Estratégia e Organizações

Mentor e Mentorado – uma relação tão delicada

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Sabe aquele momento da sua vida, em que você precisa tomar uma decisão, e sabe que vai enfrentar dilemas profissionais e pessoais?

É nesse momento que um Mentor, com sua maturidade e sabedoria, pode ajudá-lo. O Mentor ensina conteúdos práticos, bem como aconselha, abre seus olhos e faz você refletir.

Você sabe o que é Mentoria? E você sabia que há vantagens não só para o Mentorado, como para o Mentor? E você sabe como encontrar um Mentor que possa ajudá-lo em sua carreira?

Neste artigo, vamos responder a essas e outras questões.

Se o tema interessa, siga com a leitura.

Preparamos os seguintes tópicos para este conteúdo:

  • Afinal, o que é Mentoria?
  • Quais os benefícios para o Mentorado?
  • E o Mentor, tem benefícios na relação?
  • O que o Mentor busca em um Mentorado?
  • Você também quer ser um Mentor?
  • Quais são os tipos de Mentoria?
  • Diferenças entre Mentoring, Coaching, Counseling e Tutoring
  • Como encontrar um Mentor?

Acompanhe até o final!

Afinal, o que é Mentoria?

Afinal, o que é Mentoria?

A Mentoria é uma relação de apoio e cuidado entre uma pessoa mais experiente e de maior conhecimento, chamado de Mentor, e uma pessoa menos experiente e que possui menos conhecimento, o Mentorado.

Dentre todas as características que definem essa relação tão importante, a condição principal e necessária é que Mentor e Mentorado compartilhem valores!

Você pode se imaginar em uma forte relação de desenvolvimento para sua trajetória, em que o outro lado possua valores incompatíveis com os seus? Impossível, não é?

Por isso é que muitas organizações falham em tentar implantar programas de Mentoria que são impostos tanto a Mentores como a Mentorados.

Nessa relação, ambos ganham. O Mentorado recebe benefícios pessoais e profissionais, mas o Mentor também é beneficiado: ele ganha satisfação pessoal, oportunidades de desenvolvimento e ampliação de sua rede de relacionamento.

A seguir vamos explicar melhor alguns outros aspectos dessa importante relação para sua trajetória profissional.

Quais os benefícios para o Mentorado?

Quais os benefícios para o Mentorado?

Como já dissemos, numa relação de Mentoria, o Mentor proporciona ao Mentorado benefícios profissionais e psicossociais.

Quando se trata dos benefícios profissionais, estamos falando sobre a obtenção de vantagens nas organizações, enquanto que os apoios psicossociais afetam cada pessoa em sua esfera individual.

Essas duas funções unidas possibilitam às pessoas ferramentas para enfrentarem os desafios de cada etapa da vida profissional e pessoal, de forma mais completa.

Os benefícios para o Mentorado são derivados do que a literatura especializada chama de apoios (ou suportes) que recebe do Mentor. E esses apoios podem ser, basicamente, de duas naturezas: apoio técnico-profissional e apoio psicossocial.

Os apoios técnicos ou profissionais incluem:

  • Patrocínio – situação em que o Mentor nomeia o Mentorado para tarefas específicas, projetos, movimentações na carreira e promoções
  • Exposição e visibilidade – o Mentor cria meios para aumentar a visibilidade e exposição da pessoa para futuras oportunidades
  • Proteção – o Mentor busca diminuir riscos desnecessários ao Mentorado, avisando-o sobre possíveis armadilhas na organização e que possam comprometer a sua reputação
  • Tarefas desafiadoras – o Mentor oferece oportunidades para trabalhar em novos projetos, assuntos e situações que desafiem a capacidade do Mentorado e contribuam para seu desenvolvimento
  • Auxílio de coaching – aqui o Mentor age como um treinador, ele compartilha informações, oferece feedback e esclarece objetivos de perfomance, além de sugerir atividades para o alcance dos objetivos.

Já os apoios psicossociais dizem respeito aos seguintes fatores:

  • Desenvolvimento do papel – servindo como modelo para o Mentorado, o Mentor ajuda na busca de atitudes, valores e comportamentos desejáveis, apontando condutas profissionais de sucesso não só dele mesmo, como de outros especialistas
  • Aceitação e confirmação – o Mentor acolhe o Mentorado, aceitando-o sem julgamentos
  • Aconselhamento – neste momento, o Mentor encoraja o Mentorado a falar sobre seus medos e anseios e o ajuda a esclarecer seus objetivos de carreira
  • Amizade – o Mentor interage informalmente no trabalho e fora dele.

