Muito diferente de dar aula para crianças, a educação na fase adulta é chamada de Andragogia e tem suas particularidades.
Prima próxima da Pedagogia, essa metodologia de ensino ganha cada vez mais espaço – o que se justifica pela adequação ao cenário atual.
Vivemos em um mundo que parece estar em constante transformação, com mudanças aceleradas.
Como não poderia deixar de ser, isso se reflete no mercado de trabalho.
Nesse contexto, é essencial que os profissionais estejam dispostos a continuar aprendendo e se atualizando, não só para assegurar suas posições como também para garantir a vantagem competitiva das empresas.
Por isso, é cada vez mais importante discutir modelos de educação que contemplem materiais e ferramentas capazes de dialogar com a realidade de pessoas que já avançaram em suas carreiras.
Reunimos neste artigo informações essenciais sobre a Andragogia, sua definição, objetivos, princípio e diferenças quando comparada a outras metodologias.
Veja os tópicos que vão guiar a sua leitura
Se o tema interessa, acompanhe até o final.
Andragogia diz respeito à educação para adultos e seu uso é amplo, extrapolando, muitas vezes, o ambiente da sala de aula.
Essa vertente de ciência da educação pode ser aplicada tanto no meio acadêmico, na educação formal, quanto no contexto social e político (palestras, discursos, debates) ou empresarial (treinamentos, palestras, reuniões).
Conhecida desde a década de 1970, a Andragogia defende um ensino baseado na motivação e no autoconhecimento como combustível.
Por se tratar de uma abordagem realizada em fase avançada da vida, já foi referida como “educação continuada” ou “aprendizagem ao longo da vida” por organizações como a UNESCO.
Para a Andragogia, a experiência do aluno é fundamental para seu desenvolvimento, já que parte do princípio de trabalhar os conteúdos por meio de situações comuns do dia a dia.
A intenção é proporcionar um aprendizado mais consciente e disseminado de maneira mais madura.
E esse é um ponto-chave da metodologia, que busca compreender o adulto: trabalhar os conteúdos com maturidade.
Não podemos ser ingênuos de achar que o indivíduo que busca educação na vida adulta é inexperiente.
Na verdade, ele provavelmente já aprendeu muita coisa, ainda que esteja acostumado com outro método de ensino.
O aluno adulto busca na educação continuada a sua realização pessoal e profissional, e aprende muito melhor quando o assunto tem valor de uso imediato.
Portanto, é tarefa do educador e das instituições de ensino apresentar soluções para problemas reais e que farão diferença na sua vida cotidiana.
Como todas as outras vertentes da ciência da educação, a Andragogia tem como objetivo a transmissão de conhecimento do professor para um ou mais alunos.
A particularidade de ser uma metodologia dedicada especificamente ao ensino de adultos faz com que alguns caminhos diferentes sejam traçados para alcançar o objetivo final.
O ponto de partida deve ser a compreensão, já que dar aula para adultos coloca o docente em contato com realidades e necessidades muito diferentes.
Essa compreensão exige que a Andragogia considere os aspectos psicológicos, biológicos e sociais de cada aluno.
O tempo é um fator decisivo nesse sentido, já que são pessoas que provavelmente já trabalham, muitas vezes precisam atender sua família, e tudo isso torna o tempo disponível mais escasso.
Não só mais escasso, como também a qualidade do tempo é outra.
Isso fica claro ao compararmos a criança – que tem como única obrigação com os estudos – com o adulto que, muitas vezes, precisa fazer jornadas duplas ou triplas para dar conta de todas suas obrigações.
Existe todo um contexto por trás do aluno adulto, que deve ser levado em consideração na Andragogia para o docente cumprir com seu objetivo final de educar.
Apesar de a educação de adultos existir há mais de dois mil anos, o termo Andragogia é mais recente, tendo sido cunhado pelo professor alemão Alexander Kapp.
A palavra tem origem no grego, onde “andros” significa homem e “gogos” quer dizer educar.
Kapp emprega o termo pela primeira vez em 1833, no seu livro “Teorias Educacionais de Platão”.
Na obra, ele dedica cada capítulo para o ensino em uma fase diferente da vida, abordando desde a educação antes do nascimento (Propedêutica), a educação infantil (Pedagogia) até chegar na Andragogia, justificando que este seria o termo mais apropriado para definir esse conceito.
O termo dado pelo alemão acabou sendo bem aceito e reproduzido em diversos idiomas: do alemão (Andragogik), ao francês (Andragogie), ao inglês (Andragogy), o espanhol (Andragogía), entre outros.
É importante dizer que a educação para mulheres ainda era escassa no século XIX e, talvez por isso, o autor tenha usado um termo que diz respeito ao homem adulto, em tradução literal.
