A compreensão do conceito da ciência colaborativa ainda não está bem definida.
Apesar do termo ser aplicado para descrever conteúdo de livre acesso no mundo acadêmico desde o final dos anos 90, a prática ganhou força fora do universo da educação a partir de 2005.
Nesse ano John Wikibanks lançou o Science Commons com o propósito de romper radicalmente com as barreiras existentes para o compartilhamento do saber, por meio da definição de regras que permitem a divulgação dos trabalhos com proteção da propriedade intelectual.
Se você tem interesse em entender como esta iniciativa está mudando a forma de fazer ciência, não deixe de ler o artigo até o final.
Nele, você vai encontrar:
Boa leitura!
A ciência colaborativa é um conceito que promove a ideia que qualquer pessoa, que queira se aprofundar sobre um determinado conhecimento científico, tendo total acesso ao que se tem produzido sobre o tema.
Da mesma forma que as bibliotecas públicas e a internet não cobram direitos autorais de seus leitores para o conhecimento disponibilizado, a ciência colaborativa incentiva todos os pesquisadores a fazer o mesmo.
Atualmente, centenas de publicações científicas estão abrindo seus arquivos e permitindo o livre acesso, com a única condição de que seja dado crédito aos autores dos trabalhos.
O propósito principal da ciência colaborativa é expandir o conhecimento de forma exponencial, permitindo a colaboração sem privilégios, independentemente da condição financeira, educacional ou localização geográfica.
Conforme definição do portal FOSTER, a ciência colaborativa é uma prática de se fazer pesquisa, que permite a colaboração e a contribuição de todos, de maneira que até mesmo os dados intermediários e as notas de laboratório são colocados à disposição da comunidade, com permissão de uso, distribuição e reprodução.
Para alcançar este objetivo ambicioso, a ciência colaborativa se baseia em três pilares essenciais:
De forma geral, a proposta da ciência colaborativa é a democratização do saber, para que o esforço investido na sua geração seja otimizado, e os resultados sejam multiplicados.
Com a evolução tecnológica, a humanidade chegou a um ponto onde os problemas científicos se tornaram tão complexos que uma pessoa, sozinha, já não consegue resolvê-los.
A solução para os principais problemas da atualidade, tais como combate ao aquecimento global, produção de alimentos ou cura para as doenças degenerativas, requer tratamento e processamento de imensas bases de conhecimento distribuídos pelo mundo em todas as disciplinas.
Entretanto, boa parte do que já se fez e pensou sobre esses assuntos se encontra preso sob regras de direito de uso, burocracia e contratos de licenciamento, o que torna praticamente impossível a consolidação do conhecimento existente.
A aceleração da obsolescência dos conceitos é um fenômeno que tem se intensificado nos últimos anos, fazendo com que as regras de proteção intelectual percam a sua relevância no cenário atual.
Jim Gallacher e Fiona Reeve descreveram em seu recente livro New Frontiers for College Education: International Perspectives, a volatilidade que afeta a ciência gerada na academia.
A vida útil média de uma descoberta científica realizada hoje é de aproximadamente 15 anos – até que surja um melhor entendimento ou um novo conceito que a torne irrelevante.
Por esse motivo, quanto mais cedo for compartilhada com o maior número possível de pessoas, dentro da comunidade científica ou fora dela, melhor será para a construção de conhecimento científico como um todo.
Considerando-se que todo o conhecimento armazenado nas bases protegidas das publicações científicas seja realmente de qualidade.
Um estudo realizado em 2012, pelo departamento de oncologia da Amgem de Thousand Oaks, na Califórnia, verificou que, de 53 estudos coletados de publicações de primeira linha, os quais descreviam conceitos novos para a cura do câncer, somente 6 puderam ter seus achados comprovados.
Apesar de ser uma estatística isolada, ela sugere que, eventualmente, o compartilhamento com um número maior de pesquisadores, poderia apresentar uma contribuição significativa na qualidade dos estudos disponibilizados.