Nem todos os processos e relações de Mentoria são iguais – podem existir variações de apoios nos diferentes relacionamentos entre Mentores e Mentorados. Alguns processos de Mentoria são marcados por grande apoio profissional e pouco apoio psicossocial, e vice-versa.

Mas o fundamental para que alguém adquira as características de Mentor, é que ofereça tanto o suporte técnico-profissional como o suporte psicossocial.

Imagine o valor de um Mentor para sua Carreira. Você já pensou em ter alguém como seu Mentor?

E o Mentor, tem benefícios na relação?

E o Mentor, tem benefícios na relação?

Ao contrário do que possa parecer, o Mentor também se beneficia da Mentoria, e muito!

Raramente encontramos publicações e informações sobre o que uma pessoa ganha ao ser Mentor de outra. Mas há sim grandes benefícios.

Vamos lá. Ao apoiar o Mentorado, o Mentor ganha:

  • Realização pessoal – ao ajudar o Mentorado, o Mentor aumenta sua satisfação pessoal, sentindo-se gratificado ao apoiar o crescimento de outra pessoa
  • Sentimento de autoeficácia e de capacidade de ajudar – ao perceber os resultados do seu apoio, o Mentor tem sua autoestima aumentada e desenvolve sua autoeficácia
  • Chance de deixar o seu legado – o Mentor vê na relação construída uma oportunidade de deixar o seu legado para as futuras gerações e, com isso, alcança uma sensação maior de completude
  • Reforço do papel de gestor e de cidadão – ao desenvolver o outro, o Mentor consegue satisfazer seu desejo de contribuir tanto para a organização quanto para a sociedade
  • Amizade – numa verdadeira relação de Mentoria, o Mentorado também se torna um amigo leal para o Mentor
  • Desafios – ao estimular o outro em seu desenvolvimento, o Mentor satisfaz a necessidade de desafios e de ter algo novo no seu trabalho e na sua vida pessoal
  • Aprendizado e atualização – ao se relacionar com o outro, o Mentor ganha a chance de ampliar sua bagagem técnica e cultural, de aprimorar suas habilidades sociais, e de se atualizar em informações e novos conhecimentos
  • Reconhecimento organizacional – muitas organizações reconhecem, de diferentes formas, o trabalho de gestores que atuam como Mentores de outros funcionários
  • Preparação para a sucessão e promoção – como consequência do empowerment, torna-se possívelao Mentor deixar um sucessor em seu lugar e alçar voos mais altos alcançando promoções em sua carreira
  • Networking – ao ajudar outros, o Mentor amplia sua rede de contatos e de relacionamentos
  • Base de aliados – o processo de Mentoria possibilita a criação de uma base de pessoas fiéis ao Mentor, que estará acessível para auxiliá-lo quando precisar.

O que o Mentor busca em um Mentorado?

O que o Mentor busca em um Mentorado?

Antes de falar sobre como encontrar um Mentor, vamos esclarecer sobre o que ele procura em um Mentorado. Afinal de contas, essa relação é voluntária e, para que ela tenha sucesso, as partes precisam ter afinidades, compartilhar valores e enxergar os possíveis ganhos.

A escolha do Mentorado é etapa fundamental para o sucesso da Mentoria; por isso, deve ser feita com cuidado. O Mentor, frequentemente, despende muito tempo e energia para ajudar o Mentorado, além do que sua imagem se torna mais exposta no ambiente organizacional.

Por isso, é importante que o Mentorado seja uma pessoa confiável, ética, com iniciativa e disposição para aprender, e com quem se possa ter uma relação aberta e recíproca.

Você também quer ser um Mentor?

Você também quer ser um Mentor?

Confira agora algumas características desse tipo de papel.

Para uma relação de sucesso, primeiramente, o Mentor precisa ser orientado para pessoas, ter vontade de servir e acreditar em si mesmo como sendo capaz de desenvolver o outro.

Ao perceber seu potencial para desenvolver e ajudar pessoas, o Mentor se preocupa em construir relações de confiança baseadas no respeito, no cuidado, na empatia e na habilidade em manter relacionamentos.

