A cultura do imediatismo é o termo usado para se referir a uma tendência comportamental que ultrapassa fronteiras.
Ela está em todo lugar, manifestando-se da mesma forma em diferentes culturas e países.
Se pararmos para refletir um pouco, dizer que existe uma cultura em torno do imediatismo é até, de certa forma, contraditório.
Afinal, cultura é tudo aquilo que sobrevive ao tempo, mantendo-se vivo graças ao respeito aos valores do passado, tendo em vista a preservação de um costume no futuro.
Isso é, exatamente, o que a cultura do imediatismo não representa.
Poderíamos até dizer que ela é uma anti-cultura ou contracultura.
De qualquer forma, a expressão já se tornou conhecida e bastante utilizada.
A propósito, ela é creditada ao professor Douglas Rushkoff, da New School University de Manhattan.
Foi ele quem popularizou o termo, apresentando-o pela primeira vez em seu livro “Present shock: When everything happens now” ou “Choque do presente: quando tudo acontece agora”, lançado em 2013.
Portanto, a obra serve como um alerta para o comportamento progressivamente ansioso e desconectado das pessoas.
É um assunto que merece debate e leituras aprofundadas, afinal, todos nós somos, de certa forma, vítimas do imediatismo.
Continue por aqui para saber ainda mais.
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Boa leitura!
No livro, o professor Rushkoff lança uma expressão para se referir ao modo como as pessoas hoje concebem o tempo: instante prolongado.
Com isso, ele quer dizer que, em uma cultura imediatista, o passado não existe e o futuro é sempre incerto.
Semanticamente, não são conclusões erradas.
O problema está em ignorar o passado apenas por ele não poder mais ser alterado e negligenciar o planejamento apenas porque não se sabe o que o futuro nos reserva.
Ou seja, no imediatismo, predomina uma espécie de fechamento para as lições do passado e um certo desdém pelo futuro.
Essa postura inquietante é causada, segundo Rushkoff, pela massificação dos meios eletrônicos de comunicação.
Com a internet, tudo passou a ser para já.
Faz sentido, afinal, quem nunca se sentiu desesperado com um download de intermináveis 5 minutos ou com uma conexão lenta?
Uma pessoa afetada pelo imediatismo, além de impaciente, é de certa forma apática.
Essa apatia, por sua vez, tem a ver com uma percepção equivocada de que tudo tem que ser para agora.
Para um imediatista, o presente não é consequência do passado e tanto faz o que se fizer hoje, afinal, só o agora basta.
Nesse sentido, há uma ânsia crescente por ter coisas para já e de resolver todos os problemas imediatamente.
Nessa parte, a psicologia tem importantes contribuições a dar no sentido de minimizar os efeitos da cultura do imediatismo.
De acordo com algumas correntes da psicologia, o imediatismo tem como principal consequência o afastamento.
Quanto mais imersa na cultura do imediatismo, menos capaz de estabelecer relações saudáveis uma pessoa será.
Afinal, pelo viés imediatista, o tempo livre é algo que deve ser evitado a todo custo.
Só importa produzir e consumir, para voltar a produzir e consumir ainda mais.
Pois é justamente nos momentos de folga é que podemos construir relações.
Como na cultura imediatista todos estão o tempo todo atarefados demais, então, não sobra tempo para desenvolver nem mesmo o autoconhecimento.
Quem não se conhece bem, naturalmente, terá dificuldade em se relacionar com outras pessoas.
Seja como for, o imediatismo em si não é um distúrbio psicológico.
Contudo, pode ser a manifestação de males mais sérios, como a ansiedade.
Um ansioso é alguém fundamentalmente incapaz de aguardar e que sofre pelo que ainda não aconteceu.
Ele está sempre antecipando as consequências de tudo, para si e para os outros.
Claro que isso gera um profundo mal estar emocional, já que, com a ansiedade, vem o medo.
Essa é uma das grandes armadilhas da cultura imediatista.
Ao mesmo tempo em que ela nos prende ao agora, ela faz com que preocupações injustificadas sobre o futuro tomem conta de nossos pensamentos.
O comportamento de uma pessoa afetada pela cultura do imediatismo apresenta traços característicos.
Um deles é o apego exagerado às redes sociais e a conteúdos na internet de um modo geral.
Não surpreende, portanto, que tantas pessoas não suportem permanecer longe de seus smartphones ou notebooks, por mínimo que seja o período.
Como diz o professor Rushkoff, a cultura imediatista nasce e se consolida com a expansão digital.
O mais curioso é que, em boa parte dos casos, as redes sociais acabam produzindo efeito oposto ao que seria esperado.
Ou seja, em vez de elas ajudarem a estreitar relações, elas acabam por afastar as pessoas.
Para os jovens, as dificuldades são ainda maiores.
Como ainda não têm tantos recursos, inclusive emocionais, se tornam vítimas do imediatismo com mais frequência e facilidade.
Muitos acreditam que a vida é, de fato, ter muitos amigos no Facebook, Instagram e Twitter.
Também pautam seus comportamentos e ações pelo que veem outras pessoas publicando em suas redes sociais.
