Já ouviu falar em comunicação não violenta?
Como o próprio nome sugere, a CNV propõe uma nova forma de expressar nossos desejos e necessidades, optando por um caminho conciliador e pacífico.
Essa linha de pensamento tem apoio em pesquisas e experiências de seu idealizador, o psicólogo Marshall Rosenberg, que vivenciou os benefícios de investir em uma comunicação mais empática.
Posto em prática na década de 1960, o trabalho do pesquisador ganhou relevância ao tornar escolas americanas receptivas a brancos e negros, ajudando a combater o preconceito devido à cor da pele.
Anos mais tarde, a comunicação não violenta rompeu fronteiras e chegou a diversos países, o que transformou sua visão sobre a educação, segurança, gestão pública e empresarial, levando até mesmo humanização a tratamentos de saúde.
Quer saber mais sobre a CNV? Então, você veio ao lugar certo.
Continue lendo este artigo para conferir sua origem, finalidade, benefícios e dicas para colocar essa abordagem em prática.
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Boa leitura!
Comunicação não violenta é um modo de se expressar que prioriza o fortalecimento de laços e a continuidade de bons relacionamentos.
A CNV acredita que toda forma de comunicação humana tem por objetivo demonstrar necessidades universais.
Ou seja, que existe uma reivindicação por trás de cada mensagem que emitimos, mesmo que esteja encoberta por gritos, ofensas, julgamentos e agressões verbais ou físicas.
Em geral, essa violência é resultado de imposições da cultura dominante, que gera ambientes com grande pressão pelo poder e competitividade.
Diante desse cenário, o mais comum é que as pessoas reajam de um jeito negativo, tentando se defender e mascarar suas falhas.
Conforme explica Marshall Rosenberg, a comunicação não agressiva:
Começa por assumir que somos todos compassivos por natureza e que estratégias violentas – se verbais ou físicas – são aprendidas, ensinadas e apoiadas pela cultura dominante.
Isso significa que, em um ambiente leve e acolhedor, a tendência é que todos se expressem de maneira positiva, com maior abertura ao diálogo e compreensão quanto às opiniões divergentes.
Assim, podemos dizer que a CNV se concentra não apenas no conteúdo da mensagem, mas também no modo como ela é transmitida.
Uma de suas bases é a aceitação da vulnerabilidade, pois essa é uma das principais ferramentas para criar empatia.
Imagine, por exemplo, que um coordenador de departamento precisa pedir que um analista faça um relatório.
Ele, então, se dirige até a mesa do subordinado para explicar do que se trata e estabelecer um prazo para entrega.
Porém, o analista recebe uma notificação no celular enquanto está conversando com o coordenador, e resolve verificar do que se trata.
Extremamente incomodado com a postura do colega, o líder reclama, dizendo algo como: “Você nunca presta atenção no que eu falo! Estou cansado disso”.
Ao que o analista rebate: “E você só sabe gritar com toda a equipe!”.
Pronto, esse é o início de um conflito que poderia ser evitado.
Claro que a postura do analista não foi muito profissional, mas seu superior poderia ter se expressado de um jeito diferente.
Talvez dizendo algo como: “Por favor, preste atenção. Quando você fica olhando o celular, sinto que não se importa com o que estou dizendo”.
Provavelmente, o retorno do analista seria mais brando, como uma explicação sobre por que ele estava de olho no celular.
O termo “comunicação não violenta” foi criado pelo psicólogo Marshall Rosenberg por volta dos anos 1960.
Na época, a cultura da segregação racial ainda era bastante difundida nos Estados Unidos, mas algumas escolas se propuseram a mudar essa realidade.
No entanto, era necessário adotar uma postura pacífica para melhorar a convivência e promover a integração entre negros e brancos, e foi pensando nisso que Rosenberg desenvolveu a CNV.
Reforçando a capacidade de ouvir sem julgar a outra pessoa, a teoria teve grande importância na mediação de conflitos entre professores, alunos, funcionários e a comunidade no entorno das escolas.
Graças às novas técnicas, cada indivíduo pode encontrar pontos em comum e se colocar no lugar do outro, entendendo melhor suas necessidades, reações e comportamento.
Mas os estudos que culminaram na criação da comunicação não violenta começaram bem mais cedo.
De acordo com registros, Rosenberg enfrentou episódios violentos desde a infância, o que sustentou seu interesse pelas causas das atitudes agressivas.
Quando chegou à faculdade, sua curiosidade cresceu e o levou a cursar Psicologia e, em seguida, abrir uma clínica na cidade de Saint Louis, nos Estados Unidos, onde ele teve sucesso por alguns anos.
Porém, ele não se sentia motivado pelos ganhos financeiros e acabou abandonando a clínica.