Durante os encontros com seu Mentorado, o Mentor estimula reflexões, desenvolvendo conexões mais profundas e complexas de pensamento, que resultam em soluções alternativas e conduzem o Mentorado à autonomia na resolução de problemas.

O papel do Mentor está alinhado com as demandas de que as pessoas desenvolvam a inteligência emocional, a capacidade de inovação, suas habilidades analíticas e de resolução de problemas – fatores tão demandados pelas organizações atualmente, como já apontado pelo relatório The future of the Jobs Report, apresentado pelo Fórum Econômico Mundial em 2018.

Quais são os tipos de Mentoria?

Quais são os tipos de Mentoria?

Os processos de Mentoria podem ser formais, informais, entre colegas e reversos.

Apesar da maior parte das relações de Mentoria acontecerem informalmente, resultado da proximidade entre as partes, afinidade e reciprocidade, muitas empresas formalizam essas relações, criando programas em que há a junção entre Mentor e Mentorado, e procedimentos formais estabelecidos pelo programa.  

Portanto, o processo de Mentoria formal é aquele que é estabelecido pela organização, e possui estrutura, cronograma e resultados esperados. A adesão a esses programas pode ser voluntária, em que as partes se candidatam para fazer parte do programa, mas nem sempre isso ocorre.

E aqui está uma condição de alerta para organizações e gestores: não se pode forçar ou forjar uma relação de Mentoria.

A junção entre Mentor e Mentorado pode ocorrer por meio da ajuda de terceiros, a partir de características de compatibilidade percebidas entre as partes, mas as questões pessoais de valores e compatibilidade devem ser respeitadas, sob pena de o esforço produzir um resultado contrário e adverso.

Já a Mentoria informal não é gerida pelas organizações, por isso, não é condicionada por variáveis formais ou muito estruturadas. São relações espontâneas, que podem ocorrer dentro ou fora da empresa, a partir de um processo de atração mútua entre as pessoas, por afinidade e valores.

Além da Mentoria tradicional, na qual a relação se dá entre uma pessoa mais experiente e outra menos experiente num determinado campo, existe também a Mentoria entre colegas, que é composta por apoios ao desenvolvimento entre pessoas que se encontram no mesmo nível hierárquico ou em níveis bem próximos.

Finalmente, podemos citar também a Mentoria reversa. Nesta relação, o Mentor está em nível hierárquico inferior ao do Mentorado. Essa relação é especialmente interessante quando há necessidade de compreensão, por parte do Mentor, sobre as diferenças geracionais e quando se busca atualização em processos e tecnologias mais recentes.

As publicações executivas estão inundadas de termos como Mentoring, Coaching, Counseling e mesmo Tutoring. Frequentemente utilizadas como palavras sinônimas ou substitutas “mais sofisticadas” em relação às outras, conceitualmente esses termos possuem diferenças significativas entre si.

Você vai continuar a ouvir uma palavra pela outra, mas vale a pena saber as diferenças, principalmente quando o assunto é desenvolvimento da carreira.

Diferenças entre Mentoring, Coaching, Counseling e Tutoring

Para simplificar algo tão polêmico e complexo, vamos estabelecer variáveis de comparação entre os quatro termos.

Nessa comparação, chamaremos de Agente a pessoa que oferece apoio no processo de aprimoramento da carreira.

Aqui estão as cinco variáveis:

  1. Foco do processo (na tarefa, na evolução, na esfera profissional ou na esfera pessoal);
  2. Duração de Tempo (curto, médio e longo prazo);
  3. Definição no Tempo (agenda, horário);
  4. Quem é o Agente com papel no apoio (considerando a organização);
  5. Existência de remuneração no processo (pagamento pelo trabalho do Agente).

A tabela 1 a seguir ajudará você a distinguir esses processos que tanto trazem vantagens para a carreira das pessoas.

Comparação entre Mentoring, Coaching, Counseling e Tutoring

Como encontrar um Mentor?

Como encontrar um Mentor?

O seu Mentor pode ser alguém de dentro da sua organização, de trabalhos anteriores, de sua família, de alguma comunidade que você faça parte, ou seja, ele pode estar em qualquer lugar.

