Apesar de ter sido proposto na distante década de 1940, o conceito de Indústria Cultural continua atual.
Ele parte de uma reflexão crítica sobre a padronização e a transformação de obras culturais em produtos, descaracterizando seu propósito de reflexão.
Se você quer saber mais sobre o tema, siga com a leitura deste artigo.
A partir de agora, vamos explicar as definições, contexto, objetivos e a relação entre a indústria cultural e a cultura de massa.
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Se o assunto é do seu interesse, acompanhe até o final.
Boa leitura!
Indústria Cultural é um conceito usado para designar a transformação de diferentes obras em produtos padronizados, devido à introdução da tecnologia no processo de produção cultural.
Essa expressão foi citada pela primeira vez no livro “Dialética do Esclarecimento“, escrito por dois sociólogos alemães: Theodor Adorno e Max Horkheimer.
No capítulo “A Indústria Cultural: iluminação como engano em massa“, os autores descrevem o uso de peças originalmente culturais para manipular a população, disseminando a visão das elites.
Segundo Adorno e Horkheimer, a produção de livros, filmes, músicas e outros artigos culturais de maneira padronizada também contribui para perpetuar a ideia de que a felicidade pode ser conquistada através do consumo de bens e serviços.
O termo Indústria Cultural surgiu em resposta à concepção de que o uso das tecnologias na área cultural levaria as peças a uma quantidade maior de pessoas, democratizando o acesso à cultura.
Ou seja, seria uma forma de incluir os indivíduos, compartilhando o conhecimento necessário para que se tornassem livres e capazes de pensar de maneira crítica.
Porém, as peças culturais produzidas e difundidas em massa acabaram perdendo a essência questionadora presente em artigos culturais únicos, propondo ideias preconcebidas, em vez de elementos para a reflexão.
Atualmente, a expressão Indústria Cultural tem sido usada para se referir, em especial, às grandes corporações que produzem e distribuem produtos de entretenimento para o cinema, televisão, rádio, internet, entre outros meios.
Brainly é um site de perguntas e respostas que categoriza as questões de acordo com a disciplina ou área do conhecimento a que pertencem.
Por lá, o conceito de Indústria Cultural também gera debates.
Dentre as respostas populares para uma definição, podemos citar o comentário da usuária Mayara Assis, que afirma:
“A Indústria Cultural é aquela que utiliza como base a cultura de determinados polos do mundo para fabricar seus produtos.
Contudo, ela também promove uma mudança no estilo de cultura dos indivíduos, promovendo, assim, um comportamento muitas vezes considerado massivo em uma perspectiva de consumismo exacerbado.
Portanto, uma nação precisa ter cuidado com o tipo de influência que a Indústria Cultural pode exercer sobre o seu povo.”
Qual o objetivo da Indústria Cultural? Fundamentada na lógica capitalista, a Indústria Cultural busca por maneiras de obter e aumentar o lucro.
Quando aplicada ao meio cultural, essa lógica pede uma padronização nas obras produzidas, a fim de que atendam ao gosto do maior número possível de pessoas.
É o que acontece, por exemplo, quando uma banda ou estilo de música faz sucesso e, em seguida, surgem vários outros grupos e canções semelhantes.
Já que a “fórmula” da primeira banda ou música deu certo, a ideia é repetir esse caminho para aumentar a popularidade e o consumo das canções pelo público.
Outros propósitos menos evidentes da Indústria Cultural são a dominação de classes e a imposição dos ideais da elite.
Neste artigo da Fiocruz, especialistas explicam que a Indústria Cultural desconstruiu o conceito iluminista de que a razão conduziria os seres humanos ao progresso contínuo – incluindo sua liberdade.
No entanto, a ideia que se popularizou foi a razão instrumental, que busca a dominação da natureza interior do homem e da sociedade, resultando em indivíduos alienados.
Desse modo, a cultura se tornou uma mercadoria a serviço daqueles que dominam os meios de produção e, principalmente, de distribuição.
Serve, ainda, para controlar as massas, difundindo a visão de mundo e os preconceitos das elites que, historicamente, prezam pela manutenção de sua riqueza e do capitalismo financeiro.
Esse domínio é feito de modo sutil, disfarçado em produtos de entretenimento que promovem um estilo de vida consumista.
Conforme a teoria da Indústria Cultural, o consumismo e a valorização de coisas materiais acima de outras qualidades sustentam o capitalismo e impedem que a classe trabalhadora consiga, de fato, ser livre.
A ideia é que ela sempre mantenha um desejo pelos bens de consumo, ainda que não necessite deles para sobreviver.
O conceito de Adorno e Horkheimer reúne uma série de características, dentre as quais vale citar as seguintes:
Como explicamos nos tópicos anteriores, a Indústria Cultural procura levar sua produção para grupos cada vez maiores.
Assim, ela promove a massificação de obras culturais que, em sua origem, ficavam restritas às elites.
Esse atributo não é de todo ruim, já que a população em geral consegue acesso a diferentes formatos culturais.
No entanto, é comum que a Indústria Cultural não promova novos conhecimentos entre as massas, mas simplesmente adapte suas produções para incentivar o consumo.
