Interesse Público

Economia Colaborativa: Tudo o que você precisa saber

O que empresas como Airbnb e Uber têm em comum? Elas fazem parte de uma nova abordagem econômica: a economia colaborativa.

Ambas propuseram modelos de negócios inovadores, suportados pela disseminação de novas tecnologias, com um olhar diferente sobre a utilização dos recursos disponíveis.

Com base nos conceitos de compartilhamento de recursos, e na valorização da experiência do uso em detrimento da posse de bens, empresas como essas vem revolucionando a economia e movimentando muito dinheiro ao redor do mundo.

A verdade é que a economia colaborativa já representa um importante segmento econômico e os números comprovam isso.

A Forbes publicou uma reportagem em 2015, na qual cita que as empresas que atuam nesse setor tinham um valor aproximado de mercado de US$ 15 bilhões.

De acordo com um estudo da PwC, até 2025 a economia colaborativa tem o potencial de gerar novas receitas da ordem de mais de US$ 350 bilhões.

Após a forte recessão econômica de 2008, na qual uma boa parte da população teve que restringir seu consumo, a economia colaborativa entrou em pauta.

Desde então, vem fornecendo novos meios de acesso aos bens e mudando a forma como as pessoas tiram férias, se locomovem, comem e financiam projetos.

Para descobrir tudo sobre economia colaborativa, confira a lista de conteúdos que preparamos para esse tema:

  • O que é Economia Colaborativa, compartilhada ou em rede?
    • Economia Colaborativa no Brasil
  • Por que a Economia Colaborativa é uma tendência?
  • O que é consumo colaborativo?
    • Compartilhamento de produtos e serviços
    • Redistribuição de produtos
    • Estilo de vida colaborativo
  • Economia Colaborativa e o Mercado do Futuro
  • O que é uma Economia Sustentável?
  • O que é Economia Criativa?

Ficou interessado em conhecer mais? Então, aproveite a leitura!

A economia colaborativa traz uma nova forma de pensamento

O que é Economia Colaborativa, compartilhada ou em rede?

Economia colaborativa é uma nova forma de olhar os processos de organização social ligados à produção, distribuição e consumo de bens e serviços.

Pode ser entendida como um ecossistema sócio-econômico, construído em torno do compartilhamento de recursos humanos, físicos e intelectuais.

Para entender melhor o conceito de economia colaborativa, cabe lembrar do objeto de estudo da economia tradicional.

A economia clássica se preocupa com a escassez. Dessa forma, estuda como devemos utilizar recursos escassos na produção de bens e serviços para satisfazer as necessidades humanas.

O grande dilema da economia clássica é que as necessidades humanas são ilimitadas e os recursos econômicos são limitados ou escassos.

É importante notar que, para a economia clássica, um bem só tem valor se ele for escasso.

Assim, por exemplo o ar não é considerado um bem econômico, pois o ar é abundante e está disponível para todos.

Um dos primeiros economistas a questionar o modelo econômico do crescimento sem limites foi Nicholas Georgescu-Roegen, que desenvolveu a Teoria do Decrescimento Econômico e é considerado o fundador da economia ecológica.

O paradigma de crescimento econômico para a economia clássica está muito ligado ao acesso a renda, daí decorrem conceitos econômicos importantes como o Produto Interno Bruto (PIB), que enfatizam o crescimento constante.

Para os economistas clássicos, a satisfação das necessidades humanas só será possível com o crescimento econômico, no qual cada vez mais recursos são consumidos.

A economia colaborativa questiona justamente esse modelo e aponta a contradição entre a premissa de um crescimento constante em oposição à existência de recursos limitados, propondo alternativas.

Ela parte de um modelo que valoriza o acesso no lugar da posse dos recursos econômicos.

Para avançar no estudo sobre o conceito de economia colaborativa na visão de um empreendedor, vale a pena assistir ao Ted Talks com a fundadora da Zipcar, Robin Chase.

Economia Colaborativa no Brasil

De acordo com um estudo de 2016, promovido pela IE Business School, o Brasil é o líder na América Latina em iniciativas de economia colaborativa.

