A meritocracia é um tema que vem sendo bastante discutido nas esferas social, política e trabalhista.
Nas empresas, o poder do mérito também é alvo de intensos debates, que envolvem tanto a contratação de novos colaboradores quanto a promoção deles para cargos hierarquicamente superiores.
As razões para isso você conhecerá ao longo deste artigo, que vai observar a meritocracia desde sua origem até à aplicação nas organizações.
Siga a leitura para descobrir do que se trata a premiação via mérito, como ela funciona na sociedade brasileira e de que maneira a temática chegou às empresas.
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Se o assunto é do seu interesse, acompanhe até o final!
Meritocracia é uma palavra formada por “mereo” (ser digno, ser merecedor) e o sufixo grego “kratos” (poder, força). Ou seja, trata-se do alcance do poder através do merecimento.
Segundo essa linha de pensamento, os objetivos são atingidos por aqueles que se dedicam e se esforçam em medida suficiente. Portanto, devem ser premiados e bonificados de maneira proporcional.
No mesmo sentido, os indivíduos que não obtêm sucesso foram os que não se preparam ou aplicaram o bastante. A eles, cabe o resultado de fracasso pela “falta de empenho”.
Mas o que determinaria quem merece ou quem é ou não digno de alcançar o poder ou o objeto em questão? É especialmente essa pergunta que torna o tema tão polêmico.
Vamos fazer um exercício para melhor compreensão.
Pense na seguinte situação: duas pessoas saem de uma mesma linha de partida e correm em direção à chegada. Vence quem chega primeiro, certo? Nesse sentido, é mérito do vencedor a sua vitória. Ou, em outras palavras, ele venceu porque mereceu.
No entanto, os indivíduos que convivem nas escolas, universidades, empresas e demais locais nem sempre partem do mesmo ponto na sociedade. Afinal, a desigualdade social é traço característico da humanidade.
Especialmente no Brasil, que é o 7º país mais desigual do mundo, as diferenças sociais são significativas.
Assim, compreender o que é a meritocracia e se há espaço para ela nas empresas é importante para a evolução da sociedade brasileira.
Para falar da origem e história da meritocracia, vamos observar o que diz a especialista em Relações Internacionais e Mestre em História da América Latina e União Europeia, Juliana Bezerra.
Segundo a historiadora, o conceito começou a surgir após a Revolução Francesa:
“Com a ascensão de Napoleão Bonaparte, o novo dirigente da França decretou que a origem de nascimento não contaria mais para o ingresso nas carreiras públicas. A partir daquele momento, não seria feita distinção se a pessoa veio de uma família nobre ou burguesa. Todos deveriam ascender socialmente através do esforço próprio. Essa foi uma ideia que perpetuou no século XIX, especialmente nos países anglo-saxões e encontrou grande acolhida nos Estados Unidos.”
Em seguida, ainda de acordo com Juliana Bezerra, os norte-americanos foram aprofundando o conceito de self-made man: o homem que se faz a si mesmo, apenas com seu próprio empenho.
Mas, foi apenas em 1958 que o termo foi visto pela primeira vez.
O escritor, sociólogo e político Michael Young lançou o livro “The Rise of the Meritocracy”.
A ficção cria um cenário em que só existiriam os “bem-sucedidos” e os “fracassados”. O universo meritocrático da obra faz críticas ao método levado a extremos.
Nesse caso, de acordo com livro de Clémence Nicolaidis, ele pode produzir “situações insuportáveis para os ‘sem mérito’, que acabam abandonados a sua própria sorte”.
Portanto, o conceito de mérito como forma de eleger os vencedores é antigo.
O termo, em si, surgiu no fim dos anos 1950 e, desde então, vem sendo estudado e debatido por especialistas em diversos campos sociais.
Quando falamos em meritocracia, há dois pontos centrais: mérito e poder.
O raciocínio é que a vitória é fruto do merecimento.
Já o entendimento de que o poder deve ser entregue àqueles que “fazem por merecer” resulta no pensamento de justiça. Ou seja, a meritocracia seria um modelo justo por premiar quem mais merece.
Nesse sentido, instituições meritocráticas promovem pessoas em função dos seus méritos pessoais, como aptidão, trabalho, esforço, competição, inteligência e outras virtudes.
Da mesma forma, essas organizações que utilizam o modelo por mérito não levariam em consideração questões como origem social, riqueza e relações individuais.
O que o modelo meritocrático acaba ignorando ou relativizando a existência de desigualdades sociais.
Isto é, a meritocracia fecha os olhos às diferentes condições prévias dos indivíduos e conta apenas “a corrida após a largada”.
No entanto, “a desigualdade parece ser inerente a quase todas as estruturas sociais”, segundo o sociólogo Joel M. Charon.
Assim, os indivíduos que estão na “linha de partida” – uma prova de vestibular ou vaga de emprego, por exemplo – nem sempre estão em mesma posição.
Isso ocorre porque as estruturas sociais privilegiam alguns em detrimento de outros.