Chegou a ser motorista de táxi, empregando o tempo livre para idealizar maneiras efetivas para a promoção de atributos pacíficos durante a expressão e transmissão de mensagens.
Na década de 1950, voltou a estudar e, em 1961, conquistou um PhD em Psicologia Clínica pela Universidade de Wisconsin.
Além do título, o pesquisador encontrou ali um mentor – o psicólogo Carl Rogers -, que fortaleceu os estudos que resultariam na CNV.
Por fim, sua dedicação à mediação de conflitos nas escolas americanas foi o impulso que faltava para transformar seu projeto em algo tangível e que pode ser ensinado a qualquer pessoa.
Ao longo das décadas seguintes, a comunicação não violenta foi amplamente divulgada, tanto por Rosenberg quanto por colegas que acreditaram na ideia.
Esse trabalho motivou a fundação do Centro para a Comunicação Não-Violenta (CNVC), no qual o pesquisador atuava como diretor de Atividades Educacionais.
O conceito cativou autoridades, gestores, policiais, educadores, psicólogos, médicos e outros profissionais, impactando mais de 60 países.
Em 2006, a metodologia CNV foi eternizada no livro “Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais“, escrito por seu criador.
A CNV tem uma série de finalidades e aplicações, bastando que seja adaptada ao contexto.
A seguir, listamos as principais:
Por incentivar uma postura empática, a CNV é uma ferramenta certeira para fortalecer vínculos humanos.
Afinal, o exercício da empatia nos permite enxergar o mundo a partir da perspectiva da outra pessoa e entender possíveis razões para suas atitudes.
Também ajuda a perceber o impacto das nossas ações nas pessoas que nos cercam e, muitas vezes, têm reações defensivas se pensarem que estão sendo acusadas ou cobradas.
Essas reações costumam ser bastante influenciadas pelas emoções, e não por um raciocínio lógico, o que aumenta sua intensidade.
Raiva, mágoa e medo são algumas das emoções capazes de provocar atitudes drásticas quando não compreendidas, filtradas e redirecionadas.
A CNV auxilia nesse exercício de entendimento quanto às emoções, produzindo reflexões e reações mais tranquilas.
Quando adotada dentro de uma equipe em uma empresa, por exemplo, a comunicação não violenta favorece a manifestação de todos os colaboradores e lideranças, pois cria um ambiente acolhedor.
Isso não significa que não haverá debates ou discussões, e, sim, que será mais fácil chegar a um consenso.
Nas instituições de ensino, a CNV auxilia na formação de crianças e jovens de diferentes idades e origens, reforçando noções de cidadania, comunicação e convivência pacífica.
Autoridades e programas implementados em nações como Israel, Itália, Dinamarca, EUA, Inglaterra, Alemanha e Sérvia, utilizam as técnicas de comunicação não violenta para prevenir episódios de agressividade.
No Brasil, a metodologia deu base para a criação de círculos de resolução de conflitos em 20 escolas da região metropolitana de São Paulo, fortalecendo uma cultura de paz e responsabilidade.
Na obra “Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais”, Marshall Rosenberg estabelece quatro pilares para sua técnica.
Veja, abaixo, detalhes sobre cada um.
Qualquer mudança interna exige autoconhecimento, concorda?
Portanto, antes de aplicar a comunicação não violenta, é preciso olhar para si mesmo sem julgamentos e identificar suas forças e fraquezas.
Ou seja, avaliar como tem sido nossa comunicação conosco e com os demais, tendo como guias a colaboração, compaixão, autenticidade e coragem.
A linguagem – seja ela verbal ou não verbal – tem o poder de unir ou afastar as pessoas, de gerar e solucionar conflitos.
Entender essa máxima é essencial para praticar a CNV, pois a linguagem está no cerne de qualquer tipo de comunicação, viabilizando a transmissão de uma mensagem e a troca de informações.
Daí a importância de pensar não só antes de agir, mas também antes de falar.
Procure avaliar o efeito das suas palavras sobre os ouvintes.
Depois de assimilar os possíveis impactos da linguagem, é necessário saber como pedir e como ouvir.
Vale começar nos perguntando se estamos, de fato, ouvindo, ou apenas esperando a nossa vez de falar e tentar convencer os demais de que nosso ponto de vista é o correto.
Tenha em mente que opiniões distintas são comuns e que não precisam se tornar pretexto para um conflito.
Você não precisa concordar com todos e nem todos precisam concordar com você.
Se todos respeitarem a opinião alheia, já estarão na metade do caminho para encontrar uma solução eficiente.
Essa última etapa tem a ver com aceitar que nem tudo está sob o nosso controle, e dividir o poder com quem está ao nosso redor.
