O ativismo nas redes sociais pode até parecer algo novo, mas já vem marcando presença desde o início do século 21.
Diante da possibilidade de se manifestar a partir de alguns cliques, cidadãos, movimentos sociais, grupos diversos e até partidos políticos vêm usando esse tipo de plataforma na internet como ferramentas para disseminar diferentes tipos de informação.
A finalidade dessas ações também é bastante diversa, podendo atender tanto a interesses democráticos, como o direito à informação e liberdade de expressão, quanto à propagação de fake news e manipulação da opinião pública.
Neste conteúdo, vamos trazer definições, histórico, impactos e exemplos desse tipo de ciberativismo no Brasil e no mundo.
Se o tema interessa, acompanhe os tópicos abaixo:
Siga em frente e boa leitura!
Ativismo nas redes sociais é um conceito que faz referência a atividades que utilizam páginas do Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e outros locais para promover o apoio a uma causa específica.
Nesta reportagem do site El País, o consultor Oscar Howell-Fernández, autor da obra “La mano emergente” (“A mão emergente”, em tradução livre), define o ativismo nas redes sociais como:
“Uma representação mais ou menos exata de nossas preferências e de nossa atividade social que se desenvolve de maneira constante e diária online, diante de instituições públicas ou privadas, governamentais ou comerciais.”
Igualdade de gênero, diversidade nas empresas, combate ao trabalho escravo, ao abuso infantil e à crueldade contra animais são exemplos de causas amplamente difundidas com o auxílio das redes sociais, caracterizando o ativismo nesses locais.
Há postagens, vídeos, “textões”, stories, frases, links, áudios e outros tipos de conteúdo publicados nesses espaços.
Todos têm a capacidade de dar voz a cidadãos comuns, alcançando milhares ou mesmo milhões de pessoas, dependendo de fatores como a popularidade do tema e os algoritmos das redes.
O apoio a essas publicações é expresso através de curtidas, compartilhamentos, repostagens e comentários, aumentando a possibilidade de que apareçam para cada vez mais usuários.
Em um mundo profundamente influenciado pelo ambiente digital, o ativismo realizado com o intermédio das redes sociais tem potencial para impactar pessoas, grupos, organizações, órgãos governamentais e internacionais, transformando-se em arma para reivindicar demandas.
De olho nessas oportunidades, mesmo os ativistas tradicionais, que começaram usando somente espaços offline, vêm aderindo ao ciberativismo para impulsionar suas ações, atingir um público maior, apresentar sua visão sobre acontecimentos e ganhar visibilidade.
O ativismo nas redes sociais é parte do ciberativismo, que contempla ações online realizadas para difundir ideias e causas, obter suporte e organizar atos presenciais, como as manifestações.
Em sua raiz, o ciberativismo é feito, essencialmente, por grupos estruturados politicamente, a exemplo de organizações da sociedade civil, que utilizam a estratégia digital como extensão de movimentos que já existem no mundo offline.
Nesse contexto, a vertente restrita às redes sociais é menos organizada, mais fragmentada e pode nascer de causas difusas.
A ascensão do ciberativismo, no final do século 20, modificou o modo como a sociedade se manifesta e reúne apoiadores a uma ideia ou propósito.
Se, antes, a disseminação de informações dependia do suporte de meios de comunicação e mídia de massa (mass media), após o fenômeno da popularização da internet, sua propagação pode ser feita a partir de qualquer dispositivo conectado à rede.
Essa dinâmica quebrou a lógica de transmissão, realizada de poucos para muitos, abrindo espaço para processos de compartilhamento de todos para todos.
Dessa forma, mesmo pequenos grupos ou indivíduos podem ganhar voz no cenário internacional, fazendo denúncias e colocando assuntos pouco conhecidos na pauta do dia.
Foi o que aconteceu durante a Primavera Árabe, movimento que teve início em 2010 e desencadeou a deposição e renúncia de diversos ditadores após a divulgação de práticas opressoras e más condições de vida da população.
Twitter, Facebook e Youtube foram empregados para mostrar ao mundo informações censuradas por governos autoritários e a mídia oficial de nações como Tunísia, Irã e Egito.
Há alguns anos, era comum ouvir referências ao ativismo nas redes sociais como um “ativismo de sofá” – aquele que exige poucas interações e raramente tem desdobramentos no mundo real.
Contudo, essa percepção vem se alterando à medida que as redes sociais ganham espaço no dia a dia dos indivíduos, fazendo com que causas pequenas tomem proporções consideráveis, conquistando o apoio de famosos e lideranças relevantes.
Esse potencial se traduz em resultados de pesquisas como a conduzida pela F/Nazca Saatchi & Saatchi, em parceria com o Instituto Datafolha, comentada nesta reportagem.
Os dados, divulgados em 2017, mostram que 60% dos brasileiros acreditam que as redes sociais contribuem para a mudança de opinião a respeito de algum problema social, e 9,5 milhões já participaram de movimentos sociais ou políticos através das redes.