Se alguém posta a foto de uma viagem, por exemplo, a pessoa sente que precisa fazer uma também.
Ou, se publica a foto de um bem novo, se sente inferiorizada por não ter.
Esses e outros traços de comportamento são característicos das pessoas imediatistas e ansiosas.
Você se identifica com algum deles?
Se a cultura do imediatismo tivesse como consequência apenas alterações de comportamento, despertaria menos preocupações.
No entanto, existem efeitos colaterais que, se não forem identificados corretamente, podem gerar danos muito mais sérios.
Afinal, imediatismo e ansiedade caminham de mãos dadas.
E a ansiedade é apontada como um dos transtornos que podem levar ao suicídio.
A propósito, a taxa de suicídios mundial está cada vez mais alta.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida no mundo.
Isso representa um total de cerca de 800 mil suicidas em todo o planeta anualmente.
Esse é um motivo mais do que justo para encarar a cultura do imediatismo como um problema a ser resolvido.
Não seria exagero até dizer que se trata de uma questão de saúde pública.
Veja na sequência tipos de transtornos que estão associados ao imediatismo e entenda por que eles representam um sério problema.
Um reportagem do portal Uol sobre a campanha Setembro Amarelo traz importantes reflexões sobre a cultura do imediatismo. Acesse depois de ler este artigo.
A campanha foi criada justamente para que a sociedade mude sua postura em relação às pessoas com ansiedade e depressão.
Aliás, o imediatismo também pode levar a um quadro de depressão, além de ansiedade.
Sobre a matéria, o grande destaque é o aumento nas já referidas taxas de suicídios, cuja redução é o alvo da campanha.
Como vimos, a tentativa de tirar a própria vida tem ligação direta com problemas como depressão e ansiedade.
Por sua vez, eles estão conectados com a cultura imediatista.
Em um mundo no qual as pessoas vivem mergulhadas em seus próprios perfis nas redes sociais e são escravas da imagem, prevalece a percepção de que nada faz sentido.
Ou, melhor dizendo: como não há profundidade nas relações, então, só se enxerga sentido naquilo que é superficial.
Quando não atendemos aos padrões ditados pelo consumismo (uma espécie de “primo” do imediatismo) nos sentimos frustrados e desajustados.
Com o tempo, somos levados a crer que não somos bons o bastante.
E, assim, se forma a bola de neve emocional que pode, em casos extremos, redundar em depressão e ansiedade, que, se não forem tratadas, podem levar ao suicídio.
Quanto mais fundo a pessoa estiver imersa na cultura do imediatismo, maiores serão suas dificuldades para aceitar os obstáculos que a vida oferece.
Considerando que o que não falta são desafios a se superar, não é difícil chegar à conclusão de que um imediatista sofre muito mais com suas frustrações.
Ele quer tudo para agora e, quando não consegue, sente um enorme peso sobre suas costas.
De certa forma, a cultura do imediatismo nos promete soluções rápidas e fáceis como um download em alta velocidade.
Uma coisa é prometer isso quando se trata de produtos ou serviços.
Outra completamente diferente é querer satisfação instantânea em relacionamentos, saúde, bem-estar e outros assuntos que demandam tempo para serem resolvidos.
Em todos eles, uma pessoa imediatista e ansiosa terá os mesmos problemas, tendo em vista sua incapacidade de lidar com questões que não podem ser solucionadas de imediato.
Ou, pelo menos, não na velocidade e da maneira que se imaginou.
A cultura do imediatismo, portanto, é essencialmente hedonista.
Isso faz todo sentido, afinal, prometer prazer é muito mais fácil do que a solução para problemas como dívidas, doenças ou relacionamentos.
E é justamente na hora em que eles aparecem que o imediatista se sente mais acuado e impotente.
Muitos esbarram em sentimentos de culpa, autopiedade e raiva injustificada (ou não) contra pessoas, governos e instituições.
Talvez o maior mal que a cultura do imediatismo provoca é impedir ou minimizar a capacidade de as pessoas de refletirem.
Reflexão é sempre algo que demanda tempo e, como já sabemos, tempo é um luxo na sociedade em que predomina o instante prolongado.
Sabendo que o imediatismo é um fenômeno de massa, somos levados a crer que a maior parte das pessoas age como autômatos.
Significa que não há tempo para refletir sobre os próprios atos, formas de ser e de pensar.
Tudo que há é a necessidade por consumir e/ou sobrepujar o outro.
Nesse contexto, quanto menos se pensa, melhor.
Até mesmo quando o imediatista se propõe a pensar, acaba fazendo isso de uma forma superficial e inócua.
Não por acaso, a internet se consolidou como um terreno fértil para pseudo profissionais de autoajuda e motivação.
E como o justo acaba pagando pelo pecador, sofrem por tabela os que fazem um trabalho sério, em especial os bons profissionais de coaching e psicólogos.
A maior falha está justamente em buscar as respostas em terceiros.
Desde crianças, boa parte das pessoas é estimulada a entrar na competição insana por dinheiro, poder e prestígio que ditam os rumos da sociedade não é de hoje.
