Crise energética no Brasil: causas e consequências

Crise energética é o termo usado para se referir a um processo de declínio constante do fornecimento de energia no mundo.

A crise energética mundial é uma realidade e precisa ser enfrentada não só pelas empresas, como pela sociedade civil organizada.

Segundo o World Energy Outlook 2020, até 2030 a demanda por energia em todo o mundo deverá aumentar em 9%.

A maior parte desse aumento virá de mercados emergentes, entre os quais o Brasil.

Esse aumento na demanda, porém, não deverá ser acompanhado da ampliação ao acesso à energia, já que o relatório mostra, por exemplo, que a quantidade de pessoas não atendidas por eletricidade na África deve aumentar.

Entender melhor a crise energética é um bom começo para mudar esse quadro.

Podemos escolher ser parte da solução ou do problema.

Avance na leitura dos tópicos abaixo para conhecer o panorama da crise energética e saber como agir e fazer a sua parte para ajudar.

  • O que é uma crise energética?
  • Quais os motivos da crise energética?
  • Quais as consequências da crise energética?
  • Quais as principais crises energéticas ocorridas no Brasil?
  • Quais as medidas para conter a crise energética no Brasil?
  • Qual o panorama da crise energética no mundo?

O que é uma crise energética?

Uma crise energética se configura quando há escassez ou interrupção significativa no suprimento de energia necessário para atender às demandas da sociedade.

Isso pode ser causado por diversos fatores, como redução nas fontes de energia disponíveis, aumento repentino da demanda, falhas no fornecimento ou problemas ambientais.

A crise energética geralmente resulta em altos custos, racionamento, apagões e impactos negativos na economia e no bem-estar das pessoas, reforçando a importância de medidas de conservação e diversificação das fontes de energia.

Quais os motivos da crise energética?

Para entender melhor a crise energética no brasil é preciso considerar diversos fatores

A crise energética no mundo não surgiu do nada.

A principal razão para isso é o processo de transição energética em curso, no qual a humanidade vai gradativamente abandonando as fontes de energia não renováveis para outras, mais limpas e sustentáveis.

No meio desse processo, o negligenciamento de uma série de medidas que deveriam já ter sido adotadas, em especial na parte de infraestrutura, acabou por gerar problemas de abastecimento.

Enquanto os países mais ricos discutem como abandonar o carvão, a Europa vai pagando a conta por ficar sem opções, assim como a África do Sul e até a desenvolvida Alemanha.

Para dimensionar com mais precisão as razões para a atual crise energética, é preciso considerar diversos fatores conjugados.

Os principais deles vamos conhecer a seguir.

Político

A atual crise energética sofre a influência de diversos fatores políticos.

Decisões governamentais, como a ausência de investimentos em infraestrutura energética, a falta de diversificação das fontes de energia e a má gestão dos recursos naturais, além de problemas no combate à pandemia de Covid-19, contribuíram para a situação atual.

Políticas inadequadas de incentivo à produção de energia limpa e à eficiência energética também desempenham um papel importante.

Além disso, disputas políticas como a Guerra da Ucrânia e instabilidades podem afetar a segurança do fornecimento de energia e a capacidade de implementar soluções efetivas.

Econômico

A ausência de investimentos adequados em infraestrutura energética, a falta de diversificação das fontes de energia e os altos custos associados à transição para energias renováveis também contribuíram para a situação atual.

Somado a isso, temos o aumento da demanda por energia devido ao crescimento econômico e industrial e a falta de políticas efetivas de conservação e eficiência energética.

A instabilidade econômica e financeira é outro fator que pode afetar a capacidade dos governos de lidar com a crise e implementar soluções efetivas.

Climático

Eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, ondas de calor e tempestades afetam a produção de energia hidrelétrica.

No Brasil, a seca é um problema particularmente grave, já que a maior parte da energia elétrica que abastece o país vem das hidrelétricas.

Nesse cenário, diminui a disponibilidade de água para usinas, não só hidrelétricas, como nucleares e termelétricas.

