Negacionismo climático: o que é, argumentos e consequências

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Você já ouviu falar nos negacionistas do clima?

São chamados assim os indivíduos que não creem no aquecimento global ou não acreditam que o homem tenha algum tipo de interferência no aumento da temperatura da superfície terrestre e suas consequências com as mudanças climáticas.

No Brasil, a parcela de negacionistas é conhecida. A Pesquisa Datafolha, realizada em julho de 2019, mostrou que 15% da população não acredita no aquecimento global.

No entanto, o número se torna mais expressivo quando comparado ao mesmo levantamento, realizado há quase dez anos.

À época, somente 8% dos brasileiros estavam entre aqueles que contestam os argumentos sobre o aumento da temperatura média do planeta.

Mas o que será que leva as pessoas a não acreditarem no aquecimento global? Os pressupostos, de fato, fazem sentido?

Essas e outras perguntas serão respondidas neste artigo.

Então, se você tem interesse em conhecer mais sobre negacionismo climático, continue por aqui.

Abordaremos os seguintes tópicos:

  • O que é o Negacionismo Climático?
  • O que são os Negacionistas do Clima?
  • Negacionismo Climático no Brasil
  • Principais características do Negacionismo Climático
  • Argumentos Negacionistas
  • Consequências do Negacionismo Climático
  • Outras repercussões do Negacionismo Climático.

Acompanhe até o final para saber tudo sobre o assunto!

O negacionismo climático ganha espaço apesar de ser um movimento difuso

O que é o Negacionismo Climático?

Negacionismo climático é toda a manifestação contrária ao fenômeno do aquecimento global provocado pelo aumento das emissões antrópicas.

As emissões antrópicas, segundo o IPAM, são produzidas como resultado da ação humana. São lançadas grandes quantidades de gás carbônico na atmosfera por tais atividades, como a queima de combustíveis fósseis, agricultura, fabricação de cimento etc.

Voltando ao movimento, também chamado de ceticismo climático, ele tem como característica ser difuso, composto por pessoas em diversas partes do mundo e sem uma organização bem definida.

Talvez isso seja até proposital, já que dificulta o debate e ações mais consistentes na esfera da opinião pública.

Mas, afinal, eles estão certos? O aquecimento global é verdade ou não?

Para a ciência, sim, há evidências incontestáveis que a temperatura no planeta está aumentando e deve subir ainda mais, podendo chegar a níveis perigosos se nada for feito para impedir.

Pesquisas científicas comprovam o aquecimento global, intensificado de maneira sem precedentes pelo aumento das emissões antrópicas de gases causadores do efeito estuda.

No entanto, o grupo de indivíduos que forma o negacionismo climático não só duvida disso, como também se ampara em argumentos não-científicos para sustentar sua posição.

O que são os Negacionistas do Clima?

Os negacionistas do clima são as pessoas que não acreditam no aquecimento global decorrente da intervenção humana.

Também podem ser chamados assim os indivíduos que creem no aumento da temperatura, mas contradizem o fato de que o fenômeno é provocado pelo homem.

Embora seja um movimento sem uma entidade científica representativa, como já explicado, os negacionistas do clima têm defensores mais ativos e proeminentes.

Um deles é Piers Corbyn, meteorologista inglês que contesta abertamente os efeitos do aumento do CO2 na atmosfera.

Para ele, o gás não causa o efeito estufa. Segundo o negacionista, o aquecimento é provocado pela maior atividade solar.

O ativista vai além. Para Corbyn, tudo não passa de um complô internacional engendrado pela comunidade científica contra os países ocidentais industrializados.

É mais ou menos nesse estilo que os negacionistas argumentam. Para eles, os cientistas não estão apenas errados, como possuem uma agenda por trás.

Ou, além disso, tudo não passa de um fenômeno natural, sem consequências mais graves.

As questões ambientais ganham espaço na esfera pública, mas ainda falta ação

Negacionismo climático no Brasil

No Brasil, o negacionismo climático existe, mas ainda não convence muita gente.

Pelo menos é isso que diz a pesquisa do Instituto Datafolha que citamos acima. Para 85% dos brasileiros, o planeta está sim, sofrendo um processo de aquecimento não natural, ou seja, provocado pelo homem.

Apesar da população em geral não ter aberto tanto espaço para a refutação das descobertas científicas sobre o aquecimento global, existem personalidades que discordam das preocupantes descobertas feitas ou como elas são fundamentadas.

