Quem não sabe como funciona a pesquisa eleitoral pode torcer o nariz e desconfiar.
Você talvez nunca tenha sido consultado em uma, o que suscita dúvidas e descrenças.
A desconfiança é natural, mas saiba que existe ciência e método por trás das pesquisas, de modo que, mesmo consultando apenas um pequeno percentual da população brasileira, seus resultados sejam próximos da real intenção de voto do eleitorado.
Ainda não confia?
Então prepare-se porque, a seguir, vamos explicar como funcionam as pesquisas eleitorais.
Neste conteúdo, você vai ler:
Boa leitura!
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Pesquisa eleitoral é um trabalho em que uma instituição indaga aos eleitores, em um determinado momento, sobre qual seria sua opção de voto para determinados cargos públicos eletivos.
Não é o poder público que conduz as pesquisas eleitorais, e sim empresas especializadas (entenda adiante, no tópico “Quem faz as pesquisas eleitorais?”).
Mas existe um controle e regramento a ser seguido.
Por exemplo, até cinco dias antes da divulgação, essas empresas devem enviar à Justiça Eleitoral as seguintes informações:
Além disso, a Justiça Eleitoral não realiza qualquer controle prévio sobre o resultado das pesquisas e tampouco gerencia ou cuida de sua divulgação.
Para saber como funciona a pesquisa eleitoral, você deve entender quais são as suas etapas.
Uma pesquisa padrão segue as fases que explicamos a seguir.
As pesquisas eleitorais não são um serviço gratuito.
As empresas especializadas executam o trabalho a um preço, a partir de uma encomenda.
Isto é, há uma terceira parte, interessada nas informações da pesquisa, que demanda a execução do trabalho.
As pesquisas mais conhecidas, que você está acostumado a ver nos jornais e televisão, são encomendadas pelos próprios veículos de imprensa, como a TV Globo e o jornal O Estado de S.Paulo.
Outro veículo conhecido, a Folha de S.Paulo, encomenda as pesquisas eleitorais de uma empresa do mesmo grupo, o instituto de pesquisas Datafolha.
O que nem todo mundo sabe é que as pesquisas eleitorais também podem ser encomendadas pelos próprios partidos políticos e muito tempo antes das eleições.
Assim, os resultados podem gerar insights valiosos para o planejamento de suas estratégias eleitorais.
Esses são os cenários mais comuns, mas qualquer parte interessada (como instituições financeiras, think tanks, empresários e organizações não governamentais, por exemplo) pode encomendar uma pesquisa.
Como dito antes, as informações sobre a pesquisa devem ser enviadas à Justiça Eleitoral, inclusive quem a encomendou.
E isso pode ser consultado por qualquer um no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Essa é, talvez, a parte mais importante para assegurar a confiabilidade da pesquisa.
Tudo depende da utilização de uma boa amostragem (o grupo de pessoas que representará toda a população).
O que ocorre é que a amostragem deve ser fiel às características do grupo maior que ela está representando.
No caso das pesquisas eleitorais, esse grupo maior é a população brasileira apta a votar.
Se a amostragem deve ser uma reprodução em menor escala do universo a ser representado, isso quer dizer que o instituto de pesquisa precisa, antes de mais nada, considerar as estatísticas do IBGE sobre as características daquele grupo.
As variáveis básicas que costumam ser consideradas são:
Se X% dos eleitores é de determinada faixa etária, por exemplo, a amostragem deve reproduzir esse percentual, pois há diferenças relevantes nas intenções de voto de brasileiros de diferentes idades.
A localidade também influencia.
Pesquisas de abrangência nacional são mais confiáveis, especialmente as que distribuem as entrevistas entre eleitores de capital e interior, proporcionalmente ao universo dos eleitores.
Resumindo: quanto mais variáveis, melhor.
Isso não vai garantir um resultado 100% preciso (entenda adiante, no tópico “As pesquisas eleitorais têm margem de erro?”), mas é fundamental para que a pesquisa seja confiável.
Veja como exemplo o plano amostral da pesquisa divulgada em 7 de abril de 2022 pelo Datafolha — para o cargo de governador do Rio de Janeiro —, baseado em dados do IBGE:
Feito o plano amostral, é hora de entrevistar de fato os eleitores.
Nessa etapa, o método utilizado varia de acordo com o instituto de pesquisa.
A principal diferença é o lugar onde a entrevista é feita.
Algumas empresas (como o Ibope) fazem entrevistas domiciliares, de acordo com os setores censitários definidos pelo IBGE nos censos.
Outras (como o Datafolha) usam o método de pontos de fluxo, que mapeia alguns locais da cidade para os entrevistadores abordarem as pessoas aleatoriamente (sem deixar de respeitar os percentuais traçados no plano amostral).