Por isso, estudiosos do tema criticam essa massificação, alegando que ela resulta em perda de qualidade das peças culturais.
Na busca por lucro – a premissa mais básica do sistema capitalista -, a Indústria Cultural torna obras em mercadorias que podem ser consumidas pelas massas.
A cultura perde, então, seu valor subjetivo para receber um preço em dinheiro.
A fim de impulsionar o consumo de suas mercadorias, a Indústria Cultural os transforma em fetiches, ou seja, em objetos de desejo para o público.
Repare, por exemplo, que estar por dentro dos filmes e séries populares, bem como das músicas e livros em alta, confere prestígio às pessoas.
Dessa maneira, as peças culturais deixam de ser adquiridas por sua beleza, por proporcionar reflexão ou conhecimento, e passam a ser compradas para a reafirmação e status.
Os produtos da Indústria Cultural não têm a reflexão como meta, mas sim a disseminação de valores das classes dominantes.
Portanto, são simplificados ao máximo para corroborar essas ideias na mente da população.
Em vez de favorecer a formação de pensadores, essas mercadorias disseminam conceitos prontos e clichês para manter o máximo de pessoas alienadas ao sistema.
Indiferentes e alheias aos problemas sociais, as massas permanecem conformadas com sua situação atual, sem motivação ou argumentos para contestar injustiças.
O conceito de Indústria Cultural surgiu no contexto da Escola de Frankfurt, uma vertente que estudou a teoria social e a filosofia.
Ela recebeu esse nome por estar associada a filósofos do Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, localizado na Alemanha.
Max Horkheimer e Theodor Adorno foram fundadores e membros ativos do grupo, que reunia pensadores que se baseavam em reflexões de Karl Marx, mas que foram além dos ideais comunistas.
A Escola de Frankfurt teve início nos anos 1920 e enfrentou as turbulências durante o período pré-guerra na Alemanha, quando seus integrantes se mudaram para Genebra, na Suíça e, em seguida, para os Estados Unidos.
Para seus membros, o fracasso do nazismo, na Alemanha, e do socialismo, na União Soviética, revelaram a necessidade de um sistema diferente, que não recorresse ao domínio da população para promover o desenvolvimento.
Diante das mudanças sociais e políticas do século XX, eles combinaram as formulações marxistas com outras linhas de pensamento, crendo existir um sistema alternativo ao capitalismo e socialismo.
Pautado por mudanças sociais e ações, esse caminho levaria ao desenvolvimento de uma sociedade mais justa.
A Indústria Cultural brasileira se desenvolveu na medida em que os meios de comunicação de massa foram inseridos no contexto das pessoas e se popularizaram.
Embora tenham um papel importante para a formação do pensamento crítico, mídias como jornais e revistas nunca alcançaram tanta audiência quanto o rádio, televisão e internet – principais meios formadores da cultura de massa no país.
Para compreender o desenvolvimento da indústria cultural no Brasil, é essencial ter em mente que ele foi impulsionado por governos que tinham claros interesses na difusão de ideais específicos junto a produtos de entretenimento.
Primeiro meio relevante de comunicação de massa em território nacional, o rádio chegou a casas brasileiras na década de 1920, mas ganhou força nos anos seguintes.
Isso porque anúncios publicitários só foram permitidos a partir de 1930, e se tornaram, rapidamente, a principal forma de arrecadação de receitas pelo rádio.
Esse meio viveu seu período áureo dos anos 1930 aos 1950, atingindo grande audiência e atraindo a atenção do Governo Vargas.
Tanto que, durante o Estado Novo, o presidente usou o rádio para promover a cultura nacionalista.
Ainda na década de 1950, os lares ricos receberam os primeiros aparelhos de televisão, em que assistiam programas da TV Tupi, graças a investimentos do jornalista e empresário Assis Chateaubriand.
Ao transmitir imagens, a TV revolucionou a comunicação e a Indústria Cultural brasileira, tomando a audiência do rádio nos anos 1960 e 1970.
Desde então, a televisão adquiriu o status de veículo de comunicação de massa mais importante do país, e continua sendo extremamente valorizado entre a população e anunciantes.
Para se ter uma ideia, em 2008, mais de 95% dos lares brasileiros tinham pelo menos uma televisão.
Esse meio cresceu, em grande parte, por causa de investimentos do governo durante o regime militar, começando com a inauguração do sistema de micro-ondas, em 1968.
Em 1974, foram criadas estações transmitidas via satélite, e, em 1981, Globo e Bandeirantes puderam ser assistidas em todo o país, devido a um acordo com a empresa Embratel.
Até hoje, a concessão para administrar uma rede só pode ser dada pela União.
Os programas exibidos ajudaram a criar uma imagem positiva do governo militar, sustentando, inclusive, que era fruto da democracia.
Aliados aos avanços econômicos, eles mantiveram a maioria da população brasileira distante quanto à violência e violação de direitos de cidadãos durante o período que compreendeu a ditadura.
Ainda nos anos 1960, a Rede Globo – então aliada do governo – lançou um dos produtos mais bem-sucedidos da Indústria Cultural brasileira: a telenovela.
