A Psicologia do Desenvolvimento é um tema que desperta a curiosidade de muita gente.
E isso faz sentido, pois a disciplina busca compreender a forma como nos transformamos e aprendemos, permitindo adaptações e aperfeiçoamento constante.
Embora seja um tanto complexo, esse assunto é bastante útil, em especial para pedagogos, professores e psicólogos que desejam se manter atualizados.
Se esse é o seu caso, recomendamos a leitura deste artigo.
Vamos apresentar, de forma simples, conceitos, origem, campos de discussão e as principais teorias que fundamentam a área.
Estes são os tópicos que iremos abordar a partir de agora:
Gosta do tema? Então, vamos em frente!
Psicologia do Desenvolvimento é uma disciplina que se dedica a estudar as mudanças – ou a ausência delas – que atingem as pessoas no decorrer de suas vidas.
Parte desse campo a máxima de que todo ser humano passa por algumas fases ao longo de sua existência, marcadas, principalmente, por períodos de grandes transformações, também chamados de períodos de transição rápida.
No artigo “Psicologia do Desenvolvimento: uma perspectiva histórica”, diferentes autores expressaram ideias a respeito de como cada indivíduo evolui.
Um deles foi Angela Maria Brasil Biaggio, para quem:
“A especificidade da Psicologia do Desenvolvimento humano está em estudar as variáveis externas e internas aos indivíduos que levam às mudanças no comportamento em períodos de transição rápida (infância, adolescência e envelhecimento). Teorias contemporâneas do desenvolvimento aceitam que as mudanças são mais marcadas em períodos de transição rápida, mas mudanças ocorrem ao longo de toda a vida do indivíduo, não só nestes períodos. Portanto, é preciso se ampliar o escopo do entendimento do que é o estudo do desenvolvimento humano.”
Nesse contexto, uma das definições mais bem aceitas nos dias de hoje foi pensada pelo biólogo suíço Jean Piaget, uma das maiores referências na área de desenvolvimento humano.
Segundo descreve o livro “Psicologia do Desenvolvimento”:
“O desenvolvimento humano, portanto, é um processo de equilibração progressiva, uma passagem de um estado de menor equilíbrio para um estado de maior equilíbrio. Isto ocorre no âmbito da inteligência, da vida afetiva, das relações sociais, bem como no organismo de um modo geral. Constantemente, temos necessidades ou motivos que nos levam a agir no ambiente em que estamos, a fim de alcançarmos um equilíbrio.”
Essa é uma expressão utilizada, às vezes, como equivalente à disciplina de Psicologia do Desenvolvimento.
Afinal, é comum a ideia de que o desenvolvimento é produto de uma soma de pequenos aprendizados, de experiências que levam o ser humano a avançar.
Contudo, dependendo da perspectiva e da fonte utilizada, pode haver grandes diferenças entre desenvolvimento e aprendizagem.
O próprio Jean Piaget diferencia os dois termos em sua obra “Desenvolvimento e aprendizagem”, publicada em 1972.
Para o autor, o desenvolvimento do conhecimento se refere a um processo espontâneo que conduz ao amadurecimento do corpo, mente e sistema nervoso.
Assim, um bebê só completa esse processo quando chega à idade adulta, atingindo o ápice de seu desenvolvimento.
A aprendizagem, por outro lado, é causada por situações, eventos e experiências externas, incluindo a apresentação de um conteúdo novo por um professor, o contato com uma cultura, até então, desconhecida, ou a realização de um experimento científico.
A conclusão de Piaget é que ambos são opostos, uma vez que o desenvolvimento do conhecimento é espontâneo, enquanto a aprendizagem é provocada.
Essa disciplina apoia o trabalho realizado por psicólogos, professores, pedagogos, especialistas em saúde mental, entre outros profissionais.
Eles se valem do aprendizado sobre o processo de desenvolvimento em diferentes fases da vida, aplicando teorias e descobertas para mudar comportamentos no dia a dia de pacientes, alunos e clientes.
Em resumo, a Psicologia do Desenvolvimento possui três finalidades principais.
A primeira está no reconhecimento da origem das condutas, sejam elas cognitivas, sociais, afetivas ou psicomotoras.
A segunda corresponde à identificação de mecanismos que provocam respostas e, por consequência, determinados padrões de comportamento.
A terceira utiliza esses conhecimentos para delimitar fases de desenvolvimento, revelando características comuns a cada uma.
Dessa forma, é possível estudar e produzir materiais específicos, adequados para a aplicação junto a crianças, adolescentes, adultos e idosos.
Ao estudar e identificar diferentes aspectos das fases da vida, a Psicologia do Desenvolvimento apoia a construção e aperfeiçoamento do indivíduo em cada uma delas.
Em outras palavras, esse campo do conhecimento serve para evidenciar comportamentos normais e prejudiciais, incentivando melhorias e corrigindo falhas.
Parece um pouco complexo? Então, vamos a um exemplo bastante comum.
Imagine que uma criança tenha aprendido a ler recentemente, e vem tomando gosto pela leitura.
