O que você sabe sobre neurociência?
A forma como o cérebro aprende, a consciência e as doenças neurodegenerativas são alguns temas que fazem parte desse universo.
Extremamente abrangente, a área desperta a curiosidade de muitas pessoas.
Afinal, o cérebro é o órgão que envolve mais mistérios, em especial porque é difícil estudar suas interações.
A compreensão de partes de seu funcionamento tem resultado em avanços na análise de atividades voluntárias e involuntárias do corpo humano, além do comportamento e emoções.
Neste artigo, apresentamos uma introdução para quem deseja saber mais sobre a neurociência, ou até se especializar nesse segmento, que apresenta oportunidades promissoras para o presente e o futuro.
Interessado? Então, siga com a leitura ou escolha um dos tópicos.
Boa leitura!
Neurociência é o campo científico que se dedica ao estudo do sistema nervoso.
Esse aparelho é formado por cérebro, medula espinhal e nervos periféricos – que são os objetos de pesquisa dos neurocientistas.
Por muito tempo, a área ficou mais restrita ao aspecto biológico, ou seja, aos comandos dados pelo cérebro, transportados e executados por outras partes do organismo.
Isso porque as sociedades não relacionavam diretamente o cérebro à consciência humana, que exerce grande influência na postura, pensamentos, desejos e até necessidades.
Porém, uma vez que o cérebro se tornou protagonista em eventos e experimentos, ficou clara sua ligação e correlação com a consciência, provocando uma série de questionamentos a respeito do seu papel nas decisões humanas.
Foi assim que a neurociência ganhou ainda mais relevância, já que tem potencial para explicar, além de reações do corpo, os fenômenos da mente.
Veja o que observa o neurocientista Sidarta Ribeiro, em seu artigo “Tempo de cérebro”:
“No encontro entre matemática, física, química, biologia, psicologias, filosofia e artes, as neurociências fascinam o público pela possibilidade de compreensão dos mecanismos das emoções, pensamentos e ações, doenças e loucuras, aprendizado e esquecimento, sonhos e imaginação, fenômenos que nos definem e constituem.”
Mas, em meio a tantas disciplinas, o que estuda a neurociência?
Em seu texto, Ribeiro comenta cinco tópicos neurocientíficos que têm pautado discussões na sociedade atual, como detalhamos a seguir.
Progressos nas medidas sanitárias, de higiene e na medicina têm aumentado a expectativa de vida da humanidade.
Mesmo fora dos países ricos, grande parte da população pode ultrapassar as sete décadas de vida.
No entanto, nem sempre ela vem acompanhada de qualidade de vida.
Doenças neurodegenerativas, a exemplo de Parkinson e Alzheimer, impedem muita gente de experimentar uma velhice saudável e tranquila.
A neurociência investiga as causas, processos, tratamentos e medidas que possam levar à cura dessas enfermidades.
Embora a internet e seus dispositivos permitam uma expansão nas barreiras para o aprendizado humano, as oportunidades ainda refletem desigualdades econômicas e sociais.
Crianças, adolescentes e adultos de países como o Brasil estão longe de ter uma formação similar à de nações desenvolvidas, como Estados Unidos, Austrália, Israel e estados da Europa Ocidental.
Segundo aponta Ribeiro, é preciso compreender melhor as bases biológicas, psicológicas e pedagógicas do aprendizado escolar para diminuir o abismo educacional entre essas nações.
Ou seja, a universalização das oportunidades de aprendizado depende de assuntos estudados pela neurociência.
Uma descoberta relevante é a interferência da desnutrição na capacidade de aprender, uma vez que o cérebro é o órgão que mais consome glicose, e ingerir glicose antes de uma aula fortalece as memórias.
Não é de se espantar, então, se um aluno em situação de miséria tiver déficit no aprendizado.
Descobertas sobre abordagens terapêuticas diferentes da ingestão de medicamentos são outro ponto importante para diminuir efeitos adversos das drogas.
Desde os anos 1950, o acesso e a utilização de sedativos, calmantes e antidepressivos desencadearam o que Sidarta Ribeiro chama de uma epidemia de distúrbios psiquiátricos.