Mais adiante, no tópico “Como as entrevistas são feitas?”, explicamos mais detalhes sobre a realização das entrevistas.
O sistema interno de controle, verificação, conferência e fiscalização da coleta de dados e do trabalho de campo também varia de acordo com a empresa que realiza a pesquisa.
Como destacamos antes, os dados sobre esse sistema estão entre as informações que o instituto de pesquisa deve enviar para a Justiça Eleitoral.
A título de exemplo, na pesquisa para o governo do Rio de Janeiro, que mencionamos anteriormente, o Datafolha informa que são checados pelo menos 30% dos questionários de cada entrevistador.
Essa checagem pode ser no próprio local, feita por supervisores de campo, ou mais tarde, por telefone — o entrevistado recebe uma ligação de um funcionário do instituto para conferir se suas respostas batem com o que o entrevistador registrou.
Havendo incongruência entre o que o entrevistador registrou e as informações obtidas na checagem, todas as entrevistas conduzidas por aquele funcionário são descartadas.
Depois de consultadas milhares de pessoas, você pode pensar que a consolidação desses números dá um trabalhão.
Na realidade, o passo seguinte é muito simples, pois as empresas que realizam as pesquisas têm sistemas informatizados que, uma vez concluídas as entrevistas, calculam os resultados rapidamente e de maneira automatizada.
No Datafolha, por exemplo, os entrevistadores utilizam tablets e registram as respostas em um questionário eletrônico, facilitando a etapa de consolidação dos dados.
Antes do sistema consolidar os dados e a pesquisa ser dada como encerrada, há uma última etapa com interferência humana: um estatístico responsável revisa os dados para se certificar de que estão de acordo com o plano amostral.
Depois disso, aí sim está tudo certo para o registro das informações na Justiça Eleitoral (informando os dados que mencionamos antes) e, no mínimo cinco dias depois, para a divulgação da pesquisa.
Depois de entender como funciona a pesquisa eleitoral, você pode estar se perguntando sobre o responsável pela sua realização.
Então, vamos esclarecer.
Quem realiza as pesquisas eleitorais no Brasil são empresas conhecidas como institutos de pesquisa, entre os quais os mais conhecidos são Ibope e Datafolha.
Profissionais autônomos também podem realizar pesquisas eleitorais, desde que tenham um registro de pessoa jurídica e apresentem um estatístico responsável.
Qualquer empresa ou pessoa precisa estar cadastrada no sistema de Registro de Pesquisas Eleitorais (PesqEle) para realizar seu trabalho legalmente.
Um levantamento do Projeto Comprova, divulgado em março de 2022 no site da CNN, identificou 1.550 registros de empresas ou pessoas aptas a realizar pesquisas eleitorais no Brasil.
As principais pesquisas eleitorais costumam incluir uma pergunta espontânea e outra estimulada.
O exemplo mais comum de pergunta espontânea (que deve ser questionada primeiro) é: “se as eleições fossem hoje, em quem você votaria para [cargo em disputa]?”.
Depois vem a estimulada: “se as eleições fossem hoje e os candidatos fossem esses, em quem você votaria?”.
Além dessas questões, é comum perguntar aos entrevistados sobre as opções que rejeitam: “em qual desses candidatos você não votaria de jeito nenhum?”.
Enquanto as candidaturas não são oficializadas no TSE, a escolha dos candidatos citados nas perguntas estimuladas fica a critério das empresas que executam a pesquisa.
Gostou de saber como são feitas as pesquisas eleitorais? Continue por aqui, ainda tem mais!
Esta é mais uma questão importante para entender como funciona a pesquisa eleitoral.
As pesquisas eleitorais mais divulgadas e conhecidas são quantitativas: todos os entrevistados respondem a questões objetivas, ficando fácil quantificar a preferência ou rejeição por cada candidato, além dos votos brancos e nulos.
Mas também podem ser feitas pesquisas qualitativas, geralmente encomendadas por políticos e partidos para gerar insights sobre temas de campanha, propostas, discurso e construção da imagem dos candidatos.
Além desse tipo de classificação, podemos distinguir as pesquisas pelos métodos de abordagem dos eleitores.
Como dito antes, os dois principais são:
Os principais institutos de pesquisa, que usam os métodos mais eficazes, só usam o telefone para checar as informações registradas pelo entrevistador.
Nunca para realizar a entrevista principal.
A explicação é que boa parte da população não possui telefone fixo, o que afetaria a aleatoriedade que as pesquisas devem buscar.