Também que possíveis incorreções poderiam ser detectadas em tempo oportuno.
A importância da ciência colaborativa aparece nessas duas frentes identificadas, como uma potente fórmula não só para a divulgação, mas também para a melhoria do conhecimento disponibilizado.
O termo Ciência Cidadã apareceu pela primeira no dicionário Oxford em junho de 2014, sendo definido como um “trabalho científico realizado por meio da colaboração do público leigo, às vezes com o auxílio ou supervisão de um cientista profissional ou instituição científica”.
A ideia principal que ampara o conceito é a que não precisa ser cientista para se fazer ciência.
Apesar da percepção de importância sobre o tema ser recente, e a fundação de associações de Ciência Cidadã no mundo estar ocorrendo de forma exponencial nos últimos anos – a primeira menção do conceito data de 1989.
Naquele ano, um grupo de 225 voluntários norte-americanos trabalhou em um projeto sobre chuva ácida, em uma campanha coordenada pela National Audubon Society, uma ONG de preservação ambiental sediada em Nova York.
O principal impacto da Ciência Cidadã se percebe nos estudos de temas complexos, que envolvam a análise de muitas pessoas para a extração de conceitos e construção de soluções.
Desafios na categorização de elementos celestes, na determinação do comportamento de certas espécies de animais ou mesmo no entendimento fenômenos climáticos podem ser solucionados por meio da colaboração de pessoas leigas.
Essa contribuição pode ser feita por meio de quatro níveis de participação:
O método da investigação científica existe desde o século 17, como forma de aquisição e validação empírica do conhecimento.
Os passos para a realização do processo podem ser resumidamente descritos em cinco pontos principais:
Com o avanço da digitalização dos processos, e das possibilidades de compartilhamento de informações disponíveis na atualidade, cada uma dessas etapas pode ter seus resultados exponencialmente aumentados por meio da colaboração entre grupos ou pessoas.
A investigação científica deixa de ser uma tarefa individual, com possíveis momentos de colaboração, para uma tarefa colaborativa, onde o papel do cientista pode, em alguns casos, se limitar à coordenação do conhecimento e à apresentação dos achados.
Toda a potencial evolução do conhecimento proveniente da ciência em tempos cibernéticos vem de duas atividades principais: a computação voluntária e o pensamento distribuído.
Existem pesquisas que requerem grande capacidade de computação para a análise e combinação dos dados levantados nas observações.
A computação voluntária se dá pela disponibilização do computador pessoal de um usuário para a realização de uma parcela da capacidade demandada pela pesquisa.
É necessária a instalação de um programa no equipamento que irá processar uma pequena parcela da pesquisa.
Dessa forma, projetos que levariam centenas de anos para serem concluídos, podem ser realizados em dias por meio da utilização de milhares de computadores voluntários.
O projeto mais conhecido que utiliza esta metodologia é o SETI@home.
Lançado para o público em maio de 1999, ele analisa sinais de rádio que chegam do espaço na tentativa de encontrar padrões que possam evidenciar vida extraterrestre.
Atualmente, existem centenas de projetos de computação voluntária, incluindo diversos temas, como matemática para aplicação em jogos, combinações químicas no desenvolvimento de materiais, previsão do tempo, entre outros.
A segunda atividade que caracteriza a Cyber Ciência é a possibilidade do pensamento distribuído.
A evolução dos meios de comunicação tornou possível a participação remota de pessoas em projetos, com boa qualidade de interação.
Os efeitos desse fenômeno já foram identificados na academia há alguns anos.
No livro Distributed Work, escrito por Pamela Hinds e Sara Kiesler, em 2002, foi identificado que, enquanto dobrava a cada ano o número de artigos publicados por autores estrangeiros nas revistas científicas norte-americanas, o crescimento de artigos escritos por meio da colaboração de autores em diversos países se multiplicava por nove.
Paralelamente aos benefícios proporcionados por eficientes ferramentas de comunicação a baixo custo, a existência das redes sociais também contribui por facilitar o encontro entre pesquisadores de um mesmo tema.