Esses números tendem a ser maiores em 2021, visto que a quantidade de usuários brasileiros de redes como o Instagram aumentou.
Na época do estudo, eram 45 milhões. Dois anos mais tarde, o número subiu para 69 milhões, conforme o relatório Digital in 2019, lançado pelas empresas We Are Social e Hootsuite.
Segundo a versão mais atual do estudo, de 2020, em território nacional, 140 milhões de pessoas têm contas ativas em redes sociais, o que corresponde a 66% da população em geral.
O documento também aponta um crescimento de 10 milhões na quantidade de indivíduos com acesso à internet, somente entre 2018 e 2019.
Olhando de forma ampla, 49% da população mundial utiliza ativamente as redes sociais, ou seja, elas alcançam 3,8 bilhões de usuários.
Facebook, Youtube e WhatsApp ocupam o topo do ranking de redes sociais mais usadas no planeta. No Brasil, WhatsApp, Facebook e Instagram ocupam as primeiras posições.
O ativismo nas redes sociais pode surgir por motivos bastante diversos.
Enquanto grupos organizados costumam se voltar para grandes causas – como o combate ao aquecimento global ou à fome no mundo -, indivíduos podem usar as redes para se manifestar a respeito de pequenos fatos que causem indignação.
Um exemplo comum são problemas no asfalto ou na iluminação das cidades.
Ou seja, o propósito por trás das manifestações online pode atender a demandas locais ou globais, dependendo da intenção do ativista.
Mas, como estratégia de propagação de ideais, essas publicações costumam ter os seguintes objetivos em comum:
Considerando a natureza fragmentada das redes sociais, faz sentido que qualquer ação iniciada através dessas ferramentas tenha essa mesma característica.
Em outras palavras, não existe um caminho ou padrão válido para os movimentos ou a prática de ativismo nesses canais de comunicação social.
O que há são publicações que, por despertarem a atenção e serem consideradas relevantes, alcançam uma quantidade expressiva de usuários, impulsionando movimentos em prol de uma causa.
Para tanto, é preciso conquistar, em primeiro lugar, o apoio dos próprios amigos ou seguidores, a fim de que uma ou mais postagens sejam consideradas relevantes pelos algoritmos das redes sociais.
Essa é a premissa para que os posts apareçam para desconhecidos, amigos de amigos ou seguidores dos amigos, provocando um efeito de multiplicação nas interações.
Assim, o alcance é potencializado, fazendo o tema atingir até indivíduos de outras cidades, países, podendo chegar a pessoas influentes.
Lembrando que os apoiadores também estão praticando ativismo nas redes sociais, principalmente se prosseguirem dando suporte a uma causa para que ela continue em pauta.
Existem, ainda, influenciadores digitais que levantam uma bandeira ou dão rosto a uma campanha e acabam se tornando referência naquele assunto, espalhando informação de maneira contínua.
É o caso de Luisa Mell, que ficou conhecida pela defesa dos direitos dos animais e de pautas ambientais após combinar a apresentação de programas televisivos ao ciberativismo.
Com ações simples, o ativismo nas redes facilita e amplia a visibilidade e o apoio a diversas causas.
Enquanto as pautas gerais contribuem para melhorar a qualidade de vida de grandes grupos, comunidades, da humanidade e espécies da flora e fauna, as pautas locais fazem a diferença na vida de cidadãos.
Ao fazer chegar suas demandas até autoridades locais, vizinhos podem, por exemplo, acelerar o conserto de um buraco em uma rua de seu bairro, evitando acidentes com motoristas e pedestres desavisados.
Já a luta de organizações como o Greenpeace contra o efeito estufa mobiliza empresas e nações a diminuir a emissão de gases poluentes, reduzindo os efeitos adversos do aquecimento global.
Esse poder dado a qualquer pessoa com um smartphone e conexão à internet favorece valores democráticos como a liberdade de expressão e a construção de políticas públicas a partir da pluralidade de vozes e ideias.
Assim, a cidadania pode ser exercida diariamente, através da publicação, suporte e boas práticas em áreas como educação, saúde e cultura.
O ativismo nas redes sociais também facilita o acesso a diferentes pontos de vista, apresentando pautas distintas das selecionadas pela grande mídia.
Os impactos causados pelo ativismo nas redes sociais são tão variados quanto a dimensão que os movimentos tomam e as áreas em que se desenvolvem.
O compartilhamento de causas de cunho pessoal tende a sensibilizar outras pessoas, mas também pode romper com as bolhas delimitadas por algoritmos e provocar mudanças significativas.
Se você não reconhece o significado do termo bolhas, vamos a uma explicação rápida: elas são formadas a partir de interesses que demonstramos em nossas interações, curtidas, comentários e compartilhamentos.