Pelo mesmo motivo, uma boa pesquisa não inclui entrevistas por meios virtuais, pois isso excluiria da amostragem pessoas sem conexão à internet ou sem a capacidade de usar as ferramentas online de comunicação (que é o caso de muitos idosos).
Mesmo assim, é fácil encontrar em sites e perfis de redes sociais enquetes perguntando a intenção de voto dos usuários.
Essas enquetes não devem ser consideradas pesquisas eleitorais, conforme explicaremos melhor no tópico a seguir.
A resposta curta e direta é: não. Enquete eleitoral e pesquisa eleitoral são coisas bem diferentes.
Você já entendeu como funciona a pesquisa eleitoral, mas não custa repetir.
Ela é planejada para replicar estatisticamente o perfil do grupo maior que representa.
E toda a metodologia das entrevistas é pensada para eliminar o máximo possível os vieses (erros sistemáticos).
Por exemplo, o entrevistador não deve ler os nomes dos candidatos, e sim mostrá-los em uma disposição circular, semelhante a uma pizza, em vez de uma ordem em formato de lista, que poderia indicar uma sequência.
Já as enquetes não são feitas com a preocupação estatística de selecionar uma amostragem fiel ao universo que irá representar e sem métodos pensados para eliminar os vieses.
Se uma página do Facebook fizer um levantamento do tipo, o resultado indicará apenas as intenções de voto daquele grupo específico que se prontificou, espontaneamente, a responder.
Sem contar que a realização de enquete de intenção de voto em época de campanha eleitoral é vedada pelo TSE.
O órgão define as enquetes da seguinte maneira, segundo a Resolução Nº 23.600:
“Entende-se por enquete ou sondagem o levantamento de opiniões sem plano amostral, que dependa da participação espontânea do interessado, e que não utilize método científico para sua realização, quando apresentados resultados que possibilitem ao eleitor inferir a ordem dos candidatos na disputa.”
Sim. A margem de erro é uma das informações que os institutos de pesquisa devem enviar ao TSE antes da divulgação da pesquisa.
Também chamada de intervalo de confiança, trata-se de uma previsão da diferença possível entre os resultados apresentados pela pesquisa e a realidade das intenções de votos do eleitorado.
Por exemplo, se a pesquisa apontou que a intenção de voto para tal candidato é de 22% e a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, isso quer dizer que o instituto de pesquisa considera natural que a intenção de voto do universo representado para aquele candidato esteja entre 18% e 24%.
As últimas pesquisas são divulgadas alguns dias antes do pleito.
Ou seja, ainda há um intervalo para que a intenção de votos dos eleitores se transforme, e isso não é considerado na margem de erro.
Na maioria dos anos eleitorais, porém, os últimos resultados costumam ser bastante aproximados em relação aos votos computados.
A margem de erro é calculada com o desvio padrão da população, tamanho da amostra e grau de confiança nos resultados.
A seguir, confira as respostas para algumas das perguntas mais frequentes sobre as pesquisas eleitorais.
Veículos de comunicação e partidos políticos contratam institutos de pesquisa, que entrevistam eleitores pessoalmente questionando sobre suas intenções de voto. O processo respeita uma metodologia estatística e envolve um plano amostral para reproduzir fielmente as características da população representada.
O valor varia bastante de acordo com o que cada instituto eleitoral cobra e com as dimensões da pesquisa. Exemplos: uma pesquisa de abrangência nacional da Datafolha, divulgada em 25 de outubro de 2018, custou R$ 384.608. No mesmo pleito, o Ibope declarou o valor de R$ 143.399,01 para uma pesquisa divulgada em 28 de outubro.
A amostragem seleciona os indivíduos entrevistados de maneira aleatória. No Brasil, o tipo mais usado é a amostragem aleatória estratificada, em que os entrevistados são classificados por renda, idade, escolaridade e gênero.
Esperamos que este conteúdo tenha ajudado você a entender como funciona a pesquisa eleitoral no Brasil.
Como estamos falando de um país grande e muito diverso, é importante que os institutos de pesquisa, empresas responsáveis por executar as pesquisas, sejam rigorosos no planejamento do trabalho.
Diferentemente de enquetes que você pode encontrar e votar em sites e redes sociais, as pesquisas eleitorais envolvem uma metodologia estatística para que seus resultados reflitam de forma fidedigna a intenção de voto da população brasileira.
Afinal, os resultados podem interferir no jogo político, graças a comportamentos como o voto útil — quando o eleitor deixa de votar no candidato de sua preferência porque considera que ele não tem chances de vencer ou chegar ao segundo turno.
Por essas e outras, os principais veículos de comunicação do país devem dar ênfase às pesquisas com maior amostragem e melhor plano amostral, que costumam ter resultados mais confiáveis.
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