Depois de Kapp, o grande nome da Andragogia é Malcolm Shepherd Knowles.
Tanto é assim que o educador norte-americano é considerado como o pai da Andragogia no mundo.
Sua contribuição inicia na década de 1970, tendo ele sido o principal responsável pela popularização do conceito.
No livro The modern practice of adult education, Knowles apresentou o primeiro modelo andragógico, que consistia em cinco pilares:
Partindo do pressuposto de que é preciso ter compreensão com os alunos, a Andragogia se divide em alguns princípios básicos que vão guiar a atuação do professor dentro da sala de aula.
Começamos pela necessidade de entender qual é a finalidade do estudante, quais são os motivos que o levaram a procurar a educação nessa fase da vida.
Conforme comentamos, o indivíduo que retorna aos estudos enquanto adulto está em busca de uma realização, seja ela profissional ou pessoal.
É preciso, então, que o docente entenda exatamente quais são os porquês que motivaram esse retorno para que, a partir disso, possa estruturar seu plano de aula de acordo com a demanda.
Em geral, adultos têm maior facilidade de aprender pela experiência – e este é um ponto importante que pode e deve ser explorado pelo educador.
Nesse sentido, pode ser muito vantajoso proporcionar exemplos e experiências práticas que consigam traçar um paralelo entre o conteúdo ensinado e a sua aplicação no dia a dia.
Isso nos leva ao próximo princípio, que aponta para o fato de que a percepção dos adultos sobre o aprendizado é que ele deve servir como resolução de problemas.
É interessante aproveitar essa percepção, fazendo com que ela se prove na maneira como cada assunto é apresentado, mostrando que a educação recebida será útil para ele dali para frente.
E o conteúdo ensinado precisa demonstrar ter uma aplicação imediata, o que transforma a educação em uma necessidade individual, e não algo mandatório e burocrático para conquistar uma determinada vaga de emprego, por exemplo.
Por fim, é preciso ter em mente que pessoas adultas trazem uma bagagem própria de conhecimento.
Essa bagagem não só pode como deve ser aproveitada dentro das aulas, já que tende a contribuir bastante com o processo educacional.
Apesar de serem três abordagens para chegar a um objetivo comum, que é a construção do conhecimento, existem algumas diferenças fundamentais que podemos observar entre Andragogia, Pedagogia e Heutagogia.
Talvez a mais famosa das três, a Pedagogia está intrinsecamente associada à figura do professor.
Por ser o instrumento de condução do processo ensino-aprendizagem, é ele quem vai selecionar o conteúdo a ser aprendido e a metodologia a ser aplicada.
É importante dizer que, apesar do peso do papel do professor, a Pedagogia não deve ser autoritária.
Por mais que o educador tenha um papel essencial na condução do ensino, ele não deve impor como o conteúdo vai ser desenvolvido, pois é o estudante quem deve construir seu próprio processo.
Por outro lado, a Andragogia exige um papel mais ativo do aluno e uma compreensão maior do professor antes de iniciar o aprendizado.
Isso porque, diferente da criança, o adulto já chega com sua própria base de conhecimentos e princípios.
Além disso, muitas vezes, precisa desconstruir pré-conceitos para começar a aprender.
Nessa vertente, ainda cabe ao professor selecionar os conteúdos que vão ser ensinados, mas é o aprendiz que vai mostrar como ele vai aprender.
Ainda temos a Heutagogia, uma vertente de ensino na qual quem ensina e quem aprende podem ser a mesma pessoa.
Nessa metodologia, o professor pode aparecer como um facilitador do processo educacional, mas é o aprendiz quem vai determinar o conteúdo que será aprendido e também definir sua metodologia.
É a vertente de ensino mais recente das três, tendo sido citada pela primeira vez em 2000 pelos pesquisadores australianos Chris Kenyon e Stewart Hase.
Em sua obra, eles definiram a Heutagogia como o estudo da aprendizagem autodeterminada.
Dentre as justificativas para a sua aplicação, os pesquisadores apontam que a nossa conjuntura, com mudanças aceleradas, já não comporta mais os métodos tradicionais de ensino nos quais o aluno assume uma postura passiva.
Como o indivíduo se torna responsável pelo seu próprio processo educacional, o aprendizado extrapola o espaço e tempo da sala de aula, sendo guiado unicamente pela curiosidade de quem aprende.
Essa superação da ideia de um ensino com prazo e lugar para acontecer é especialmente útil para aqueles que desejam se manter atualizados dentro de sua área de atuação.
Como o nome indica, o aprendizado autodirigido é aquele em que o aluno é o agente transformador e também o que transforma.