Nesse sentido, vale observar outra contribuição de Charon:
“É fundamental perceber que classe, sexo e raça são estruturas com posições e que essas posições também têm poder a elas vinculado. Em geral, os ricos têm mais poder na sociedade do que os pobres, os homens mais do que as mulheres, os brancos mais do que os não-brancos.”
Os fatos históricos mostram que, quanto menor o poder social, maior será o esforço necessário para alcançar a elite.
Sendo assim, as desigualdades sociais não permitem que todos os indivíduos possam partir do mesmo lugar.
A meritocracia, por sua vez, manterá os olhos naquele que primeiro atravessar a linha de chegada, independentemente do seu ponto de partida.
Com tudo o que vimos até aqui, entender a meritocracia no Brasil passa, essencialmente, por compreendê-la sob a ótica da desigualdade social.
Considerando os elementos de classe, sexo e raça levantados pelo sociólogo Joel Charon, temos, no Brasil, o seguinte cenário:
Segundo o relatório da Desigualdade Global, da Escola de Economia de Paris, o Brasil é hoje o país democrático que mais concentra renda no 1% do topo da pirâmide.
A brasileira estuda mais, trabalha mais e ganha menos do que o homem, de acordo com o IBGE.
Os brasileiros negros têm menor escolaridade, a maioria entre os extremamente pobres e são as maiores vítimas da violência, segundo dados levantados.
Diante de uma sociedade que não oferece condições iguais de oportunidade a seus cidadãos, os indivíduos chegam até às empresas com diferentes experiências de vida.
Desse modo, o tal ponto de partida é diferente para cada um deles. Equacionar a distância percorrida entre o início e o fim do trajeto pode trazer resultados importantes para a organização.
Um deles é a diversidade – que, inclusive, é um elemento importante para os negócios nos dias atuais.
Ao priorizar somente o resultado igual de diferentes colaboradores, perde-se em criatividade e mesmo no número de possibilidades.
Quando, no entanto, a empresa consegue trazer mais profissionais com diferentes experiências e os coloca para o trabalho em conjunto, em “pé de igualdade”, o resultado pode ser muito rico e proveitoso.
A meritocracia, assim, deveria existir nas empresas quando sua equipe tiver a possibilidade de competir “de igual para igual” em termos técnicos, profissionais e humanos.
Nesse momento, os esforços para atravessar a linha de chegada poderão ser, de fato, mensurados e comparados.
Só, então, o mérito do sucesso poderá ser avaliado e premiado.
Nos mesmos moldes da meritocracia aplicada às empresas, o método pode ser utilizado na educação.
O vestibular, por exemplo, utiliza o modelo meritocrático para “premiar” com a vaga no Ensino Superior aqueles candidatos que tiverem maior número de acertos na prova.
Políticas afirmativas – como bolsas, cotas e descontos – podem amenizar as desigualdades sociais dos candidatos.
Sobre este ponto, Sidney Chalhoub, professor da Unicamp e docente do Departamento de História da Universidade de Harvard (EUA), afirma que:
“Não é possível que todos os candidatos entrem em competição pelas vagas como se tivesse havido uma igualdade ideal de oportunidades entre eles.”
Grandes universidades do mundo, como Harvard, Yale e Columbia, já adotam a diversidade como critério para o ingresso de seus estudantes.
Ainda de acordo com Chalhoub:
“Quando há reserva de vagas para negros e pessoas de baixa renda, a competição se dá entre eles, entre iguais. Então, não há exclusão do mérito. É uma maneira de ter o mérito qualificado pelas condições sociais e econômicas dos candidatos, e não uma competição que exclui alguns segmentos da sociedade desde sempre.”
Segundo essa linha de pensamento, a meritocracia na educação também precisa ser encarada sob uma ótica de nivelar os diferentes e, assim, calcular os esforços.
O modelo meritocrático pode trazer aspectos positivos e negativos.
Vamos conferir quais são eles em duas listas:
Assim, apesar de questionável se, de fato, a meritocracia já foi puramente aplicada, fica claro que modelos meritocráticos podem apresentar pontos positivos também.
Para falar do impacto da meritocracia, vamos a um novo exercício.
Considere que uma equipe de vendas estabeleça premiação igual a todos os vendedores pelas receitas alcançadas no mês – independentemente do desempenho de cada um.
É certo que alguns profissionais vão se esforçar mais do que outros.
Em um dado momento, então, é provável que os vendedores mais dedicados diminuam a performance, já que os demais vão ser remunerados da mesma forma.
Nesse caso, implantar a meritocracia pode ter um impacto significativo sobre os resultados do negócio e sobre a produtividade dos colaboradores.
Aplicando uma bonificação proporcional ao desempenho individual de vendas, a equipe pode se motivar e trabalhar mais para elevar o faturamento – e os próprios ganhos, por consequência.
Ou seja, estamos falando de um impacto positivo.
Já em um cenário diferente, a gestão meritocrática pode ser prejudicial ao desempenho dos funcionários.
