Estratégia e Organizações

Blocos econômicos: entenda o que são, como funcionam e quais são os principais

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Os blocos econômicos são resultado de um processo evolutivo das organizações sociais humanas que vem desde a formação dos estados nacionais.

Afinal, os países como os conhecemos hoje nasceram da necessidade de segurança que todo agrupamento humano tem.

Essa é a raiz do chamado pacto social, tal como a definição de Jean-Jacques Rousseau, em que o indivíduo abre mão de certas liberdades individuais em troca da proteção do Estado.

É mais ou menos por essa linha que os objetivos dos blocos econômicos são constituídos.

A diferença é que, em vez de pessoas, temos países abrindo mão de certas prerrogativas em nome de vantagens aduaneiras e comerciais.

Isso é facilmente observável nos blocos econômicos e suas características, pois são formados para eliminação de barreiras alfandegárias.

Há muito mais para saber sobre esse formato de organização geopolítica, como veremos ao longo deste texto.

Prossiga na leitura, saiba quais são os blocos econômicos e como essa formação influencia o mundo de hoje.

Confira os tópicos abordados:

  • O que são blocos econômicos?
    • A história dos blocos econômicos
  • Tipos de blocos econômicos
  • Os principais blocos econômicos
  • Quais são as vantagens e desvantagens dos blocos econômicos
  • Quais são as perspectivas do governo atual em relação aos blocos econômicos?

Siga a leitura, saiba o que é um bloco econômico e domine o assunto!

Leia também:

O que são blocos econômicos?

Blocos econômicos são como pactos entre duas ou mais nações, nos quais o objetivo principal é facilitar as transações comerciais entre governos, bem como entre as empresas.

Para isso, os líderes dos países signatários celebram tratados em que são reduzidas tarifas alfandegárias e eliminados entraves burocráticos, entre outras medidas.

Com um exemplo, fica mais fácil entender os blocos econômicos e suas características.

Digamos que o país ABC do Norte precisa de minério de ferro para abastecer sua indústria, e que esse insumo tem de sobra no país XYZ do Sul.

Por sua vez, em XYZ do Sul falta petróleo, uma commodity que o ABC do Norte tem para dar e vender.

Temos então dois países com interesses distintos, um com capacidade de satisfazer as necessidades do outro.

Em vez de cobrar as tarifas normais para exportar esses insumos, seria muito mais vantajoso reduzi-las ou retirá-las, concorda?

Os blocos econômicos funcionam sob essa lógica: os países-membros satisfazem seus interesses em comum, contando para isso com um mercado livre de restrições.

A história dos blocos econômicos

A partir do que vimos, os objetivos dos blocos econômicos são, em geral, de caráter comercial e estratégico.

Um dos primeiros blocos nos moldes atuais de que se tem conhecimento foi a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA).

Instituída em 1956, como o nome deixa claro, a CECA tinha a meta de facilitar o comércio dessas duas commodities entre Itália, Holanda, França, Luxemburgo, Bélgica e a extinta Alemanha Ocidental.

Porém, países se unem com interesses comerciais há muito mais tempo.

O próprio Brasil é um exemplo disso, já que o território que seria o nosso país foi dividido para exploração econômica por Portugal e Espanha em 1494, com o Tratado de Tordesilhas.Tipos de blocos econômicos

Os blocos econômicos se organizam de diferentes maneiras

Antes de conhecermos quais são os blocos econômicos, precisamos detalhar as diferentes maneiras como se organizam.

Uma coisa é reduzir tarifas para produtos de um certo país e outra é eliminar completamente todo tipo de controle alfandegário nas fronteiras.

Você pode perceber essas diferenças inclusive nos aeroportos.

Em alguns deles, é proibido levar na bagagem certos produtos considerados estratégicos, levando em conta o impacto que sua exportação tem para a economia.

Esse tratamento também acontece quando chegamos de viagem com as malas carregadas de compras.

Dependendo do país de destino e de partida, podem ser aplicadas certas tarifas e impostos só por ter comprado fora.

Ou seja, prevalece nesses casos o interesse nacional em detrimento do interesse privado.