Também vale a pena citar que, por meio das mídias sociais, é possível localizar pessoas conectadas ao tema, realizar pesquisas de campo, e até mesmo solicitar ajuda para entender algum fenômeno.
Com um grau maior de sofisticação e permitindo a utilização de recursos mais adequados para o relacionamento entre pesquisadores e público leigo, existem também as plataformas que concentram diversos projetos de ciência colaborativa.
Especificamente voltado para a conexão entre pesquisadores e público leigo, o site Scistarter abriga mais de 1.200 projetos.
A iniciativa promove não somente a divulgação, mas também se propõe a fornecer a capacitação e o recrutamento de cientistas sociais conforme o objetivo da pesquisa.
Utilizando ferramentas e conceitos desenvolvidos internamente, o site possibilita o encontro entre as pessoas, mas também o controle e o monitoramento da participação em cada projeto.
O principal objetivo da plataforma é quebrar as barreiras que impedem os cientistas cidadãos de participarem ativamente de pesquisas em andamento.
Os projetos são voltados para as mais diversas finalidades, desde a análise da água do mar nas praias para a preservação ambiental no Hawaii, até o controle, por meio de imagens de satélite, de olarias na Índia com o propósito de erradicar a mão de obra escrava.
A infraestrutura digital suporta o engajamento sustentado das pessoas, coordenando os esforços, informando e motivando os participantes na coleta, seleção e análise dos dados.
No Brasil, seguindo metodologia similar, em 2014 foi lançado o SiBBr – Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira.
Uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o site que tem como missão, facilitar a publicação, a integração, o acesso e o uso das informações sobre a biodiversidade presente na nossa nação.
Para se entender a importância da iniciativa, por meio da colaboração da comunidade, foi possível contabilizar, até o final de 2018, mais de 15 milhões de registros de ocorrência de biodiversidade.
Esse trabalho não seria possível se não fosse a participação intensa de 94 instituições, espalhadas por todo o território nacional, gerando, consumindo e transformando informações sobre a biodiversidade brasileira.
A transformação digital tem alterado as diversas áreas de atuação humana, na indústria, nos serviços, no convívio social, entre outras.
No entanto, na ciência, a alteração foi tão significativa que cunhou o termo Ciência 2.0.
O significado prático desse entendimento é que existia uma versão da ciência antes da transformação digital e, agora, existe outra.
A Ciência 2.0 é uma abordagem completamente nova para a busca do conhecimento.
Ela está baseada no compartilhamento da informação e na colaboração permitida pelas ferramentas de comunicação modernas.
Utiliza ferramentas como wikis, blogs, streaming de vídeo para compartilhar achados, coleta e divulgação de dados online.
Está acontecendo uma revolução na divulgação dos trabalhos científicos.
As barreiras e restrições ao livre acesso estão cedendo de forma acelerada.
E a forma de pensar dos cientistas mudou do modelo de concentração para acesso exclusivo para o modelo compartilhado de toda e qualquer forma de conhecimento.
Os processos individuais de pesquisa, submissão e revisão por pares vêm sendo substituídos por projetos coletivos, com o compartilhamento, revisão e análise dos dados realizado em conjunto com a comunidade online.
A cobrança pelo acesso aos trabalhos publicados, está sendo substituída pelo livre acesso pela internet.
A relevância deixa de ser medida pela classificação da revista para ser analisada conforme o número de citações, de visualizações ou de downloads.
Os artigos não são mais protegidos por direito de cópia, mas compartilhados por meio de diferentes licenças, com compromissos específicos para cada atividade que se pretende ao acessar a obra: utilizar como material de pesquisa, copiar em parte, divulgar na totalidade, etc.
E, por fim, todo o sistema de divulgação do conhecimento está sendo colocado à prova e muito possivelmente, a centralização acompanhada de proposta de valor por acesso deverá ceder para a pulverização do controle sem custo para a pesquisa.