Há também o aumento da temperatura global e as mudanças nos padrões climáticos, que reduzem a eficiência de certas fontes de energia, como energia solar e eólica.

Queimadas e desmatamento

Por fim, temos as queimadas e o desmatamento a desempenhar um papel na atual crise energética devido a seus efeitos negativos no meio ambiente.

Incêndios florestais e queimadas agrícolas liberam grandes quantidades de gases de efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global e as mudanças climáticas, alterando o regime de chuvas.

Isso afeta a disponibilidade de recursos hídricos necessários para a geração de energia hidrelétrica, aumentando os riscos de secas e ondas de calor.

Isso sem contar que a poluição do ar resultante das queimadas prejudica a eficiência de usinas termelétricas.

Quais as consequências da crise energética?

Uma crise energética possui consequências tanto a curto quanto a longo prazo

Todos sofrem os efeitos da atual crise energética, sem exceção.

No Brasil, a escassez de energia leva a racionamentos, aumentos nos preços da eletricidade e impactos na produção industrial.

Isso afeta diretamente a economia, prejudicando a geração de empregos e o crescimento econômico.

Globalmente, a crise energética gera volatilidade nos preços dos combustíveis, afeta a competitividade das indústrias e coloca em evidência a necessidade de um maior investimento em fontes de energia limpa e sustentável.

Confira então quais os desdobramentos disso no curto, médio e longo prazo.

Aumento do custo da energia elétrica para os consumidores

As notícias dão conta de aumentos bem acima dos padrões no Brasil, com alguns estados já sendo impactados por reajustes maiores que a inflação, como foi o caso do Rio de Janeiro.

No início de 2022, a Espanha enfrentou uma crise de fornecimento de gás natural e preços exorbitantes, o que levou a um aumento significativo nas contas de eletricidade para os consumidores.

Já na Índia, a crise energética resultou em um aumento substancial nas tarifas de eletricidade em 2021, à medida que o país enfrentava uma combinação de baixos níveis de água em represas e alta demanda devido às altas temperaturas.

Perigo de racionamento e apagões

Em 2021, o então vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, declarou à imprensa que era possível haver algum racionamento energético por conta da crise, mas os temores acabaram não se confirmando.

No mesmo ano, várias províncias chinesas enfrentaram cortes programados de energia devido a uma combinação de aumento na demanda, escassez de carvão e restrições nas emissões de carbono.

Esses cortes resultaram em apagões programados em determinadas áreas, com empresas e residências sendo afetadas.

Em 2001, os brasileiros já vinham sofrendo as consequências da crise energética, em uma série de cortes programados de abastecimento por parte do governo, no episódio que ficou conhecido como “o apagão de 2001”, sobre o qual vamos falar mais neste texto.

Diminuição da produtividade e da atividade industrial

Como era de se esperar, a crise energética no mundo também afeta a indústria, reduzindo sua capacidade produtiva.

Um exemplo é a crise ocorrida na África do Sul (texto em inglês), em 2021, quando o país enfrentou uma grave escassez de energia que levou a apagões e cortes de energia frequentes, com interrupções na produção industrial e queda na produtividade.

Outro caso ocorreu na Índia em 2019, quando a escassez de energia afetou setores como manufatura, têxtil e automotivo (texto em inglês), atrasando a produção industrial como um todo.

Perda do poder de compra da população: aumento da inflação

O exemplo da crise energética na Europa evidencia os impactos econômicos gerados pela falta de abastecimento.

Afinal, a escassez de energia resulta em aumentos nos custos de produção, pois as empresas acabam pagando preços mais altos para obter e utilizar energia.

Esse aumento nos custos é repassado aos consumidores na forma de preços mais altos cobrados em bens e serviços.

A crise energética também afeta os custos de transporte e logística, o que contribui ainda mais para o aumento dos preços.

Dessa forma, a escassez de energia desencadeia um ciclo inflacionário, que resulta em pressões na economia em geral.

