Dentre os setores afetados pela crise global causada pelo coronavírus, o impacto na exportação faz com que essa seja uma das áreas que têm mais sofrido diretamente.
Não é de hoje que o comércio exterior se mostra vulnerável às oscilações do mercado internacional e a questões sócio-políticas que interferem no relacionamento das nações.
Muito além de economia, a importação e a exportação de bens de consumo dependem da existência de boas relações.
Também se favorecem de acordos entre os países no sentido de permitir o contato entre exportadores de um lado e importadores de outro.
Assim, o mercado global não gira apenas em torno de produtos e preços, mas das convenções estabelecidas entre os Estados aqui representados por seus governantes.
Quando existe uma relação amigável entre as nações, é aberta a porta para que indústrias e comércios possam vender seus produtos fora das fronteiras de seu país de origem.
O movimento de internacionalização expande significativamente o mercado consumidor para as empresas, que podem oferecer seus produtos também à população de outros lugares.
Ainda, fica possível escoar parte da produção excedente sempre que a oferta disponibilizada pela empresa for maior do que a demanda interna.
O problema é que essa é uma operação delicada por natureza, estando sujeita às oscilações do mercado, que são causadas pelos mais variados fatores.
E é sobre isso que vamos tratar neste artigo, mais precisamente sobre os efeitos da pandemia de coronavírus para o segmento exportador.
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Boa leitura!
Desde que começou, a recente pandemia global tem tido consequência nos mais diversos aspectos da nossa rotina.
O período exige paciência e disciplina de todos, para que cada um possa fazer a sua parte no combate à Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
Nesse sentido, medidas de restrição têm sido colocadas em prática no mundo todo para diminuir o fluxo de pessoas circulando nas ruas e evitar aglomerações desnecessárias.
Tudo isso também têm afetado diretamente os resultados da economia, atingindo tanto o mercadinho da esquina quanto as operações de comércio exterior.
Em muitos casos, o funcionamento das indústrias foi paralisado – ou, no mínimo, desacelerado – e isso fez com que a oferta de produtos para a exportação caísse consideravelmente.
Com as pausas e restrições à aglomeração, a produção industrial de muitas nações diminuiu drasticamente nos últimos meses.
Assim, o momento de pandemia trouxe consigo um período de recessão em escala global.
Projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam para uma retração de pelo menos 3% no Produto Interno Bruto (PIB) global.
E, como em toda crise econômica, a tendência é que haja uma diminuição também no consumo, mais um fator que traz para baixo os volumes de exportação.
Antes da pandemia, o Brasil ainda não havia se recuperado da crise econômica dos últimos anos, que alavancou os números do desemprego para patamares preocupantes.
Desencadeada por um período de instabilidade política, a recessão castigou trabalhadores e empresários brasileiros.
Foi assim chegamos a dezembro de 2019 também com a maior inflação já registrada na série histórica do IPCA – que começou em 2002.
Para barrar a desvalorização da moeda e incentivar o consumo, o Comitê de Políticas Monetárias (Copom) do Banco Central (BC) trabalhou para reajustar a taxa básica de juros e assim injetar mais capital na economia brasileira.
Então, em 2020, tivemos também a menor Taxa Selic de toda a história – neste momento, em 3% ao ano.
Depois de anos de crise, porém, o país parecia ensaiar a retomada do crescimento – em especial, no comércio exterior.
Em abril de 2019, um crescimento de 56,8% nas exportações de carne bovina era um indicativo de que o produto brasileiro voltava a inspirar confiança no setor.
Segundo informações do Ministério da Economia compiladas pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafigro), naquele mês, foram vendidas mais de 133 mil toneladas – um aumento considerável quando comparado ao volume de abril do ano anterior, cerca de 85 mil toneladas.
O tabaco também se destacou no mercado internacional, com as vendas aumentando em 30,4% até agosto de 2019.
Na produção cafeeira – área na qual o Brasil é campeão absoluto e responsável por mais de 40% do consumo mundial – um crescimento de 14,2% foi registrado, marcando um recorde para o período.
Fora da agropecuária, a exportação de minério de ferro também crescia em 2019, o que no fim do ano incentivou uma projeção da Vale para 355 milhões de toneladas produzidas em 2020.
Ou seja, em território brasileiro, havia certo otimismo. Isso até o avanço do novo coronavírus se tornar uma pandemia global.
Enquanto o Brasil dava os primeiros sinais de sua recuperação econômica, no resto o mundo, a economia já caminhava para uma desaceleração.
Comuns durante toda a história do capitalismo, os períodos de desaceleração acontecem, resumidamente, quando a oferta começa a se equiparar com a demanda e a produção precisa diminuir seu ritmo para garantir a estabilidade dos preços.