Ela lê placas pelas ruas, comunicados, mensagens em jogos online, gibis e pequenos livros.
Mas, depois de alguns meses, começa a mostrar desinteresse pelas letras e palavras, deixando seus livros de lado, apresenta queda no rendimento escolar e agressividade junto aos colegas.
Preocupados, os professores conversam com os pais da criança, que pedem para que ela leia em voz alta em casa, reparando uma confusão entre as letras.
Esse incidente motiva uma consulta com um médico especialista em oftalmologia, que descobre um problema na visão.
Nesse exemplo, a Psicologia do Desenvolvimento colabora sinalizando que existem causas por trás de comportamentos prejudiciais ou incomuns, como a agressividade da criança.
Isso porque o desenvolvimento humano é formado por quatro pilares que estão, sempre, interligados:
Compreender cada um dos aspectos que citamos acima é essencial para o sucesso no processo de ensino-aprendizagem.
Afinal, a formação dos conhecimentos acompanha o desenvolvimento em cada fase da vida, determinando as melhores técnicas pedagógicas, conteúdos e linguagens que favorecem o aprendizado.
Crianças tendem a compreender melhor mensagens transmitidas a partir de ferramentas lúdicas, de modo mais superficial, enquanto adultos precisam de aprofundamento e conteúdos mais robustos.
Ou, nas palavras das educadoras Telma Sara Matos, Fernanda Nasciutti e Vilma Leni Nista-Piccolo:
“A partir da compreensão de que o ser humano está em constante evolução, e que passa por fases de desenvolvimento com características individuais relacionadas ao seu processo de aprendizagem, torna-se necessário que o professor tenha um conhecimento em torno das teorias do desenvolvimento, com informações sobre as diferentes fases evolutivas de seus alunos. O desenvolvimento humano se processa em conjunto com o conhecimento, sendo primordial o entendimento do ser em todos os seus estágios desenvolvimentais.”
Além de contribuir para a estrutura e técnicas de ensino-aprendizagem, conhecer os aspectos do desenvolvimento humano ajuda a construir vínculos entre educadores e alunos, fortalecendo a confiança e facilitando a prática pedagógica.
A data exata do surgimento dessa disciplina é controversa, mas acredita-se que tenha nascido no final do século 19, época em que foram registrados alguns marcos na área.
Um deles foi a fundação das primeiras sociedades para o estudo do desenvolvimento humano, como o Child Research Institute at Clark, nos Estados Unidos, e a Société Libre pour l’Étude de l’Enfant, na França.
Na ocasião, ambas as nações ganharam periódicos abordando o tema, a exemplo do Pedagogical Seminars e do L’Année Psychologique.
O ano de 1882 também se destaca, devido à publicação do livro “The mind of the child”, no qual William Preyer já chamava a atenção para as particularidades da mente infantil, despertando o interesse de pesquisadores pelo assunto.
O tema afeta diferentes segmentos e campos de discussão, pois envolve variáveis afetivas, cognitivas, sociais e biológicas das pessoas, ao longo de toda a sua vida.
Nesse sentido, antigas teorias relacionavam o desenvolvimento humano apenas a variáveis externas, ou somente às internas.
Atualmente, existe um consenso de que ambos os tipos afetam a forma como o indivíduo cresce e se transforma.
As variáveis internas consistem em processos presentes desde o nascimento, e bases genéticas que predispõem à formação de determinados comportamentos e características.
Variáveis externas, por outro lado, descrevem a influência que o ambiente exerce sobre a maturação do ser humano, que se desenvolve de maneira distinta em diferentes sociedades e momentos históricos.
Uma pessoa criada em uma comunidade com forte apelo religioso, por exemplo, provavelmente terá interesses diferentes daqueles que teria caso nascesse em um local onde a religião é pouco valorizada.
Quanto ao momento histórico, podemos observar, por exemplo, a redução na quantidade de filhos à medida em que as mulheres ganharam melhores perspectivas nos estudos e na carreira.
Variáveis externas impactam, inclusive, no processo de aprendizagem, já que é necessária uma exposição a algo novo para aprender.
Desde os primórdios das civilizações, o ser humano manifestou curiosidade sobre seu processo de desenvolvimento, comparando sua visão a respeito de um assunto em diferentes etapas da vida.
Por isso, a abordagem contemporânea da Psicologia do Desenvolvimento combina informações de diferentes escolas de pensamento, partindo de estudos sobre a construção do conhecimento e a aprendizagem.
A seguir, trazemos as principais teorias que influenciaram esse campo.
Conhecida como Psicologia da Forma, a Gestalt prega que o todo (por exemplo, uma figura completa) não corresponde somente à soma de suas partes, tendo significados que vão além delas.
A Gestalt acredita que pequenos gestos ou respostas superficiais dão pistas sobre sentimentos latentes, o que a torna um instrumento terapêutico que contribui para a saúde mental.
