O que o jogo de RPG Tormenta 20, o kit estrutural Mola – criado por um arquiteto brasileiro – e o filme americano Lições em Família têm em comum?
Todos eles foram financiados por um Crowdfunding.
Vaquinha, rateio… têm vários nomes para o financiamento coletivo de um projeto.
E não importa qual ele seja: pode ser a realização de um filme, a escrita de um livro, a criação de um site, ajudar uma pessoa necessitada…
A ideia é interessante por várias razões, mas uma se destaca: os interessados em ver o produto final podem participar e incentivar a produção dele desde o começo.
Ou seja, é uma relação diferente que se cria entre o produtor, o produto e o consumidor final.
Mas não é só isso que é destacável no Crowdfunding. E por isso cada vez mais projetos captam recursos dessa forma.
Interessado? Observe os tópicos que falaremos hoje.
A tradução para Crowdfunding é financiamento da multidão. A tradução financiamento coletivo é bastante usada. Todos os usos entregam qual é a ideia.
E ela com certeza não é nova.
Quem quiser puxar a linha do tempo dessa forma de financiar projetos pode chegar ao Renascentismo e os mecenas das artes.
Inclusive, uma das plataformas que citaremos abaixo, o Kickstarter, lançou um projeto com o nome Patrons (Mecenas) para incentivar investimentos em projetos de maior escala.
Mas se a ideia de muitas pessoas financiarem um produto desde sua criação é algo antigo, a roupagem dada nos últimos anos foi inovadora.
Se antes uma vaquinha basicamente passava uma cesta de mão em mão pedindo uma ajuda, ou então um depósito na conta corrente, agora temos plataformas online.
E elas começaram a oferecer a possibilidade de uma mediação entre quem quer criar e realizar um projeto e quem deseja financiá-lo.
E chegando ao mundo online, alcançamos um termo da moda: o financiamento torna-se escalável.
Mais pessoas podem conhecer projetos que buscam esses recursos e a facilidade para contribuir é maior, precisando de apenas alguns cliques.
A ideia é fascinante porque permite uma conexão muito próxima entre público e criador.
Para citar um exemplo: um músico que não tem um contrato com uma gravadora pode chegar na sua base de fãs e propor a gravação de um álbum caso uma determinada meta financeira seja alcançada.
A ideia do crowdfunding retira diversos intermediários: não há gravadora, distribuidora, comerciante e os lucros e todos os gostos dos envolvidos. É o criador falando com seu público interessado.
O criador tem uma ideia, posta em uma plataforma online, diz quais serão as fases e informa quais são os recursos necessários.
Algo muito importante também entra em cena: quais serão as recompensas de quem apoiar logo de cara.
Por isso não estamos falando de uma doação. Existe a contrapartida.
Tudo fica a cargo do criador do projeto, que decide como será esse programa de recompensas.
Pode ser desde receber o produto em uma edição especial, ter em mãos as primeiras “fornadas”, alguma forma de agradecimento, um protótipo, enfim, depende da iniciativa.
É importante deixar claro que não é uma regra que quem contribui irá receber o que será criado com o dinheiro. Por exemplo, o Vasco da Gama está construindo seu novo Centro de Treinamentos e é claro que nem todo mundo poderá usufruir dele.
Entre as recompensas estão um agradecimento no site e um certificado digital (para quem colaborar com 15 reais) até a possibilidade de uma experiência diferente em um jogo do clube, com visita ao vestiário e até a chance de bater um pênalti no intervalo. Esse pacote sai por 2 mil reais.
Algo que é regra é que o caso o levantamento não alcance a meta mínima para dar início ao projeto, o dinheiro é devolvido.
A ideia do crowdfunding logo se alastrou e as plataformas do gênero se multiplicaram.
Abaixo vamos falar alguns dos maiores sites de crowdfunding.
Com certeza um dos maiores nomes no meio. E com tamanho para recepcionar o exemplo citado acima do projeto de construção do CT do Vasco da Gama. Até o momento esse projeto gerou mais de 2 milhões de reais em contribuições.