Apesar de pautar temas relevantes e tabus, esses programas deixavam de lado questões como a desigualdade social.
Em 1985, o rádio voltou à cena através das emissoras FM e o fim da censura aos programas, permanecendo como meio relevante, mas com audiência mais baixa que a TV.
O controle do Estado sobre as redes de televisão permaneceu até a década de 1980. Com a redemocratização, nos anos 1990, a censura foi retirada.
Já a internet se popularizou, em especial, na década de 2000, oferecendo uma alternativa mais democrática por dar voz a diferentes atores.
Ao promover a massificação e a transformação da cultura em mercadoria, a Indústria Cultural fomentou o surgimento da cultura de massa.
Junto aos meios de comunicação, ela sustenta a veiculação da cultura de massa, que é direcionada para o consumo pelo máximo de pessoas possível, em todas as esferas sociais.
Ambas têm o mesmo propósito: padronizar valores, hábitos e tradições em favor de um estilo de vida consumista e, por vezes, desconectado da realidade e incapaz de questioná-la.
Uma das consequências da cultura de massa é a homogeneização cultural, que considera estranha qualquer manifestação cultural que não incentive o consumo exacerbado de bens e serviços.
Conteúdos veiculados por meios de comunicação em massa também colaboram para a formação de indivíduos incapazes de aprofundar análises sociais ou desenvolver seu pensamento crítico, pois partem de valores pré-concebidos.
Em outras palavras, a cultura de massa pode levar a um empobrecimento cultural entre as camadas mais numerosas da audiência, que tem pouco acesso a meios alternativos de informação e entretenimento.
Veja o que dizem pesquisadores especialistas da Universidade Estadual da Paraíba:
“Os consumidores assumem uma função passiva, cujo papel resume-se a escolher entre comprar ou não comprar. Em suma, as carências culturais das massas são exploradas para a obtenção de lucro e, consequentemente, para a manutenção do domínio das classes.”
Favorecendo a integração entre classes, a cultura de massa também se prestaria a ocultar as diferenças existentes entre elas, incluindo desigualdades sociais e até injustiças.
Mencionamos, acima, um dos principais produtos da Indústria Cultural no Brasil: as telenovelas.
Inicialmente veiculadas pela Rede Globo, elas conquistaram grande audiência, em especial até a década de 2000, quando a internet começou a se popularizar no país.
Embora serviços de streaming, como a Netflix, estejam crescendo, as telenovelas continuam sendo fonte de entretenimento, disseminação de padrões e valores, principalmente entre as classes mais baixas.
Esses programas representam um momento de fuga da realidade e alívio depois de um dia de trabalho estressante, além de renderem conversas sobre os personagens no dia seguinte.
As novelas são difusoras de outro exemplo da Indústria Cultural: a música popular massiva.
Fruto da cultura de massa, as canções reforçam valores estereotipados e servem para provocar diferentes sensações, desde a euforia até a tristeza e melancolia.
Fora as músicas estrangeiras, vindas de nações como os Estados Unidos, música sertaneja, pagode e funk figuram entre as de maior audiência no cenário nacional, disseminadas pelo trabalho de artistas como Anitta, Luan Santana, Thiaguinho e Gusttavo Lima.
Desde a década de 1990, que marca o início da globalização, a Indústria Cultural mundial sofre grande influência dos ideais norte-americanos, fundamentalmente capitalistas e consumistas.
Redes de notícias e telejornais têm por hábito transformar catástrofes em verdadeiros shows, prendendo a atenção do público com atualizações em tempo real.
Ainda no campo jornalístico, as reportagens esportivas são outro exemplo de produto da Indústria Cultural, assim como os jornais e programas sensacionalistas.
Na televisão, reality shows existentes em países diversos, como o Big Brother, promovem a espetacularização de intrigas e a descaracterização da individualidade, ditando os comportamentos aceitáveis socialmente.
Grandes conglomerados de música também se formaram, internacionalizando gêneros como o pop – presente em muitas produções brasileiras.
Com o advento da internet e ascensão da web, a influência dos Estados Unidos passa a competir com produções de outros países, a exemplo do hit “Gangnam Style“.
Produzido na Coreia do Sul, ele se tornou viral pouco depois de seu lançamento, em julho de 2012.
O clipe da música foi o primeiro do gênero a ultrapassar um bilhão de visualizações no YouTube, atraindo a atenção de líderes mundiais na época, a exemplo do primeiro-ministro britânico, David Cameron, e do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Outro fenômeno mundial é a música popular coreana (k-pop), que mistura diversos elementos visuais e vem ganhando espaço, em especial, entre adolescentes e jovens por todo o mundo.
Ao longo deste artigo, abordamos os principais conceitos, características e exemplos da Indústria Cultural.
Compreender essa dinâmica é fundamental para a formação de cidadãos mais conscientes, capazes de desenvolver seu senso crítico e fugir da dominação alegadamente imposta pela cultura de massa.
Nesse contexto, ampliar o repertório é bastante útil, pois permite o contato com diferentes culturas e linhas de pensamento, fomentando um aprendizado de qualidade.
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