Em outubro de 2019, relatórios da Organização Mundial do Comércio (OMC) indicavam um corte na projeção de crescimento do comércio internacional, levando a taxa daquele ano para 1,2% – em abril, a OMC falava em uma alta de 3%.
De maneira um pouco mais regionalizada, a situação da América Latina também não era muito diferente.
Por aqui, o relatório Perspectivas do Comércio Internacional da América Latina e do Caribe, publicado pela Comissão Econômica para a América Latina, alertava que 2019 poderia ser o pior ano para o comércio exterior de toda a década.
No Brasil, dados recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estimam que a pandemia causará quedas nas exportações que variam entre 11% a 20%.
Segundo o Ipea, a crise global desencadeada pela pandemia de Covid-19 pode levar as vendas do país no mercado internacional para um patamar inferior a US$ 200 bilhões.
A título de comparação, o volume de exportações brasileiras em 2019 – ano em que a economia ainda estava começando sua recuperação – foi de US$ 225,4 bilhões.
Para as importações, o Ipea prevê uma queda de 20% em comparação ao ano passado – um valor equivalente a US$ 140 bilhões que deixará de ser gasto no mercado.
Um pouco mais modesto, o relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgado no começo de abril, aponta para uma queda de 8,25% no volume de exportações brasileiras.
Essa baixa, que corresponde a US$ 18,9 bilhões, é uma consequência direta da pandemia de coronavírus, que paralisou indústrias pelo mundo todo – no Brasil, até agora, o setor registra uma diminuição de quase 10%.
O relatório da CNI alerta ainda para o fato de que a recuperação econômica no período pós-pandemia deve se dar de maneira gradual, já que a demanda por importações vai seguir baixa em todo o planeta.
Em março, o desempenho da produção industrial brasileira chegou a um de seus menores patamares dos últimos 17 anos.
As informações foram confirmadas por uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada no dia 5 de maio.
A crise do coronavírus atingiu o país maneira generalizada, impactando todas as categorias econômicas e pelo menos 23 dos 26 ramos considerados pelo estudo.
Entre as áreas que mais agregam à economia, o setor automotivo ganha destaque negativo, já que foi responsável por uma queda de 28% na produtividade das montadoras.
Outros segmentos que sofreram com os impactos do Covid-19 foram a confecção de roupas e acessórios (-37,8%), artigos para viagem e calçados (-31,5%), produtos de borracha e plástico (-12,5%) e de máquinas de equipamentos (-9,51%).
Vivemos um momento de incertezas, o que dificulta a tarefa de criar projeções exatas sobre como a economia vai reagir nas próximas semanas ou meses.
É o que aponta um estudo publicado por pesquisadores do Ipea sobre o comércio global no cenário de pandemia.
A pesquisa traz algumas informações sobre os impactos do Covid-19 nas exportações e importações no mundo ao mesmo tempo em que alerta para as diversas variáveis que podem influenciar no resultado.
Mesmo na visão mais positiva, podemos esperar uma queda na produção e no volume de negócios fechados no comércio internacional.
Segundo o Ipea, a tendência é de que haja um desequilíbrio econômico e social nos próximos meses, que pode ser mais ou menos profundo a depender da longevidade da pandemia.
Nesse cenário, o risco de crise financeira é real, principalmente em países em desenvolvimento e que não contam com setor bancário sólido.
As projeções do Ipea vão ao encontro do que a OMC estima para o período.
Para o órgão internacional, porém, a recuperação econômica pode acontecer mais rapidamente e, por isso, traça números otimistas para o comércio a partir de 2021.
A pandemia de coronavírus, que foi identificada em seu início na Ásia e avançou sobre o continente europeu, parece ter encontrado nas Américas o seu epicentro de contágio.
Informações recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, por aqui, o número total de casos já ultrapassa o que foi registrado na Europa.
Os números são impulsionados principalmente pelos Estados Unidos e pelo Brasil, que nos últimos dias entrou em curva acelerada de casos e mortes.
De acordo com a OMS, o foco por hora segue no norte do continente, com Nova Iorque se destacando como o local mais atingido pela pandemia no mundo todo – só na cidade, houve mais mortes do que em todo o continente africano.
Para as próximas semanas, a situação da América Latina preocupa especialistas.
No fim de abril, o vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, alertou que o cenário na região podia ser comparado a Europa de seis semanas antes.
Em meio a paralisações de empresas e quedas no consumo por todo o mundo, algumas indústrias precisam continuar para garantir o abastecimento do país.
Os chamados setores essenciais são todos aqueles dos quais a sociedade depende para o seu abastecimento básico.