Aprimorando os estudos neurocientíficos, combinados à psicologia, é possível encontrar alternativas que combatam esses distúrbios e promovam a saúde mental, especialidade das clínicas de recuperação.
Ao longo do século XX, a psicanálise foi bastante rejeitada, mas vem retornando à cena nas últimas décadas, através de abordagens neurocientíficas.
Atualmente, especialistas dão crédito a uma das maiores teorias de Sigmund Freud – o inconsciente, definido como um banco que reúne todas as memórias e combinações entre elas.
Outros dois conceitos em destaque são a repressão inconsciente e a supressão consciente de memórias, de acordo com Ribeiro:
“Mediante estudos de ressonância magnética funcional, descobriu-se que a supressão de memórias indesejadas pode ser detectada objetivamente e tem como correlatos neurais uma desativação do hipocampo e da amígdala, regiões cerebrais dedicadas respectivamente às memórias e emoções, através da ativação de áreas do córtex pré-frontal relacionadas à intencionalidade.”
A consciência é um dos maiores mistérios estudados pela neurociência, mas já existem informações comprovadas.
Diferentemente do que se acreditava, ela não é um objeto ou local do cérebro e, sim, um processo de fluxos distribuídos por várias regiões cerebrais, que usa a imaginação para criar narrativas paralelas ao momento presente.
Com base nesses conhecimentos, começam a surgir experimentos de neurofeedback, verificando a eficácia de treinar a atividade cerebral com finalidades distintas, relacionadas à terapia e reabilitação.
Desse modo, seria possível controlar, por meio do eu consciente, dinâmicas automáticas e, em princípio, inconscientes.
Se considerarmos a criação da palavra neurociência, esse é um campo novo.
Registros apontam que o termo surgiu em congressos realizados por volta de 1972, quando foi produzido o primeiro equipamento de tomografia computadorizada.
Mas há quem diga que a área é quase tão antiga quanto a humanidade, pois investiga as causas do comportamento humano e fenômenos da mente.
Neste site, há um apanhado sobre os principais marcos neurocientíficos, sendo que os primeiros ocorreram antes mesmo de essa palavra existir.
Em 387 a.C., Platão já ensinava aos gregos que o cérebro era o centro dos processos mentais.
Essa crença foi substituída em 335 a.C, quando Aristóteles passou a considerar o coração como o órgão principal e que coordena as sensações, uma vez que emoções como o medo aceleram os batimentos cardíacos.
Pouco mais tarde, em 170 a.C., o médico Cláudio Galeno elaborou uma teoria que dizia que o temperamento humano resulta da interação entre quatro humores, descritos como líquidos armazenados em partes do cérebro.
Sua tese foi aceita por mais de um milênio.
Por volta de 1649, um dos filósofos populares, René Descartes, considerava o cérebro um tipo de sistema hidráulico, de onde era comandado o comportamento.
Cinco anos mais tarde, Thomas Willis, médico de Oxford, disponibiliza um mapa cerebral, apontando as funções dos módulos desse órgão.
O saber sobre o funcionamento do sistema nervoso deu um salto em 1791, com a descoberta de que os neurônios funcionam a partir de impulsos elétricos (e não por água), feita por Luigi Galvani.
Em 1906, dois importantes cientistas ganharam o Prêmio Nobel devido a descobertas relativas à neurociência.
O italiano Camillo Golgi descobriu um modo de observar os nervos, o método do nitrato de prata.
Já Santiago Ramón y Cajal identificou os neurônios como unidades básicas do cérebro, que existem de maneira independente.
No mesmo ano, Alois Alzheimer descreveu a doença degenerativa pré-senil, que recebeu seu nome.
Três anos depois, Korbinian Brodmann comentou 52 áreas corticais distintas presentes na estrutura neural, que são utilizadas por pesquisadores até os dias de hoje.
Com os avanços na informação sobre a dinâmica cerebral, o neurologista português Egas Moniz criou a angiografia, primeiro exame a captar imagens do cérebro.
Ele também realizou a primeira lobotomia em 1934, acreditando que interferências em algumas regiões do cérebro impactariam a saúde mental do paciente.