Aqui vale salientar que toda discussão é abraçada pela comunidade científica e teorias, modelos e noções podem ser mudadas.

Entretanto, o apresentado até agora pelos negacionistas não é suficiente para mudar o apresentado por cientistas do mundo inteiro e chancelados pelos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).

E o mais perigoso: refutar sem base científica e questionar descobertas vitais para a existência do ser humano no planeta pode incentivar pessoas, governos e entidades a não tomar ações necessárias para diminuir o impacto da ação humana no planeta.

Principais características do Negacionismo Climático

A principal característica do negacionismo climático é ser um movimento, como já destacamos, difuso, polêmico e sem base científica.

Isso os torna necessariamente heterogêneos, verificando-se em muitos casos pontos de vista contraditórios entre os próprios negacionistas.

No geral, a linha argumentativa dos negacionistas é bastante enviesada.

Eles normalmente abordam apenas recortes do problema do aquecimento global, sem relacioná-los com outros fatores, como o aumento das emissões antrópicas desde a revolução industrial, oriundas principalmente da queima de combustíveis, do desmatamento e da degradação florestal.

Entre as think tanks que se dedicam a divulgar ideias negacionistas, se destaca a The Heartland Institute.

No passado, essa entidade teve papel relevante, ao contestar os malefícios do fumo passivo, posicionando-se a favor da fabricante Philip Morris.

Ao ler um texto, artigo ou até notícia sobre um assunto importante como ecologia e preservação ambiental, é necessário ter cuidado porque existe um jogo de interesses grande pairando sobre o tema. Isso não é diferente do que acontece na política, por exemplo.

Aliás a preservação ambiental cada vez mais é um assunto politizado, em um mundo globalizado e cada vez mais polarizado.

Aqui não estamos falando de políticas partidárias, mais investimento público ou maior liberdade econômica.

Estamos falando de ciência, crises climáticas e dados alarmantes.

Não há base teórica e científica para descredenciar as descobertas preocupantes sobre as mudanças climáticas

Os argumentos negacionistas

Na maioria de suas manifestações públicas, os negacionistas, em geral, não apoiam suas argumentações em estudos empíricos.

Alguns deles até usam algumas evidências científicas, mas, quando o fazem, as apresentam sem relacioná-las ao contexto mais amplo do aumento das emissões antrópicas de gases causadores do efeito estufa.

É comum que os argumentos negacionistas tenham linguagem simples, de fácil entendimento.

Afinal, relatórios científicos e análise de dados podem ser difíceis de entender para o grande público. Quem simplificar e trouxer uma mensagem clara sai à frente.

O uso de experiências pessoais e relato de situações cotidianas também são uma estratégia para simplificar a discussão e ganhar adeptos.

Alguns dos argumentos usados pelo movimento negacionista podem ser vistos na carta aberta “Por uma agenda climática baseada em evidências e nos interesses reais da sociedade”, enviada para o Ministro do Meio-Ambiente, Ricardo Salles.

Entre os pontos abordados pelos negacionistas, o mais importante de analisar – e rebater – é o que tenta desmerecer e descreditar os cientistas que fazem as descobertas e as entidades que as chancelam.

Para responder os outros argumentos apresentados na carta aberta, vale ler o seguinte texto do Observatório do Clima.

O IPCC e o movimento ambiental

Quando ainda não estava em campanha e depois quando participou da eleição para a Casa Branca, Donald Trump apresentou-se como um grande céticos das mudanças climáticas.

Trump afirmou que a propagação de ideias sobre o aquecimento global provocado pelo homem é originada em interesses políticos, como o da China, em frear a produtividade e expansão das economias do Ocidente.

Já como presidente dos Estados Unidos ele diminuiu a intensidade de sua oratória negacionista, mas segue longe de reconhecer as evidências científicas  sobre esse assunto.

Os interesses geopolíticos com os subsídios aos combustíveis fósseis, assim como o lobby de setores intensivos em emissões, como o do carvão e de termoelétricas, se sobressaem nesse contexto da crise climática.

Por isso é importante confiar em entidades ligadas à ciência e independentes de interesses políticos, disputa por votos e lobby.