Segundo essa teoria, as pessoas se desenvolvem conforme aprendem a usar estruturas biológicas que já nascem com elas, ou seja, apenas descobrem sua capacidade cerebral, aos poucos.
Apesar de colaborar para o estudo do comportamento humano, essa ideia foi superada mais tarde, quando cientistas descobriram que é possível ampliar a capacidade de aprendizado.
Famosas, as ideias de Sigmund Freud evidenciam os aspectos emocionais do desenvolvimento, destacando sua influência no comportamento natural a cada fase da vida.
O neurologista e pesquisador rompeu a concepção racionalista ao afirmar que a maior parte das atividades da mente humana é de ordem inconsciente, profundamente impactada por fatores afetivos.
Em 1923, a obra “O ego e o id” formalizou sua teoria de divisão para a mente, composta por id, ego e superego.
O id ou inconsciente é definido como uma força propulsora, não socializada e que busca pelo prazer incondicional da pessoa, sendo movido pela libido ou energia da pulsão sexual.
O ego seria a parte mais superficial, responsável pelas interações entre indivíduo e meio, enquanto o superego atua como controlador dos impulsos do id e intenções do ego.
Segundo a psicanálise, o desenvolvimento ocorre em resposta à procura por satisfação, direcionada pela libido desde que o ser humano nasce.
Assim, a cada etapa do desenvolvimento, o indivíduo se concentra em uma parte do corpo e em ações que lhe dão mais prazer.
Um exemplo é a fase oral, na qual os bebês concentram a libido na região da boca, já que a alimentação e o contato com chupetas, mordedores, etc., os deixa satisfeitos.
Procurando no dicionário, esse campo de estudo é descrito como:
“Teoria e método de investigação psicológica que procura examinar de modo mais objetivo o comportamento humano e dos animais, com ênfase nos fatos objetivos (estímulos e reações), sem fazer recurso à introspecção.”
O behaviorismo acredita, então, que os comportamentos mudam a partir de alterações ambientais, sendo o estímulo uma mudança no ambiente, e a reação, uma mudança realizada pelo indivíduo.
Sua contribuição para a Psicologia do Desenvolvimento se encontra na descoberta de que é possível alterar padrões de comportamento.
Um dos principais representantes da teoria cognitiva, Vygotsky tem uma visão diferenciada do desenvolvimento humano, considerando as pessoas como construtoras de sua realidade ou representação interna do mundo em que vivem.
Um dos destaques de seus estudos é a perspectiva de que, para construir seus conhecimentos, o indivíduo interage com o meio e o momento histórico em que se insere.
Como mencionamos nos tópicos anteriores, um dos teóricos mais lembrados quando se fala em Psicologia do Desenvolvimento é Jean Piaget.
Seu trabalho se concentrou em como se dá a construção do conhecimento, ou seja, quais processos estão por trás da evolução na estrutura do pensamento do ser humano.
Para responder a essa questão, o autor estudou a fundo o comportamento durante as primeiras fases da vida humana, chegando a quatro estágios de desenvolvimento cognitivo, desde o nascimento até a adolescência.
De acordo com sua tese, o conhecimento é construído a partir de um sistema que busca se equilibrar, assimilando e acomodando novidades de maneira cíclica.
Na assimilação, a pessoa entra em contato com o mundo exterior e aprende informações novas, que serão agregadas ao seu repertório.
Em seguida, ocorre a acomodação, na qual essas informações são confrontadas com o que a pessoa já sabia e, a partir desse confronto, ocorre uma mudança na estrutura de seu pensamento – a construção de um novo conhecimento e consequente avanço cognitivo.
Abaixo, saiba mais sobre os quatro estágios formulados por Piaget.
Começa com o nascimento e se estende até cerca de dois anos de idade.
No início da vida, os bebês se restringem a desempenhar movimentos reflexos, como a sucção, para que consigam se alimentar.
Mas, com o tempo, aprimoram seus movimentos e incorporam outros objetos, além do seio materno, à sua rotina de sucção, indicando diferenciação entre seu corpo e o mundo exterior.
É compreendido entre 2 e 7 anos, começando quando a criança aprende a falar.
Esse é um marco muito importante, pois permite que meninos e meninas expressem seus pensamentos e emoções, embora ainda vejam o mundo de modo egocêntrico.
Seu aprendizado é fundamentado por vivências e objetos que conhecem.
Definido entre 7 e 11 a 12 anos, é caracterizado pela construção de estruturas lógicas e redução do egocentrismo, possibilitando o trabalho em grupo e colaboração.
Época em que se inicia a adolescência, é nesse período que o indivíduo se torna capaz de exercitar a reflexão, criar hipóteses e deduções.
Também amplia sua capacidade de raciocínio, solucionando equações com muitas variáveis ou analisando temas complexos com sucesso.
As teorias e estudiosos que comentamos acima permitiram a descoberta de quatro fatores principais que influenciam a maturação do indivíduo
São eles:
Ao longo deste texto, comentamos as possíveis origens e contribuições da Psicologia do Desenvolvimento, disciplina importante para compreender as fases da vida humana.
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