A prática se tornou mais corriqueira duas décadas mais tarde, quando Moniz confirmou que interromper conexões nervosas que vão do córtex frontal ao tálamo reduzia sintomas psicóticos de certos indivíduos.
Devido ao risco de morte e danos aos neurônios, a lobotomia deixou de ser realizada por médicos após a década de 1980.
Em 1848, um acidente causou mudanças profundas no temperamento do supervisor de obras Phineas Gage, que teve os lobos frontais perfurados por uma barra de ferro.
A ocorrência fez com que o homem, antes educado e querido, adotasse um perfil agressivo, sugerindo que seu juízo moral havia sido afetado.
Em 1950, o conhecimento sobre as funções de áreas cerebrais se expande após o relato de Brenda Milner sobre o paciente Henry G. Molaison ou HM.
Sofrendo de epilepsia grave, HM passou por uma operação neurológica em que teve um pedaço do hipocampo retirado.
Por consequência, o homem de 27 anos passou o resto da vida sem conseguir elaborar novas memórias.
Conforme explicamos acima, a neurociência compreende uma área vasta e de abordagem multidisciplinar.
Isso significa que ela se relaciona com diversas outras áreas, partindo de saberes e aplicações da Física, Linguística, Comunicação, Psicologia, Engenharia, Fisiologia, Biomedicina e outras.
A fim de delimitar os objetos de estudo, a área foi dividida em cinco campos que classificam sua finalidade.
Veja, abaixo, detalhes sobre cada um.
Dedicada a entender o que está por trás da conduta humana, a neurociência comportamental foca nos fenômenos da mente, individualidades como a formação da personalidade e da memória.
Para tanto, ela observa a consciência e de que maneira o inconsciente afeta as decisões tomadas por cada indivíduo.
Este é um dos segmentos que mais provocam curiosidade e desafiam os neurocientistas, pois envolvem questionamentos profundos e relativos à identidade das pessoas.
Fornece, ainda, instrumentos de interesse para quem deseja ampliar o autoconhecimento.
Centrada no pensamento, memória e dinâmica do aprendizado, a neurociência cognitiva estuda parte da percepção e sensação, seguindo para seu registro e acesso pelo eu consciente.
Em artigo divulgado pela Sociedade Brasileira de Neurociência, Roberto Muller destaca que:
“O estudo do planejamento, do uso da linguagem e das diferenças entre a memória para eventos específicos, e a memória para a execução de habilidades motoras, são exemplos da análise ao nível cognitivo.”
Como o início de um aprendizado se dá pela experiência, esse campo investiga, também, as interações dos cinco órgãos dos sentidos, que são canais de captação das novas informações que serão interpretadas e transformadas em conhecimento.
Combinando neurociência ao estudo das partes do organismo e sua interação, a neurofisiologia inclui investigações sobre o sistema nervoso central e o periférico.
Enquanto o primeiro trata do cérebro e medula espinhal, o sistema nervoso periférico analisa as funções dos nervos, que conferem sensibilidade e comandam os músculos do corpo.
Conhecer esses processos permite não apenas sua compreensão, mas também a identificação de desordens que tenham origem no mau funcionamento do sistema como um todo, a exemplo da epilepsia e esclerose múltipla.
Integrada à anatomia, essa subárea se dedica ao conhecimento sobre a organização e estrutura do cérebro, medula espinhal, nervos e terminações nervosas.
Avaliando os impactos de lesões e experimentos, a neuroanatomia trabalha em conjunto com a neurofisiologia, colaborando para aprofundar os saberes sobre o funcionamento do sistema nervoso.
Consiste na análise da base cerebral para respostas e atitudes complexas do organismo, incluindo distúrbios cognitivos, emocionais e comportamentais.
Essa subárea estuda, por exemplo, o impacto de lesões e traumas cerebrais na personalidade.
A exemplo do acidente que transformou a conduta de Phineas Gage, interferências no cérebro têm o potencial de afetar a percepção, ações, pensamentos, inteligência, movimento e atitudes tomadas.