O Painel Intergovernamental para a Mudança de Clima (IPCC em inglês) é uma entidade de mais de 30 anos de atividade criada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

O objetivo do IPCC não é desenvolver novas pesquisas científicas sobre o assunto, mas consolidar os resultados de estudos científicos publicados em renomados periódicos internacionais, interpretá-los e reunir as informações relevantes

Para os negacionistas, o IPCC não teria a isenção necessária para tratar do assunto, pois estaria comprometido com governos e interesses escusos.

Mas a verdade é que o IPCC representa a maior autoridade mundial a respeito do aquecimento global, reunindo renomados cientistas de diversas áreas para consolidar resultados de estudos científicos revisados por pares.

O objetivo é subsidiar chefes de estados e formuladores de políticas públicas no estabelecimento de políticas climáticas mundiais e nacionais.

Algumas consequências das mudanças climáticas já podem ser vistas e o cenário só deve piorar

Consequências do negacionismo climático

A história está repleta de exemplos de posturas reacionárias perante os avanços da ciência.

O movimento ludita, por exemplo, não deixa de ser uma espécie de “avô” do negacionismo.

Em comum, eles apresentam a negação aos novos conceitos trazidos pela pesquisa científica.

Apegados ao passado ou movidos por interesses particulares, eles tentam desesperadamente lutar contra os fatos. No caso do negacionismo climático, o perigo está no atraso que ele pode representar para que medidas de emergência sejam tomadas.

Afinal, o que a humanidade não tem é tempo a perder na sua luta contra os efeitos do aquecimento global.

Um erro muito comum é aliar o fato de não podermos abusar dos recursos naturais do Planeta e ignorar seus alertas com a estagnação econômica e a falta de desenvolvimento.

A verdade é que iniciativas sustentáveis e políticas que pensem no que é ecologicamente correto e criem empregos e valor para a economia existem há algum tempo.

Inclusive o Nobel da Economia de 2018 foi concedido a William Nordhaus e Paul Romer por seus trabalhos relacionando desenvolvimento da economia, inovação e sustentabilidade.

Preocupar-se com o Planeta e querer o desenvolvimento econômico não é contraditório.

Outras repercussões do negacionismo climático

Em 2018, Paul Krugman publicou, na edição do The New York Times do dia 27 de novembro, um artigo atacando frontalmente o governo de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.

O artigo foi traduzido e posteriormente publicado na revista Exame com o título de A perversidade da negação climática.

Krugman se ampara no posicionamento negacionista de Trump, reconhecido como defensor da indústria petrolífera e automotiva.

A preocupação do especialista abrange a ascensão ao poder de figuras com essa visão. No Brasil, o atual governo também já deu mostras de aderir à causa negacionista.

A recente polêmica envolvendo os incêndios na Amazônia são indicativo da posição cética do chefe do executivo.

Enquanto isso, a sociedade civil organizada, entidades de classe, empresas e instituições tentam fazer a sua parte, independentemente de apoio governamental.

Conclusão

O aquecimento global é uma realidade e seus efeitos devem ser mitigados com máxima urgência.

Para o bem da humanidade, é preciso que cada um faça a sua parte no sentido de minimizar as emissões de carbono.

Nesse embate de ideias, quanto mais conhecimento, melhor, até mesmo porque as empresas ambientalmente responsáveis já entenderam a importância da sustentabilidade.

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Sem dúvida, uma educação de qualidade é um instrumento e tanto na luta contra os problemas ambientais.

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Vanessa Pinsky

Doutora em administração na FEAUSP. Coordenadora adjunta na FIA. Professora do Programa de Mestrado Profissional na Faculdade FIA de Administração e Negócios. Professora de diversos cursos de pós-graduação lato sensu na FIA. Pesquisadora associada ao PPGA na FEAUSP, e ao Programa de Gestão Estratégica para a Sustentabilidade (PROGESA/FIA/CNPq). Pesquisadora visitante na School of Global Policy & Strategy da University of California San Diego. Linhas de pesquisa: mudanças climáticas, financiamento do clima, REDD+, governança ambiental, sustentabilidade e inovação. Bacharel em comunicação social (publicidade), MBA em marketing pela ESPM e MBA em gestão e empreendedorismo social pela FIA, além de cursos de extensão no Brasil e nos EUA. Possui mais de 20 anos de experiência profissional nas áreas de sustentabilidade, investimento social privado, assuntos corporativos, marketing e comunicação, tendo trabalhado em empresas multinacionais nos setores financeiro e tecnologia da informação, e no governo americano.

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