São vários os projetos de sucesso que ganham destaque na página, como a arrecadação para a construção do Rancho dos Gnomos, local de acolhida de animais domésticos e vítimas de maus-tratos. Mais de 1 milhão de reais foram arrecadados.
Também uma das marcas de destaque na área de crowdfunding, existindo desde 2011. Em seu site o Catarse revela que mais de 111 milhões de reais foram direcionados a projetos publicados na plataforma.
Além de poder contribuir com projetos pontuais, há também a oportunidade de participar de assinaturas, colaborando mensalmente com criadores de conteúdo em projetos contínuos.
São mais de 2400 projetos e R$43 milhões de reais na história da plataforma. O Benfeitoria não cobra comissões e está mais ligada à área cultural, apoiando por exemplo o Festival de Cinema do Rio, que até agora tem mais de 200 mil reais arrecadados.
Um programa bastante interessante do Benfeitoria é o Matchfunding BNDES +, que seleciona projetos capazes de deixar um legado para os Patrimônios Culturais Brasileiros. A cada real contribuído por um interessado, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) contribui com mais dois reais.
Como já falamos bastante das vantagens, vamos começar pelas desvantagens do crowdfunding.
A primeira delas é o trabalho exigido para captar o dinheiro.
Voltando ao exemplo do artista que chega em seu público-alvo com a ideia de gravar um novo álbum, o trabalho desse músico é muito maior que antigamente.
Um músico conhecido tinha “apenas” que criar as músicas, ir a um estúdio, gravá-las e depois fazer a promoção de sua obra em shows, programas de TV, rádio etc.
Hoje esse artista precisa se envolver em outras áreas. Precisa criar o projeto, pensar nas recompensas, fazer a publicidade desse movimento, responder a dúvidas e tudo isso antes de entrar no estúdio.
Claro que nem todos os artistas podiam se dar ao direito de sentar no sofá e só esperar a gravadora entregar tudo mastigado.
Mas hoje, para dar certo no mundo do crowdfunding, há que ter uma veia empreendedora e saber, por exemplo, como implantar uma estratégia de marketing digital.
Caso a sua campanha não seja bem executada, entra a segunda desvantagem do crowdfunding: não há para onde fugir.
Se o seu público interessado não está a fim de um novo álbum, de um livro, de seu projeto de livro, na sua colmeia que não estressa as abelhas, a mensagem será clara.
A partir disso, convencer algum parceiro, seja uma gravadora, editora ou comércio de qualquer tipo, que sua ideia tem valor de mercado e merece atenção será uma tarefa difícil.
Como não faltam vantagens, vamos a elas.
O envolvimento entre o criador e o público-alvo é único. O comprador não vai simplesmente a uma loja, olhar, comparar e comprar. Ele financia a criação e todos os processos, tendo uma posição muito mais ativa.
E isso não só gera compradores fieis, mas também propagadores de sua ideia.
Outra vantagem: o criador não fica tão exposto financeiramente. Ele não vai precisar colocar de seu bolso toda a pesquisa e trabalho que terá antes de começar as vendas e finalmente ganhar dinheiro.
Seu esforço pode ser valorizado logo de cara.
Também dá para medir o interesse gerado por um produto de forma antecipada. Isso evita investimentos que não dão em nada e a dor do fracasso quando o produto não vende.
Se a ideia não é boa ou não há mercado para ela, isso pode ficar claro logo na captação dos recursos. Assim, os lados podem seguir em frente sem traumas.
Por fim, as plataformas de Crowdfunding retiram algumas dores de cabeça. Não é preciso se preocupar com métodos de pagamento, quanto há em caixa, quanto falta para receber. Além disso, suas iniciativas podem rodar o mundo, tendo um alcance muito maior que vaquinhas ou campanhas de arrecadação no seu bairro ou em festas e eventos.
Por fim, uma campanha de crowdfunding não precisa passar pelos funis que existiam há pouco tempo.