O Brasil possui mais do que o dobro (32%) de iniciativas relacionadas à economia colaborativa em relação à segunda colocação, na qual Argentina e México (13%) estão empatados.

Os setores da economia nos quais mais se desenvolveram iniciativas de economia colaborativa foram serviços para empresas (26%), transporte (24%) e aluguel de espaços físicos (19%).

Um exemplo interessante que surgiu dentro dessa filosofia de colaboração, valorizando mais o acesso do que a posse dos recursos, é o site “Tem açúcar?” criado por uma estudante brasileira.

A proposta é resgatar aquele velho hábito de pedir emprestado algo que você precisa para o seu vizinho, dentro do conceito de que gentileza gera gentileza, promovendo o consumo consciente.

Quer conhecer outra proposta legal? Vale visitar o site da BLIMO. Eles se autodefinem como a Netflix de roupas.

Funciona da seguinte forma: você faz uma assinatura mensal e tem acesso a um guarda-roupas compartilhado.

Dessa forma, não precisa comprar uma roupa nova para cada ocasião que surgir.

Quer mais exemplos de economia colaborativa?

Então, vá até o site da Blablacar, o maior site de caronas de longa distância do mundo.

No Brasil são mais de 2 milhões de brasileiros cadastrados, conectando 40 mil pares de cidades.

Projetos como o compartilhamento de caronas contribuem para a solução de problemas relacionados à mobilidade urbana.

De acordo com especialistas a economia colaborativa poderá representar, em um futuro próximo, cerca de 30% do PIB brasileiro no setor de serviços.

A tecnologia é uma grande parceira da economia colaborativa

Por que a Economia Colaborativa é uma tendência?

A disseminação do tema educação ambiental tem levado as pessoas a desenvolver maior consciência de que os graves problemas sociais e ambientais da atualidade somente serão resolvidos por uma nova abordagem.

Nela, o acúmulo de riqueza deve ser substituído pelo uso compartilhado dos recursos econômicos.

O sucesso estrondoso de empresas que se tornaram globais justamente a partir dessa proposta pode ser uma medida dessa nova tendência, que está longe de atingir seu ponto máximo.

Sem dúvida, a tecnologia foi responsável pela explosão desse novo modelo de negócios.

Ao criar meios de conectar instantaneamente pessoas ao redor do mundo com interesses comuns, possibilitou o surgimento do compartilhamento em uma escala antes inimaginável.

De acordo com o cofundador da plataforma Engage e do Projeto Catarse, Tomás de Lara, as comunidades indígenas já tinham o costume de trocar e compartilhar seus bens.

A tecnologia foi só um catalisador deste costume ancestral.

Atualmente, a economia colaborativa está presente desde o financiamento coletivo, conhecido por crowdfunding, até o aluguel de um espaço para cozinheiros profissionais que não querem ou não têm recursos para abrir o próprio restaurante.

A tecnologia criou as condições favoráveis para a colaboração e o surgimento da indústria criativa, que está na base da criação do Uber, por exemplo.

Mas só tecnologia não basta.

A confiança é fundamental para que as pessoas adotem a forma de pensar colaborativa e tenham segurança para participar dessa nova economia.

Antes do Airbnb, era pouco provável que você alugasse um quarto da sua casa para um desconhecido.

Como eles conseguiram mudar esse padrão de comportamento?

Foi uma inovação disruptiva, sem dúvidas.

Para conhecer mais dessa história, vale conferir neste vídeo o que fala Joe Gebbia, um dos fundadores da empresa.

A economia colaborativa trouxe a ideia do consumo colaborativo

O que é consumo colaborativo?

Segundo reportagem da revista Superinteressante, o consumo colaborativo é um modelo baseado na troca, empréstimo e compra de objetos usados, substituindo a aquisição de novos produtos.

Dessa forma, parte da ideia de que a diminuição na produção de novos bens irá reduzir o consumo de matérias-primas, energia elétrica e outros recursos finitos.

Além da tecnologia, que fornece as condições ideais para o compartilhamento e a colaboração, a crise de 2008 fez com que as pessoas buscassem formas de economizar e passaram a ver esse tipo de consumo como uma importante alternativa.