Isso ajuda a entender o que é um bloco econômico.

Por analogia, a lógica é seguida na sua formação, que pode ter pelo menos quatro estruturas diferentes.

Confira a seguir.

União aduaneira

Chama-se união aduaneira o bloco econômico em que países fronteiriços estipulam tarifas alfandegárias comuns ou uma zona de livre comércio.

A economia brasileira faz parte de uma das mais importantes, o Mercosul, que tem sede em Montevidéu, capital do Uruguai.

Nas uniões aduaneiras, são estabelecidas tarifas comuns para produtos e bens que vêm de países de fora do continente ao qual o bloco está circunscrito.

Isso significa que qualquer produto importado de outros continentes para os países do Mercosul estão sujeitos às mesmas taxas.

Claro que o conceito por trás disso é discutível, já que tarifas comuns podem não ser vantajosas para países menos favorecidos economicamente.

Por outro lado, essa homogeneização pode ser benéfica, já que estimula as relações comerciais entre países-membros, fortalecendo a economia da união aduaneira.

União econômica e monetária

Você saberia dizer o que diferencia uma união aduaneira de uma união econômica e monetária?

Se respondeu que é a presença ou não de uma moeda comum, acertou em parte, pois essa implantação pode ser gradual.

O melhor exemplo desse tipo de bloco econômico é a União Econômica Monetária da União Europeia (UEM).

Implementada em três fases, ela começou em 1990, ao instituir a livre circulação de capitais e bens entre os países membros.

A partir de 1994, a união se intensificou, com a gradual instituição de novas políticas econômicas comuns.

Por fim, em 2002 ela foi sacramentada com a fundação do Banco Central Europeu e a instituição de uma nova moeda única, o Euro, vigente até hoje.

Zona de livre comércio

Em um estágio menos “avançado” de união, temos as chamadas zonas de livre comércio.

Nelas, o que se objetiva é a retirada de tarifas, condições e certas burocracias em transações alfandegárias entre países membros.

Diferentemente das uniões aduaneiras, não há nas áreas de livre comércio a instituição de tarifas comuns para bens que vêm de fora.

A USMCA, antiga NAFTA, que vamos ver mais à frente, é o exemplo mais conhecido desse formato de bloco econômico.

Embora tenha suas vantagens, a USMCA é desde sempre uma união controversa.

Isso por causa da disparidade entre as economias de dois estados-membros, Estados Unidos e Canadá, em relação ao México.

A propósito, as áreas de livre comércio não são exclusividade dos estados nacionais.

Elas podem ser instituídas dentro dos próprios países, como é o caso da Zona Franca de Manaus, a capital do estado do Amazonas.

Mercado comum

Existem ainda os mercados comuns, que funcionam em moldes quase idênticos aos de uma união aduaneira.

Nesse caso, a diferença principal é a instituição não só de regras e tarifas comuns, mas de políticas para nortear essa regulamentação.

Outra característica que distingue os mercados comuns dos blocos econômicos é a liberdade de circulação não só de bens materiais, mas de capitais e serviços.

Assim, quaisquer ativos que se enquadrem nessas três categorias devem circular entre os países membros como se fossem parte de um só território.

A propósito, os blocos econômicos têm, em geral, o componente geográfico em sua formação.

Não por acaso, eles são quase sempre formados por países com fronteiras em comum, ou que configurem uma relação de continuidade territorial.

Naturalmente, há vantagens e desvantagens dos blocos econômicos – e falaremos mais sobre elas ainda neste texto.

Os principais blocos econômicos

Existem blocos econômicos em todos os continentes, com propostas dentro dos tipos que acabamos de mostrar.

Os principais blocos econômicos, naturalmente, são aqueles dos continentes mais fortes economicamente, com destaque para a Europa e parte da América e Ásia.

Como veremos na sequência, cada um deles se apoia em interesses comuns, com alguns alicerçados em certas commodities.

A GCC, por exemplo, tira a sua força do petróleo, o principal produto de exportação dos seus países-membros.

Dito isso, veja quais são os blocos econômicos, os países que os integram, como operam e de onde eles tiram a sua força.