Deterioração da imagem do país

Para os países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, a crise energética cobra um preço ainda mais alto, que é sobre a imagem do país.

Com a reputação arranhada em função da incapacidade de lidar com a crise, os investimentos estrangeiros vão minguando gradativamente.

Esse quadro é agravado pela falta de confiança no fornecimento de energia, que afeta a percepção dos investidores sobre o ambiente de negócios no país.

Há também os altos custos e a incerteza em relação ao fornecimento de energia, impactando negativamente a competitividade das indústrias brasileiras.

Quais as principais crises energéticas ocorridas no Brasil?

Existem algumas possíveis soluções para a crise energética brasileira

Os problemas de energia no Brasil são históricos.

Desde 2001, o país tem enfrentado diversas crises energéticas que geraram impactos econômicos e sociais.

Naquele ano, como vimos, houve um racionamento de energia devido à escassez de chuvas e baixo nível dos reservatórios.

Em 2015, o país enfrentou outra crise, também devido à falta de chuvas, resultando em aumentos nos custos de energia e preocupações com o fornecimento.

Já em 2021, uma nova crise energética aconteceu, novamente devido à falta de chuvas, impactando a geração hidrelétrica e levando a aumentos nos preços da energia elétrica.

Vamos ver na sequência com mais detalhes as causas e consequências desses episódios críticos.

Apagão de 2001

Esse é um dos mais famosos problemas de energia no Brasil já registrados.

O apagão de 2001 foi causado principalmente pela falta de chuvas, que reduziu drasticamente os níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas, responsáveis pela maior parte da geração de energia no país.

As consequências disso foram o racionamento de energia, com cortes programados em diversas regiões, afetando a rotina das pessoas e a operação das empresas.

A crise energética resultou em prejuízos econômicos, queda na produção industrial, desemprego e impactos negativos na imagem do país perante investidores e consumidores.

Crise energética de 2015

Catorze anos depois, o apagão de 2001 teve uma espécie de segunda edição, com a crise energética de 2015.

Embora tenha sido ocasionada por uma combinação de fatores, o principal foi a falta de chuvas, que baixou o nível dos reservatórios.

Somado a isso, tivemos a falta de investimentos na expansão da capacidade energética, que não acompanhou o aumento na demanda.

Assim, os brasileiros sofreram com o aumento dos custos da energia elétrica, novos riscos de apagões, redução da produção industrial e inflação.

Crise energética no estado do Amapá em 2020

Via de regra, as crises energéticas são causadas pela própria negligência dos governos, autoridades e profissionais que operam no setor energético.

Um exemplo disso foi a crise energética no estado do Amapá em 2020, causada por um incêndio em uma subestação de energia, que levou a um apagão generalizado que deixou 800 mil pessoas sem eletricidade por 22 dias.

A falta de fornecimento de energia prejudicou seriamente a economia local e até a prestação de serviços essenciais.

Foram registradas perdas financeiras significativas e problemas no fornecimento de energia na região, e os efeitos duraram muito tempo.

A crise hídrica de 2021

Um dos mais recentes problemas de energia no Brasil foi provocado pela crise hídrica.

Nesse caso, houve uma combinação de fatores já conhecidos: a falta de chuvas e o aquecimento global.

Assim, os níveis baixos de água nos reservatórios afetaram a geração de energia hidrelétrica e o abastecimento de água potável em várias regiões.

Como consequências diretas, tivemos o aumento nos custos de energia, racionamentos de água e impactos na agricultura.

No estado de São Paulo, medidas emergenciais foram tomadas para garantir o abastecimento de água.

Houve ainda um quadro de agravamento na escassez hídrica no Pantanal, prejudicando a fauna e flora local.

Quais as medidas para conter a crise energética no Brasil?

Vamos falar agora sobre soluções para a crise energética brasileira.

Elas existem, mas não são um caminho fácil.

Tendo em conta os diversos fatores somados, a crise energética no Brasil vai demandar um amplo esforço conjunto para ser erradicada.