Entre as mudanças que a ciência colaborativa traz, se destaca por sua característica disruptiva a forma como os dados são coletados.
O levantamento, que ainda é majoritariamente feito pelos pesquisadores, passa a ser realizado pela comunidade por meio das plataformas colaborativas.
No entanto, o termo crowdsourcing foi estabelecido para definir um grau ainda maior de contribuição colaborativa.
Incrementando o levantamento dos dados, a análise prévia das informações tem sido utilizada como ferramenta para melhorar os resultados da pesquisa.
Por exemplo, em um projeto para caracterização de espécies de pássaros, a análise de diferenças sutis na coloração das penas ou no canto, pode selecionar melhor os dados, e permitir uma análise final mais refinada.
Outra contribuição relevante utilizada pelo crowdsourcing é a transcrição de dados disponíveis em formatos que não podem ser compreendidos por linguagem de computação.
O projeto OldWeather permite a colaboração, transcrevendo dados escritos há mais de cem anos por marinheiros em livros de bordo.
O Smithsonian Transcription Center conta com a colaboração de mais de 5 mil voluntários que, até o final de 2018, tinham transcrito mais de 100 mil páginas de documentos antigos.
Ainda, existem iniciativas que propõem metodologias de jogos ou desafios, motivando os cientistas à coleta, análise entre outras tarefas pertinentes à pesquisa.
Todas estas ferramentas possibilitam a abertura das pesquisas para a participação de um grande número de pessoas, economizando tempo, promovendo a melhor qualidade dos achados e permitindo o crescimento da ciência como um todo.
O propósito da ciência colaborativa é promover um ambiente onde o conhecimento seja compartilhado desde o seu momento de a sua construção até sua publicação.
A quebra das barreiras que impedem o livre fluxo da informação, o acesso democrático, público e gratuito aos conteúdos originais e o incentivo à participação de todos na construção do saber caracteriza uma revolução no mundo acadêmico.
Entretanto, essa conquista representa somente o início de um processo que tem potencial de impacto ainda maior.
Os mesmos conceitos podem ser utilizados para a construção da ciência aplicada.
Um dos melhores exemplos de benefício proporcionado pela ciência colaborativa no universo corporativo é o Projeto Genoma Humano (PGH).
Em um setor extremamente competitivo, protegido por diversas leis de propriedade intelectual e consciente que o diferencial entre as empresas está fundamentado no conhecimento, a atitude das empresas farmacêuticas de abrir seus arquivos e de apoiar a colaboração aberta foi uma quebra de paradigma.
Posteriormente, quando demonstraram que, por meio dessa decisão, puderam cortar custos, acelerar a inovação e gerar mais lucro para os acionistas, a iniciativa foi louvada pelo mundo corporativo.
Apesar da experiência relatada e da extensa divulgação do sucesso, ainda quase a totalidade das empresas na atualidade operam em silos fechados.
As pesquisas realizadas para o desenvolvimento de novas tecnologias ou soluções de problemas encontrados, proporcionam um conhecimento relevante, que poderia ser utilizado por outras organizações com expressiva economia de tempo e recursos.
Apesar disso, permanece armazenado em arquivos, anotações ou registros que nunca mais são acessados ou utilizados.
Entretanto, a rota da ciência colaborativa é um caminho sem volta, conforme escreveu Dan Tapcott e Anthony D. Williams em seu livro Wikinonics – Como a colaboração em massa pode mudar o seu Negócio.
Nós já entramos na era da participação, onde prevalecem as armas de colaboração em massa para a criação de estruturas de conhecimento com baixo custo.
Quanto mais rápido as empresas perceberem os benefícios do conhecimento compartilhado, melhor sairão perante a concorrência em resultados e manutenção de posição competitiva.
Se você já percebeu que o conhecimento é um ativo e que, no novo tempo da economia colaborativa, tende a promover resultados de forma exponencial se for compartilhado, a sua mente já está preparada para a Ciência 2.0 na indústria.
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