Um escritor não precisa mais do carimbo de uma editora, ele pode simplesmente financiar seu livro com uma campanha. Um músico pode fazer um álbum sem precisar de uma gravadora.
Pequenos empreendedores tem uma alternativa de captação de recursos sem precisar de um empréstimo bancário.
Isso permite maiores iniciativas de nicho: produtos direcionados para um certo público e financiados logo de cara por esses consumidores finais.
Essa é uma das razões para o crowdfunding ter continuado sua tendência de crescimento no Brasil mesmo em meio a uma série crise econômica.
Afinal, estamos falando de uma excelente via para colaboradores de uma empresa que foram liberados tirarem ideias do papel e tornarem-se empreendedores.
Não importa se você não tem uma empresa ou é um empreendedor com empresa formada. Se tem mais ou menos de 18 anos, se é graduado ou não terminou o Ensino Médio. O que importa é o que você tem a oferecer.
O normal nas plataformas de Crowdfunding é encontrar produtos que tem um certo apelo e o seu mercado – um site, um álbum de músicas, um livro – ou então algo completamente novo, que pode despertar interesse pela criatividade, como a colmeia com torneira que falamos acima.
Independente da opção é importante que antes de criar o projeto você sonde qual é o público-alvo para a ideia e a recepção dela.
Assim dá para direcionar, adaptar e melhor promover o crowdfunding, por exemplo, nas redes sociais. Grupos de Facebook podem ser uma ótima. Entrar em contato com possíveis influenciadores interessados também.
Vamos imaginar que sua ideia é escrever um livro sobre um clube de futebol que foi extinto. Entrar em contato com jornalistas esportivos e grupos de fanáticos pelo esporte irá testar o interesse gerado pelo projeto. E pode não só ser uma forma de espalhar a notícia que o projeto existe, mas também já ativar fontes para serem entrevistadas.
E se a ideia for muito diferente? Vamos voltar ao caso da colmeia. Não há muito parâmetro e referência para essa “loucura”, além de uma necessidade observada pelos criativos empreendedores.
Mesmo assim é interessante sondar a recepção da ideia com diferentes pessoas, sejam elas apicultoras, comerciantes e outros empreendedores.
Caso você não queira abrir o jogo para entregar uma ideia que pode ser milionária, registre a marca ou a patente imediatamente e só depois exponha sua ideia.
Também não é necessário mostrar tudo que você fará, apenas o suficiente para saber se o seu produto vai de encontro a atacar uma necessidade. Ou seja, se será útil e bem-vindo.
Fomos mais genéricos no tópico acima. Agora é a hora das dicas mais precisas.
A ideia do crowdfunding e suas plataformas facilitadoras ativou a imaginação. Um produto disso é o equity crowdfunding (Crowdfunding de Investimento), direcionado a investir em startups.
Nessa modalidade, assim como no crowdfunding, há sites que permitem que startups que buscam aportes financeiros para atuar, crescer e inovar exponham suas ideias. Quem colaborar, neste caso, terá uma participação na empresa.
Ou seja, em vez de apoiar a criação e lançamento de um produto, o investidor neste caso apoia a empresa em si e ganhará com seu crescimento.
Esse modelo foi regulamentado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em 2017. Plataformas como a StartMeUp e a EQ Seed fazem essa mediação e há inclusive uma Associação Brasileira de Crowdfunding de Investimento.
As maiores plataformas de Crowdfunding do mundo tem uma década de existência e números impressionantes, que chegam aos bilhões de dólares.
Aqui no Brasil, mesmo que em uma escala menor, as centenas de milhões de reais arrecadadas também chamam a atenção.
Especialmente porque o país passou por uma crise da qual se recupera lentamente e mesmo assim o financiamento coletivo não diminuiu de ritmo.
E isso é facilmente explicável: se a economia informal cresce e o uso da internet torna-se cada vez mais natural, conectar criadores, ideias e interessados só fica mais fácil.
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