Apesar das polêmicas envolvendo o termo, a recomendação é que, durante a pandemia, operem apenas indústrias de serviços estratégicos, como o setor elétrico, petrolífero, a produção de alimentos e de suprimentos de saúde.
Segundo André Macedo, gerente da pesquisa do Ipea, houve nos últimos dois meses um aumento na produção industrial nas áreas de higiene e limpeza.
Sem divulgar números, ele explicou na ocasião que essa alta na demanda não seria suficiente para impulsionar os resultados da indústria brasileira.
No começo do mês de maio, um projeto de lei foi aprovado no Senado Federal para que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) possa agilizar a importação de itens e medicamentos considerados essenciais para o combate do vírus.
O texto determina que o órgão tenha 72 horas para aprovar a compra e distribuição de artigos de saúde que, mesmo não tendo registro prévio no país, tenham autorização de entidades estrangeiras determinadas.
Com a pandemia de Covid-19, surgiu também a demanda por medidas que pudessem facilitar e reduzir os custos de importação dos itens utilizados no combate ao vírus.
Foi assim que, em 20 de abril, o Diário Oficial da União divulgou que os impostos de importação seriam reduzidos para zero até o fim de setembro.
A medida tem validade imediata e se aplica a categoria de suprimentos de saúde que costuma pagar uma taxa de 60% para entrada no país.
A lista de itens que se beneficiam da medida inclui equipamentos de proteção individual, como máscaras e luvas, e também equipamentos hospitalares como respiradores artificiais.
A China é o principal parceiro do Brasil no comércio exterior, conforme mostra o Indicador de Comércio Exterior (Icomex) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgado em novembro de 2019.
Naquele ano, as exportações para a China representaram 28,9% de tudo que foi exportado pelo país.
No caso das importações, a presença chinesa se dá em 23,7% de todas as compras do Brasil no comércio internacional.
Portanto, não é de se espantar que a recente desaceleração econômica do gigante asiático afete também a econômica brasileira.
Só no primeiro trimestre de 2020, o PIB chinês sofreu uma queda de 6,8%, quando comparado ao mesmo período do ano anterior.
Mesmo com o tombo, as vendas do Brasil ainda não sofreram o impacto direto da crise.
Isso porque grande parte das exportações foi antecipada nesse início de ano, justamente para fugir dos efeitos da pandemia.
Dentre os produtos exportados para a China, tem destaque a soja, o minério de ferro e o petróleo.
Para os próximos meses, a aposta do governo brasileiro é de que as exportações de soja permaneçam altas, já que o grão é um alimento essencial para toda a Ásia.
O mesmo não pode ser dito para o ferro e o petróleo, que tem sua maior saída com a produção industrial que, por hora, segue comprometida.
Os efeitos do coronavírus sobre a vida e a economia de todo o planeta devem durar por um tempo ainda maior do que o da pandemia em si.
A informação aparece dentre as previsões feitas pela OMC, que apontam para uma recuperação econômica acontecendo só depois de 2021 e, ainda assim, rodeada de incertezas.
Segundo Maurício Vaz, Global Account Manager na Asia Shipping, a queda no comércio global pode variar entre 13% e 32%.
Ele aponta ainda que o comércio já vinha diminuindo há pelo menos um ano.
A queda de 0,1% registrada em 2019, porém, nem se compara aos danos trazidos pelo coronavírus.
Para o consultor e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, Welber Barral, é esperado um aumento no protecionismo, com governos nacionais barrando a exportação de determinados produtos no período pós-pandemia.
Para os investimentos, ele prevê uma tendência de migração do capital para economias mais maduras e que apresentem menos riscos ao investidor.
Desde que a pandemia do coronavírus começou, o mundo todo tem sentido os impactos que vão desde a vida doméstica até os números de importações e exportações.
Bastante suscetível a questões políticas e sociais, o comércio exterior está entre as primeiras áreas a sofrer sempre que uma crise de escala global se instala.
Vivemos hoje um mundo extremamente globalizado, onde as pessoas e mercadorias podem circular em uma velocidade nunca antes vista.
Portanto, não causa espanto o fato de que o coronavírus pode trazer consequências tão sérias quanto as que foram expostas acima.
Pelo mundo, o cenário de desaceleração econômica que já vinha sendo observado se intensifica ainda mais agora, com fronteiras fechadas e fábricas impedidas de funcionar.
No Brasil, a crise representa uma pausa na recuperação econômica que vinha sendo prometida para o período.
Os impactos da pandemia tem consequências diretas em nossa socialização e nas relações econômicas.
A situação pede cautela para os próximos meses e disciplina no isolamento social para que o período seja o mais curto possível.
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