Se pararmos para pensar, veremos que muitos conflitos não terminam porque os envolvidos querem os meios de influência somente para si, querem dominar os demais.
Quando aprendem a partilhar esse controle, cada um pode assumir sua responsabilidade e, junto aos demais, construir uma solução viável.
Como explicamos, colocar a CNV em prática pede um exercício constante de autoconhecimento, empatia, compaixão e coragem.
Uma das melhores formas de começar é reconhecer os julgamentos para, então, separá-los da realidade e dos fatos.
Isso porque, ao julgar, aplicamos preconceitos à maneira como enxergamos as pessoas e tiramos conclusões precipitadas que bloqueiam nossa percepção e empatia.
Para explicar melhor, recorde o último episódio em que você viu alguém pela primeira vez.
O lugar, horário, postura, roupas e até as características desse indivíduo provavelmente influenciaram sua opinião sobre ele.
Se estava vestindo calça jeans e tênis em uma reunião de trabalho, você pode ter ficado com a impressão de que é uma pessoa desleixada, mas há uma série de outras possibilidades para isso.
Será que ele trabalha em uma empresa na qual pode se vestir de forma casual? Precisou ir para a reunião na última hora e não estava preparado? Não foi avisado previamente sobre o encontro?
Levantar essas questões ajuda a identificar e deixar de lado os julgamentos, nos aproximando de quem nos cerca.
Aprender a reconhecer e trabalhar as emoções desconfortáveis também é uma boa pedida, já que, quando guardadas, elas tendem a crescer e criar visões distorcidas sobre nossas lembranças.
Ao direcionar as emoções a alguma atividade construtiva, ganhamos confiança para mostrar as fraquezas, contando quais necessidades não estão sendo atendidas.
Desse modo, o outro pode revelar as necessidades dele e, junto a nós, apresentar respostas para um conflito.
Em entrevista, Marshall Rosenberg contou um exemplo real em que aplicou a metodologia com sucesso na mediação de conflitos.
O psicólogo foi chamado para tentar a conciliação entre uma tribo cristã e uma muçulmana, ambas envolvidas numa disputa violenta por territórios e mercados na Nigéria.
A situação era grave, pois um quarto dos 400 integrantes daquela comunidade haviam sido mortos por causa do confronto.
Para piorar, três indivíduos presentes na reunião sabiam que estavam diante do assassino de seus filhos.
Chegando ao local, Rosenberg perguntou aos dois líderes das tribos:
“Quais são suas necessidades nesta situação e o que vocês querem dos integrantes do outro grupo?”
Um dos chefes respondeu: “Vocês são assassinos”.
E o segundo retrucou: “Vocês estão tentando nos dominar e nós não vamos mais tolerar isso”.
Diante do ambiente tenso, o psicólogo se dedicou a identificar as necessidades por trás daqueles ataques, e disse ao primeiro líder:
“Você está querendo dizer que sente raiva porque tem necessidade de segurança e que para consegui-la, preferiria que os conflitos fossem resolvidos por meios não violentos?”
E o primeiro chefe disse que sim, era isso o que ele estava tentando expressar, entretanto, havia falado de forma equivocada e agressiva.
O segundo líder, então, o questionou, aos gritos, sobre a razão por que ele havia matado seu filho.
E Marshall Rosenberg explicou que aquele problema seria abordado em breve, mas que agora era o momento de expressar sentimentos e necessidades.
Então, o pesquisador perguntou:
Chefe, ouvi seu adversário dizer que sente raiva, muita raiva porque tem necessidade de que os conflitos sejam resolvidos por meios outros que não a violência, em nome da segurança de todos. Dá para você confirmar que ouviu estas palavras, de modo que eu fique seguro de que está havendo comunicação entre nós?
Mas aquele líder precisou ser questionado mais duas vezes para que começasse a ouvir o que a outra tribo precisava.
Assim, com a mediação, foram, aos poucos, trocando as agressões por uma conversa para solucionar o conflito.
De repente, um dos chefes que havia permanecido calado se levantou e falou: “Se soubermos nos comunicar da forma que você está nos ajudando a fazer, não precisaríamos nos matar”.
Agora que já conhece os pilares e as vantagens de adotar a comunicação não violenta, cabe dizer que ela precisa ser exercitada.
Quanto mais você praticar, mais simples se torna a técnica, e menos conflitos e agressões serão provocados.
Pensando nisso, trazemos dicas para praticar a CNV no seu dia a dia.
Confira:
Gostou de se aprofundar na comunicação não violenta?
Seguindo os conselhos de Marshall Rosenberg e nossas dicas, você está pronto para iniciar o exercício da CNV, com ganhos pessoais e profissionais.
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