Avaliando esses fatores, é possível interferir e tratar as lesões, resultando em mudanças positivas no comportamento.
O futuro da neurociência é promissor.
Devido à importância de seus campos de estudo para a evolução da humanidade, existe uma forte tendência de que essa área continue crescendo, a um ritmo cada vez mais veloz.
Um indicativo disso foi a declaração, por parte do então presidente norte-americano George H. W. Bush, dos anos 1990 como a Década do Cérebro, favorecendo novos testes, invenções e investigações a respeito do funcionamento do sistema nervoso.
Como resultado, houve avanços em direção a tratamentos alternativos a até de procedimentos com chances de cura para males neurodegenerativos, como a doença de Huntington, Parkinson e Alzheimer.
Um exemplo é o desenvolvimento de medicações específicas destinadas ao combate dessas enfermidades, além da terapia gênica, capaz de corrigir a comunicação entre neurônios, minimizando as dificuldades motoras para pacientes com Parkinson.
Outra abordagem revolucionária é a interface cérebro-máquina, utilizada para fazer a comunicação entre comandos emitidos pelo cérebro e o tecido neural.
Parece complexo, mas a ideia, em si, é simples: um circuito eletrônico serve como intermediário para transportar informações para diferentes partes do sistema nervoso.
A lógica já foi posta em prática no organismo de Matt Nagle, um jovem de 25 anos que havia sofrido, aos 21, uma lesão na medula cervical, que o deixou tetraplégico.
Ele teve 96 eletrodos conectados ao córtex motor primário durante estudo, que captaram sua atividade neuronal e a enviaram a uma matriz.
Em seguida, a matriz converteu os comandos para movimentar o cursor em uma tela observada pelo paciente.
Depois de aprimorada, essa lógica poderia devolver a capacidade motora a pessoas em diversas condições, em um futuro próximo.
Segundo conclui o artigo “Pensando o futuro da neurociência”, de Luiz Roberto Britto e Marcus Vinícius Baldo, a neurociência terá de resolver dois desafios principais:
“De um lado, pragmático e aplicado, há pressa em se arquitetarem recursos terapêuticos que curem ou amenizem o sofrimento daqueles, talvez todos nós, que padecem de alguma disfunção do sistema nervoso (de uma cegueira congênita a um traumatismo na juventude, a alterações de humor na maturidade, às degenerações da velhice).”
Por outro lado, está o desafio de entender o sistema nervoso em sua plenitude para prevenir esses males e desfrutar de todo o seu potencial.
Se você chegou até este trecho com vontade de se tornar um neurocientista, vamos falar sobre os caminhos possíveis.
No Brasil, a carreira em neurociência costuma exigir pós-graduação, pois quase todas as opções só estão disponíveis para quem já se graduou em alguma área correlata.
Porém, há uma alternativa para se graduar no setor, através do curso da Universidade Federal do ABC, localizada na Grande São Paulo.
Nesse caso, será preciso escolher o bacharelado interdisciplinar do curso de Ciência e Tecnologia da instituição.
Mas há quem recomende que o estudante faça graduação para adquirir uma base antes de ingressar na carreira, como a neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel.
A especialista aconselha os alunos a avaliar o campo de estudo que mais lhes interessa para selecionar o curso.
Quem deseja partir para a pesquisa clínica pode fazer Medicina, enquanto os interessados em relações interpessoais podem se dar melhor cursando Psicologia.
Em texto de seu site, a especialista indica Biologia para quem quer ter uma noção mais ampla e completa do segmento, assim como ela fez.
O salário depende da área de especialização, linhas de pesquisa, projetos desenvolvidos, nível de experiência e outros fatores, como a atuação em entidades públicas ou privadas.
É comum que se inicie a carreira com ganhos em torno de R$ 2.000,00, que aumentam conforme o profissional se especializa.
Abordamos, neste artigo, os conceitos, subáreas e importância da neurociência.
Descobertas do setor representam uma grande esperança para um futuro mais tranquilo e saudável.
Não por acaso, é também uma área promissora para quem pensa em começar uma nova carreira.
Se ficou alguma dúvida ou sugestão, deixe um comentário abaixo.
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