e a legislação vigente, resguardando o interesse público, os interesses de seus clientes ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissionais
(b) recusar sua indicação em trabalho quando reconheça não se achar capacitado para a especialização requerida
(c) guardar sigilo sobre o que souber em razão do exercício profissional, inclusive no âmbito do serviço público, ressalvados os casos previstos em lei ou quando solicitado por autoridades competentes, entre estas os Conselhos Federal e Regionais de Contabilidade
(d) informar a quem de direito, obrigatoriamente, fatos que conheça e que considere em condições de exercer efeito sobre o objeto do trabalho, respeitado o disposto na alínea c deste item.
Podemos ver claramente em um documento desses quantos comportamentos são esperados de um profissional daquele ramo.
Como as empresas devem contribuir com a ética profissional no trabalho?
Um bom ambiente organizacional começa quando as regras são claras e todos estão cientes dos seus direitos e deveres, a começar pela própria instituição.
Afinal, empresas são como organismos vivos e também devem ter suas respectivas condutas pautadas de alguma forma.
Zelar pela ética nas relações com os colaboradores é a melhor forma de dar o exemplo e, a partir disso, disseminar a ética profissional em todos os níveis de relacionamento.
Por isso, vale observar certos compromissos:
- Cumprir os direitos trabalhistas previstos para cada categoria profissional conforme a Constituição, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e os sindicatos
- Dar a todos, sem distinção, o mesmo tratamento cordial e respeitoso
- Estabelecer regras aplicáveis a todos, não importa a posição que ocupem na empresa
- Garantir os direitos dos trabalhadores com o mesmo empenho com que cobra o cumprimento de suas obrigações
- Comunicar as políticas internas de forma clara e transparente para os colaboradores
- Estar sempre em dia com os pagamentos devidos.
Qual a diferença de ética e moral?
Ainda que pareçam sinônimos, ética e moral são coisas distintas no contexto dos relacionamentos.
Em sentido amplo, moral é a soma de normas não codificadas de comportamentos que se esperam dentro de uma sociedade, sendo considerada como um tipo de princípio.
Por sua vez, a ética abrange um espectro mais amplo de valores, nos quais a moral está inserida.
O que acontece quando há falta de ética profissional?
Não é difícil imaginar as consequências da falta de ética.
Basta ler as notícias sobre política para ter uma dimensão disso.
Os políticos não são os únicos potenciais violadores da ética, porém.
Nas empresas, desvios de conduta, vazamentos de informações e sonegação de impostos são alguns dos comportamentos antiéticos com efeitos negativos para a imagem institucional.
No nível interno, a falta de ética pode destruir relacionamentos e minar o trabalho em equipe quando se manifesta na forma de assédio moral, sexual e abuso de poder.
E o que as empresas ganham ao promover a ética no trabalho?
A valorização da ética no ambiente de trabalho traz uma série de ganhos intangíveis que geram resultados práticos no curto, médio e longo prazo.
Os colaboradores saem ganhando, pois passam a trabalhar em um clima mais inclusivo e de respeito.
Já para a empresa, esses ganhos se refletem em uma atitude mais positiva por parte dos colaboradores.
Confira a seguir alguns efeitos esperados.
Melhora na produtividade
Como vimos, a ética profissional está intimamente ligada a um bom clima organizacional.
Quando o clima é favorável, prevalece o respeito e as pessoas sentem que o que fazem é valorizado.
Dessa forma, elas passam naturalmente a ser mais produtivas, sentindo-se estimuladas a dar o seu melhor, porque sabem o que esperar de seus líderes.
Melhora da reputação da empresa
Uma empresa ética em relação aos seus colaboradores é também ética com os seus clientes e stakeholders.
Ou seja, quando ela aplica a ética em tudo que faz, gera um efeito cascata que resulta não só em resultados melhores, como também na melhora da imagem institucional.
Imagine tudo que poderia ter acontecido com a Pepsi se ela tivesse entrado em um acordo escuso para ter acesso a informações sobre a concorrente?
Se esta situação um dia viesse à tona, a reputação da empresa com certeza jamais seria a mesma.
Mais clareza dos processos
A qualidade é um outro atributo fundamental para o sucesso e, para isso, é necessário investir em processos muito bem definidos.
Uma postura ética no trabalho é meio caminho andado para isso, pois serve como base para a redefinição de processos falhos e de correção de vícios.
A empresa consegue formar assim um ciclo virtuoso, no qual ela usa a ética como condição para a melhoria, levando assim ao aprimoramento da qualidade.
Equipe mais engajada
As pessoas só se mobilizam por aquilo em que realmente acreditam.
Aplicar a ética nas relações é uma solução infalível quando se faz necessário dar aquele “gás” em equipes com baixa motivação.
Líderes éticos inspiram pelo exemplo e, no final, o resultado não pode ser outro que não equipes mais motivadas e cheias de propósito no que fazem.
Conclusão
Por ser um valor intangível, a ética profissional pode se perder onde não é praticada constantemente.
Por essa razão, as empresas criam seus próprios códigos de ética, como uma forma de dizer aos seus colaboradores: “não se esqueçam do que realmente importa”.
A FIA está sempre ao seu lado para ajudar você a se tornar um profissional mais completo em todos os sentidos, a começar pela aplicação da ética.
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