Então, se você clica em um link que aborda formas para emagrecer, por exemplo, logo começa a ver mais perfis e postagens falando sobre esse mesmo tema, selecionados pelos algoritmos.
Embora isso seja interessante para mostrar aquilo de que os usuários gostam, acaba limitando sua visão e levando à falsa impressão de que todos concordam com suas opiniões.
Para romper com esse padrão, é preciso buscar por fontes e perfis diferentes, além de ouvir opiniões divergentes sobre um assunto.
Uma causa legítima é capaz de levar novas mensagens mais longe, superando bolhas sociais para conquistar o apoio de grupos distintos.
Foi o que aconteceu em 2014, quando o enfermeiro Valdir Francisco Vaz decidiu lutar pela aprovação de um medicamento à base de canabidiol (substância derivada da maconha) que era proibido no Brasil.
O remédio proporcionava o melhor tratamento para seu filho de 9 anos, Lorenzo Vaz, que sofria com crises de epilepsia.
Após a abertura de uma petição e uma campanha intensa nas redes sociais, o enfermeiro enviou um documento com 77 mil assinaturas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que permitiu a importação do remédio pela família.
O ativista de redes sociais que levanta uma ou mais bandeiras de forma contínua costuma ser um heavy user dessas plataformas e da internet, com perfil curioso e que aprende rápido sobre novas maneiras de espalhar sua mensagem.
Também não é raro que sua causa o mobilize fora do ambiente online, fazendo com que ele participe de manifestações, eventos, petições e reuniões para unir forças com outras pessoas engajadas em seu propósito.
Segundo dados divulgados em 2015 pelo instituto de pesquisa Data Popular, outros traços comuns aos ciberativistas são:
Entre as principais ações dessas pessoas, estão petições abertas em sites como Change.org e Avaaz, que são amplamente divulgadas em redes sociais.
Existem formatos variados para praticar o ativismo dentro das redes sociais.
Veja quais são os mais comuns:
Normalmente, essas ações utilizam ferramentas presentes nas próprias plataformas, que permitem a troca de informações, conscientização, arrecadação de doações ou compartilhamento de links de interesse.
Portanto, o ativismo nas redes sociais costuma ser enquadrado entre as atividades de organização e mobilização do ciberativismo, que tem outras duas vertentes: conscientização e prática política; e ação e reação.
As três classificações foram pensadas por Sandor Vegh, em seu livro “Classifying forms of online activism: the case of cyberprotests against the World Bank” (em tradução livre: “Classificações das formas de ativismo online: o caso dos ciberprotestos contra o Banco Mundial”), de 2003.
Após a grande repercussão do movimento Primavera Árabe, outros ativismos nas redes sociais ganharam os holofotes.
Fora das plataformas mais populares, o jornalista Julian Assange criou o WikiLeaks para divulgar documentos e mídias que eram mantidos em segredo por mostrarem atitudes abusivas de entidades como o Exército dos Estados Unidos.
Entre as conversas vazadas em 2010, havia também mensagens comprometedoras de diplomatas.
Na época, os registros provocaram investigações e até a prisão do soldado Bradley Manning.
Em 2013, moradores de capitais brasileiras como São Paulo presenciaram a força dessas ações, enquanto participavam ou acompanhavam os protestos organizados pelo Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento nas tarifas do transporte público e outras medidas do governo.
Mais tarde, uma experiência negativa chamou a atenção para a prática de assédio sexual no transporte de diversas cidades brasileiras.
Em 29 de julho de 2017, uma passageira entrou em choque após outro passageiro do ônibus em que estava – o ajudante geral Diego Novais – ejacular em seu pescoço.
O ato logo foi denunciado nas redes sociais, desencadeando revolta contra abusos no transporte e o compartilhamento de outros casos através da hashtag #meucorponãoépúblico.
Em território nacional, outra iniciativa que parecia pequena conseguiu evitar que a Escola Municipal Friedenreich, no Rio de Janeiro, fosse demolida para a construção de um estacionamento ao lado do estádio do Maracanã, por ocasião da Copa do Mundo de 2014.
Foram diversas mensagens, compartilhamentos, comentários e conscientização, incluindo telefonemas para autoridades e transmissões ao vivo das atividades realizadas na escola, até que um abaixo-assinado chegasse aos governantes.
Como resultado, o colégio foi não apenas poupado, mas tombado como patrimônio público.
Falamos, neste artigo, sobre cases, importância e impactos do ativismo nas redes sociais.
Parte do ciberativismo, essa prática deve continuar aumentando por todo o mundo, em especial nos países que concentram usuários do Instagram, WhatsApp, Facebook, Youtube, entre outras plataformas populares.
Ao simplificar o apoio a causas relevantes, o ativismo digital facilita a adesão de grupos distintos, trazendo à luz temas pouco explorados pela mídia e reforçando as atividades presenciais, como protestos.
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