Este tipo de método descreve o processo no qual o indivíduo determina os seus objetivos de estudo e toma a iniciativa de iniciá-lo, com ou sem a ajuda de terceiros.
Por mais que possa existir uma orientação externa, dentro do aprendizado autodirigido, é do estudante a responsabilidade de definir os conteúdos, identificar os recursos humanos e materiais necessários, escolher e aplicar as estratégias.
Assim como na Heutagogia, esse tipo de método é interessante para quem deseja se manter atualizado e sintonizado com as tendências do mercado.
Já sabemos que a Andragogia pode ser útil em diversos contextos, mas, talvez, seja no Ensino Superior que ela acaba sendo aplicada mais largamente.
Enquanto a Pedagogia tradicional coloca os adultos em uma posição dependente do professor, a Andragogia dá liberdade para que eles tenham autonomia no processo.
Para que o método funcione, é preciso que o adulto esteja implicado em sua educação e veja nela uma utilidade clara para sua inserção a atuação no mercado de trabalho.
A palavra-chave da Andragogia é experiência, tanto no aproveitamento de vivências do passado quanto na elaboração de novas que sirvam para ensinar e fixar o conteúdo.
Não é à toa, por exemplo, que estudantes de arquitetura, design ou desenho industrial tendem a ser pessoas que gostam ou já sabem desenhar.
Também não é fato raro que jovens que participaram de programas de intercâmbio cultural venham a optar por uma graduação em Relações Internacionais ou Relações Públicas quando chega o momento da escolha.
E não existe nada que agregue mais a um estudante de jornalismo do que a oportunidade de produzir sua própria reportagem, guiando-se pelos assuntos que ele mais se interessa.
Isso tudo acontece porque a educação na vida adulta parte muito da bagagem pessoal daquele aluno e do espaço que cada experiência tem, teve ou terá em sua vida.
Valendo-se dos princípios da Andragogia, o educador deve preparar seus planos de aula apresentando exemplos práticos e propondo atividades através das quais o estudante possa colocar a mão na massa.
Portanto, ao aplicar a Andragogia na sala de aula, o docente deve sempre escutar seus alunos para que, assim, possa dar respostas adequadas às demandas apresentadas no decorrer do processo educacional.
Saindo um pouco da sala de aula agora, vamos destacar um assunto de grande interesse para os gestores: a qualificação do time de trabalho.
Esse é um aspecto importante não apenas para o desempenho e os resultados alcançados, como também repercute na atração e retenção de talentos, assim como nos índices de rotatividade.
Alcançar equipes de alta performance exige das organizações ter programas de capacitação e treinamento.
Em muitos casos, isso esbarra nos mesmos desafios já listados ao longo deste artigo.
Um exemplo é a escassez de tempo. Afinal, como tirar o colaborador de suas tarefas diárias para estudar, sem afetar a produtividade?
Outro é o próprio método de aprendizagem. Ou de que forma garantir o interesse, a motivação e o engajamento dos colaboradores com a prática?
Workshops, palestras, seminários, cursos e até dinâmicas de grupo são iniciativas comuns no ambiente empresarial.
Mas, enquanto processo de ensino, há vantagens no uso da andragogia.
A principal mudança de abordagem está na priorização do aluno em vez do conteúdo a ser transmitido para ele.
Ou seja, elaborar uma capacitação interessante para o colaborador implica em colocá-lo no centro da estratégia.
Se ele participa do processo ativamente, contribui com suas experiências para a própria evolução e para o aprendizado dos colegas, além de identificar a relevância do conteúdo para aplicações práticas no dia a dia, a chance de êxito da capacitação é muito maior.
O aluno adulto não busca apenas informações e conhecimentos ao ingressar na educação formal.
Quando se ensina algo para alguém mais experiente, inevitavelmente, essa pessoa vai questionar o porquê de se aprender aquilo, e não só o como se faz.
Além disso, cada estudante chega até a sala de aula com experiências, crenças e aptidões próprias.
É um pacote que vai influenciar na sua visão de mundo e no modo como encara cada conteúdo apresentado pelo professor.
Inclusive, vale lembrar que a maioria dos docentes já ocupou a posição de aluno pelo menos uma vez na vida. Ou seja, também essa experiência vai impactar no novo processo de aprendizado que se inicia.
Com uma comunicação mais horizontal, a Andragogia indica que todos esses fatores devem finalmente levados em conta quando nos propomos a ensinar pessoas adultas.
Em um mundo com transformações constantes, as pessoas demandam um método de ensino que também se transforme, não mais só avaliando a sua capacidade de aprendizado, mas também propondo novas formas de experiência do conhecimento.
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