O resultado foi a valorização do acesso ao invés da posse.

A essência do consumo colaborativo está no “como” se consome em oposição ao “o que” consumir.

Além disso, as pessoas, cada vez mais, querem fazer parte de algo maior.

Colaborar envolve uma relação entre pessoas, assim as principais iniciativas que envolvem o consumo colaborativo surgem da iniciativa privada.

Podemos classificar o consumo colaborativo em três categorias:

1. Compartilhamento de produtos e serviços

Nessa categoria, estão inclusos os bens privados, que são compartilhados em plataformas online, como no caso do Airbnb, do Blablacar e outros.

2. Redistribuição de produtos

Bens usados ou seminovos são vendidos ou trocados via sites especializados. Como exemplo, temos o Ebay e o Mercado Livre.

3. Estilo de vida colaborativo

É facilitado por meio de plataformas digitais que conectam pessoas com interesses similares.

É voltado para troca de serviços e experiências, como aprender línguas, tocar instrumentos e até obter hospedagens gratuitas.

Aqui, a maioria dos serviços é gratuito ou funciona na base de trocas.

Como exemplos, temos o Couchsurfing, que oferece uma acomodação gratuita para turistas.

E isso é apenas o começo, pois o potencial do consumo colaborativo é enorme.

Segundo uma pesquisa da Nielsen, quase 70% dos entrevistados estão dispostos a alugar ou compartilhar itens pessoais.

Caso queira saber mais a respeito, recomendamos a leitura do livro O que é meu é seu: Como o consumo colaborativo vai mudar o nosso mundo, de Rachel Botsman e Roo Rogers.

A mudança cultural é um aliado da economia colaborativa e novas ideias do gênero

Economia Colaborativa e o Mercado do Futuro

Tecnologia e inovação são as chaves para o futuro – e também os principais aliados da economia colaborativa.

A economia colaborativa é uma mudança cultural em curso, muito influenciada pela transformação digital pela qual passa a nossa sociedade.

Nesses novos tempo, os consumidores exigem outro tipo de posicionamento das empresas em relação a assuntos como ética, transparência e preservação do meio ambiente.

Assim, os negócios que não acompanharem as tendências correm o risco de se tornarem segunda opção ou, quem sabe, até irrelevantes.

No final das contas, os consumidores querem o atendimento de suas necessidades e não apenas comprar produtos.

Por que levar para casa um novo aparelho de DVD se eu posso assistir a uma centena de filmes a partir da assinatura mensal de um serviço sob demanda?

Quem percebeu isso antes, saiu na frente, como é o caso da Netflix.

Essa é a essência disruptiva que move a economia colaborativa – e ela está intimamente ligada com a visão de futuro dos consumidores.

Outro ponto importante é a diferenciação na experiência.

As pessoas querem ser ouvidas, se relacionar com as marcas e produtos que utilizam.

Como resposta, a interação está na base do futuro para a economia colaborativa.

A tecnologia atua como um suporte para o florescimento dessa nova maneira de pensar e agir.

Além disso, graças ao aumento da segurança da informação, as pessoas estão mais propensas em confiar naquilo que encontra na rede, como recomendações de outros usuários.

Como referência desse processo, vale conhecer o economista americano Jeremy Rifkin e a sua visão de futuro particular.

Para ele, o sonho do enriquecimento está sendo trocado pelo desejo de um modo de vida mais sustentável.

Essas e outras ideias em relação à economia colaborativa podem ser vistas em seu livro Sociedade com Custo Marginal Zero.

O uso de eficiente de recursos precisa ser um objetivo de todas as empresas

O que é uma Economia Sustentável?

Como vimos até aqui, o modelo atual do sistema econômico predominante é baseado no consumo e produção crescentes.

Acontece que isso leva a uma utilização predatória dos recursos naturais, sem que se dê condições para a sua regeneração.

Além disso, o modelo vigente privilegia a acumulação do capital e não a distribuição de renda e o bem comum, como propagado pelos pensadores econômicos clássicos.

Para fins de comparação, vale dar uma olhada em alguns dados.

Uma pequena parte da população mundial, cerca de 7%, é responsável pela emissão de 50% de carbono no mundo.