União Europeia (UE)

Veja os principais blocos econômicos

A CECA foi extinta em 2002 para dar lugar a um dos blocos econômicos mais poderosos do mundo, a União Europeia.

Não há outro bloco similar à UE, que levou o conceito de União Monetária aos mais avançados patamares.

Depois da China, a UE é a detentora da maior fatia do comércio mundial, respondendo por 14% de todas as transações realizadas no planeta.

Anualmente, ela movimenta mais de 2,1 trilhões de euros, quase o dobro dos Estados Unidos, o terceiro maior comércio, com cerca de 1,4 trilhões de euros movimentados.

A União Europeia se destaca ainda pela grande coesão econômica entre os países-membros, que compartilham um Banco Central e uma moeda comum.

Mercado Comum do Sul (Mercosul)

Fundado pelo Tratado de Assunção em 26 de março de 1991, o Mercosul é o mais influente bloco econômico entre os países latino-americanos.

No continente sul-americano, apenas Peru, Equador e Colômbia não fazem parte do bloco.

A Bolívia e o Chile fazem parte na condição de países associados, enquanto a Venezuela é a única nação cuja participação está suspensa.

Assim como a União Europeia, o Mercosul é o resultado de um processo gradual de integração, antecedido por diversos acordos e tratados, como o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento de 1989 e a Ata de Buenos Aires, de 1990.

Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean)

Saindo das Américas direto para o Oriente, chegamos à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).

Com sede em Jacarta, capital da Indonésia, foi fundada em 1967 e congrega os seguintes países dessa região:

PaísAno de adesão
Tailândia1967
Filipinas1967
Malásia1967
Cingapura1967
Indonésia1967
Brunei1984
Vietnã1995
Myanmar1997
Laos1999
Camboja1999

Na condição de membros observadores, a ASEAN conta ainda com o Timor Leste e a Papua Nova Guiné.

Curiosamente, embora tenha sido fundada em 1967, a ASEAN só teve sua primeira reunião de cúpula em 1976, quando foi assinado seu primeiro tratado de cooperação.

Acordo Estados Unidos, México e Canadá (USMCA)

A antiga NAFTA, fundada em 1994, sempre esteve envolta em debates e controvérsias, dadas as grandes diferenças entre as economias dos três países-membros, principalmente a do México.

Para alguns, ela beneficiava a economia mexicana, ao estabelecer condições vantajosas para os seus produtos em relação aos concorrentes europeus e asiáticos.

Outros defendiam que o aumento das exportações não se refletiu em melhora no padrão de vida da população em geral nem em crescimento econômico, como sugere este artigo.

Seja como for, a ex-NAFTA, hoje USMCA, continua sendo um bloco econômico peculiar, já que não conta com um corpo burocrático ou regras específicas para o comércio.

Na verdade, a USMCA representa mais um acordo de liberalização, removendo restrições sem determinar outros procedimentos.

Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC)

Os blocos econômicos são criados para fortalecer as economias dos seus membros, mas também podem ter outros objetivos estratégicos.

A criação da APEC, a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, ilustra isso, já que a sua formação em 1989 tinha uma “agenda oculta”, que era frear o avanço econômico do Japão.

Depois da União Europeia, a APEC é o maior dos blocos econômicos em número de países, somando 21 nações, menos apenas que os 27 da UE.

Porém, o peso da APEC é ainda maior, já que fazem parte dela Estados Unidos, China e Rússia.

Comunidade para o Desenvolvimento da África (SADC)

Os países africanos têm na SADC o seu bloco econômico mais “pesado”, considerando que fazem parte dele as principais economias do continente, com destaque para África do Sul e Angola.

Fundada em 1992, tem como principal objetivo a cooperação econômica, contemplando também eventuais parcerias de caráter militar e estratégico.

A SADC teve como “embrião” a antiga Conferência de Coordenação para o Desenvolvimento da África Austral (SADCC), fundada em 1980.

Enquanto entidade supranacional, ela congrega 15 países da metade sul da África, e sua sede localiza-se em Gaborone, capital do Botswana.