Caso a distribuição da carteira de clientes for desigual ou as condições de trabalho destoem, por exemplo, alguns vendedores podem ter chances maiores de alcançar melhores resultados do que outros.
E isso não é bom, como você deve imaginar.
O efeito da meritocracia, nessa situação, pode desestimular o progresso de uns em favorecimento de outros.
Se as rotas, a capacidade de negociação e outros fatores forem muito diferentes entre os profissionais, o tal “ponto de partida” não será o mesmo.
Nesse caso, primeiro a desigualdade entre os trabalhadores precisa ser equacionada com metas proporcionais.
Assim, a meritocracia poderá premiar, de forma mais justa, os vencedores dentre aqueles que tiveram condições semelhantes.
Se a meritocracia apresenta vantagens e pode gerar impactos positivos, não há porquê não considerá-la dentro das estratégias da empresa.
Mas como fazer isso de forma inovadora?
Será que a recompensa financeira é solução para gratificar os que entregam melhores resultados dentro de uma empresa?
Veja o que diz Carolina Cabral, consultora de recrutamento da Robert Half:
“A crença de que programas de reconhecimento por mérito necessariamente devem incluir pagamento de bônus é falsa. É possível motivar profissionais com treinamentos, maior flexibilidade no trabalho, dias de folga, um jantar ou uma viagem – todas essas são alternativas ao aumento de salário ou concessão de bônus.”
Então, uma maneira diferente de adotar a meritocracia é com ações que vão além de valores em dinheiro.
Seja de maneira mais clássica ou com experiências inovadoras, é necessário que as empresas possam definir objetivos e metas claros, além de ter dados e métodos de mensuração do alcance dos resultados.
Com isso, será possível avaliar os profissionais que, dentro destas circunstâncias, destacaram-se.
Agora, vamos relacionar maneiras clássicas e outras inovadoras para premiar o esforço da equipe de trabalho.
A responsabilidade e o status de um cargo mais elevado podem ser a recompensa perfeita para um profissional dedicado.
Assim, as promoções e mudanças de hierarquia dentro da empresa são uma maneira interessante de demonstrar apreço pela dedicação do colaborador.
Um plano de cargos e salários pode ser, assim, uma boa solução.
Quanto mais o indivíduo entrega resultado, maior a sua remuneração.
Esta é uma modalidade muito utilizada para premiar a equipe e se encaixa perfeitamente no método da meritocracia.
Uma das formas mais clássicas de gratificar os profissionais em função do seu esforço está em ter uma política de bônus, atrelada ao salário.
Assim, o trabalhador deve atingir metas específicas para receber a bonificação indicada.
Além das maneiras mais tradicionais, a oferta de experiências para os colaboradores é uma maneira interessante de recompensá-los pelos resultados.
Nesse caso, a premiação deve fazer sentido para o premiado e ter um significado especial.
Só assim a equipe trabalhará para alcançar a gratificação.
Agora que já vimos o histórico da meritocracia e como ela se desenrola em diferentes organizações, confira um passo a passo para implantar métodos meritocráticos nas empresas.
Somente com um resultado muito bem especificado é que será possível avaliar e bonificar os profissionais de destaque.
Portanto, a empresa precisa definir claramente o que deseja alcançar.
Além disso, metas e objetivos precisam ser verdadeiramente alcançáveis, a fim de que a equipe se motive e veja sentido em trabalhar para a sua realização.
Se o objetivo desejado é a melhoria no atendimento, por exemplo, quais as métricas que devem ser avaliadas?
Ou seja, responda como a empresa definirá que profissional de fato aperfeiçoou seu trabalho e merece o reconhecimento por isso.
Assim, a meritocracia exige que existam meios para acompanhar a evolução e, especialmente, os resultados alcançados.
Para que a justiça pregada pela meritocracia seja alcançada de fato, é importante que todos os competidores pelo prêmio sejam devidamente informados.
Em outras palavras, as cartas devem ser postas à mesa para que toda a equipe busque as maneiras de chegar ao resultado.
Além disso, os colaboradores precisam compreender as regras do jogo para que possam competir pela vitória.
Os modelos meritocráticos vêm sendo tema de discussão crescente nos meios acadêmico e corporativo e entre profissionais.
Como vimos neste artigo, considerando uma realidade de graves desigualdades sociais, como a do Brasil, a premiação pelo mérito pode agravar as diferenças entre classe, sexo e etnia.
No entanto, quando há equalização de oportunidades e/ou metas proporcionais, a meritocracia pode ser uma maneira justa de gratificar aqueles que se destacam.
Especialmente nas empresas, métodos para recompensar os profissionais que alcançam bons resultados tornam-se cada vez mais frequentes.
Além disso, fortalecem a competitividade interna e externa, estimulam o desempenho dos colaboradores e viabilizam promoções de cargos em função do merecimento.
Assim, mesmo diante de tantas controvérsias, a meritocracia pode ser muito bem utilizada em diferentes cenários e contextos.
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