Em relação ao consumo, a situação não é diferente.

As pessoas mais ricas do planeta, em torno de 16%, consomem o equivalente a 78% de tudo o que é produzido.

No período de 1950 a 2005, o consumo de gás natural cresceu 14 vezes, o de petróleo 8 vezes e a produção de metais aumentou em 6 vezes.

Todos esses dados fazem parte do Relatório “Estado do Mundo”, produzido pelo Worldwatch Institute (WWI), em 2010.

Além do consumo desenfreado, técnicas de produção, como a obsolescência programada, reforçam a constante busca por novos bens e produtos.

No Brasil, em 2012, somente de baterias de celular, foi descartado um montante próximo a 42 toneladas.

Dessa forma podemos definir economia sustentável como o uso eficiente dos recursos, não limitados à área financeira, buscando o bem-estar de todos por meio da inovação, como a inteligência artificial, em diversas áreas, o que inclui como arquitetura, design e engenharia, entre outras.

O que é Economia Criativa?

Economia criativa é um termo que passou a ser usado mais recentemente, ligado a criação de empresas com modelos inovadores de negócios, apoiados por uma forte base tecnológica.

Esse é o mundo das startups e unicórnios, empresas avaliadas acima de US$ 1 bilhão.

Como exemplos de modelos de negócios da economia criativa temos o Nubank, Xiaomi, Snapchat e muitos outros.

Veja que a expressão economia criativa, muitas vezes, é usada como sinônimo de indústria criativa.

Entretanto, podemos considerá-la mais ampla do que indústria criativa, que é a concretização dos conceitos defendidos pela primeira.

A criatividade e o capital intelectual são as matérias-primas da economia criativa, ou seja, nesse segmento, a inovação irá desempenhar um papel fundamental na produção e distribuição de bens e serviços.

De acordo com o estudo Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, produzido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), no ano de 2015, foram gerados mais de R$ 150 bilhões para a economia brasileira por esse segmento econômico.

O livro Economia Criativa: Como ganhar dinheiro com ideias criativas, do autor e pesquisador inglês John Howkins, demonstra com clareza a relação entre criatividade e a economia.

A economia colaborativa vem acompanhada de uma mudança de paradigmas

Conclusão

A economia colaborativa veio para ficar e está longe de alcançar todo o seu potencial, seja na melhor utilização dos recursos econômicos, ou na melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Dois princípios são básicos para o seu desenvolvimento: compartilhamento de recursos e confiança.

Como vimos neste artigo, existem vários exemplos de modelos inovadores de negócios que estão surfando na onda da economia colaborativa.

Logicamente não falamos de todos os que existem, mas, com base nos exemplos apresentados, você pode ter uma ideia melhor antes de se aventurar por esse caminho.

Antes de concluir, é importante ressaltar que a economia colaborativa faz parte de uma mudança cultural, na qual as pessoas estão mais preocupadas com a sustentabilidade e, ao mesmo tempo, procuram novas formas de consumir.

Significa um novo estilo de vida.

Para tanto, possui uma forte base na tecnologia, inovação e criatividade, sendo decisivo o desenvolvimento do capital cultural para incrementar a produtividade e eficiência.

Com as sugestões dos livros apresentados e palestras do Ted Talks, você tem a oportunidade de conhecer mais a respeito desse importante assunto.

E se desejar ir além, fique de olho nos cursos e especializações oferecidos pela Fundação Instituto de Administração (FIA).

Ficou com alguma dúvida ou tem uma sugestão sobre o assunto? Deixe um comentário abaixo ou entre em contato conosco.

Julio Cesar Teixeira

Graduado em Ciências Contábeis e Direito, possui MBA em Finanças e Controladoria, e Mestrado em Gestão de Negócios pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Atuou nas áreas contábil, financeira e administrativa de organizações do setor industrial, comércio, serviços e terceiro setor por mais de 20 anos. Consultor e professor de cursos de graduação nas áreas de contabilidade, custos e orçamento, finanças e planejamento tributário na Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (FATEC) e no Centro Universitário UNIFEOB. Coordenador de Contabilidade e Finanças do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (IFSP).

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