Aliás, as soluções para a crise energética exigem invariavelmente um conjunto de ações contínuas, não só por parte dos governos, mas  da população em geral.

Embora as medidas contingenciais sejam necessárias, é necessário um esforço de longo prazo para atenuar os efeitos da redução na capacidade de abastecimento, como veremos na sequência.

Ampla comunicação e campanhas de conscientização

Não há como falar em soluções para a crise energética brasileira sem a participação de todos.

Por isso, as campanhas de conscientização desempenham um papel fundamental na luta contra a crise energética.

Ao educar as pessoas sobre o uso responsável e eficiente da energia, são incentivadas práticas como desligar aparelhos eletrônicos quando não estão em uso, utilizar lâmpadas de baixo consumo e evitar o desperdício.

Também ajudam a estimular a adoção de fontes de energia renováveis, como a solar, e alertam para a importância da conservação dos recursos naturais, o que nos leva ao próximo tópico.

Diversificação da matriz energética e uso de fontes de energia alternativas renováveis

As soluções para a crise energética brasileira dependem sobretudo da rapidez e eficácia na transição da matriz não renovável para as fontes renováveis.

A diversificação de fontes energéticas desempenha um papel central no combate à crise.

Utilizar fontes como energia solar, eólica, biomassa e nuclear ajuda a reduzir a dependência, aumentando a resiliência do sistema energético.

Além disso, a diversificação permite aproveitar recursos locais e reduzir as emissões de gases de efeito estufa, aumentando a sustentabilidade e a segurança do abastecimento.

Adoção de cortes programados de energia

Os cortes programados de energia são uma medida contingencial durante uma crise energética para evitar o colapso do sistema.

Esses cortes são realizados de forma controlada e planejada, de modo que a energia seja aproveitada por mais tempo.

Reduzindo temporariamente a demanda por energia, os cortes programados ajudam a preservar o suprimento disponível.

Isso ajuda a minimizar os impactos da crise e garantir um fornecimento mais estável e sustentável, embora não seja uma solução permanente.

Acionamento das usinas termelétricas

Em alguns casos, o acionamento de termelétricas é uma medida contingencial para enfrentar a crise energética, especialmente quando há escassez de chuvas e baixos níveis de reservatórios.

Um exemplo disso ocorreu em 2014, durante a crise energética no Brasil, quando o acionamento das termelétricas ajudou a suprir a demanda de energia, evitando apagões e garantindo o abastecimento elétrico em todo o país.

Qual o panorama da crise energética no mundo?

A crise energética mundial

A crise energética mundial afeta todos os continentes, mas para os países em desenvolvimento, ela é particularmente mais dramática.

Veja a seguir como diferentes regiões estão lidando com a crise e seus efeitos sobre a população.

América do Norte

Quando falamos em crise energética mundial, este é um caso emblemático.

No que ficou conhecido como o blecaute ocorrido em Nova York em 2019, milhões de pessoas acabaram sem eletricidade por dias.

Ou seja, se até uma das cidades mais ricas do mundo está sujeita aos efeitos da crise, é sinal de que ninguém está a salvo.

Europa Ocidental

Não bastassem os problemas ambientais e climáticos, a crise energética na Europa é agravada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, que levou ao corte no abastecimento de gás natural no Velho Continente.

Até que se encontre uma solução, os países europeus vão tendo que lidar com o aumento da inflação causado pela carestia generalizada em função do desabastecimento.

América do Sul

A crise energética no Brasil é novidade, já que desde 2001, os apagões e racionamentos acontecem.

É um quadro que leva também à aceleração do processo inflacionário, em razão dos aumentos constantes nas tarifas.

Outro país gravemente afetado é a Venezuela, onde a hiperinflação e a falta de infraestrutura levaram ao colapso do sistema de fornecimento de energia.

Conclusão

Enquanto não chegamos a uma solução para a crise energética, precisamos fazer cada um a nossa parte, poupando energia e evitando o desperdício.

Ajude a levar a mensagem, compartilhando este texto com amigos e familiares.

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