Nessa loucura, acabam jogando para baixo do tapete do subconsciente seus próprios problemas, anseios e motivações.
Por isso, a internet e a cultura do imediatismo são apenas a face mais contemporânea de um mal relativamente antigo.
Até agora, vimos que o imediatismo da era digital contribuiu para tornar as pessoas:
Considerando essas características, já temos algumas pistas do que se pode fazer para deixar a cultura do imediatismo para trás.
A primeira delas é conhecer a si próprio.
Nesse sentido, um bom recurso pode ser a psicanálise, conduzida por um psicólogo credenciado.
Afinal, até mesmo nossos pais podem ter sofrido os efeitos do imediatismo, repassando isso aos filhos.
Não por acaso, muitos problemas psíquicos e emocionais têm suas raízes na infância.
Por outro lado, se conhecer pode demandar alguma coragem, afinal, nem todos estão dispostos a revolver o passado em busca de respostas.
Para deixar de ser imediatista, portanto, é preciso de cara abandonar a necessidade por soluções rápidas ou compradas na boutique.
Se conhecer é um processo que leva tempo e pede muita paciência.
É por isso que a meditação é recomendada, já que ela consiste em uma prática destinada ao autoconhecimento por meio do relaxamento e do desapego.
A verdade é que, quanto mais nos conhecemos, mais tolerantes seremos com os problemas, nossos e os de outras pessoas.
Esse é o caminho para desenvolver relacionamentos mais saudáveis e reduzir o sofrimento imposto pelo imediatismo em todas as suas formas.
Além do professor Douglas Rushkoff, a cultura do imediatismo foi alvo de estudos de um outro proeminente pesquisador, o sociólogo Zygmunt Bauman.
De fato, poucos estudiosos foram tão a fundo na análise dos efeitos e causas da cultura imediatista em âmbito global.
Para Baumann, imediatismo e educação são como água e óleo.
Sendo assim, onde predomina o imediatismo, a educação fica de fora.
É por isso que, segundo o eminente sociólogo, as pessoas têm dificuldades crescentes em desenvolver o chamado pensamento linear.
Esse é o pensamento que leva à construção de saber autêntico.
Uma das causas para isso é também a própria fragmentação do conhecimento.
As fontes dispersas e desconectadas da internet sugerem a descontinuidade.
Já que está tudo aí, na nuvem, cria-se uma certa acomodação e propensão a se contentar com o que é superficial.
Quem sofre também como esse processo são os profissionais de educação.
Baumann dizia que a educação, como outras especialidades humanas, evolui com os tempos e sofre os impactos das mudanças na sociedade.
Em um mundo imediatista, educar significa colocar para pensar pessoas que estão o tempo todo sendo bombardeadas com mensagens estimulando o contrário.
Por isso, vale a pena se aprofundar na obra de Zygmunt Bauman.
Ele nos dá pistas valiosas sobre como escapar dos perigosos efeitos da cultura imediatista.
Foi ele, ainda, que criou o conceito de “sociedade líquida” na qual os valores se esvaem como se fossem água.
Esse termo está no seu livro “Modernidade Líquida”, um dos seus maiores sucessos, ao lado de “Vida para Consumo” e “Vidas Desperdiçadas”.
Não são apenas pais e educadores que sofrem para educar as crianças em um mundo imediatista.
Afinal, uma infância com pouco diálogo e compreensão é a porta de entrada para uma vida adulta problemática.
Essas crianças crescem, se formam e vão para o mercado de trabalho sem dar conta de problemas emocionais e de relacionamento profundamente arraigados.
Quem também enfrenta consequências, no final, são as empresas nas quais elas vão trabalhar.
O imediatismo, por sua vez, gera efeitos negativos ao longo de uma carreira.
Como afeta com mais força os mais jovens, as gerações mais recentes, como a Y e Millennials, acabam por se tornar uma espécie de “bode expiatório”.
No fim, a culpa recai toda sobre eles, quando, na verdade, são tão vítimas quanto as empresas que os recrutam.
Afinal, os jovens imersos na cultura do imediatismo têm muita dificuldade em aceitar regras, em se submeter a hierarquias e em aceitar o que não podem controlar.
Embora sejam, em geral, profissionais muito qualificados e competentes, eles acabam se tornando um problema justamente por conta do individualismo exacerbado.
As empresas devem ter cuidado e investir em programas de treinamento e em muito diálogo já nos processos seletivos.
As políticas de contratação, por sua vez, devem privilegiar profissionais com senso crítico e capacidade de aprendizado linear, além das qualificações técnicas.
Cada caso, enfim, pede uma abordagem distinta, cabendo aos profissionais de gestão de RH definir as soluções que se façam necessárias.
O imediatismo pode até parecer algo positivo em uma análise superficial.
Isso porque ele promove a competitividade, o que de certa forma é desejável para o crescimento.
Contudo, essa característica se apoia em bases muito frágeis, conforme tudo que vimos ao longo deste artigo.
E você, sente dificuldades em seus relacionamentos e com toda a cultura do imediatismo predominante?
Se tiver dúvidas ou algo a acrescentar, fique totalmente à vontade para deixar um comentário.
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