Comunidade do Caribe (CARICOM)

Os países caribenhos estão entre os últimos a terem conquistado a sua independência em relação aos países europeus.

Esse atraso levou a problemas econômicos que motivaram a criação da Comunidade do Caribe (CARICOM), cujo objetivo é ajudar a desenvolver economicamente a região.

Fundada em 1973, a CARICOM reúne 15 nações da América Central insular, além dos países continentais banhados pelo Mar do Caribe.

Fazem parte também outros 6 territórios, na condição de membros associados: Anguila, Bermudas, Ilhas Virgens Britânicas, Turcas e Caicos, Ilhas Cayman e Monserrat.

Por divergências políticas, Cuba e República Dominicana não compõem a CARICOM, limitando-se à condição de membros observadores.

União Econômica e Monetária do Oeste Africano (WAEMU)

Os países do oeste africano têm em comum, além das fronteiras e dos problemas sociais, o idioma francês e o franco CFA como moeda.

Esses são alguns dos principais motivos para ter sido fundada em 1994 a União Econômica e Monetária do Oeste Africano (WAEMU).

Seus membros francófonos são:

  • Benin
  • Burquina Faso
  • Costa do Marfim
  • Mali
  • Níger
  • Senegal
  • Togo.

Fazem parte ainda Nigéria e Gana, ex-colônias britânicas, e Guiné-Bissau, único membro cujo idioma oficial é o português.

Ao lado da UE, é uma das duas uniões monetárias do planeta, embora o franco CFA não tenha sido criado exclusivamente para a região.

Conselho de Cooperação do Golfo (GCC)

A Copa do Mundo do Catar em 2022 mostrou para o planeta a força e influência dos países do Oriente Médio.

Nada menos que metade dos 10 maiores produtores de petróleo do mundo fazem parte dessa região, banhada em parte pelo Golfo Pérsico.

Entre esses países estão Emirados Árabes Unidos, Omã, Arábia Saudita, Bahrein, Kuwait e Qatar, membros fundadores da GCC em 1981.

Irã e Iraque, apesar de também estarem localizados na mesma região, não compõem o bloco, que também exclui o Iêmen.

Uma peculiaridade do GCC é que ele é mais um bloco de auxílio mútuo para desenvolvimento de pesquisas e conhecimento do que econômico, ainda que esse tipo de cooperação esteja prevista.

Quais são as vantagens e desvantagens dos blocos econômicos?

Como toda organização política, há vantagens e desvantagens dos blocos econômicos.

Entre as vantagens, estão a maior facilidade na circulação de bens e serviços, o que ajuda a dinamizar a economia de um país.

Dessa forma, os mercados internos tendem a se fortalecer, com uma oferta maior de produtos.

Por outro lado, dependendo do caso, essa oferta pode asfixiar a indústria local, já que pode sair mais barato trazer certos bens de fora.

Os principais blocos econômicos têm passado por desafios nessa linha, como é o caso dos Estados Unidos na USMCA.

Por isso, os objetivos dos blocos econômicos precisam ser muito bem definidos na sua formação, de modo a não prejudicar parte dos seus membros.

Quais são as perspectivas do governo atual em relação aos blocos econômicos?

Agora que você já está por dentro, veja os objetivos do governo atual em relação aos blocos economicos

O atual governo brasileiro parece mais focado em fortalecer as parcerias com outros países, como evidencia a recente visita do presidente Lula à China.

Não é por acaso, já que os chineses são o principal parceiro comercial brasileiro, respondendo por 27% de tudo que vendemos para o exterior.

Uma pauta inovadora proposta é a inclusão da China como parceira do Mercosul, abrindo para os chineses as portas do livre comércio.

Outra ideia envolve a criação de uma moeda única nos moldes do euro no continente sul-americano – o que é diferente de uma moeda comum.

São temas cuja definição deve ser debatida nos próximos meses e anos.

Conclusão

Neste texto, você entendeu o que é um bloco econômico e viu que suas características dizem muito sobre os seus membros e que tipo de políticas os orientam.

Ao final da leitura, já conhece os principais deles, como se organizam e algumas de suas particularidades.

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