Vamos enumerar aqui 5 dicas para você encontrar o seu:

  1. procure por pessoas que compartilham os mesmos valores que os seus;
  2. invista em seu autoconhecimento e entenda quais são seus objetivos profissionais e pessoais, para encontrar a melhor pessoa para ajudá-lo nessa caminhada;
  3. tenha em mente que o Mentor ou Mentora poderá fazer parte da sua organização, bem como estar fora dela;
  4. esteja aberto para as oportunidades de relacionamentos que possam surgir, investindo na ampliação e cultivo do seu networking;
  5. e, principalmente, cuide de sua reputação pessoal e profissional, pois não se esqueça de que, assim como você escolhe o Mentor, ele também escolhe o Mentorado!

Conclusão

Aqui apresentamos aspectos importantes sobre processos de Mentoria. Comparamos Mentoria (Mentoring) a outros processos de desenvolvimento de carreira. Agora é com você.

Considerando seus objetivos de carreira e pessoais, faça as seguintes perguntas para si mesmo:

  • Eu tenho um Mentor?
  • Quem poderia ser meu Mentor?
  • Quais são meus valores?
  • Com quem compartilho valores?
  • Quem eu admiro?
  • Quem poderia me ajudar em termos profissionais e pessoais?

Invista em seu desenvolvimento profissional e pessoal. E se prepare para, no futuro, você ser também um Mentor.

Na FIA temos um curso de Especialização em Consultoria de Carreiras, credenciado pelo MEC, que discute este e outros temas sobre Carreiras.

Se este conteúdo foi útil para você, aproveite para compartilhar as nossas dicas e deixar suas sugestões e/ou dúvidas escrevendo um comentário a seguir.

Para mais conteúdos interessantes como esse, acesse o blog da FIA.

Tania Casado

Professora Titular da FEA/USP. Diretora do ECar - Escritório de Desenvolvimento de Carreiras da USP. Psicóloga, concluiu o Mestrado em Administração pela FEA/USP em 1993, o Doutorado em Administração também pela FEA/USP em 1998 e a Livre-Docência pela FEA/USP em 2019. Coordenadora do PROCAR/FEA (Programa de Vida e Carreira da FEA/USP); Division Chair da Divisão de Carreiras do Grupo Mundial Academy of Management - AOM; Past Division Chair da Divisão de Carreiras CarDIv AOM; Program Chair da Divisão de Carreiras CarDIv AOM Representative at Large da Divisão de Carreiras CarDIv AOM; Membro do Comitê Internacional da Divisão GDO (Gender and Diversity - Academy of Management); Membro do grupo Iberoamerican Academy of Management; Membro do grupo EGOS (European Group for Organization Studies). Coordenadora do Global Leadership & Organizational Behavior Effectiveness (GLOBE Project); Membro do grupo NACRA (North American Case Research Association); Membro e coordenadora no Brasil do grupo UFIRC (University Fellows International Research Consortium); Membro fundador do grupo internacional (Teaching Careers Community - AOM); Coordenadora para o Brasil do grupo 5C (Cross Cultural Collaboration on Contemporary Careers); Fundadora e Vice-Presidente da organização PWN-Global (Professional Women's Network); Membro do Conselho do Departamento de Administração da FEA; Membro da Egrégia Congregação da FEA/USP; Coordenadora das Comissões de Ética e de Pesquisa da FEA. Publicou 27 artigos em periódicos especializados e 76 trabalhos em anais de eventos. Possui 11 capítulos de livros publicados. Orientou 17 dissertações de mestrado, 14 teses de doutorado, além de ter orientado 3 trabalhos de iniciação científica, 64 trabalhos de conclusão de curso de Graduação e 59 trabalhos de conclusão de curso nas áreas de Psicologia e Administração. Atualmente, conta com 4 orientações de Doutorado em andamento, 3 de Mestrado e 3 de Trabalho de Conclusão de Curso, além de um projeto de Iniciação Científica. Recebeu 38 prêmios e/ou homenagens, tanto no Brasil como no exterior. Atua na área de Administração, com ênfase em Gestão de Carreira. Em suas atividades profissionais interagiu com 98 colaboradores em coautorias de trabalhos científicos. Autora do instrumento DTP (Diagnóstico de Tipo Psicológico). Em seu currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: Carreiras, Comportamento Organizacional, Tipos Psicológicos, Motivação, Psicologia.

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